Nouvelle Relation de la Chine, contenant la description des particularitez les plus considerables de ce grand Empire. Composée en l'année 1668. Par le R. P. Gabriel de Magaillans, de la Compagnie de Jesus, Missionaire Apostolique. Et traduit du Portugais en François par le Sr B., Paris, 1688.
Este é um dos relatos europeus mais importantes sobre a China na segunda metade do século XVII. Gabriel de Magalhães foi um jesuíta português que, depois de passar seis anos em Goa, passou por Macau em viagem para a China para trabalhar com o imperador Kangxi (ver em baixo o elogio ao padre, quando morreu, feito pelo imperador). Mais tarde, fundou a Igreja de S. José em Pequim. Neste trabalho documentou a história, costumes e língua do povo chinês. Esta é a primeira edição, traduzida do original português para o francês. Seria posteriormente traduzida para o inglês e outras línguas.
O título original é: "Nova relação da China: contendo a descrição das particularidades mais notáveis deste grande império" pelo Padre Gabriel de Magalhães". Luís Gonzaga Gomes fez uma tradução da versão francesa que foi editada em Macau em 1957. Teve uma reedição em 1997.
Excerto da Bibliotheca Lusitana, vol. II sobre o padre Gabriel de Magalhães (1609-1677):Naceo na Villa de Pedrogaõ distante quatorze legoas da Villa do Crato em o anno 1609. de Pays igualmente nobres, e piedosos chamados Manoel Calvo de Magalhaens, e Maria de Andrade. Foy educado por hum seu Tio Conego com taõ virtuosos documentos, que havendo estudado os primeiros rudimentos de Gramatica com os Padre Jesuitas se afeiçoou tanto ao seu instituto que foy a elle admetido em o Noviciado de Lisboa a 24. De Março de 1624 quando contava quinze annos de idade. Acabada a carreira dos estudos Escolast icos pedio com repetidas instancias a Superiores faculdade para promulgar o Evangelho no Oriente, e tanto que a alcançou partio sem demora para Goa onde chegando no anno de 1634. Depois de dictar Rethorica aos seus domesticos passou a Macao a ler Filosofia de cuja laboriosa incumbencia o divertio hum Madarim Portuguez que o levou à Cidade Hamcheu Capital da Provincia Chekiam onde assistia o ViceProvincial o qual tendo recebido noticia de estar gravemente infermo o P. Luiz Buglio de naçaõ Siciliano assistente na Provincia de Sûchùem para nella fundar huma Missaõ, se ofereceo o P. Magalhaens para seu Companheiros naõ lhe servindo de obstaculo a larga jornada de quatro mezes até chegar a Sûchúen.
Horriveis foraõ as perseguiçoens, e cruelissimos os tormentos, que constantemente tolerou este Operario Evangelico maquinadas pela malicia dos Bonzos concitando muitas vezes ao povo contra a sua pessoa e delatando-o aos Tribunaes como pertubador da paz publica, sendo condenado a hum tenebrozo carcere por espaço de quatro mezes onde jazia oprimido com tres Cadeyas no pescoso, tres nas mãos, e tres nos pés, e algumas vezes era açoutado rigorosamente naõ podendo tantas tribulaçoens emtibiar o ardor da sua Charidade assim na conversaõ, como no bautismo de muitos Gentios. Na Corte de Pekim foy muito aceito ao Emperador da China cujo afecto conciliou com a offerta de algumas peças engenhosamente fabricadas por suas maõs. Tres annos antes da sua morte padeceo penetrantes dores cauzadas do pezo dos grilhoens cuja molestia se augmentou com hum grave difluxo que lhe difficultava a respiraçaõ. Conhecendo ser chegado o termo de serem premiados os seus Apostolicos trabalhos se confessou geralmente, e recebendo os Sacramentos na presença de muitos Padres, e Christaõs morreo placidamente na Corte de Pekim a 6. de Mayo de 1677 quando contava 66. annos de idade, e 43. de Religiaõ.
Ao dia seguinte foy o vice Provincial o Padre Fernando Verbiest certificar ao Emperador da morte do P. Magalhaens para cujo enterro mandou logo outocentos Francos, e dez pessas de Damasco o qual foy disposto pela ordem seguinte. Precediaõ a toda a comitiva vinte quatro trombetas, e outros instrumentos com dez Officiaes que levavaõ em humas taboas escritas pelos Mandarins a cominaçaõ do castigo daquelles que naõ dessem lugar para a passagem do Funeral. Seguiase huma Liteira em que hia escrito em Setim amarello o Elogio que o Emperador mandou fazer ao Padre defunto que constava destas palavras:
'Agora entendo que Nghaen ven sú (era o nome que na China se dava ao Padre) he morto da doença. Façolhe esta escritura em rezaõ de que em tempo de meu Pay primeiro Emperador da nossa Familia, este Padre com suas obras engenhosas acertou com o genio, e gosto do dito meu Pay, e tambem porque depois de estar inventadas, teve cuidado de as conservar com huma deligencia extrema, e sobre suas forças; e muito mais em rezaõ de que viera de taõ longe, e alem do mar por viver como viveo muitos annos na China. Era homem verdadeiramente sincero, e de hum engenho solido como mostrou por todo o discurso da sua vida. Esperava eu que a sua infermidade se pudesse vencer com os remedios, mas contra a minha esperança se apartou de nòs com grande pesar, e sentimento de meu coraçaõ. Por estas resoens lhe mandei dar duzentos escudos, e dez grandes pessas de Damasco para que se conheça que minha tensaõ he nunca me esquecer de Vassallos vindos de taõ longe. No anno 16. do Emperador Camhi (he o de Christo de 1677.) aos 6. do quarto da Lua (que he a 7. de Mayo.)'
Cercavaõ esta liteira muitos Eunuchos Christaõs dos quais alguns eraõ da Caza do Emperador. Seguiaõ se tres liteiras ornadas de seda de varias cores. Na primeira hia huma Cruz; na segunda a Imagem de N. Senhora, e na terceira a de S. Miguel acompanhadas de muitas bandeiras, e lanternas. Em outra liteira se via o retrato do P. Magalhaens, que mandara copiar o Emperador por hum primoroso pintor do seu Palacio a qual hia seguida de grande multidaõ de Christãos, e Mandarins. No fim de toda esta pompoza comitiva era levado o feretro por sessenta homens cubertos de luto o qual estava posto sobre huma caixa envernizada com o tecto forrado de veludo roxo. O numero das pessoas que acompanhava o enterro era taõ grande, que os primeiros distavaõ dos ultimos o espaço de huma milha. Chegada esta comitiva ao lugar da Sepultura se cantou o Responso com as cerimonias determinadas pelo Cerimonial Romano, e se finalizou esta funebre funçaõ com as lagrimas de todos os assistentes.
Fazem delle mençaõ Rougemont Histor. Tartaro Sinica pag. 216. n. 147. e 166. P. Luiz Buglio Abrege de la vie e de la mort. du P. Gabriel de Magaillans no fim da sua Relaçaõ da China. Cathalog. PP. Societ. Jes. qui post obitum S. Francisci Xavierij ab anno 1581. usque ad an. 1681. in Imp. Sinar. I. C. fidem prepagarunt. pag. 32 . n. 52 . Compoz.
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