A 18 de Outubro de 1877 é publicado no Boletim do Governo de Macau um "aviso" onde se informa que "o governo portuguez deseja contratar os serviços de um agricultor e um manipulador de chá, para os empregar das direcção dos trabalhos de cultura e preparação da folha nas Ilhas dos Açores (Oceano Atlântico)," onde já havia, refira-se, plantações de chá. O governo garantia ainda o pagamento da passagem de ida e volta "e o salário que se convencionar".
A 13 de Novembro de 1877, o mestre Lau-a-Pan e o ajudante e tradutor Lau-a-Teng seu assinaram um contrato bilingue (chinês e português) na presença do governador, Carlos Eugénio Correia da Silva. (imagem abaixo)
Os dois contratados seguiram viagem na embarcação "África", primeiro para Lisboa e depois para os Açores onde chegaram a 5 de Março de 1878.
O contrato era de um ano, renovável por mais três, e garantia aos dois cidadãos chineses um salário que era pago em Macau e outro na ilha, em partes iguais. O mestre recebia 25 dólares mensais, para além de casa, duas libras de arroz ou o equivalente em pão, uma libra de peixe fresco ou salgado ou meia libra de vaca e uma libra de hortaliça.
Chegados no início de Março de 1878 o trabalho começou de imediato mas iria durar pouco mais de um ano já que regressaram a Macau a 18 de Julho de 1879. No entanto deixaram os ensinamentos em fábricas como a Gorreana e a Porto Formoso.
Já na década de 1890 seriam contratados em Macau mais dois técnicos. Chum Sem e Lum Sum chegaram aos Açores em Dezembro de 1891.
Na altura a corte portuguesa estava instalada em terras de Vera Cruz e num ofício de 1810, Almeida Melo e Castro, conde das Galveias e responsável no reino pelos assuntos ultramarinos solicita ao Ouvidor de Macau, Miguel de Arriaga, o envio de plantas de chá e de homens especializados no seu cultivo.
O cultivo do chá nos Açores remonta aos finais século XVIII numa época em que era usado sobretudo para fins ornamentais. Quanto a datas são várias as teorias possíveis. Umas indicam que a "Camellia sinensis", planta que está na origem do chá verde e do chá preto terão chegado à ilha de S. Miguel por volta de 1750. Outras indicam que também o micaelense Jacinto Leite, comandante da Guarda-Real de João VI de Portugal, trouxe consigo sementes quando voltou do Brasil por volta de 1820.
Voltando aos Açores, são vários os documentos que atestam a proveniência das plantas do chá de Macau. É o caso de um documento publicado no Boletim Oficial
de Macau de 1878 e que reproduz uma carta da direcção da Sociedade Promotora da
Agricultura Micaelense destinada ao ”Exmo.
Sr. Conselheiro Carlos Eugénio Corrêa da Silva” (governador de Macau entre
1876 e 1879 - imagem acima) dando conta de que tinham chegado a S. Miguel dois chineses para ensinar
o cultivo e a transformação industrial do chá.
"(...) comunico a V. Exa. a
chegada a esta ilha no dia 5 do corrente dos dois chinas contratados por V.
Exa. para dirigir aqui a cultura e preparação do chá; bem como dos utensílios
respectivos que para esta sociedade ahi se adquiriram. A semente chegou em
parte deteriorada pelas delongas da viagem, mas temos esperança de que boa
porção germinará ainda. Por fortuna existia aqui a planta do chá em boas
condições de vegetação e já n'esta Primavera contamos proceder a alguns ensaios
decisivos sobre o fabrico entre nós (...)."
Entre as
espécies levadas de Macau/China estavam a "Jasmin grandiflorum" e a
"Malva vacciones".
O cultivo e
fabrico do chá nos Açores teve grande desenvolvimento até ao início do século
XX chegando a existir seis fábricas a laborar em simultâneo.
Actualmente é
na ilha de S. Miguel que ficam as únicas plantações de chá da Europa para fins
industriais asseguradas pelas empresas Gorreana e Porto Formoso. A Gorreana é
mesmo a mais antiga da Europa tendo sido criada em 1883.
Segundo os
especialistas o arquipélago reúne as condições ideais para o crescimento da
planta. O clima é temperado (chuva bem distribuída, sol não muito intenso e não
ocorrência de geadas) e o solo vulcânico (argiloso e ácido) proporciona um chá
perfumado e de travo agradável.
Em Macau não se cultivava chá (vinha da China) mas fazia-se a chamada preparação e era uma das mais importantes actividades económicas no território no século 19 sendo sobretudo para exportação.
Veja-se a seguinte intervenção do deputado Horta e Costa feita no Parlamento português em Maio de 1889, e dirigida ao ministro da Marinha:
"O chá, vindo do interior quase em bruto, ou preparado e passado por tantas operações sucessivas, de modo a sofrer uma alteração tão completa, que quase deverá ser esquecida a sua classificação primária, para ser considerado apenas como um produto da indústria daquela colónia".
Da intervenção daquele que viria a ser, depois, duas vezes governador de Macau fica a saber-se que havia naquela altura 15 fábricas de transformação de chá em Macau, "onde trabalhavam 120 operários fixos e 853 avulsos, dos quais 348 eram homens e 505 mulheres, e isto ainda além de 300 outros, empregados em carretos e transportes. E todo este chá ali preparado vai para Hong Kong, e dali para Inglaterra".
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