Com o título "Desastre em Macau" a Revista Universal Lisbonense de 2 de Janeiro de 1851 dá conta da explosão da fragata D. Maria II em Macau (em 1850), mas de um modo curioso. Tem por base uma carta de um leitor que visava esclarecer os rumores que então circulavam sobre o acontecimento e que não correspondiam à verdade.
Gravura da época reproduzida em vários jornais |
A fragata D. Maria II era uma navio mercante de nome "Ásia", comprado em Inglaterra em 1831. Foi enviada para Macau na sequência do assassinato do governador comandante Ferreira do Amaral em Agosto de 1849. No dia 29 de Outubro de 1850, quando se preparava para regressar a Goa, uma violenta explosão a bordo destruiu o navio que tinha a bordo mais de 300 barris de pólvora. Da guarnição de 224 homens faleceram 188, todos os que estavam a bordo, para além de 3 marinheiros franceses presos a bordo e 40 chineses das embarcações que estavam atracadas ao navio. É considerado o maior desastre da história da Marinha portuguesa.
Publicamos com o maior sentimento a seguinte noticia que extraimos da parte official no Diário do Governo de 30 de Dezembro ultimo. A correspondência official do Governo de Macáo recebida neste Ministério pelo paquete do sul chegado ante hontem á tarde não alcança além do dia 26 de Outubro. Ha porém recebida na Secretaria do mesmo Ministério uma carta particular escripta de Alexandria por um distincto Diplomático estrangeiro ultimamente sahido de Macáo a qual reduzindo á sua primitiva cruel simplcidade a única noticia que existe da explosão da fragata D. Maria 2 deslroe ao mesmo tempo alguns falsos boatos com que se tem aggravado os já tão deploráveis resultados daquella catástrofe. Esta carta é littcralmentc como segue:
Meus caros amigos Escrevo vos á pressa estas poucas linhas de Alexandria aonde acabo de chegar para vos premunir contra os boatos que correm a respeito da terrível catástrofe do dia 29 de Outubro os quaes poderiam talvez chegar ahi augmentando a consternação publica que esta desgraça já em si tão grande ha de necessariamente causar em Lisboa. A noticia chegou a Hong Kong no dia 30 alguns momentos antes da partida do vapor inglez e eu não sei se o conselho do governo de Macáo teria tempo de vos escrever. A carta do Sr JV Jorge que é a unica que foi recebida em Hong Kong dizia: Hontem ás duas horas e meia a fragata D Maria II que ao meio dia tinha salvado o aniversário de El Rei D Fernando voou pelos ares. De toda a tripulação tres homens somente se salvaram. Alguns officiaes americanos se achavam a bordo no momento do desastre e pereceram. Como acontece sempre em occasiões dc calamidades publicas as imaginações se exercitaram sobre a extensão deste infortúnio e procuraram aggravar lhe as circumstancias já tão tristes. Alguém dizia se tinha recebido uma carta do Sr Tavares annunciando que os commandantes das outras embarcações e empregados civis se achavam a bordo da D Maria II. Eu procurei vèr estas cartas e nada se me pode mostrar. Foi pura invenção. Infelizmente os boatos espalhados entre os passageiros tomaram corpo e na minha chegada a Singapura tive o pesar de ler em um jornal inglez um artigo em que lodos aquelles boatos eram apresentados como factos certos e é receando que este jornal possa chegar a Lisboa que eu vos escrevo estas poucas linhas ainda commovido com a nova calamidade que cahindo sobre a pobre colónia de Macao privou Sua Magestade de bons e fieis servidores. Não acrediteis pois em nada e desmenti tudo o que possa ser espalhado por viajantes ou de qualquer modo em ampliação da carta de Jorge. Adeus, meus caros amigos.
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