“Viu as lojas e as caras morenas dos 'mouros', ladeou de perto os vendilhões ambulantes, ouviu vozes, risadas, gesticulações dos transeuntes e ninguém se referia a ela. Espreitou o poço público perto da escadaria para a igreja, donde se tirava uma água cristalina. (...)
Na apertada artéria, onde se atravancavam vendilhões de comidas, acepipes e fritos, penteadeiras com os seus apetrechos, o barbeiro e o dentista ambulantes, com as suas clássicas cadeiras de ofícios, riquexós aos gritos dos condutores e muito povo que ia e vinha nas compras nas lojecas e nos recantos da rua, ou a caminho do Mercado.” (...)
"Da janela subiam os ruídos do tardoz da casa. Gorjeios e risada de criançada, vozes de mulherio em palreio fiado, alguém a soprar num trombone, em desconjuntado esforço de harmonia. Galos crocitavam na vizinhança, e das janelas vinha o ruído de uma rua calma, vozes esparsas e pregões de vendilhão de comidas.”
Na apertada artéria, onde se atravancavam vendilhões de comidas, acepipes e fritos, penteadeiras com os seus apetrechos, o barbeiro e o dentista ambulantes, com as suas clássicas cadeiras de ofícios, riquexós aos gritos dos condutores e muito povo que ia e vinha nas compras nas lojecas e nos recantos da rua, ou a caminho do Mercado.” (...)
"Da janela subiam os ruídos do tardoz da casa. Gorjeios e risada de criançada, vozes de mulherio em palreio fiado, alguém a soprar num trombone, em desconjuntado esforço de harmonia. Galos crocitavam na vizinhança, e das janelas vinha o ruído de uma rua calma, vozes esparsas e pregões de vendilhão de comidas.”
Excertos do romance "Os Dores", de Henrique de Senna Fernandes, publicado postumamente em 2012.
Em 2012 existiam em Macau 1089 licenças de vendilhão de acordo com dados do Instituto para Assuntos Cívicos e Municipais, menos 560 em relação ao ano de 1999.
Actualmente em declínio, as origens da actividade de vendilhão remontam aos tempos em que a estrutura das sociedades e da economia era rudimentar.
Uns ambulantes outros estacionados, os vendilhões tinham em comum o facto de exercerem a actividade na rua, ao ar livre. E vendem de tudo a um pouco: desde os produtos alimentares, como o peixe, a carne, a fruta, legumes, os ovos, os chás e as bebidas, aos gelados e outras guloseimas, bem como utensílios para a casa, livros, ou roupas.
Vendilhões no século 19 em Macau. Pintura de George Chinnery Vendedor de "palitos de mel" |
A Travessa dos Vendilhões, topónimo que reflecte a importância da actividade na história do território, fica entre a Rua do Almirante Sérgio e a Rua da Praia do Manduco, perto do Porto Interior.
Sugestão de leitura: "Vendilhões", Isabel Nunes, ICM, 1998 |
A 11 de Novembro de 2016 o Jornal Tribunal de Macau publicou um artigo sobre o tema onde se pode ler: "O presidente da Associação de Auxílio Mútuo de Vendilhões, O Cheng Wong, sublinha que o número de membros da associação caiu dois terços em comparação com 2004, ano em que o Governo aplicou um conjunto de medidas de apoio ao sector. “O número de membros da associação diminuiu de três mil para menos de mil”, revelou."
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