"Quando, a 17 de Julho findo, se reuniram, pela primeira vez, no Riviera, com os jornalistas, a quem comunicaram a sua ideia de levar a efeito a realização de provas de automobilismo, longe estavam, certamente, os organizadores do Grande Prémio de Macau de pensar que duma tão simples quão modesta iniciativa poderia advir tamanha grandiosidade e tão grada repercussão para a vida desta risonha e progressiva terra portuguesa. E porque o festival de automobilismo, em tão boa hora promovido por esse núcleo de entusiastas da modalidade concluído, no domingo passado, em tão grandioso sucesso, não pode deixar de ter conquistado, para si e para a modalidade, uma página gloriosa na história desportiva desta terra. (…)
Fernando Macedo Pinto ficou em 4º na primeira edição do GPM com um MG |
Cremos não haver exagero da nossa parte se dissermos que a história do Grande Prémio de Macau entrou, forçosamente, como assunto de todas as conversas nos meios desportivos das principais cidades do Oriente, mas quantos haverá que terão reconhecido o grande mérito de toda a organização e a inexcedível boa vontade e eficácia daqueles que tão prontamente colaboraram e, por conseguinte, contribuíram para o bom êxito do certame? Há nomes que não poderão ficar esquecidos, pelo muito que eles representam para a efectivação deste, digamos, ensaio automobilístico no nosso meio desportivo. São eles: Carlos Humberto da Silva, António Nolasco, João Pires Antas e Fernando Macedo Pinto, os principais responsáveis pela organização e sucesso do certame, e Manuel Ferreira Cabrita, Horácio de Oliveira e Paul du Toit, pessoas que, desde sempre, mais de perto acompanharam os organizadores, a quem prestaram directa colaboração. (...)
Zona das boxes |
Aproximava-se, então, o momento da grande expectativa. Após os três sinais regulamentares dados pela sereia, Sua Exa. o Governador baixou a Bandeira Nacional para dar a partida. Os concorrentes encontravam-se de pé, frente aos carros respectivos, estes com a frente voltada para o mar. Ao sinal de largar, correram todos para os carros, uns saltando para dentro destes, outros abrindo rapidamente a portinhola, ao mesmo tempo que punham o motor a funcionar. Esta emocionante partida valeu por todo o resto da prova. Foi simplesmente extraordinária!
Com uma rapidez de relâmpago, o corredor G. J. Bell, num ‘Morgan’ de 2088 c.c., em menos de 30 segundos já se encontrava no circuito. A seguir, largaram dois carros de turismo, depois o ‘Triumph TR 2’ do nosso conterrâneo Carvalho, seguido de mais dois outros da mesma marca. O ‘Austin Healey 100’, conduzido por R. I. Pennels, que era o carro mais potente da prova – 2660 c.c. – perdeu imenso tempo na largada, assim como o ‘MG Special’ do único corredor de Macau, Macedo Pinto, que, segundo nos constou depois, no meio da excitação, estava a insistir com o carro travado.
Entraram ao todo 15 carros: na categoria de carros de desporto ou especiais, 3 ‘Triumph TR 2’, 1 ‘Morgan’, 1 ‘Austin Healey 100’ e 1 ‘MG Special’; na de carros de turismo, 3 ‘Fiat 1100’, 2 ‘Hillman’, 1 ‘Citröen’, 1 ‘Ford Zephyr’, 1 ‘Mercedes Benz 220’ e 1 ‘Riley 2 ½’. O ‘Morgan’, rapidíssimo, tomou logo a dianteira, fechando a primeira volta com quase um terço do percurso de avanço sobre o segundo. Porém, antes de fechar a 5.ª volta, ao passar junto da guarita que fica na curva do reservatório de água, para infelicidade do condutor, saiu-lhe uma roda no carro, vindo este a ficar inutilizado para o resto da prova. O motorista, contudo, não sofreu nada, pois que a viatura, apesar da velocidade que trazia, vinha encostada ao muro do Porto Exterior, tendo o condutor a presença de espírito de não largar o volante e conduzir o carro travando até parar completamente, mas já na rampa que desce para a água.
Com uma rapidez de relâmpago, o corredor G. J. Bell, num ‘Morgan’ de 2088 c.c., em menos de 30 segundos já se encontrava no circuito. A seguir, largaram dois carros de turismo, depois o ‘Triumph TR 2’ do nosso conterrâneo Carvalho, seguido de mais dois outros da mesma marca. O ‘Austin Healey 100’, conduzido por R. I. Pennels, que era o carro mais potente da prova – 2660 c.c. – perdeu imenso tempo na largada, assim como o ‘MG Special’ do único corredor de Macau, Macedo Pinto, que, segundo nos constou depois, no meio da excitação, estava a insistir com o carro travado.
Entraram ao todo 15 carros: na categoria de carros de desporto ou especiais, 3 ‘Triumph TR 2’, 1 ‘Morgan’, 1 ‘Austin Healey 100’ e 1 ‘MG Special’; na de carros de turismo, 3 ‘Fiat 1100’, 2 ‘Hillman’, 1 ‘Citröen’, 1 ‘Ford Zephyr’, 1 ‘Mercedes Benz 220’ e 1 ‘Riley 2 ½’. O ‘Morgan’, rapidíssimo, tomou logo a dianteira, fechando a primeira volta com quase um terço do percurso de avanço sobre o segundo. Porém, antes de fechar a 5.ª volta, ao passar junto da guarita que fica na curva do reservatório de água, para infelicidade do condutor, saiu-lhe uma roda no carro, vindo este a ficar inutilizado para o resto da prova. O motorista, contudo, não sofreu nada, pois que a viatura, apesar da velocidade que trazia, vinha encostada ao muro do Porto Exterior, tendo o condutor a presença de espírito de não largar o volante e conduzir o carro travando até parar completamente, mas já na rampa que desce para a água.
A prova continua com o ‘Austin Healey’, de Pennels, na dianteira, seguido dos ‘Triumph’. Mais atrás seguem os carros de turismo, comandados pelo ‘Fiat 1100’ de Ritchie, e entre aqueles o ‘MG’ de Macedo Pinto. Contudo, à 8.ª volta já Macedo Pinto se achava à frente de todos os carros de turismo. À 11.ª volta, Pennels pára o seu ‘Austin Healey’, n.º 9, junto dos poços, para a substituição duma roda. Passa então a comandar o desfile o ‘Triumph’ com o n.º 5, de Eduardo Carvalho, seguido por Paul du Toit, n.º 8, e Reginaldo Rocha, n.º 14. Atrás, seguem Macedo Pinto, n.º 11, e Robert Ritchie, n.º 19, num ‘Fiat 1100’. Os restantes vêm mais atrasados, com Wen Lenard, n.º 4, na cauda.
Tendo completado a 14.ª volta, o ‘Austin Healey’, n.º 9, de Pennels, sofre um acidente perto da ponte sita em frente ao quartel de S. Francisco e fica inutilizado para o resto da prova. Saliente-se aqui a admirável perícia do condutor que, com inexcedível presença de espírito, conseguiu, após manobras dificílimas, tirar o carro da direcção de uma área onde se encontravam dezenas de espectadores, acabando por embater com ele contra um poste.
No circuito há agora 13 carros. Entre o n.º 5, de Carvalho, e o n.º 8, de P. du Toit, é travada luta tremenda para a conquista do posto de comando. O n.º 5 não larga a dianteira, nem o n.º 8 o seu intento de o ultrapassar. Esta luta mantém a assistência emocionada e mostra, ao mesmo tempo, a destreza de ambos os volantes. Entretanto, Macedo Pinto, n.º 11, caminha sereno e muito seguro, prosseguindo na prova com uma regularidade só comparada à dos melhores volantes. Muito menos seguro e perdendo sempre terreno, segue o ‘Triumph’ de Reginaldo Rocha, n.º 14. Atrás destes, vemos o ‘Fiat 1100’, de Ritchie, n.º 19, sempre fugindo dos restantes. Entre estes, salientam-se o ‘Fiat 1100’, de Astwood, n.º 20, e o ‘Hillman’, de Steane, n.º 26.
A cerca de 2 horas da prova, o efectivo dos carros em competição baixou para 12, em virtude da desistência do n.º 25, um ‘Riley 2 ½’ conduzido por A. White, o qual teve uma avaria mecânica, depois de completadas 20 voltas. Até ao fim da prova não se registou mais nenhuma desistência nem acidente, à excepção duma ou outra ultrapassagem em circunstâncias dificílimas que bastaram para pôr os cabelos em pé a grande parte da assistência. De todos os carros, os únicos que não pararam junto dos poços vez nenhuma foram, precisamente, os três conduzidos pelos portugueses, Eduardo Carvalho, Reginaldo Rocha e Macedo Pinto.
Tendo completado a 14.ª volta, o ‘Austin Healey’, n.º 9, de Pennels, sofre um acidente perto da ponte sita em frente ao quartel de S. Francisco e fica inutilizado para o resto da prova. Saliente-se aqui a admirável perícia do condutor que, com inexcedível presença de espírito, conseguiu, após manobras dificílimas, tirar o carro da direcção de uma área onde se encontravam dezenas de espectadores, acabando por embater com ele contra um poste.
No circuito há agora 13 carros. Entre o n.º 5, de Carvalho, e o n.º 8, de P. du Toit, é travada luta tremenda para a conquista do posto de comando. O n.º 5 não larga a dianteira, nem o n.º 8 o seu intento de o ultrapassar. Esta luta mantém a assistência emocionada e mostra, ao mesmo tempo, a destreza de ambos os volantes. Entretanto, Macedo Pinto, n.º 11, caminha sereno e muito seguro, prosseguindo na prova com uma regularidade só comparada à dos melhores volantes. Muito menos seguro e perdendo sempre terreno, segue o ‘Triumph’ de Reginaldo Rocha, n.º 14. Atrás destes, vemos o ‘Fiat 1100’, de Ritchie, n.º 19, sempre fugindo dos restantes. Entre estes, salientam-se o ‘Fiat 1100’, de Astwood, n.º 20, e o ‘Hillman’, de Steane, n.º 26.
A cerca de 2 horas da prova, o efectivo dos carros em competição baixou para 12, em virtude da desistência do n.º 25, um ‘Riley 2 ½’ conduzido por A. White, o qual teve uma avaria mecânica, depois de completadas 20 voltas. Até ao fim da prova não se registou mais nenhuma desistência nem acidente, à excepção duma ou outra ultrapassagem em circunstâncias dificílimas que bastaram para pôr os cabelos em pé a grande parte da assistência. De todos os carros, os únicos que não pararam junto dos poços vez nenhuma foram, precisamente, os três conduzidos pelos portugueses, Eduardo Carvalho, Reginaldo Rocha e Macedo Pinto.
O Clube Náutico 'transformado' por ocasião do GPM |
É chegado o fim da prova e os carros cortam a meta no meio dos animados aplausos dos espectadores. Em primeiro lugar, chega o ‘Triumph TR 2’, n.º 5, do volante português Eduardo Carvalho, classificado, portanto, vencedor absoluto da prova. Paul du Toit e Reginaldo Rocha, ambos em ‘Triumph TR 2’, classificam-se, respectivamente, em 2.º e 3.º lugares, pertencendo a Macedo Pinto, em ‘MG Special’, o 4.º lugar na classificação geral."
Partida para o primeiro GPM em 1954 |
Artigo de José dos Santos Ferreira (Adé), em 1954, publicado no livro “Escandinávia – Região de Encantos Mil” que reúne crónicas do autor. Foi editado pela primeira em 1960 e teve uma reedição em 1994. As imagens não são do livro mas de diversas fontes disponíveis na internet.
PS: Este ano acontece a 70ª edição do Grande Prémio de Macau
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