(...) Não faltam os vendedores dos diversos lèong-tch´á (chás refrigerantes e diuréticos), dos tái-tch´ói-kou
(gelatinas), uns encarnados feitos com essências de rosas outros
amarelados feitos com açucar-cândi, todos triangularmente cortados.
Porém, para o gosto dos Chineses, nada rivaliza ao seu lèong-fán, de cor negra e que se apresenta em grande bloco por ter tomado o feitio do alguidar em que foi preparado. (...)
Como a população duma cidade não necessita somente de comestíveis, circulam também pelas ruas da cidade os mái-fá-pou com vários cortes de fazendas e de garridos estampados, nos seus enormes e chatos cestos; os mái-tch´áu
que levam ao ombro grandes fardos de vários rolos de seda, embrulhados
em forte pano cru; as bibliotecas volantes com esfarrapadas novelas e
livros de canções, para alugar, etc.
Entretanto,
porque as donas de casa precisam sempre de adquirir peças isoladas de
baixela que, por serem feitas de frágil porcelana, se partem
constantemente, à hora certa, passará pelas suas portas o pó-lêi-pui
com completo sortimento de copinhos, taças de porcelana, pires,
colherinhas e tudo quanto é possível fazer-se em cerâmica.
Em Macau, porém, chamam impropriamente de pó-lêi-pui
aos homens que vendem botões, linhas de coser, sabonetes, rede para o
cabelo, molas para a roupa, baralhos de cartas, naftalinas e a mais
disparatada mistura de objectos (...).
Temos assim, os vendedores de fogões e de panelas de barro; os homens dos iáu-tchi-sin (leques de papel oleado) e k´uâi-sin
(leques feitos de folhas de palmeira, isto é, se for no Verão); os
im-máu-lou (castradores de gatos); os vendedores de ovos; de galinhas,
com os papos cheios de areia para ganharem mais peso; de achares e de
diversas gulodices.
No entanto, os pregões mais familiares são dos que vociferam incomodamente sáu-tchêng t´áng-i (consertam-se cadeiras de verga) e (...) sâu-tchên-kuâi-só, tchên-t´óng-kau (consertam-se fechos e arranjam-se visagras de cobre); pôu-uók (remendam-se caçarolas); mó káu tchín (amolam-se tesouras e facas); hón-t´ông, hón-sèak (soldam-se objectos de cobre), etc. (...)
Os tin-tins passam, então, a toda a hora, batendo desalmadamente com um prego os discos de metal (...).
Juntam-se
a estes pregoeiros, os cegos que agitam «slacslacqueando» várias
varetas, num cilindro de bambu, e que por insignificante quantia, se
prestam a revelar, por meio da sua rabdomântica ciência, os segredos
daqueles que vivem inquietos com o futuro.
De vez em quando aparece também quem venda o môk-sât-kuân
(pauzinhos para percevejos), (...) ao anoitecer, aparecem diversos
vendilhões com as suas canastras carregadas de ostras, camarões,
caranguejos frescos e peixes para os gatos, bem como os que vendem
petróleo e azeite.
Mas o pregão mais característico é sem dúvida o do siu-áp-lou (homem que vende pato assado) (...).
As mulheres chinesas não desgostam de se entreter jogando o má-tchèok (...) e, como este passatempo costuma estender-se até altas horas da noite, lá aparece o homem de mou-ü tch´á kai-Tán (chá mou-ü com ovo cozido); háng
ián-tch´á (chá de amêndoas) e os empregados das casas de pasto a
apregoarem a ementa da noite para receberem as encomendas da ceia.
Os residentes mais modestos satisfazem-se com o uán-t
´ân-min, a conhecida sopa de fitas, cujo segredo de preparação Marco
Polo não descurou de levar para a Europa (...), foi assim que o min veio originar os macarrões (...). Os uán-t´ân, ou sejam os camarões embrulhados com a mesma massa do min, gozaram também de grande popularidade em Veneza e, com o tempo, foram transformados nos deliciosos ravióis.
in Chinesices de Luís Gonzaga Gomes
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