Excerto de uma carta enviada por Rebecca Kinsman à família que vivia nos EUA (Salem).
Macau, 4 de Novembro de 1843
Amanhã chega de Cantão o navio "Ann-Mckim" a caminho de Nova Iorque. Mandarei o meu diário por meio de Wm. Wetmore. (...) Ficámos hospedados em casa de R. Lejee (...) A casa é nova e uma das melhores de Macau, espaçosa e arejada, e agradavelmente situada na Praia Grande, que é uma larga rua marginal ao longo da praia-mar. É rodeada dum alto muro que cerca um lindo jardim e tem dois andares como é estilo aqui: o primeiro para os criados, o segundo para a família. Da minha janela vejo as árvores do jardim e, mais além, a baía, onde estão sempre ancorados um ou mais navios: neste momento há lá dois navios de guerra franceses e um holandês além de vários mercantes e ainda ontem saiu de cá uma navio inglês. À esquerda a terra descreve uma curva graciosa formando uma baía semi-circular. Na ponta extrema da terra ergue-se uma igreja católica e um convento e um forte português (referência à igreja, convento e forte de S. Francisco) no qual tremula a bandeira nacional, ao passo que a cruz indica o edifício sagrado. Ao longo da curva estendem-se belas moradias, circundadas de árvores e arbustos e numa alta colina atrás delas, que parece quase inacessível, levanta-se outra igreja e outro forte (ermida e forte da Guia). Há aqui muitas e grandes igrejas e algumas delas com sinos de sonoros repiques. Gostamos muitos deles, pois nos recordam a nossa terra.
Nos dias Santos que ocorrem frequentemente, eles repicam quase sem cessar mas não nos incomodam, visto não haver nenhum perto de nós, sobretudo na véspera de Natal, pode ouvir-se muito boa música na velha igreja de S. josé, que nós pensamos visitar. (...) Os meus filhos vão todas as tardes para o campo, lugar aberto fora das muralhas da cidade, ou para outros lados; lá se misturam com outras crianças e há aqui crianças muito lindas, superiores em beleza aquelas que nós nos podemos orgulhar. São filhos de ingleses e americanos que aqui residem e algumas raparigas e rapazes portugueses são muito lindos. (...)
Depois de jantar vamos passear. Os cules seguem-nos com a cadeira e se nos sentimos cansados, metemo-nos nela e eles transportam-nos. (...) o clima é muito saudável para as crianças - a febre escarlatina, o sarampo e outros flagelos da juventude, comuns entre nós, são aqui desconhecidos; e a tosse convulsa, se acaso aparece, vem dum modo tão brando que quase não se reconhece. (...) A sociedade aqui é limitada, mas agradável. (...) A cidade de Macau é maior e mais agradável do que eu esperava. O cenário nos arredores da cidade é pitoresco e romântico e proporciona-nos passeios agradáveis. (...) Nos nossos passeios encontramos grande variedade de gente: judeus, parses, malaios, bengaleses, lascars, cafres, escravos dos portugueses, para não falar dos europeus: ingleses, escoceses, franceses, alemães, suecos, etc. que apenas se distinguem por pequenas diferenças de feições e compleição.
Macau, 4 de Novembro de 1843
Amanhã chega de Cantão o navio "Ann-Mckim" a caminho de Nova Iorque. Mandarei o meu diário por meio de Wm. Wetmore. (...) Ficámos hospedados em casa de R. Lejee (...) A casa é nova e uma das melhores de Macau, espaçosa e arejada, e agradavelmente situada na Praia Grande, que é uma larga rua marginal ao longo da praia-mar. É rodeada dum alto muro que cerca um lindo jardim e tem dois andares como é estilo aqui: o primeiro para os criados, o segundo para a família. Da minha janela vejo as árvores do jardim e, mais além, a baía, onde estão sempre ancorados um ou mais navios: neste momento há lá dois navios de guerra franceses e um holandês além de vários mercantes e ainda ontem saiu de cá uma navio inglês. À esquerda a terra descreve uma curva graciosa formando uma baía semi-circular. Na ponta extrema da terra ergue-se uma igreja católica e um convento e um forte português (referência à igreja, convento e forte de S. Francisco) no qual tremula a bandeira nacional, ao passo que a cruz indica o edifício sagrado. Ao longo da curva estendem-se belas moradias, circundadas de árvores e arbustos e numa alta colina atrás delas, que parece quase inacessível, levanta-se outra igreja e outro forte (ermida e forte da Guia). Há aqui muitas e grandes igrejas e algumas delas com sinos de sonoros repiques. Gostamos muitos deles, pois nos recordam a nossa terra.
Nos dias Santos que ocorrem frequentemente, eles repicam quase sem cessar mas não nos incomodam, visto não haver nenhum perto de nós, sobretudo na véspera de Natal, pode ouvir-se muito boa música na velha igreja de S. josé, que nós pensamos visitar. (...) Os meus filhos vão todas as tardes para o campo, lugar aberto fora das muralhas da cidade, ou para outros lados; lá se misturam com outras crianças e há aqui crianças muito lindas, superiores em beleza aquelas que nós nos podemos orgulhar. São filhos de ingleses e americanos que aqui residem e algumas raparigas e rapazes portugueses são muito lindos. (...)
Depois de jantar vamos passear. Os cules seguem-nos com a cadeira e se nos sentimos cansados, metemo-nos nela e eles transportam-nos. (...) o clima é muito saudável para as crianças - a febre escarlatina, o sarampo e outros flagelos da juventude, comuns entre nós, são aqui desconhecidos; e a tosse convulsa, se acaso aparece, vem dum modo tão brando que quase não se reconhece. (...) A sociedade aqui é limitada, mas agradável. (...) A cidade de Macau é maior e mais agradável do que eu esperava. O cenário nos arredores da cidade é pitoresco e romântico e proporciona-nos passeios agradáveis. (...) Nos nossos passeios encontramos grande variedade de gente: judeus, parses, malaios, bengaleses, lascars, cafres, escravos dos portugueses, para não falar dos europeus: ingleses, escoceses, franceses, alemães, suecos, etc. que apenas se distinguem por pequenas diferenças de feições e compleição.
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