Sob o ponto de vista de construções urbanas, esta cidade adquiriu nos últimos anos um desenvolvimento deveras notável. A zona de depressão limitada pela colinas de S. Miguel e de Mong-Há, que há uns 50 anos atrás mais não era senão um extenso e insalubre lodeiro em parte ocupado por arrozais, encontra-se hoje completamente saneada, tendo surgido em seu lugar denso aglomerado de casas de comércio e de boas habitações servidas por óptimos arruamentos.
A necessidade de conquistar o terreno por meio de expropriações e de aterros, para construção de novas e espaçosas vias, e o consequente aformoseamento da cidade fizeram desaparecer o que havia de mais pitoresco em certos lugares tipicamente chineses cuja existência é, no entanto, ainda recordada nos nomes por que são designadas certas ruas.
Ora, uma das áreas consideradas das mais perigosas para a saúde da população desta cidade era a que ficava em volta do templo de Lin-K`âi. É ela conhecida pelo nome de Sân-Kiu que significa — Ponte Nova — e uma das ruas que serve esta zona é denominada Tôu-Sün-Kái, isto é, a Rua dos Tôu ou das Barcas.
Mas qual será a origem toponímica dessa extravagante nomenclatura em sítio onde não existem vestígios de ponte ou barca?
Se pudéssemos voltar a alguns anos atrás, isto é, antes de drenagem e do aterro desta zona, teríamos visto na realidade uma ponta de pedra, colocada entre as actuais ruas de João Araújo e a da Pedra. Esta última, chama-se assim porque era ali que vivia um grupo de operários chineses dos mais pobres, cujo mister consistis no trabalho de lapidação de blocos de granito, utilizados em obras de cantaria ou na pavimentação de lajeados.
Quanto à ponte, foi esta primitivamente construída com bambus, mas como este material se deteriorava facilmente, obrigando a constantes reparações, substituíram-na, mais tarde, por uma de pedra, custeada a expensas dos moradores do referido bairro.
A ponte era imprescindível porque sem ela não lhes seria possível ir até ao Templo de Lin-Kâi venerar as divindades da sua devoção, visto o local onde se encontrava edificada tal casa de culto estar separada da outra margem por um riachozinho.*Esta pequena derivação do braço do delta que banha o Porto Interior, entrava na zona de Sân-K`iu nas alturas do edifício onde funcionou o Cinema Ü-Lók e, serpenteando até ao templo onde formava um largo charco, seguia depois em direcção à antiga aldeia de Mong-Há, através das ruas da Barca e da Ressurreição, para ir ligar-se outra vez ao delta, depois de ter regado com as suas barrentas águas a entrada do convento budista de P`ou Tchâi-Sim-Ün.
A necessidade de conquistar o terreno por meio de expropriações e de aterros, para construção de novas e espaçosas vias, e o consequente aformoseamento da cidade fizeram desaparecer o que havia de mais pitoresco em certos lugares tipicamente chineses cuja existência é, no entanto, ainda recordada nos nomes por que são designadas certas ruas.
Ora, uma das áreas consideradas das mais perigosas para a saúde da população desta cidade era a que ficava em volta do templo de Lin-K`âi. É ela conhecida pelo nome de Sân-Kiu que significa — Ponte Nova — e uma das ruas que serve esta zona é denominada Tôu-Sün-Kái, isto é, a Rua dos Tôu ou das Barcas.
Mas qual será a origem toponímica dessa extravagante nomenclatura em sítio onde não existem vestígios de ponte ou barca?
Se pudéssemos voltar a alguns anos atrás, isto é, antes de drenagem e do aterro desta zona, teríamos visto na realidade uma ponta de pedra, colocada entre as actuais ruas de João Araújo e a da Pedra. Esta última, chama-se assim porque era ali que vivia um grupo de operários chineses dos mais pobres, cujo mister consistis no trabalho de lapidação de blocos de granito, utilizados em obras de cantaria ou na pavimentação de lajeados.
Quanto à ponte, foi esta primitivamente construída com bambus, mas como este material se deteriorava facilmente, obrigando a constantes reparações, substituíram-na, mais tarde, por uma de pedra, custeada a expensas dos moradores do referido bairro.
A ponte era imprescindível porque sem ela não lhes seria possível ir até ao Templo de Lin-Kâi venerar as divindades da sua devoção, visto o local onde se encontrava edificada tal casa de culto estar separada da outra margem por um riachozinho.*Esta pequena derivação do braço do delta que banha o Porto Interior, entrava na zona de Sân-K`iu nas alturas do edifício onde funcionou o Cinema Ü-Lók e, serpenteando até ao templo onde formava um largo charco, seguia depois em direcção à antiga aldeia de Mong-Há, através das ruas da Barca e da Ressurreição, para ir ligar-se outra vez ao delta, depois de ter regado com as suas barrentas águas a entrada do convento budista de P`ou Tchâi-Sim-Ün.
Como a ponte não bastasse para o grande movimento das pessoas que por ela diariamente transitavam, muitos moradores deste bairro, para entrar na cidade, tinham de fazer a travessia do riacho em tán-ká que nesse tempo costumavam varar em grande número nas duas margens. Ora, nessa época as estâncias de madeira e os estaleiros chineses estavam também instalados nesse local e, como ainda não existiam barcos a vapor, foi esse o período da sua maior prosperidade. Por isso, inúmeros tôu da navegação costeira entravam constantemente nesses estaleiros a fim de sofrerem as beneficiações de que careciam para o prosseguimento das suas viagens.
Os chineses passaram então a chamar Tôu-Sün-Kai à rua que servia esses estabelecimentos e este nome passou para o português na sua tradução da Rua da Barca.
Muitos chineses que vêm a esta cidade pela primeira vez mostram a sua estranheza pelo facto de não existir nenhuma ponte nem nada que se pareça com um barco numa rua que se chama da Ponte Nova e noutra que é denominada da Barca. Como gostam de se inteirar da razão do nome das localidades, a sua curiosidade só fica satisfeita depois de se lhes explicar o que acima ficou exposto.
Actualmente a Travessa da Ponte Nova é exclusivamente habitada pelos chineses da classe trabalhadora, como operários, artífices, criados de servir e cules. Quanto à Rua da Barca é ela hoje uma das mais movimentadas da cidade, sendo enorme o negócio que se faz nas inúmeras casa de comércio que se encontram ali situadas, umas contíguas às outras e nos dois lados da rua.
Luís Gonzaga Gomes, 18 de Maio de 1942, in “Curiosidades de Macau Antiga”
Actualmente a Travessa da Ponte Nova é exclusivamente habitada pelos chineses da classe trabalhadora, como operários, artífices, criados de servir e cules. Quanto à Rua da Barca é ela hoje uma das mais movimentadas da cidade, sendo enorme o negócio que se faz nas inúmeras casa de comércio que se encontram ali situadas, umas contíguas às outras e nos dois lados da rua.
Luís Gonzaga Gomes, 18 de Maio de 1942, in “Curiosidades de Macau Antiga”
Nota: No livro As Ruas Antigas de Macau-Freguesia de Santo António publicado pelo IACM aponta-se uma outra explicação....
“Antigamente, havia um riacho, formado pelas águas das fontes que escorriam da Colina da Guia e, a partir do sopé oriental, próximo do actual Jardim da Flora, fluíam para ocidente, passando pela aldeia San Kio, Rua de João de Araújo, inflectindo a seguir para norte e desaguando no rio Hou Kong, a que os moradores chamavam “Ham Chung” ou “lin Kai”. Para facilitar o transporte, construiu-se uma ponte de madeira na zona da actual Estrada do Repouso, que por entretanto se degradar com o passar do tempo, foi substituída por uma ponte nova, dando então o nome à zona, “San Kio” (ponte nova). Muitas barcas utilizavam o riacho “Lin Kai” como via de transporte. A Rua que mais tarde surgir na zona, era referida pelos moradores como “rua das barcas” e, em 1869, o governo colonial acabaria por anunciar oficialmente o novo topónimo como “Rua da Barca”.
Pegando num mapa de 1889 esta última teoria parece-me pouco verosímil; primeiro pela extensão do curso de água assinalado no mapa; depois porque seria necessário que a água proveniente da colina da Guia fosse em muitíssima quantidade a ponto de existir caudal que permitisse a navegação. Aqui fica o comparativo de um mapa de 1889 e outro feito mais de um século depois.
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