segunda-feira, 30 de maio de 2022

Queixa sobre correspondência em 1837

17th January 1837
Letter to the Editor – The Euphrates delivered mail for China residents at Macau last Sunday using its own boat. They were sent to the tavern of the Postmaster, (Charles Markwick’s pub on the Praia Grande) where his partner Edwards the postmaster works. The letters for Europeans were sorted and immediately sent up to Canton on the St George. Letters for Parsees were detained.
I enquired and Edwards requested $8 for postage before delivering the Parsees’ letters to me. He had done nothing to earn a postage fee. I wish to know why I had to pay and why letters for Parsees were detained.
A Parsee Merchant, 13th January 1837
Editor – this is gross dereliction of duty. Edwards should be replaced. HM Superintendents and / or the General Chamber should provide the Post Office.

17 de Janeiro de 1837
Carta ao Editor – O Euphrates fez a entrega do correio para os residentes chineses em Macau, no passado domingo, utilizando o seu próprio barco. O correio foi enviado para a taberna do Chefe de Correio, (taberna/hospedaria de Charles Markwick* na Praia Grande) onde trabalha seu parceiro Edwards. As cartas para os europeus foram classificadas e imediatamente enviadas para o Cantão no São Jorge. As cartas para os parses foram retidas.
Perguntei e Edwards pediu-me $8 de taxa para me entregar as cartas dos parses. Ele não fez nada para exigir tal taxa. Gostaria de saber por que tive que pagar e por que as cartas para os parses foram retidas.
Um comerciante parse, 13 de Janeiro de 1837
Editor – isto é negligência grosseira do dever. Edwards deve ser substituído. Os Superintendentes de Sua Magestade e/ou o Senado devem criar um serviço de Correios.

Trata-se de uma carta de um leitor, um parse, que se queixa de abuso por parte de quem tratava da correspondência. Recorde-se que na época o serviço de correios ainda não estava criado - só o foi no final do século 19 - pelo que eram os particulares que assumiam estas funções. Neste caso foram os comerciantes britânicos.
*Charles e o irmão Richard chegaram à China (Cantão), em 1825, acompanhado o pai que trabalhava para a britânica East India Company (Companhia das Índias Orientais). Charles viveu cerca de 15 anos em Macau onde instalou na Praia Grande uma taberna/hospedaria/leiloeira em parceria com o irmão que fundou outras empresas - Markwick and Lane Co., por exemplo - e viria a morrer em Macau em Janeiro de 1836.

Carta lacrada de 1836 enviada de Cantão para Macau:
Carimbo "BOAT OFFICE/10 Cents/Macao"
A W. S. Wetmore, nome de um cidadão dos EUA (e da empresa) importador de ópio

O espaço era também conhecido por Boat Office já que era ali que se tratavam da maioria dos assuntos relacionados com o transporte marítimo: desde as autorizações para atracar e respectivas taxas, para navegar até Cantão contratando para o efeito marinheiros locais, etc... Markwick tinha o mesmo tipo de estabelecimento em Cantão embora de maiores dimensões (British Hotel).
Em 1846 Charles Markwick mudou-se definitivamente para Hong Kong exercendo funções no Supremo Tribunal em paralelo com a de comerciante, sendo a sua especialidade os leilões.
Para se ter uma ideia do número de estrangeiros que viviam na China (Cantão) na época - apenas durante alguns meses, o resto do tempo, sobretudo os meses de Verão, viviam em Macau - recorro aos números de 1837. Dão um total de 307 residentes estrangeiros assim divididos: 158 britânicos, 62 parses, 44 americanos, 28 portugueses, 4 indianos, 3 holandeses, 2 suíços, 2 prussianos, 2 alemães, 1 dinamarquês e 1 francês.

Sem comentários:

Enviar um comentário