quarta-feira, 30 de junho de 2021

"Two to Macao"

Two to Macao
By Jim Marshall
Macao, the Portuguese city in China, is headquarters for exotic wickedness. She has had the reputation for years; nobody thought of questioning it. But now Pan American Clippers are dropping Americans there in droves, and the Americans are saying, "Show us." And Macao, put on her mettle, is going to do her level best Chinese lottery tickets are offered for sale every few feet along (...)
The big gambling places are all much a like. Typical one is the Vitoria. (...) Macao itself is a small peninsula on the west side of the Pearl River mouth, a few miles away below Canton, where the revolutions come from. It is only 5 square miles in extense, and half of thi sis reclaimed land.About 200,000 people live in the city. About a million more live roundabout in everything from 10 foot sanpans to 500 ton. war junks. (...)
Today if you fly in to Macao, you'll see the old Kinshan plowing slowly up the muddy channel far below. (...)
Macao has its streets of pleasure girls (...) 

in Collier's, edição 26 Junho 1937

Dois para Macau 
Por Jim Marshall 
Macau, cidade portuguesa na China, é sede de perversidades exóticas. Tem essa reputação há anos e ninguém nunca a questionou. Mas agora os Clippers da Pan American estão deixando americanos lá em massa, e os americanos dizem: "Mostre-nos." E Macau, com coragem, vai dar o seu melhor. Os melhores bilhetes de lotaria chinesa são colocados à venda a cada poucos metros (...) Os grandes locais de jogo são todos muito parecidos. Um típico é o Vitória. (...) Macau é uma pequena península no lado oeste da foz do Rio das Pérolas, algumas milhas abaixo de Cantão, de onde vêm as revoluções. Tem apenas 5 milhas quadradas de extensão e metade desta área resulta de aterros. Cerca de 200.000 pessoas vivem na cidade. Cerca de um milhão mais vive em redor, desde as pequenas sanpanas de 10 pés aos juncos de guerra de 500 toneladas. (...) Hoje, se você voar para Macau, verá o velho Kinshan subindo lentamente pelo canal lamacento lá em baixo. (...) Macau tem as suas ruas de miúdas do prazer (...) 
Tradução do excerto de artigo publicado na edição de 26 Junho 1937 da revista semanal norte-americana Collier's.

terça-feira, 29 de junho de 2021

1949-1969: celebrações do 20º aniversário da RPC

Criado em 1921 o Partido Comunista da China (PCC) celebra esta semana o centésimo aniversário. O PCC chegou ao poder em 1949 e desde então ao secretário-geral do partido é também o presidente do país. No post de hoje uma sequência de imagens das celebrações do 20º aniversário do PCC em Macau em 1969.
Porto Interior junto à ponte-cais 16 (Grand Hotel Kuok Chai à esquerda)
Av. Almeida Ribeiro/San Ma Lou (ao fundo o edifício Rainha D. Leonor)
Porto Interior junto à Praça de Ponte e Horta

Porto Interior

No Largo do Senado (SCM à direita)
Junto à Av. Inf. D. Henrique (esplanada Waltzing Matilda à esquerda)
Fotos de João Constantino, na altura militar português em comissão de serviço em Macau.

segunda-feira, 28 de junho de 2021

Hotel A. Chau: Rua do Gamboa



Séc. 21
Década 1970
Década 1950

Remonta à década de 1930 o hotel A-Chau na Rua do Gamboa cujo placard pode ver-se junto à Travessa da Louça onde está um túnel em arco. Este túnel em tempos idos, chegou a ter uma porta que se fechada durante a noite para evitar vagabundos ou malfeitores. Este termo era designado como “lanchaes”, do cantonense "lán châi". 
O Hotel A-Chau (significa Hotel Ásia) situava-se depois da passagem pelo túnel, num edifício do lado direito.

domingo, 27 de junho de 2021

sábado, 26 de junho de 2021

Visitas à Cadeia Pública: 1913


Acabado de concluir na época, em finais de 1913 um Aviso da Direcção das Obras Públicas informava que "é livremente permitida em todos os dias úteis" durante uma semana "a visita ao novo edifício da Cadeia Civil, acabado de concluir e que vai desde já ser entregue à exploração".

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Planta da cidade e peninsula do Nome [ [de] Deus [de] Macáo na China

Intitulada "Planta da cidade e peninsula do Nome [ [de] Deus [de] Macáo na China" foi elaborada por volta de 1700 e tem 75 x 51 cm.
Inclui localização e legendas da Fortaleza de Nossa Senhora da Guia, Fortaleza do Monte, Forte de S. Francisco, Forte de S. Pedro, Forte de Nossa Senhora do Bom Parto e Fortaleza da Barra

quinta-feira, 24 de junho de 2021

História do "Brasão" no Dia de Macau

Neste Dia de Macau recordo um pouco da história do "brasão" do território e os "quatro santos padroeiros"
 
Tal como os restantes brasões coloniais, o brasão da então Colónia de Macau foi criado em 1935. Apresenta à sinistra cinco escudetes de cor azul postos em cruz, cada um com cinco besantes em aspa sob fundo prata. À dextra apresenta um dragão chinês (em homenagem ao dragão que aparecia nas bandeiras da China até 1911) em ouro com língua vermelha, armado com um escudete semelhante aos apresentados à sinistra. Na base cinco ondas de cor verde. No listel a legenda tinha o nome oficial do território. De 1935 até 1951 “Colónia Portuguesa de Macau”, de 1951 a 1976 “Província Portuguesa de Macau” e de 1976 a 1999 “Governo de Macau”. Após 1976, deixou de se representar o brasão assente na esfera armilar e a estrutura de castelos que encabeçava o brasão foi substituída pelos habituais 5 castelos representando o título de cidade.

No verso de uma moeda de 5 avos emitida em 1952
Emissão filatélica: 1953

quarta-feira, 23 de junho de 2021

MSM: professor de português e reitor interino

No ano lectivo de 1913-1914, Manuel da Silva Mendes (1867-1931) acumulava os cargos de Reitor interino e Professor do Liceu de Macau (Tap Seac - imagem acima)). 
No Curso Liceal MSM dava aulas de Português (também havia Chinês no Curso Comercial) às 3ª, 4ª e 5ª Classes. As aulas decorriam de segunda a sábado e tinham 55 minutos de duração.

terça-feira, 22 de junho de 2021

Becos e Pátios antigos

Os pátios são uma tipologia habitacional singular em Macau. São formados por um conjunto de edifícios (de um ou dois pisos) construídos em torno de um pátio central comum que para além de acessibilidade serve ainda como espaço de socialização colectiva.
Páteo das Seis Casas

O Páteo das Seis Casas é conhecido em chinês por Fok Lok. Fica junto à rua da Praia do Manduco, tal como os páteos do Bonzo, do Sal e da Ilusão. Os edifícios são construídos em tijolo cinzento e os telhados com estrutura de madeira e telha. No Páteo das Seis Casas viveu o pintor britânico George Chinnery durante a sua longa permanência no território.
Páteo da Boavista

Alguns nomes dos outros páteos que existiam no século 19: Argola, Candeia, Carpinteiro, Perpétuas, Tranca, Tronco, Patane, Sairo, etc...
Pátio do Abridor e Pátio do Bonzo
Alguns nomes de outros becos que existiam no século 19: Peixe, Prata, Roseira, Sapato, Chave, Colher, Concha, Coral, Dragão, Elefante, Horta, Leite, Malva, Namorados, Óculos, Palhoças, etc...
Actualmente Macau tem cerca de 200 topónimos de becos (li em chinês) e pátios (wai em chinês). Urge preservar os melhores exemplares das chamadas casas-páteo de forma integral e não apenas as fachadas.
Beco do Ganso

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Interport / 港澳埠際足球賽 : desde 1937

O Interport de Futebol (havia outras modalidades) entre Hong Kong e Macau 港澳埠際足球賽, prova de futebol disputada entre as selecções de Hong Kong e de Macau, teve a primeira edição em Macau no ano de 1937. Ainda hoje se realiza - tendo sido interrompida apenas nos anos da guerra entre 1942 e 1946. As duas cidades vão intercalando na realização da prova.
As imagens abaixo dizem respeito à edição de 1965 (Macau com o equipamento dos CTT) que teve lugar no Canídromo. Também se realizaram interports entre, por exemplo, as equipas da polícia das duas colónias.
Governador cumprimenta os jogadores

António Adriano Faria Lopes dos Santos (1919-2009), antigo general do exército, foi governador de Macau entre 17 de Abril de 1962 e 25 de Novembro de 1966.

domingo, 20 de junho de 2021

De Macau a Fuchau

Neste post apresentou alguns excertos das seis cartas escritas pelo capitão tenente Gregório José Ribeiro (foi secretário do governador Isidoro Francisco Guimarães) e que foram publicadas primeiro no Ta ssi yang kuo e depois, em 1866 (Lisboa), nove anos depois da referida viagem ter sido efectuada, no pequeno livro "De Macau a Fuchau: Cartas a J. M. Pereira Rodrigues. Recordaçoes de viagem".
Ao todo foram 627 milhas percorridas durante 55 dias.
Se actualmente fizermos uma pesquisa pelo nome Fuchau pouco ou nada se encontra. Mas um outro nome, Fouchow, permite perceber melhor este nome aportuguesado de uma cidade hoje também conhecida pelo nome de Fucheu (na foz do rio Mine)
Excertos:
"De Macau a Fuchau distam apenas 627 milhas e esta distancia que em vapor de regular andamento se vence em duas singraduras custou ao meu pobre brigue cincoenta e cinco. É facil concluir se que uma massada constante se desenvolveu abordo desde o primeiro até o ultimo No meio porém d'este continuado martyrio o desespero não se elevou a ponto de rebuçado pelo refrigerio que se experimentava visitando todos os portos bahias e enseadas da costa fugindo d´este modo aos furores do aquilão que nos rasgava o panno em tiras. A descripção pois de todas estas bahias e de tudo que se passou nestes cincoenta e cinco dias formaram no meu humilde livro um capitulo intitulado mau vento é o nordeste do qual se extrahe a presente carta e todas as que se lhe seguirem.
A 20 de dezembro do anno do Senhor de 1857 largamos da abra de Macau e a 22 fundeamos na bahia de Hongkong primeiro marco d esta romaria. Pouco nos demoramos aqui da colonia nada direi pois nem a terra fui Os camaradas acharam a augmentada com coisas colossaes e incriveis eu ingenuamente o digo nada lhe achei de espantoso."

Esquema abreviado da rota da viagem que teve várias escalas, incluindo em Amoy (Amoi)

"A cidade chineza de Amoi é um chavascal immunda e triste como são todas as cidades do celestial imperio que tenho visto. As ruas estreitissimas além de ingremes e em forma d'escadas. Finalmente ha por toda a parte porcaria de tal ordem e tanta miseria que vista uma vez não se pode tornar a vêr. A ilha do Colunsu offerece o unico passeio soffrivel para onde os europeos depois do seu serviço vão em pequenos botes distrahir se e andar." 

Gregório José Ribeiro (1828-1884) nasceu em Lisboa e casou em Macau (Sé) em 1860 com Carolina Gonzaga.
Foi:
Capitão-de-Fragata da Marinha Portuguesa (16.09.1873)
Governador de São Tomé e Príncipe (23.10.1873 a 01.11.1876), executando em 1875 a abolição da escravatura
Secretário-Geral do Governo de Macau.
Comendador das Ordens de Aviz e de Cristo
Cavaleiro da Ordem de Aviz
Cavaleiro da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa
Cavaleiro da Ordem de Carlos III de Espanha (1868)
Director da Cordoaria Real (18.05.1877)
Medalha de Leopoldo da Bélgica
Cônsul de Zanzibar (póstumo)

sábado, 19 de junho de 2021

Proíbidos banhos "em estado que offenda a moral pública"

Esta "ordem superior" do Conselho do Governo de 25 de Maio de 1864 foi publicada 5 dias depois n'O Boletim do Governo de Macao.

Ordena-se às "patrulhas da Polícia, para não consentirem, que pessoa alguma se banhe nas praias do litoral da cidade, em estado que offenda a moral publica".

sexta-feira, 18 de junho de 2021

Travessa do Colégio e Convento das Carmelitas

A imagem acima - Travessa do Colégio - testemunha o que restou da muralha que rodeava o antigo Convento das Carmelitas (em baixo numa fotografia da década de 1960)
Segundo Monsenhor Manuel Teixeira, "as primeiras carmelitas, vindas de Hongkong, chegaram a Macau a 22 de Outubro de 1941. O convento ficou pronto em 1951.


quinta-feira, 17 de junho de 2021

"Macau is firecracker headquarters of the world"

"After a good breakfast at the Macau Inn we set off on a rubber-necking tour of the little place. We visited places where firecrackers are made. Macau is firecracker headquarters of the world."
Excerto do livro "Around the World with Elmer... Backwards; Or, How to Haggle in 17 Countries", de Elmer Wheeler, publicado em 1960.
The Portuguese overseas territory of Macau is located in China about 35 miles from Hong Kong. Its land area is about 6 miles. The 1960 census reported a population of 169,299. Due to the mass exodus from the Chinese mainland in 1962 however estimates of the present population now run as high as 250,000.
The Portuguese came into possession of Macau in 1557 and now hold it by virtue of an 1887 treaty with China.Macau is ruled by an appointed Governor who is represented by a deputy in the Portuguese National Assembly .The country is divided into two wards each having its own administrator. The only legal political party is the União Nacional.
The main economic activities include trading particularly in gold and tourism. Imports in 1960 were valued at 158,701 300 patacas (US 30,360,000) exports at one third that amount. Important exports were garments valued at 10,167,120 patacas (US 1,944,000), cloth 7,894,376 patacas (US 1,477 200) and firecrackers 6,860,714 patacas (US 1,311,800).
The chief markets for locally made products are Hong Kong, Angola and Mozambique.
Under the Portuguese 6 year plan 1959-64 Macao is to receive 2.10 million to 220 million escudos (US 7.3 million to 7.65 million) for development.
Most of the inhabitants are Chinese. According to the 1960 census in addition to the Chinese there were 6,796 Portuguese 1,178 persons from Portuguese territories and 561 foreign nationals. Somewhat more than one third of the people are literate. About half of the 48,659 children of primary school age attended school in 1960. Many of the inhabitants are refugees, about 4,840 were registered with the Mainland Refugees Relief Association in 1961. The majority of the population are adherents of Confucianism, the remainder are Catholics, Protestants and Pagans. The official language is Chinese.
in Directory of Labor Organizations, Asia and Australasia. United States. Bureau of International Labor Affairs, 1963.

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Miss Macao 1963

Em Abril de 1963 realizou-se em Tóquio (Japão) uma edição do concurso de beleza Miss Ásia que viria a ser ganho pela representante de Seul (Coreia), a jovem de 22 anos Chai Inja. Nesta foto é a quarta a contar da direita, tendo à sua esquerda a representante de Macau, Ying Yun Hiu de cabaia chinesa. Nesse ano o concurso Miss Mundo/Universo já ia na 12ª edição.

Na imagem algumas das concorrentes: Miss China continental (Helen Liu), Miss Kowloon (Cehn Sia Ping), Miss Índia (Afifa Rahman), Miss Japão (Ysohie Kido), Miss Macau (Ying Yun Hiu), Miss Coreia (Chai Inja), Miss Malásia (Betty Wee), Miss Singapura (Doreen Tan) e Miss Hong Kong (Cheung Yen Ping). Mais sobre o concurso Miss Macau aqui.

terça-feira, 15 de junho de 2021

Os Primitivos Bombeiros de Macau

Luís Gonzaga Gomes escreveu um texto sobre "Os Primitivos Bombeiros de Macau" de onde retirei estes excertos:
"Há umas poucas de dezenas de anos, esta cidade ainda não possuía um serviço de incêndios mantido pelo Estado e, por este motivo, os precursores dos actuais bombeiros ainda não faziam parte duma organização centenária. A maioria das ruas da cidade era constituída por estreitíssima vielas, ladeadas de velhas casa que porfiavam em sair do seu alinhamento e que decerto se desmoronariam à menor trepidação dum Thornicroft, se é que fosse possível fazer circular por entre elas um monstro desses.
Nessa época, cada rua tinha de concorrer para a manutenção dum grupo de bombeiros que guardavam em suas casas uns metrozinhos de mangueira, uma agulheta e uma bomba de incêndio, que consistia em uma caixa que se movia sobre duas rodas, tendo num dos lados um rudimentar maquinismo que servia para comprimir a água.
Quando fosse preciso fazer trabalhar esse precioso engenho ia-se buscar água, aos baldes, nos poço ou no mar e, uma vez lançada para dentro da caixa reservatório, o líquido extintor era comprimido pelo maquinismo, que era por sua vez accionado à força dos músculos de vigorosos mocetões. Ora, embora os jactos de água não atingissem mais que uns metros de altura, nem por isso esse maquinismo deixava de ser eficiente quando se dava qualquer incêndio, porquanto, nessa altura, ainda não existiam risca-céus, não sendo também, portanto, necessário o uso das complicadas escadas articuladas Magyrus.
Como nem todas as ruas podiam dar-se ao luxo de possuir uma bomba, quando ocorria um incêndio os bombeiros da rua sinistrada tinham de se entreter a atacar a conflagração com baldes de água até à chegada das bombas das outras ruas. Mesmo assim, punham às vezes tal empenho em atacar as terríveis labaredas e tal era a profusão de água que o entusiasmo dos seus esforços congregados os levavam a lançar para cima das flamejantes áscuas, que era raro o incêndio capaz de resistir à sua improvisada táctica e à sua espontânea estratégia.

Regulamento do Corpo de Bombeiros (1952)
Nesse tempo, existia uma combinação tácita entre os bombeiros e a população da cidade. E assim, logo que fosse dado o rebate saíam todos os bombeiros dos seus alojamentos e o grupo que chegasse primeiro, através do dédalo das ruelas da velha cidade, recebia como recompensa dos seus esforços um magnífico leitão assado e dois almudes da melhor aguardente chinesa, custeados entre os moradores da rua vitimada pelo sinistro.

Ora o grupo mais afamado era o da fábrica de tabacos “Tchü-Tc`heong-Kei”, que mantinha um grupo privativo com o seu respectivo equipamento, o mais completo possível, pois necessitava de se prevenir contra qualquer incêndio dentro da fábrica cujo negócio era enorme.
Além do grupo de bombeiros, a fábrica obrigava todos os empregados a exercitar-se, constantemente, em destreza e acrobacia, de forma a que todos pudessem acudir pronta e eficientemente em qualquer caso de fatalidade. Estimulados com um bom salário, era nesse grupo que estavam reunidos os melhores bombeiros da cidade.
Assim que fosse dado o sinal de alarme, quer de noite ou de dia, esses valorosos mocetões saltavam imediatamente das suas camas e, num abrir e fechar de olhos, fazendo repercutir com estrépito nas pedras das vielas os seus sapatorros, chegavam ao local do desastre, no meio dum ensurdecedor estrupido de rodados e de brutais imprecações, pondo toda a rua alvoroçada numa convulsão de actividade e, em alguns minutos, dominavam com uma presteza sem igual qualquer abrasamento por mais violento que fosse.
Desfile na Av. Almeida Ribeiro: década 1930/40

Por este motivo, quando acontecia uma calamidade desta natureza, os ânimos pusilânimes dos moradores da rua onde se manifestava o sinistro só se asserenavam com a chegada do grupo da fábrica “Tchü-Tc`heong-Kei”. Então, alijados do receio de o fogo se alastrar, devastando as suas casas, exclamavam jubilosos: - Já não há receio! Já chegou o grupo de “Tchü-Tc`heong-Kei”! E assim não consta que nesse tempo algum outro grupo tivesse conseguido conquistar mais porcos assados e almudes de aguardente chinesa do que esse famigerado punhado de bravos cujo componentes caprichavam em se excederem uns aos outros em denodadas dedicações e nobres lances.
Houve um ano em que se deu um violento incêndio numas casas da Rua da Parede de Pedra, em Sân-K`iu. Logo que correu a notícia do sinistro, imediatamente acorreram a prestar os primeiros socorros as três bombas de incêndio que havia na cidade e os tíbios moradores desse bairro ficaram varados de angústia quando não viram chegar o grupo campeão, que estava aquartelado onde é hoje a Rua do Almirante Sérgio. Deste sítio até ao local de incêndio dista pelo menos uns bons vinte minutos e as eversoras chamas, desenvolvendo-se com toda a violência, pareciam querer lamber todo o quarteirão.
Já toda a gente se encontrava descoroçoada por julgar que o grupo da “Tchü-Tc`heong-Kei” não compareceria desta vez, por qualquer extraordinário impedimento, pois todos os grupos, de há muito que se encontravam afadigados em extinguir o pavoroso incêndio.
Nisto, toda a rua aglomerada de povo estrugiu num grito uníssono de exultação. Com uma velocidade louca acabavam de chegar, correndo ovantes, os bombeiros do grupo da “Tchü-Tc`heong-Kei” carreando consigo a pesadona carripana portadora da bomba de incêndio. Trabalhando afanosamente e atirando-se com denodo às chamas, aqueles esforçados bravos dominaram completamente o terrível incêndio dentro de brevíssimo espaço de tempo, salvando não poucas vidas.

Do Regulamento de 1952
Ora o principal segredo dos bombeiros da “Tchü-Tc`heong-Kei” de serem quase sempre os primeiros a abalar para qualquer incêndio residia no facto de viverem sob a mais rígida disciplina, numa espécie de quartel, onde eram obrigados a dormir todos juntos, não sucedendo o mesmo com os dos outros grupos que dormiam cada um em sua casa, sendo necessário estar-se à espera de uns pelos outros para poderem fazer sair a sua carripana.
Desta vez não conseguiram ser os primeiros a chegar, em virtude da enorme distância que separava o seu quartel do local do incêndio, mas, embora não tivessem ganho o porco assado e os dois almudes de aguardente china, nem por isso deixaram de com-participar na patuscada do costume, pois que foram para isso especialmente convidados por terem sido os que mais eficientemente trabalharam na extinção daquele horrível incêndio."

30 de Julho de 1942, in  “Curiosidades de Macau Antiga”

segunda-feira, 14 de junho de 2021

De volta ao Hotel Cantão


Na Rua do Guimarães
Detalha da entrada
Foto de Hugo Pinto
Depois de restaurado passou ali a funcionar uma casa de apostas (Mocha Club).
Curiosidade: No filme Shangai Surprise (1986) serviu como cenário do Hotel Penang.