Datam de 1838 estes esboços de George Chinnery (1774-1852) e onde se pode ver a estrutura primitiva da Porta do Cerco que, ao que tudo indica, seria feita de madeira e bambu. As primeiras referências a esta 'porta' feita pelos chineses remontam a meados do século 16. A actual 'porta' remonta a 1871. Algumas peças da anterior versão podem ser vistas no interior do Leal Senado (actual IAM).
Para contextualizar as imagens seleccionei um pequeno excerto escrito por Andreas Everardus van Braam Houckgeest (1739-1801), um comerciante holandês-americano que viveu em Macau e Cantão entre 1758 e 1773 - era o responsável máximo em Cantão da feitoria da Companhia Holandesa das Índias Orientais - e que regressaria no final desse século a Macau e à China integrado numa embaixada holandesa à corte chinesa.
"The city of Macao which the Chinese call Oumoun (fine port) is situated in 22 degrees 20 min of North latitude in an advantageous and agreeable position about tirthy leagues South of Canton upon the point of an island.
About half a league to the North of the city is the wall separation about the middle of which there is a gate and an edifice designed for the abode of the commandant from which there is a view on all sides. To the north of this gate there is a Chinese guard under the command of an officer or a mandarine for the purpose of preventing any Euro from going out and especially to take care left any priest or missionary should go into the Chinese territory.
This wall is regarded as a real barrier because it is the key of Macao with which the Chinese lubdue this city and compel its government to comply with their will.
Such the situation of the place that all manner of provisions must be brought into Macao from without by the Chinese: to that, the mandarins, upon the least disturbance to shut this gate and starve the city; and it has been proved by many examples that they were able to execute their threats. It is in this manner that the Chinese obtain all they please to demand or even hint at. There are more Chinese than Portuguese at present in this city. (...)"
In "Voyage de l’ambassade de la Compagnie des Indes Orientales hollandaises vers l’empereur de la Chine, dans les années 1794 et 1795. Le tout tiré du Journal d’André Everard Van Braam Houckgeest". Publicado em 1798 em francês teve ainda uma edição em inglês.
Os esboços não fazem parte da obra referida. Segue-se uma tradução que fiz do excerto...
"A cidade de Macau, que os chineses chamam de Oumoun (bom porto), está situada a 22 graus e 20 minutos de latitude norte, numa posição vantajosa e agradável a cerca de trinta léguas ao sul de Cantão, na ponta de uma ilha.
A cerca de meia légua, no lado norte da cidade está um muro de separação onde, a meio, há um portão e um edifício destinado à morada do comandante, do qual se tem uma perspectiva panorâmica. A norte deste portão há um guarda chinês sob o comando de um oficial ou um mandarim com o objectivo de impedir a saída de qualquer europeu e principalmente evitar que qualquer padre ou missionário entre no território chinês.
Esta muralha é considerada uma verdadeira barreira porque é a chave de Macau com a qual os chineses lubrificam esta cidade e obrigam o seu governo a cumprir a sua vontade.
Como todo tipo de provisões são trazidos de fora para Macau pelos chineses, os mandarins, ao menor distúrbio, fecham este portão e fazem a cidade passar fome; e já por muitas vezes exemplos que eles foram capazes de executar as ameaças. É dessa maneira que os chineses obtêm tudo o que desejam. Há mais chineses do que portugueses neste momento nesta cidade. (...)"
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