segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

A antiga igreja da SCM

Se não fossem os desenhos de George Chinnery de meados do século 19 não teríamos qualquer representação gráfica da antiga Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Macau, instituição fundada em 1569 por D. Belchior Carneiro com o objectivo de dar à população serviços de beneficência e assistência (apoio a órfãos e viúvas de marinheiros perecidos no mar). Tinha funções semelhantes às da Associação de Caridade da Nossa Senhora de Portugal, fundada pela rainha D. Maria, daí o nome "Santa Casa da Misericórdia".
D. Belchior Carneiro, pouco tempo depois de fundar a Misericórdia, abria um hospital, "onde se admitem tanto cristãos como pagãos", segundo escreve o próprio numa carta ao Geral da Companhia de Jesus, datada de 20 de Novembro de 1575. Chamou-se hospital dos pobres e só por volta de 1800 ficaria conhecido pelo nome de S. Rafael.
Desenhos de G. Chinnery em 1833 (em cima) e 1839 (em baixo)

A igreja foi construída em 1569 e demolida em 1886. Segundo Pedro Dias: "A fachada era dominada pela empena triangular da igreja privativa, dotada de um portal sobrepujado por uma janela de sacada e por um nicho ou baixo‐relevo, tudo de estilo clássico. À esquerda levantava‐se uma pequena torre e à direita as outras instalações privativas. A frontaria era muito simples e despojada, com as quatro grandes janelas do andar alto, com molduração de cantaria e um portal de aparato a meio, de desenho clássico. A construção era de carácter ocidental, dentro dos parâmetros das Misericórdias das vilas de média importância que existiam no Portugal do século XVII. O conjunto dos edifícios incluía um pátio, à volta do qual se organizavam as dependências, como o cartório e as casas dos expostos."

Um baixo-relevo da antiga Igreja actualmente colocado no edifício do IACM (ex-Leal Senado)


Ainda de acordo com Pedro Dias... "Cerca de 1905 foi dado à frontaria o aspecto neo‐clássico que esteve em voga em Macau durante quase todo o século XIX. Avançou‐se o corpo médio, que foi coroado com um grande frontão de raiz clássica. No piso térreo construiu‐se um átrio, hoje em dia mais utilizado como arcada de passagem, como acontece com quase todas as construções do Largo do Leal Senado. No andar nobre foi aberta uma varanda de aparato. No interior pouco resta de antigo, dadas as necessidades de adaptação às funções de assistência dos novos tempos.
Igreja SCM na actualidade. Foto Agência Lusa 

O Compromisso de 1627 é considerado o primeiro 'regulamento' da Misericórdia de Macau.
Das várias misericórdias que existiram na Ásia, a de Macau é a única que ainda existe.

1 comentário:

  1. é de lamentar que tantos monumentos imponentes e de grande riqueza histórica tenham sido demolidos
    esquecem-se muitos que nas igrejas eram dispensados o apoio aos doentes e aos idosos, o ensino às crianças e aos adultos, a organização das festas, do registo civil, do apoio aos artistas e a outras instituições, que os religiosos eram grandes conhecedores das técnicas de construção e da agricultura, enfim um legado que atravessou os séculos e que os novos poderes, talvez "invejosos" do sucesso dos eclesiásticos, preferiram tentar apagar essa história ?!

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