terça-feira, 4 de maio de 2021

Padre Joaquim Guerra: 1908-1993

As "Quadras de Lu", conhecidas entre as obras chinesas com o nome de "Primavera-Outono", são uma selecção de documentos dos arquivos oficiais de Lu, referentes aos anos 722 a 481 anteriores à nossa era e compostas por Confúcio. 
O padre Joaquim Guerra - nome chinês 戈振東 - nasceu no Fundão, entrou na Companhia de Jesus em 1925 e foi para a China em 1933, onde ensinou Filosofia no Seminário de Macau, cursou Teologia na Faculdade Pontifícia de Zikawei, em Xangai e em 1940 começou os seus estudos de Chinês. Regressado do Norte da China, trabalhou na Missão de Shiuhing, de onde foi expulso em 1951. Após vários meses de prisão, passando a trabalhar em Macau, onde abriu escolas e centros sociais. Regressou a Portugal em 1959 com problemas de saúde. Foi integrado na Equipe de Emergência enviada à América Latina durante dois anos e meio. Regressado a Portugal, foi professor de Chinês no Instituto de Línguas Africanas e Orientais durante cinco anos e, a partir de 1973 iniciou a tradução dos Clássicos Chineses.
Tradutor de diversas obras clássicas do Oriente e autor de outras, Joaquim Angélico de Jesus Guerra nasceu na aldeia de Lavacolhos (Fundão) em 1908. Integrou a Companhia de Jesus em 1925 e partiu para uma missão em Xangai, na China, em 1933, acabando por passar no Oriente a maior parte dos seus 85 anos.
Em 1951, o regime expulsa-o da China, onde escapou à condenação à morte por três vezes. Depois, em Macau, dividiu-se em actividades de natureza social e docente. Regressou a Portugal para leccionar língua e cultura chinesa no Instituto de Línguas Orientais, de 1965 a 1970, mas continuaria a passar pelo Oriente e a aprofundar a sua obra. Morreu em 1993, em Lisboa, depois ter sido atropelado em Toronto, no Canadá. Entre os seus trabalhos destacou-se um dicionário e a tradução inédita da obra clássica de Confúcio.
Numa entrevista dada em 1992 (publicada na Separata da "Asianostra: Revista de Cultura Portuguesa do Oriente",n.º 1, Maio, 1994) afirmou: “No meio da minha vocação missionária é que veio a minha vocação para jesuíta. Quando me encontrava já no noviciado, a providência de Deus trouxe de Macau, também para jesuíta o Padre Pedro Hui, tio do conhecido advogado Philip Xavier. Foi ele quem me ensinou os primeiros rudimentos de cantonês”.
Sobre a viagem que o levou ao Oriente em 1933: “Embarcamos no D’Artagnan II, com destino a Shanghai, juntamente com muitos outros missionários e missionárias. Em Singapura, na Missão Portuguesa, preveniram-me de que talvez não fosse mesmo para Shanghai pois era muito necessário um Professor de Filosofia no Seminário de Macau. E de facto, ao chegar a Hong Kong, o Padre António Maria Alves, SJ, homem dos cinco continentes, pôs-se-me de joelhos a pedir ajuda. E fiquei no Seminário de S.José dois anos a ensinar Filosofia, Matemática, etc.”.
A guerra sino-japonesa do final da década de 1930 levaram-o novamente a Macau:
Edição de 2004
"Em plena Guerra, atravessando o campo de batalha, regressei a Macau para ensinar, uma vez mais Filosofia, por dois anos. Deixe-me contar-lhe só um episódio. A certa altura da viagem, desesperado, digamos, mais pela sede do que pela fome, pedi a uma mulher que estava a vender, para me preparar um chá. Mas, quando a vi buscar água no rio que eu via pejado de cadáveres e eu me encontrei a beber o chá assim preparado, é que pude avaliar como um homem em necessidade perde ou pode perder a sensibilidade”.
Terminada a guerra regressou à China e ali viveu mais alguns anos até que, depois da chegada ao poder dos comunistas em 1949, seria preso, julgado e condenado à morte. Acabaria por ser solto e contou essa aventura no livro  “Condenado à Morte”, editado em 1963.
Solto na China voltaria a Macau onde fundou o “Colégio Estrela do Mar” em 1955. (ainda hoje existe na Rua do Padre António)
Anos depois volta a Portugal mas já na década de 1970 surge uma hipótese de voltar a Macau:
“Em Janeiro de 1973 a Editorial Verbo de Lisboa, pediu-me algumas traduções dos Clássicos Chineses para a sua Biblioteca Integral de Clássicos Mundiais (…) Correspondi com gosto. Pensei que a melhor maneira de o conseguir era com outros. E para isso tinha de regressar a Macau. Pedi a vários chineses e ao meu amigo Luís Gonzaga Gomes para nos lançarmos à tradução. Mas todos se negaram. Até o famosíssimo Cónego André Ngan, que escrevia como o Padre António Vieira, me respondeu : ‘ ah! esse chinês antigo não é para mim. Isso ultrapassa-me’. Não sei se era por modéstia ou se era por respeito à cultura chinesa”.
Desse seu trabalho resultam por exemplo: “Livro dos Cantares”, 1979; “Escrituras Selectas”, 1980; “Quadras de Lu e Relação Auxiliar”, 5 volumes, 1981-1983; “Quadrivolume de Confúcio”, 1984; “As Obras de Mâncio”, 1984; “O Livro das Mutações”, 1984; “A Prática da Perfeição”, 1987.

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