"A Sociedade Philarmonica Macaense creada no principio do anno de 1845, no meio de difficuldades, que pareciam insuperaveis, chegou a contar perto de cem associados, dos mais escolhidos moradores da cidade: os quaes da melhor vontade se prestaram sempre ás necessarias despezas para o engrandecimento desta associação, que dava regularmente, de quinze em quinze dias, um baile, um concerto, ou uma representação theatral. Tem apresentado reuniões assás luzidas, bem ordenadas e numerosas; e até agora tem egualmente existido num estado prospero. Não sabemos o que será para o futuro, mas podemos assegurar que se esta sociedade decair a cauza virá de alguma influencia estranha à indole dos macaenses. A sociedade pois póde considerar-se verdadeiramente util ao estabelecimento de Macao. É o unico recreio publico: é o centro de reunião dos moradores e suas familias; é o meio mais efficaz de fraternisar uma povoação reputada dissidente; é finalmente, uma associação por todos estes motivos digna da attenção do governo de SM, a quem recomendamos a sua conservação pelo interesse moral, civil, político e commercial, que della pode provir tanto ao governo como aos governados."
in Memoria sobre a Franquia do Porto de Macao, de José António Maia, 1849
A este propósito refiro um excerto da obra "Ephemerides commemorativas da historia de Macau e das relações da China com os Povos Christãos" de António Marques Pereira e editado em 1868."7 de Março de 1857
Até esta data algumas tentativas dramaticas que varios curiosos tinham feito em Macau haviam tornado de cada vez mais desejado o estabelecimento de uma casa do theatro apropriada e exclusivamente des tinada ao intento. Na encosta de Mato mofino que deita sobre a chamada rua da Prainha, na porção de terreno da praia do Manduco depois occupada pelo jardim do barão de S José de Portalegre, na assembléa philarmonica que existiu no largo de Santo Antonio, no edificio do hospital da Misericordia e até na residencia do juiz de direito Sequeira Pinto e no retiro campestre chamado de Santa Sancha etc... tinham se armado em diversas epochas vistosos theatrinhos que a sociedade macaense festejăra com alegria mas que desappareciam logo com o destroçar dos grupos de amadores da arte que os animavam e deste modo se renovava continuamente a principal difficuldade para a realisação de tão uteis e agradaveis divertimentos.
Foi essa falta que no dito anno de 1857 alguns cavalheiros aqui residentes trataram de fazer cessar propondo a organisação de uma sociedade de subscriptores para a edificação de um theatro destinado não só ás recitas de curiosos como tambem a ser concedido mediante rasoaveis condições aos artistas de profissão que viessem a Macau e bem assim para servir de centro de reunião ou de club para os socios que ahi quizessem entreter se com leitura jógos ou conversação. Com tal fim se convocou pois n este dia uma assembléa de varios habitantes e ahi foi nomeada uma commissão composta dos srs João Damasceno Coelho dos Santos, coronel João Ferreira Mendes, José Bernardo Goularte, José Maria da Fonseca, Francisco Justiniano de Sousa Alvim Pedro Marques e José Joaquim Rodrigues Ferreira.
Não foi desde logo indicado o lugar en que teve effeito a construcção do theatro pois que o primeiro pensamento foi colloca lo no edificio do hospital de S Rafael ideia que em breve se abandonou. Nos fins de março a commissão pediu ao governo terreno no campo de S Francisco perto da rampa que ahi conduz a entrada do quartel mas foi lhe indeferida a pretensão offerecendo se lhe a cerca do extinto convento de S Domingos. A commissão não julgando este local apropriado requereu em sessão de 2 de abril o terreno preciso no largo de S Agostinho que por fim obteve.
Correndo immediatamente a subscripção em Macau e Hongkong em março de 1858 o edificio podia já dizer se concluido no principal graças especialmente á diligencia do cirurgião mór da provincia, Antonio Luiz Pereira Crespo, de Pedro Marques e de Francisco Justiniano de Sousa Alvim. Do cidadão macaense Pedro Marques é quasi todo o risco e a direcção da obra. (...)"