"Decorria o ano de 1959. Início da Semana Santa em Macau. Meu Pai tinha vindo para Portugal, com o meu irmão, para frequentar o Curso de Oficiais do Quadro Permanente de Exército. Por isso, eu, a minha Mãe e a minha irmã vivíamos com os meus avós maternos, na Rua Francisco Xavier Pereira Nº3-A (uma mansão que já não existe), à espera de embarque no paquete Timor para nos juntarmos a eles.
Todos os anos Avô-Pa colhia uma braçada de palmas do seu jardim para, no Domingo de Ramos, Avó-Ma levar à missa a fim de serem benzidas e depois distribuídas pelos filhos que ainda viviam em Macau. Na nossa casa eram colocadas atrás de duas molduras com gravuras religiosas, onde ficavam o ano todo, até serem substituídas.
Naquele ano, não sei qual a razão, fui eu o encarregado de levar o ramo para a benção. Também não me lembro a razão, atrasei-me. Quando entrei na Igreja de Santo António, com um ramalhão nos braços, atado com um belo laçarote, já o Padre Basaloco tinha iniciado a missa. Uma madre disse-me baixinho “Os ramos já foram benzidos”. À minha frente, lá estavam os ramos, alinhados frente ao altar-mor, ainda brilhantes da água-benta. Mas também não me atrapalhei. Se a água-benta benzia os outros também benzia o meu. Com toda a calma coloquei o meu ramo em cima. Avó-Ma nunca chegou a saber que, naquele ano, o ramo foi “benzido por contato”..."
Testemunho de Reinaldo Amarante a quem agradeço ter aceite o meu desafio.
Nota: O Domingo de Ramos marca o início da Semana Santa, celebrando a Paixão, a Morte e a Ressurreição de Cristo. Do ritual das celebrações fazem parte a Missa da Ceia do Senhor, a Celebração da Paixão do Senhor, Procissão do Senhor Morto, Vigília Pascal e, no Domingo de Páscoa, a missa solene da Ressurreição do Senhor.
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