sábado, 30 de abril de 2022

Casa da família Senna Fernandes na Av. da República

Bernardino de Senna Fernandes (1892-1971) foi o terceiro Conde de Senna Fernandes. É da 5ª geração desta família macaense, sendo o filho mais velho do Conde Bernardino de Senna Fernandes Jr.
Fez o curso de caminhos de ferro eléctricos pela 'Internacional Correspondence School', tinha noções de arquitectura, foi sub-gerente da 'Macao Electric Lighting Co. Ltd.' (MELCO) e foi cônsul da Tailândia em Macau.
Frequentou durante dois anos a 'Shanghai Musical Academy', sendo professor particular de violino e piano, professor de canto coral do Liceu de Macau e director musical do Grupo de Amadores de Teatro e Música fundado em 1924. Teve como hobby a pintura. No final década de 1920 concebeu de raiz uma moradia para a família numa das zonas mais nobres da cidade com vista privilegiada para a baía da Praia Grande.
A moradia, do estilo-art-déco, embora ainda com alguns elementos neo-clássicos, estava localizada no nº 64 da Avenida da República junto à chamada "Meia Laranja", o efeito geométrico dum pequeno miradouro sobre a baía da Praia Grande.

O projecto é de Abril de 1929 e teve a autoria do próprio Bernardino de Senna Fernandes, que também era arquitecto. Teve como prazo de construção seis meses.
Na planta do rés-do-chão pode ver-se como estava organizado o espaço das diferentes divisões: vestíbulos, sala de música, sala de jantar, gabinete de trabalho, cozinha, copa, balcão, lavabos e espaços para os "criados". No primeiro piso ficavam os quartos, terraço e varandas.
Chegou a ser construído em Itália um brasão da família - em mármore - para ser colocado no primeiro piso mas o excesso de peso inviabilizaram a solução, acabando por ficar no piso térreo. Actualmente faz parte do espólio do Museu de Macau.
Brasão de Bernardino de Senna Fernandes
com águia andante no timbre e águia bifronte estendida no escudo

O edifício era constituído por dois pisos e quatro fachadas. Embora ficasse conhecido pela cor rosa - quando era hotel - no original era de cor branca. Edifício residencial desde que foi construído, seria vendido na década de 1950 passando ali a funcionar o hotel Caravela, situação que durou até praticamente a 1979 ano em que foi demolido.
Para se ter uma ideia da dimensão do edifício refira-se que quando passou a funcionar como hotel tinha 8 quartos duplos e 10 singulares.
Uma estátua do Barão, Visconde e Conde Bernardino de Senna Fernandes (1815-1893) que actualmente pode ser vista na Casa Garden chegou a estar no jardim desta vivenda. Importante homem de negócios e também político, em 1871, um grupo de influentes comerciantes chineses, decidiu mandar construir uma estátua de corpo inteiro. Nessa altura ficou instalada num terreno ajardinado muito perto do Monumento da Vitória, com uma legenda em letras de bronze: «Esta Estátua foi mandada erigir por / Lu-Cheo-Chi, Cham-Hau-in, Ho-Liu-Vong / e outros Negociantes Chineses de Macau/ Em Testemunho de Amizade e Gratidão».
Décadas mais tarde, quando a vivenda Caravela foi construída a estátua foi colocada no jardim fronteiro à casa mas seria dali retirada quando a casa foi vendida e ali foi instalado um hotel. Nessa altura a estátua foi oferecida ao Governo de Macau que a mandou colocar no jardim do Museu Luís de Camões, hoje sede da Fundação Oriente em Macau.
Num artigo de 1985 publicado na Revista Nam Van, o arquitecto Carlos Marreiros considerou o mercado, enquanto edifício de carácter público como "o melhor embaixador do período do Art-Deco ou Tropical-Deco em Macau dos anos trinta."
Curiosidade:
Já com profundas marcas da arquitectura art-déco, Bernardino de Senna Fernades viria a estar envolvido no projecto do Mercado Municipal Almirante Lacerda, mais conhecido por Mercado Vermelho e inaugurado em 1936 na Avenida Almirante Lacerda, no Porto Interior.
O projecto de arquitectura esteve a cargo do arquitecto macaense Júlio Alberto Basto, o cálculo da estrutura de Bernardino e o desenho foi feito por Wong Lam e Tse Shing. Outro arquitecto local da época foi Canavarro Nolasco que, curiosamente, viria a ser responsável por algumas alterações na vivenda Caravela anos depois da construção.
O edifício do Mercado Vermelho foi classificado como “edifício de interesse arquitectónico” em 1992.

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