A 19 de Maio de 1860 A. Marques Pereira informava sobre o "começo n'esta cidade, há já mais d'um mez, aos trabalhos da construcção de um novo palacio do governo, no mesmo local onde era situado o antigo" que já não "correspondia à dignidade e representação do fim a que era destinado". A referência é ao que viria a ficar conhecido como Palácio das Repartições - onde está actualmente o antigo tribunal junto à estátua de Jorge Álvares - numa altura em que ainda não existia o "Palácio do Governo" que hoje se conhece.
Boletim do Governo 19 de Maio de 1860 |
Cerca de um ano depois, a 23 de março de 1861, na mesma publicação, o mesmo autor escreve na "parte não oficial" sobre as obras quase concluídas do "novo palácio do governo" na "frontaria da cidade" (Praia Grande):
"(...) Corre a fachada, na extensão que occupava a antiga, com o pateo que lhe ficava contiguo, dando assim logar no andar nobre a treze janellas bastante afastadas. A porta, elevada sobre uma pequena escada de pedra, é ladeada por quatro meias columnas que sustentam a varanda, sacada do centro, e continuam em cima até ao triangulo da cornija, onde estão as armas reaes de Portugal. Ao fundo do vestibulo, cujas portas lateraes dão serventia ao andar inferior, ha três arcos sustidos por columnas com passagem para a escada, ainda agora não construída. Na perpendicular d'estes arcos, tres portas no patamar de cima dão entrada no centro de uma elegante galeria de cinco salas, que occupa toda a frente do pavimento nobre. A obra está feita com solidez pouco vulgar nas construcções d'aqui."
Na altura era governador de Macau o conselheiro Isidoro Francisco Guimarães (Visconde da Praia Grande). Por volta de 1872 a fachada frontal do edifício foi alterada construindo-se um "corpo central saliente".
O "Palácio do Governo/Repartições" num detalhe de uma pintura de autor anónimo ca. 1880 |
Fotografia do final do século 19
Outro pormenor de outra pintura onde se vê o Palácio do Governo/Repartições junto ao fortim de S. Pedro onde está hasteada a bandeira portuguesa (monarquia); em cima, à esq. o Teatro D. Pedro V |
Palácio das Repartições num detalhe de uma fotografia ca. 1900 |
A antiga Casa da Guarda na imagem, ca. 1890/1900, já como Correios, num pormenor de um postal ilustrado da época |
Tendo por base um artigo de 1883 no jornal O Occidente, ficamos a saber como era o edifício, já tendo como anexo a chamada Casa da Guarda (do lado direito):
"Tem o edifício de frente, quarenta tantos metros e de suas extremidades seguem perpendicularmente à frente alas que para o lado interior fecham até certa altura o jardim do mesmo palácio, o qual depois é protegido por muros e prédios particulares, sendo os fundos do lado fronteiro ao palácio fechado pelas cavalariças e cocheiras pertencentes ao mesmo, cuja frente fica na calçada, se bem nos recorda, do Santo Agostinho. Comprehende o palacio dois pavimentos, no inferior, lado direito, são as repartições da secretaria do governo e, lado esquerdo, alojamentos dos oficiaes às ordens e adjudantes dos governadores. Nos fundos, arrecadações e quartos de ordenanças. No primeiro pavimento à frente, salas de entrada e na primeira, à direita, mais duas sendo a do topo a do docel; à esquerda, de visitas ou dos retratos dos governadores, reservada, a gabinete particular do governador ou seu escriptorio."
Detalhe de uma fotografia ca. 1875 |
PS: Em 1883 o Governador passou os aposentos para o antigo Palácio do Cercal, ficando no edifício de 1861 apenas as repartições públicas e, em alguns anos, também a primeira sede do BNU e as instalações dos correios.
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