"Bussola do dialecto cantonense: adaptado para as escolas portuguezas de Macau"
"Sob o titulo inglez de 'Beginning Cantonese' ... publicou em Cantão o Sr. O. F. Wisner... um compendio elementar para o estudo do dialecto cantonense... Resolvi desde então fazer a tradução portugueza do compendio ... As noções preliminares que precedem o vocabulario e as phrases são da minha lavra ..."Autor: Pedro Nolasco da Silva (1842-1912), Macau, 1912
Sobre o autor, uma breve biografia da autoria da professora Celina Veiga de Oliveira:
"Nasceu em 1842, iniciando aos 14 anos os seus estudos no
Seminário ou Colégio de S. José. Ao tempo, era bem difícil a um jovem
adquirir instrução em Macau, território que ainda não tinha conseguido
recuperar dos efeitos traumáticos da entrada em vigor do decreto de
expulsão dos jesuítas, em 1762, que varreu praticamente de Macau todos
os professores dos estabelecimentos de ensino, pelo facto de a sua
maioria pertencer à Companhia de Jesus.
Em 1862, porém, os jesuítas voltam ao Colégio, dando-se então um
renascimento da educação para a juventude de Macau.2
Pedro Nolasco da Silva foi um dos mais brilhantes alunos dos
padres Jesuítas do Colégio de S. José.
Ainda estudante, foi admitido como aluno intérprete da Procuratura
dos Negócios Sínicos. Durante a sua vida pública, desempenhou
imensas funções. Ficam aqui apenas como registo os cargos de 1.°
Intérprete da Procuratura, de Professor de Chinês no Seminário de S. José,
na Escola Comercial, no Instituto Comercial e no Liceu Nacional de Macau, de
Procurador interino dos Negócios Sínicos e de chefe da Repartição do
Expediente Sínico, criada em 1885.
Quando terminou a sua carreira oficial, Pedro Nolasco da Silva
disse de si próprio: Todos os empregos públicos que temos
desempenhado, foram conquistados por meio de concurso, dando
nós provas publicas das nossas habilitações. Nada devemos, neste
ponto, a pessoa alguma. No que respeita aos estudos sinológicos, bem se pode afirmar que
Pedro Nolasco da Silva foi um emérito cultor desse conhecimento
pluridimensional da civilização chinesa, sendo autor de muitos livros
didácticos para o ensino da sua língua.
Referem-se, por exemplo (e repare-se no pendor acentuadamente
pedagógico dos seus trabalhos):
— Círculo de Conhecimentos em Português e China. Para uso dos
que principiam a aprender a língua chinesa;
— Gramática Prática da Língua Chinesa;
— Os rudimentos da Língua Chinesa para uso dos Alunos da
Escola Central do Sexo Masculino;
— Compilação das Frases Usuais e de Diálogos nos Dialectos de
Pequim e Cantão para uso dos Alunos da Escola Central de Macau —
Manual da língua sínica escrita e falada, 1 .a
e 2.a
partes;
— Noções Preliminares e Lições progressivas;
— Bússola do Dialecto Cantonense adaptado para as Escolas
Portuguesas de Macau;
— A tradução de uma obra fabulosa, chamada Amplificação do
Santo Decreto, um verdadeiro manual de doutrinação confuciana, ela
borado pelo fundador da dinastia Qing, imperador Shunzhi, e amplifica
do pelo seu filho Kang-xi e por seu neto Yongzheng, e destinado à educação
e instrução populares. Por ela, podemo-nos aperceber da estratégia impe
rial de manutenção da unidade da nação por via do revigoramento da
ideologia confuciana.
Em 1887, Pedro Nolasco da Silva acompanhou a Pequim, como
secretário-intérprete, Tomás de Sousa Rosa, que tinha sido governador
de Macau entre 1883 e 1886 e que fora entretanto investido na categoria
de Ministro Plenipotenciário para a assinatura do Tratado Luso-Chinês
desse ano, o qual viria a consagrar um novo estatuto político para o
território.
No âmbito do que se poderá classificar de responsabilidades
cívicas, Pedro Nolasco da Silva foi ainda Provedor da Santa Casa da
Misericórdia, criando o Asilo dos Órfãos, fundador da Associação
Promotora da Instrução dos Macaenses, Vice-Presidente e Presidente do Leal Senado,
jornalista de O Macaense, o Echo Macaense, o Hong Kong Daily Press,
editor de O Echo do Povo, semanário português publicado na vizinha
colónia britânica, e membro do Conselho Inspector de Instrução Pública
e do Conselho da Província. Quando faleceu, em 1912, dele se escreveu
com inteira justiça: 'Macau deve-lhe muito. O seu nome está ligado a
quase tudo o que há por aí de bom, de útil, de benemérito'."
Nota: Esta última citação é da autoria do padre Manuel Teixeira
Transcrição do Boletim Eclesiástico
da Diocese de Macau, Ano 10, n.os 111-12, Set./Out. de 1912, ano da morte de Pero Nolasco da Silva:
"Com 71
anos de idade desapareceu dentre os vivos, na madrugada de 12 do corrente mês de
Outubro, o ilustre filho desta terra, Sr. Pedro Nolasco da Silva. Era uma das
figuras mais em destaque no meio macaense e inegavelmente o homem que mais
trabalhou, durante os seus 50 anos de vida pública, pelo engrandecimento da terra
que lhe foi berço. Dotado de uma inteligência rara, possuindo faculdades
excepcionais de trabalho, amando o estudo com um entusiasmo que nele era
uma verdadeira paixão, dedicado em extremo ao bem desta colónia que ele amava
com a dedicação de um sincero patriota, o Sr. Pedro Nolasco da Silva deixa em
aberto uma lacuna, que dificilmente será preenchida. Macau deve-lhe muito. O
seu nome está ligado a quase tudo o que há por aí de bom, de útil, de benemérito.
Em assuntos de instrução e beneficência, em melhoramentos materiais
dependentes do Leal Senado cuja presidência ocupou várias vezes, na
administração da Província, na solução de problemas gravs a que estava ligado o
bom nome da colónia, em tudo o que representa uma obra de interesse público
figura o nome do benemérito macaense. Pode-se dizer sem receio de desmentido,
que Macau perdeu o seu filho mais ilustre. E bem larga a sua folha de serviços
prestados à colónia para nos convencermos que o seu desaparecimento significa
uma enorme perda. Depois de ter concluído os seus estudos no Seminário de S.
José, onde fez sempre uma figura brilhante, entrou na vida pública como aluno
intérprete do governo. Apaixonado pelo estudo da língua chinesa, salientou-se
nesta especialidade, sendo considerado, e com razão, o primeiro sinólogo
português. Nomeado chefe da Repartição do Expediente Sínico, reorganizou-a
por completo sobre novas bases. Em 1887, acompanhou, como Secretário
intérprete, o sr. Conde de Sousa Rosa enviado a Pequim como ministro
plenipotenciário. A parte activa e inteligente que tomou na negociação do tratado
de 1887, que nos garantiu a independência de Macau [à época era esta a
interpretação oficial portuguesa sobre o tratado], torna o Sr. Pedro Nolasco da
Silva credor da gratidão e simpatia de todos os patriotas portugueses."
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