sexta-feira, 29 de julho de 2022

"Journal of a Voyage from Calcutta to China": 2ª parte

 Tradução para português do post de ontem...


"Passamos pelas ilhas de Linting e Lantau e ancoramos junto a Macau por volta do meio-dia do dia 20 de setembro. Um grande grupo de nós desembarcou carregando a nossa bagagem, totalizando cerca de cem pacotes. Ao chegarmos à água rasa sobre a qual nosso barco era grande demais para prosseguir, fomos cercados por várias sampanas, os barcos comuns do país. Eram inteiramente tripulados, se assim se pode dizer, por mulheres. (...)
Ao verem desembarcar pessoas e bagagens gritaram 'Kumshaw', 'Kumshaw', que sendo interpretado significa o mesmo que nossa frase indiana 'bukhshish'... generosidade. Mas a nossa atenção foi desviada da feira suplicante por um clamor ainda maior que surgiu da disputa entre as autoridades chinesas e portuguesas a respeito do direito de nos taxar.
A ilha de Macau pertence nominalmente aos portugueses, mas o poder dos mandarins ainda é muito considerável. Este último sempre teve o hábito de impor um dever arbitrário a todas as mulheres e carga desembarcada na alfândega, pelo que os portugueses davam instruções para que todos os passageiros e encomendas fossem enviados à chegada à Alfândega Portuguesa, no porto interior para evitar qualquer imposição por parte dos chineses. (...)
Há duas tabernas em Macau, uma perto do local onde desembarcamos, e outra cerca de trezentos metros à direita numa rua que dá acesso ao Campo; a primeira estava cheia de marinheiros, capitães e aventureiros de todas as nações; a outra estava felizmente desocupada e foi imediatamente tomado pelo nosso grupo. Quanto a mim, tive a sorte de encontrar amigos na Fábrica Inglesa, ou Albany, como é chamada.
A cidade de Macau está situada numa bela pequena baía, que se diz ser uma miniatura da Baía de Nápoles; de facto, ao comparar imagens dos dois, não é difícil imaginar a semelhança. Várias colinas que dominam a cidade em diferentes direcções são coroadas com fortes, igrejas ou conventos, aumentando muito o efeito da vista geral.
As casas são todas construídas no estilo peculiar dos portugueses. As ruas são pavimentadas e estreitas e as igrejas são numerosas, como na maioria das cidades católicas.
Dizem que há nada menos que dezasseis, dos quais a franciscana, situada na extremidade da baía é a mais bonita e a de São Paulo a mais antiga.
Na primeira está um retrato de São Francisco Xavier, aparentemente executado com um chapéu vermelho (...); na última, há um relógio que se diz ter sido enviado por Luís XIV, como presente aos jesuítas.
Macau não é propriamente uma ilha, embora seja geralmente designada assim, embora esteja ligada a outra ilha de nome diferente por uma estreita garganta de terra ou istmo com quatrocentas ou quinhentas jardas de comprimento. Na sua extremidade, os chineses construíram um muro, além do qual, se algum aventureiro ou diabo estrangeiro ousasse invadir, dificilmente escaparia sem ser bem ferido com pedras batidas com bambus e provavelmente roubado.
Este istmo é o único espaço plano dentro dos limites de Macau, excepto o campo de Cricket, que foi recortado na encosta de uma colina. O resto da Ilha, é uma sucessão perpétua de colinas e vales, pelo que há pouco espaço para exercícios equestres, embora alguns dos moradores sejam extravagantes o suficiente para manter cavalos. A ilha tem cerca de três milhas de comprimento por uma de largura.
As colinas, como já referi, são numerosas, elevando-se a uma altura considerável e em muitas partes bem arborizadas. (...)
A vista do cume de algumas das colinas é muito bonita. De um lado o oceano azul estende-se em tranquila majestade cravejado por uma centena de ilhas que se erguem a diferentes distâncias, em diferentes formas e tamanhos, pontilhadas por uma centena de velas brancas deslizando na superfície lisa das águas. Do outro lado, vê-se a cidade de Macau e todas as suas igrejas repousando nos valeso, apoiadas pelas montanhas escuras e altas das ilhas da Lepra. (...)
Macau orgulha-se de poucas atracções, sendo a principal a Gruta de Camões, situada num belo jardim anexos a uma casa que se chama por excelência A Casa. A caverna, que não é caverna, está situada no cume de uma pequena colina encravada num pequeno bosque e consiste em três enormes rochas negras com cerca de quatro metros quadrados. Uma estende-se por cima das outros duas, formando assim uma espécie de arco com cerca de um metro e meio de largura. Passando por este entra-se num pequeno espaço desimpedido rodeado de árvores onde existem bancos de pedra romanticamente dispostos.
No cume da rocha que se ergue sobre os outros dois blocos foi construído um pequeno anfiteatro que permite uma vista para quase todas as partes da ilha. A tradição conta que Camões costumava vir a este local depois das fadigas dos negócios. Neste local, diz-se que escreveu grande parte de Os Lusíadas e, verdadeiramente, a reclusão do local e a beleza da vista devem tê-lo tornado uma cena bem adaptada para a realização de sua fantasia laboriosa.
A admiração dos portugueses pelo poeta levou à colocação do seu busto na gruta e o local é mantido naquela reverência e santidade poética (...)
A outra atracção digna de nota é o Aviário do Sr. Beale. Foi lá que vi pela primeira e provavelmente última vez na vida uma Ave do Paraíso viva e em plena plumagem - uma visão tão bela quanto rara e quase digna de si mesma para ser o único objeto de uma viagem à China. Aqueles que viram apenas o pássaro empalhado podem ter apenas uma vaga ideia da beleza do original vivo. O olho está além de tudo, rico e brilhante, o pavão em plena plumagem é talvez o pássaro mais bonito e gracioso da criação, mas pode-se dizer que o pássaro do paraíso é o mais adorável pelas suas características peculiares: extrema delicadeza e suavidade. (...)
O aviário é muito extenso e contém uma imensa variedade de belas aves (...) As belas pinturas chinesas de pássaros em papel de arroz que são exportados para venda são retratos dos originais emplumados desta coleção.
Há outras duas atracções nas redondezas de Macau que, no entanto, não visitei, a saber, uma grande pedra de rocha que está debaixo de água em movimento perpétuo e o túmulo de São Francisco Xavier, o Apóstolo das Índias situado nas ilhas contíguas. (...)
A Fábrica Inglesa é chamada de Albany. São alojamentos muito confortáveis ​​e para os ocupantes possuem o charme adicional de não se pagar renda. 
Os edifícios das repartições públicas estão a cerca de trezentos ou quatrocentos metros de distância no centro do cais. São constituídos principalmente por uma grande sala de jantar, uma biblioteca, uma capela e salas de bilhar. As paredes destes, como de todos os outros edifícios da praia, são construídas com uma espessura excessiva para lhes permitir resistir à violência dos tufões. Em 1818 Macau foi visitado por um tufão formidável, o pavimento do cais foi arrancado, as casas fortemente afectadas e as pedras, telhas e barro foram soprados para dentro da cidade e diz-se que a espuma do mar foi transportada trinta milhas para o interior do continente, causando grandes danos às árvores e à vegetação. (...)"

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