"Les seuls plaisirs à Macao sont ceux de la table du jeu et de la promenade. Les échecs, le domino sont les jeux favoris des mandarins et des riches Chinois. Ils ont aussi une espèce de dæmier qui contient trois cent soixante et une cases et l avantage consiste à enfermer son adversaire et à s emparer de la plus grande partie des cases. Mouillé dans la rade spacieuse de Macao on ne voit autour de soi que des montagnes. La ville ellemême paroît pour ainsi dire y être attachée quoiqu elle en soit séparée par un bras de mer. Macao bâtie en amphithéâtre sur une hauteur se distingue de fort loin par ses maisons blanchies à l extérieur elles n'ont qu'un seul étage et leur intérieur est disposé convenablement pour un pays chaud."
"Os únicos prazeres em Macau são os da mesa do jogo e do passeio. O xadrez e o dominó são os jogos preferidos dos mandarins e dos chineses ricos. Têm também uma espécie de tabuleiro de damas que contém trezentos e sessenta e um quadrados e a vantagem consiste em prender o adversário e tomar a maioria das casas. Colocados no espaçoso porto de Macau, tudo o que se vê à volta são montanhas. A própria cidade parece, por assim dizer, estar ligada a ela, embora esteja separada dela por um braço do mar. Macau, construído em anfiteatro em altura, distingue-se de longe pelas suas casas caiadas de branco no exterior, de apenas um piso e com o interior devidamente arranjado para um país quente."
O excerto acima é retirado da obra "Collection abrégée des voyages anciens et modernes autour du monde", Volume 11, de Bancarel, publicada em Paris em 1809. O autor compila dados de várias viagens à volta do mundo.No caso de Macau refere-se à de La Pérouse que passou por Macau em 1787.
Jean-François de Galaup (1714-1788), o conde la Pérouse, por ordem de Luís XVI, comandava uma expedição científica à volta do mundo com as fragatas La Boussole e L’ Astrolabe. Chegou a Macau a 3 de Janeiro de 1787 e ali permaneceu até 5 de Fevereiro. Desapareceu num naufrágio na região das ilhas Salomão, Vanikoro (Sul do Pacífico) em 1788.
Do que foi documentando durante a expedição enviou registos por carta. Foi desta forma que ficou salvaguardado parte do objectivo da viagem. Consta que do diário escrito pelo próprio ficou, entre outros registos, esta frase sobre Macau: "O aspecto da cidade é encantador. Há muitas casas bonitas arrendadas aos capatazes das diferentes empresas que são obrigadas a passar o inverno em Macau."
Entre esses registos estão ainda ilustrações de Gaspard Duché de Vancy, desenhador oficial da expedição. Para além das paisagens locais - incluindo a conhecida ilustração "Vue de Macao en Chine", consta que pintou numa parede do Convento de S. Francisco a imagem de S. Francisco com os seus emblemas.
Em 1797 foi publicado um Atlas desta viagem - "Atlas du Voyage de la Perouse" - com um total de 3 volumes onde se incluem 67 gravuras de página inteira, 31 mapas, 29 desenhos de vistas panorâmicas e 7 esboços de espécies da fauna.
Vejamos agora a 'leitura' que eu faço da vista panorâmica de Macau captada a partir do ponto mais alto da escadaria de acesso ao Convento de S. Francisco, numa das extremidades da baía da Praia Grande.
No primeiro plano do lado direito três frades franciscanos falam com uma mulher , ao que tudo indica, macaense tendo em conta que veste o manto tradicional, a saraça, cobrindo-lhe a cabeça. Junto ao muro, sentadas, estão duas mulheres, freiras ou noviças, a pouca distância do que parecem ser túmulos rasos. Junto ao muro - imagem acima - um portão em madeira e dois canhões. Um frade fala com um chinês que tem a frente da nuca e os lados o cabelo rapado e uma longa trança.
Na escadaria do convento, podem ver-se o que parecem dois chineses a conversar, e ao fundo no areal mais algumas figuras humanas. Nas águas calmas da baía surgem embarcações chinesas, juncos e sampanas, sem qualquer navio comercial europeu que por norma fundeavam frente à ilha da Taipa. Destaque ainda para uma pequena fortificação, um baluarte, ao centro da baía.
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