sábado, 5 de junho de 2021

O "Passeio Público": 2ª parte

"Jardim Público" legenda no detalhe de um mapa de 1865

No jardim construído por Matias Soares começou por tocar a banda do batalhão de infantaria num coreto e as famílias chiques iam aí passear. No início do século 20 seria a banda municipal. O coreto foi demolido na segunda metade da década de 1930 com a criação da rua de Sta. clara e os aterros da Praia Grande, desde esta zona até ao então chamado Palácio das Repartições (zona do actual hotel Metrópole). Por volta de 1863 a Santa Casa passa a obter receitas com o aluguer de cadeiras para os senhores e senhoras assistirem comodamente às actuações das bandas.
"Programma" de actuações da Banda do Batalhão publicado no Boletim do Governo em 1866. As actuações eram às quintas e domingos. Entre as músicas tocadas destaco o "Hymno da Carta Constitucional" e o "Hymno do Governador"
Numa edição do "Archivo Pittoresco" de 1868 encontramos o testemunho de João de Lacerda, alguém que visitou o território em 1865 e refere-se ao "passeio público" e à "banda do batalhão":
"A primeira belleza de Macau que observei foi a da Praia Grande, desfructada do ponto em que estavamos fundeados, a tres milhas de distancia. Uma extensa rua á beira mar, com as frentes de predios ornando-lhe um dos lados, e com o outro a tocar na praia por um excellente paredão cortado caes, commodos e bem construidos, constituem o mais bello passeio da cidade e orla a curva da bahia. A fortaleza e quartel de S Francisco, assente em penedos banhados das ondas, e do lado a do Bomporto, são os extremos d'aquella  via aristocratica e elegante. No sopé dos penedos sobre que se ergue o quartel de S Francisco, e na extremidade léste da Praia Grande, um bonito passeio publico abre a sua porta á melhor sociedade de Macau, que de ordinario se reune alli ás tardes, principalmente nos domingos  e quintas feiras, em que a banda de musica do batalhão executa escolhidos trechos num elegante kiosko situado no centro d'aquelle logradoiro publico." 

Num "annuncio" de 12 de Julho de 1873 informa-se que "A banda marcial do batalhão de infanteria tocará em quintas feiras alternadas na Flora Macaense e passeio publico ás horas do costume devendo na proxima quinta feira tocar na Flora". 
Excerto de relatório do director das Obras Públicas: Janeiro 1883
Adolpho Loureiro, no livro "No Oriente: De Nápoles à China. (Diario de viagem)", publicado em 1896 escreve: "À noite tocava a banda militar no passeio público, que devia estar muito concorrido; mas deixei - me ficar em casa." 
Bento da França na obra "Macau e os seus habitantes: relações com Timor (1897) escreve: "Aos domingos toca a música da guarda policial no passeio público".
Ao fundo do coreto o Quartel de S. Francisco; a estrutura em abóboda ainda hoje existe
Numa edição do jornal O Progresso de 1916 pode ler-se: "Música no jardim publico de S. Francisco passa agora a tocar, nas 5ªs e nos Domingos, das 16 às 18 horas, durante o Inverno…” 
Numa edição do jornal O Liberal de 1922: “À noite, neste jardim, com animada concorrência de público tocou com geral aplauso uma pequena banda organizada e regida pelo sr. Assis.” 
No final do século 19 foi construído outro coreto no topo da Avenida Vasco da Gama.

Parte do jardim S. Francisco num postal ilustrado da década 1950

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