segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Ano do Tigre: Feliz Ano Novo Chinês | 春节快乐 | Happy Chinese New Year

身體健康
萬事如意
Saúde e Prosperidade
Health and Fortune
No dia 1 de Fevereiro comemora-se a entrada num novo ano lunar. Prevê-se que seja um ano dinâmico, porque o "tigre de água", creem os chineses, traz determinação, força, flexibilidade e espontaneidade.
O Tigre é o terceiro signo no ciclo de 12 anos do zodíaco chinês. Os nascidos no Ano do Tigre têm qualidades de liderança e assertividade, são corajosos e enérgicos, inspiram respeito e adoram desafios.
Uma das tradições desta época é a oferta dos envelopes vermelhos com dinheiro lá dentro. "Hong Bao" em mandarim, "Lai Si" em cantonense, dois nomes para o mesmo objecto que é símbolo de boa sorte para quem recebe e também para quem oferece.
Outra das tradições é o Fai Chun (揮春) - papéis votivos - decoração tradicional que assinala a chegada da Primavera e que é colocada nas portas criando uma atmosfera festiva protegendo as casas com votos de bons auspícios para o ano que se segue. As frases caligrafadas - por norma escritas à mão, embora actualmente também existam impressas - são feitas aos pares.
Curiosidade: 
A expressão "Kung Hei (Parabéns) Fat Choi (Muito dinheiro)", em cantonense, (gōng xǐ fā cái, em mandarim), muito usada nesta época do ano, não significa "Feliz Ano Novo" (para o efeito essa expressão em chinês é 新年快乐) mas sim desejo de boa sorte e prosperidade.

domingo, 30 de janeiro de 2022

"Aviso de Interesse Público": 1855

"O Cirurgião-Mor da Província previne às pessoas que tenhão crianças por vacinar, que continua no Hospital da Mizericórdia todas as Segundas-feiras das 10 horas às 11 da manhã à vacinação. Macao, 29 de Dezembro de 1855"


 

sábado, 29 de janeiro de 2022

"Viagem de Jorge Álvares à China" de José Maria Braga

"China Landfall, 1513 : Jorge Alvares' Voyage to China. A Compilation of Some Relevant Material", J. M. Braga, Macau, Imprensa Nacional, 1955
Trata-se da reprodução da Separata do nº 4 do Boletim do Instituto Português de Hong Kong publicado uns meses antes.

"The compilation of this sketch was prompted by His Excellency Hear-Admiral J. Marques Esparteiro, when it was decided that a monument to Jorge Alvares should be erected at Macao. The present study is the result, although it cannot he said to be adequate, but with the material available here in the Far East I have not been able to do better.
To Mr. Loh Tsoh-tseung, late Principal of the Lingnam College, I record my thanks and indebtedness for quotations and translations of Chinese references. I also thank my friends Mr. Peter E. Wong and Mr. Austin Coates for reading the manuscript and for several suggestions, but for mistakes and many imperfections I alone am responsible. I express my appreciation as well to Mr. Luiz Agostinho da Luz for the maps and drawings so courteously and painstakingly prepared by him for this book.
Hong Kong, June, 1953. J. M. Braga"


Photograph of document in the Portuguese archives referring to the erection of the padrao in China. 
Segundo  J. M. Braga Tamao/Tamão é a ilha de Lintin - Nei Lingding, uma pequena ilha localizada entre Macau e Hong Kong. Investigações chinesas mais recentes apontam outras hipóteses como a ilha de Lantau ou a ilha onde está actualmente o aeroporto internacional de Hong Kong, Chek Lap Kok.
Inscrição na estátua de Jorge Álvares inaugurada em Macau em 1954

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

"Casamento e baile" em 1864

in "Ta-Ssi-Yang-Kuo: semanario macaense d'interesses publicos locaes, litterario e noticioso" de 28 de Janeiro de 1864

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Mapa desdobrável "Província de Macau"



Editado pela "Agência Geral do Ultramar (Portugal) este mapa desdobrável - com uma 'pequena' publicidade "Voe pela Tap" é dos primeiros anos da década de 1970 embora o essencial da informação incluída seja da década 1960: economia, governo, administração, história, educação, etc...
Na capa está uma imagem da estátua de Jorge Álvares e outra com uma panorâmica do território obtida a partir do Farol da Guia.
No mapa está assinalado o istmo que ligava as ilhas da Taipa e Coloane e não tem, por exemplo, a ponte Macau-Taipa, que seria inaugurada em Outubro de 1974. 

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Elementos para a história do ténis

O Ténis Militar e Naval de Macau foi constituído em 1932 (estatutos de 13 de Abril de 1932 - Portaria 830)  fruto da fusão dos antigos “Ténis Militar” e “Ténis Naval”. Ficava - e ainda fica - junto a Santa Sancha.
Existiram ainda o Ténis Civil e o club de Ténis chinês na Areia Preta
Vista aérea: década 1930/40
Portaria nº 830
A propósito de umas crónicas sobre o surgimento do cinema sonoro, Henrique de Senna Fernandes deixou um testemunho dos anos do ténis em Macau no início do século 20, neste caso, em 1929...
"No capítulo de desporto, havia uma actividade intensa. No campal começava, ainda incipiente, a preparar-se a grande geração dos hoquistas que tanto honrariam Macau. O futebol era marcado pelo “Argonauta”, pelo “Tenebroso” e pelo “team” da Sociedade União Recreativa. Mas foi o ténis que se impôs, com os campeonatos do Ténis Civil e do Ténis Militar e o Grande Torneio de Ténis Xangai-Macau.
Este torneio de ténis, entre Xangai e Macau, realizado em fins de Novembro de 1929, não foi propriamente um despique entre as duas cidades, pois os tenistas visitantes emparceiraram com os nossos em quase todas as partidas. Os tenistas de Xangai eram Mlle. Telma Colaço, Raúl Canavarro (campeão de Xangai), Gordon Lum e Paul Kong, tendo estes dois representado a China no “Davis Cup”. Os tenistas de Macau que participaram nos jogos do Ténis Civil foram Mlle. Emília Figueiredo, D. João de Vila Franca (campeão de Portugal), José Maria de Senna Fernandes, António Melo, Raúl Xavier e Alberto Jorge. Os desafios marcaram, não só pelo vigor empenhado, como também pela elegância desportiva manifestada. A mais impressionante partida que delirou a assistência, foi o despique Portugal-China; dum lado, Raúl Canavarro e D. João de Vila Franca, e doutro, os chineses do “Davis Cup”. Ganhou a China, após luta brava.
Os visitantes conheceram o melhor da hospitalidade macaense. Começou o programa com uma recepção no Clube de Ténis da Areia Preta, onde se realizaram alguns encontros amigáveis. Houve no dia seguinte um passeio a Tong Ká (China), um porto piscatório, a 50 quilómetros, a nordeste de Macau. Os desafios propriamente ditos, tiveram lugar, durante dois dias, no Ténis Civil, terminando o programa com um jantar muito elegante no Hotel Riviera. Os visitantes ainda se demoraram mais alguns dias, a convite doutros clubes de ténis, como o Ténis Militar, o Ténis Naval, etc.. Por último, houve a desforra Portugal-China, com os mesmos parceiros, terminando com a vitória da China, que não foi fácil.”

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Ideias para uma "livraria", um "museu" e um "jardim botânico": 1838

Na "Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artísticos de Portugal", Volume 8, de José Silvestre Ribeiro, obra editada em Lisboa em 1879 pode ler-se:
"Em 16 de julho (Carta Régia de 1838) recommendou o governo ao governador de Macau a formação na mesma cidade de uma livraria* composta principalmente de livros e mappas chinezes japonezes ou escriptos em outras linguas orientaes a beneficio da qual iam trabalhar os padres missionarios da China. Entendia o governo que as traducções fossem impressas em Macau em vez de o serem na cidade de Lisboa debaixo das vistas do traductor. Recommendava-se egualmente ao governador a formação de um museu que houvesse de comprehender os mais raros productos orientaes sendo convidados os moradores a concorrer para elle. E finalmente recommendava-se a formação de um pequeno jardim (botânico) destinado principalmente para a cultura das plantas medicinaes de que usam os chinas**."
* leia-se biblioteca.
**com o objectivo de estudar a acção terapêutica dessas plantas.

domingo, 23 de janeiro de 2022

O "Atlas" de Fernão Vaz Dourado: 1571

Tanto quanto se julga saber, a primeira vez que Macau surge mencionado na cartografia europeia é num mapa da Ásia Oriental (de Ceilão ao Japão) feito, ao que tudo indica pelo cartógrafo luso-indiano, Fernão Vaz Dourado (1520-1580) ca. 1570/76 utilizando mesmo o topónimo "Macao" numa obra conhecida por "Atlas Universal" escrita em latim.
Estamos perante um dos mais belos mapas da cartografia renascentista europeia, feito por um português com técnicas de pintura miniaturista renascentista sobre pergaminho.
O Atlas apresenta uma estrutura narrativa associada à intenção de delinear, ordenar e explicar o mundo, tornando-o inteligível através de uma linguagem gráfica e visual codificada e fixada.
Na folha de rosto ou frontispício vê-se como era costume pintada a imagem do Salvador coberto de sangue e coroado de espinhos, e ao lado estão desenhadas as armas da antiga família dos Costas: debaixo destas armas que parece deviam designar a casa do primeiro proprietário da obra lê-se "Mapamundo que fez Fernão Vaz Dourado fronteiro nestas partes: que trata de todos os reinos, terras, ilhas que há na redondeza, da terra com suas derrotas e alturas. Per esquadria. Em Goa 1571." 
Este título juntamente com a imagem de Cristo e as armas de Costas estão envolvidos dentro de um outro título em latim, escrito em forma de um paralelogramo, e diz "Universalis et integra totius orbis. Hidrographia ad verissimam Lusitanorum. Traditione. descriptio. Ferdinandu Vaz Dourado Cosmograpo (sic) Autore, in civitate Goae. Anno 1571."
Contém as seguintes cartas geográficas:
- f. 1 e 2: Alemanha, França, Bretanha até Inglaterra;
- f. 3: a costa de África e da Guiné até São Tomé;
- f. 4: do Cabo da Boa Esperança até Equinocial de leste a oeste;
- f. 5: as ilhas a Sul de equinocial ;
- f. 6: costa da Índia até ao porto de Bengala;
- f. 7: do Cabo Comorim, Japão, Moluco e Norte - é aqui que se pode ver o "Reino da China", "Cantam" e "Macao";
- f. 8: Pegú e toda a costa descoberta por Fernão de Magalhães até à costa de Java;
- f. 9: a costa descoberta por Fernão de Magalhães;
- f. 10: a costa dos Bacalhaus e a terra dos Cortes Reais;
- f. 11: as Antilhas de Castela com a ponta da Flórida e a Nova Espanha com a costa das Amazonas;
- f. 12: toda a costa do Brasil;
- f. 13: o Estreito de Magalhães;
- f. 14: a costa do Perú;
- f. 15: a costa do México.
- f. 16: Regimento da declinação solar, e tabela de marés
- f. 17 e 18: Tábuas da declinação solar para quatro anos

Fernão (ou Fernando) Vaz Dourado nasceu em Goa (Índia) em 1520. Pouco se conhece da sua vida sendo cartógrafo, navegador e iluminador.  Sabe-se que participou na defesa de Diu em 1546 e que a sua obra como cartógrafo inscreve-se na chamada terceira fase da antiga cartografia náutica portuguesa, caracterizada pelo abandono da influência de Ptolomeu na representação do Oriente e por uma melhor precisão na representação das terras e continentes.
Os trabalhos da sua autoria apresentam extraordinária qualidade e beleza rotulando-o como um dos melhores cartógrafos de seu tempo. Muitas de suas cartas manuscritas são de relativa grande escala e estão inseridas em atlas náuticos. São conhecidos seis atlas, do período de 1568 a 1580:
1568 - 20 folhas manuscritas
iluminadas em pergaminho, dedicadas a D. Luís de Ataíde (Biblioteca Nacional, Madrid);1570 - 20 folhas manuscritas iluminadas em pergaminho (The Huntington Library, San Marino, USA);1571 - 20 folhas manuscritas iluminadas em pergaminho, das quais duas foram furtadas no século XIX (Torre do Tombo, Lisboa)
c.
1576 - 20 folhas manuscritas iluminadas em pergaminho (Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa)1575 - 21 folhas manuscritas iluminadas em pergaminho (British Museum, Londres)1580 - 20 folhas manuscritas iluminadas em pergaminho (Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa).
Análise da "carta" onde surge "Macao" com o título (escrito ao longo das quatro face do rebordo"NESTA. FOLHA. ESTA. LAMCADO. DO CABO. DE COMORIM. ATE. IAPAM. E ATE MALVCO COM TODA. A TERA. AO NORTE."
O espaço representado na carta, “apoiado” sobre o Equador, vai desde o Ceilão ao Japão e às Molucas. Vê-se com detalhe as zonas costeiras da Malásia, Conchinchina, Bornéu e China, os arquipélagos e as numerosas ilhas do Índico oriental e dos Mares da China Meridional e da China Oriental, bem como a entrada parao Oceano Pacífico.
A localização de pontos (portos e ilhas) que unidos dão a configuração dos litorais faz-se com base nos itinerários náuticos. Destaque para os portos mais activos comercialmente, como eram os casos entre Cantão e Xangai. O entreposto português de Macau, estabelecido na década de 1550, que assegurava a ligação entre as grandes rotas marítimas e Cantão, pelo Rio das Pérolas, surge aqui pela primeira vez representado na cartografia europeia.
Na carta surge ainda referência ao registo da viagem de um europeu num barco chinês, pelo mar da China Meridional: “Costa de llucois e llaus pela quall pasou. P.º ffidalguo vindo de borneo em hü Jumquo de chis corendo cö temporall ao lomgo dela ffoi tomar llamao.”
A referência remete para Pero Fidalgo, em 1545, e está também no Atlas atribuído a Sebastião Lopes, de c. 1565, da Newberry Library de Chicago e será depois difundida no mapa da China, de Luís Jorge de Barbuda, de c.1575, incluído na obra Theatrum Orbis Terrarum de Abraham Ortelius, desde 1584.
Num olhar mais atento podem ver-se quatro bandeiras portuguesas sobre as áreas que representam Ceilão, Malaca, Japão e Molucas. A referência muçulmana é feita com recurso a um grande brasão com crescentes na zona do Golfo de Bengala. A Ásia oriental, onde se inclui China, Tailândia e Conchinchina inclui os nomes nomes dos principais reinos e é ilustrada por oito pagodes de grandes dimensões, numa alusão implícita ao budismo, mas que não é referido no Atlas.
À época, esta carta tornou-se a mais relevante do Atlas de Vaz Dourado, sobretudo por ter muitas das novidades geográficas do Extremo Oriente para os europeus. Sem esquecer, claro, o argumento da riqueza iconográfica, em especial as cores utilizadas.
A mesma carta pode ser vista no "Atlas com cartas portulanas do novo e velho mundo", também de Vaz Dourado, feito em 1580. (imagem abaixo)
O produto final tem algumas semelhanças com o que foi publicado no Livro de Marinharia de João de Lisboa, de c.1560, no Atlas de Bartolome Olives, de 1562, e do Atlas de Lázaro Luís, de 1563, só para mencionar alguns.

Este atlas faz parte do espólio da Torre do Tombo (Lisboa). Terá sido encomendado por um fidalgo de nome Costa, razão por que nele figura o brasão de armas dos Costas, talvez por D. Francisco da Costa (1532-1591), que foi capitão de Malaca em 1564, e capitão geral e governador do Algarve até 1579. A proximidade de D. Francisco da Costa com o então vice-rei da Índia D. Afonso de Noronha, a quem Fernão Vaz Dourado dedicou um outro atlas (de 1568), leva a crer que possa ter sido feita a encomenda deste atlas por parte do fidalgo D. Francisco da Costa.
O historiador Armando Cortesão - um dos que defende que foi Vaz Dourado o autor - apresenta a hipótese de que o atlas tenha passado para a posse de D. Teotónio de Bragança (1530-1602), por doação do próprio D. Francisco da Costa, ou que o tenha adquirido após a sua morte.
Este atlas deve ter entrado na biblioteca da Cartuxa de Évora, pouco depois da data do falecimento de D. Teotónio de Bragança, em 1602. Desconhece-se a data de entrada do atlas na Torre do Tombo, certamente depois de 1834, após a extinção das ordens religiosas.
Existe ainda uma outra versão (com 17 mapas), de 1576, no espólio da Biblioteca Nacional de Portugal. Outros trabalhos de Vaz Dourado estão espalhados por arquivos do Reino Unido, Espanha e Alemanha.

Sugestão de leitura:
Cortesão, A.; Mota, Teixeira da.
Portugallae Monumenta Cartographica. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1987.
Nota: recentemente o Atlas foi clonado - em pergaminho com textura igual à original - numa edição limitada em homenagem à época em que a cartografia portuguesa era a melhor do mundo.  A ideia partiu do espanhol Manuel Moleiro em 2016, fundador da editora M. Moleiro. Foi ele o responsável pela reprodução das 18 folhas do Atlas de Fernão Vaz Dourado, numa edição única (em 2014... 443 anos depois de ter sido feito o original) de 987 exemplares certificados. Nela são respeitadas desde as técnicas de pintura miniaturista renascentista que eram apanágio de Vaz Dourado até às marcas do tempo deixadas no pergaminho. Custam cerca de 2 mil euros.

sábado, 22 de janeiro de 2022

Banquete de homenagem ao Governador Marques Esparteiro

A 5 de Maio de 1952 Ho Yin (1908-1983), Presidente da Associação Comercial de Macau  (fundada em 1913) organizou uma homenagem ao Governador de Macau, Comandante Joaquim Marques Esparteiro, que estava no cargo há cerca de um ano.
Tratou-se de um banquete realizado no restaurante "Golden Gate" do Hotel Central e onde se reuniram mais de 400 pessoas.
Ho Yin começou a carreira política na década de 1950 depois da implantação da República Popular da China em 1949.
Na homenagem esteve presente a 'nata' da sociedade macaense, chinesa e portuguesa da época. Na foto acima, em 1º plano à direita, pode ver-se o empresário Fu Tak Iam.
Pouco tempo depois desde eventos, a 27 de Junho de 1952 Ho Yin foi feito Oficial da Ordem Militar de Cristo, a 3 de Agosto de 1971 foi feito Comendador da Ordem de Benemerência e a 9 de Junho de 1990 foi agraciado a título póstumo com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.
Enquanto militar Esparteiro esteve na década de 1920 em Macau.
Marques Esparteiro foi Governador de Macau entre 1952 e 1956. 
A mulher está à esquerda na foto ao lado de Ho Yin.
Entre as múltiplas personalidades na foto acima, Pedro José Lobo é o 2º a contar da direita.
Momento do discurso do Governador
No gradeamento das janelas pode identificar-se o símbolo HC... de Hotel Central
Curiosidade: Uma avenida e um pequeno jardim (Av. da Amizade) receberam o nome de Ho Yin. Também a mulher do governador, Laurinda Marques Esparteiro, tem um jardim com o seu nome na Taipa.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Os "lanchaes"

Este excerto de um aviso da Procuratura (dos Negócios Sínicos)* foi retirado da edição de 4 de Janeiro de 1851 do Boletim da Província de Macao, Timor e Solor.
Dá conta dos "tantos roubos cometidos pelos Lanchaes no Bazar, e mais partes da Cidade".
Lanchaes eram os piratas. Veja-se um pequeno excerto de um documento do mesmo ano: 
"É incalculavel o numero dos lanchaes (piratas) que infestam as costas da china; é quasi uma raça que se propaga e perpetua, recrutando-se nas classes desmoralisadas e miseraveis. Possuem vastas esquadras e dominam às vezes ilhas inteiras."
* Nesta época o Procurador dos Negócios Sínicos ainda era nomeado pelo Senado. Só em 1866 passou a ter nomeação régia, sobre proposta do Governador.
Era o interlocutor privilegiado perante o mandarim chinês da Casa Branca.
Nesta anúncio o procurador era Lourenço Caetano Cortela Marques mais conhecido por Lourenço Marques (1811-1902). Exerceu o cargo durante muitos anos e foi ainda vice-presidente e Presidente do Leal Senado.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Combate aos piratas em 1854

 in "O Commercio", Porto, 30 de Janeiro de 1855

A 'notícia' relativa a acontecimentos ocorridos no final de 1854 - na verdade é um relatório oficial - diz respeito a uma acção conjunta de Portugal, Inglaterra e América contra os piratas.
A lorcha de guerra (seis peças) Amazona esteve ao serviço de Macau entre 1854 e 1874, sendo que desde pelo menos 1866 estava atracada no Porto Interior e servia de quartel do Corpo de Polícia de Mar. Terá depois servido nos rios de Moçambique.
As lorchas foram concebidas e construídas pela primeira vez em Macau no início do século XIX. Incorporavam características das embarcações à vela europeias (principalmente portuguesas) e chinesas, e eram feitas de madeira de teca e cânfora. Facilmente manobráveis, eram embarcações velozes sendo mais rápidas que os juncos chineses. Armadas com canhões leves, as lorchas passaram a ser contratadas como escoltas armadas, para escoltar frotas de juncos mercantis de porto em porto, quando a pirataria assumiu graves proporções na costa da China. Tinham geralmente cerca de 100 toneladas de peso bruto, mas as maiores ultrapassavam 150 toneladas e as menores tinham menos de 50 toneladas. O armamento consistia em cerca de 20 canhões no caso dos navios maiores, enquanto a tripulação era geralmente abastecida com mosquetes. Relatos da época referem que as lorchas eram pitorescas e pintadas de cores alegres.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Ilustração da Praia Grande numa caixa de tabaco: início século XX

Uma ilustração da Baía da Praia Grande (Macau) pode ser vista num produto - tabaco para cachimbo - da empresa holandesa Royal Theodorus Niemeyer Ltd.
Tem a particularidade de se tratar de uma imagem invertida na horizontal como se pode comprovar numa comparação com a imagem abaixo. 
A fraca qualidade da ilustração a cores não inclui o farol da Guia.
Estes produtos da Royal Theodorus Niemeyer Ltd. foram comercializados nas décadas de 1910/30 e tinham centenas de ilustrações. A ilustração de Macau era a número 118.

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

A 'fundação' de Macau: fontes chinesas

Monografia de Macau, de Ying Guangren e Zhang Rulin, os primeiros magistrados da Casa Branca:
"No 32° ano (1553) do Reinado de Jiajing (1522-1566), barcos bárbaros que aportaram a Macau pediram alguma terra emprestada a pretexto de terem os seus navios danificados pela tempestade, para secar mercadorias tributárias molhadas, o que foi autorizado pelo Haidao, Wang Bai. De início, fizeram apenas umas cabanas de palha, mas passados alguns tempos, construíram casas à medida que os comerciantes que procuravam lucros fáceis transportavam para lá tijolos, telhas vidradas, vigas, ripas e outros materiais de construção, de modo que os folangji conseguiram, dum modo fraudulento, fixar-se em Macau. Com as casas altas que se apinham umas atrás das outras, esta terra, com o correr do tempo, acabou por ficar ocupada por eles. A presença bárbara (dos Portugueses) data do tempo de Wang Bai."
Wang Linheng, comissário imperial que esteve em Cantão por volta de 1601. 
"Os portugueses que vieram à China costumavam ficar em Xiangshan'ao (Macau) para comércio, partiam depois de terem feito o negócio. Com o passar do tempo, as leis tornaram-se menos rigorosas e os portugueses começaram a residir em Macau. Os responsáveis (chineses) facilitavam o seu comércio sem cumprir com rigor as leis, deixavam-nos fazer o que entendessem. Certamente, se se emitisse uma ordem para não exportar para lá cereais e alimentos, os portugueses, cercados, não poderiam permanecer muito tempo em Macau. No entanto, os seus negócios são extremamente lucrativos, pelo que se torna difícil de os proibir apesar da severidade das leis. Agora, consta que existe já em Macau uma dezena de milhares de famílias, com centena de milhares residentes. Isto constitui uma chaga no Sul da China, sem saber quais serão suas consequências quando rebentar".

Ye Quan, letrado chinês que esteve em Macau em 1565, escreveu assim nas Crónicas de Viagem de Lingnan:
"Tendo em consideração que o orçamento militar de Guangdong depende dos (direitos pagos pelos) navios bárbaros, não se vê qualquer inconveniência se os bárbaros, sem outras ambições, apenas pretendessem fazer rentabilizar seus produtos com a abertura da feira marítima e através do comércio entre chineses e eles. No entanto, o que se verifica hoje em Macau é a reunião de milhares de bárbaros, que fazem os chineses tornarem-se em criados e que casam com mulheres chinesas tomando-as e os seus filhos como escravos. Os oficiais militares imperiais acreditados em Macau e os funcionários alfandegários chineses não tinham capacidade suficiente para os controlar senão tentar apenas tranquilizar, com promessas vagas, o ânimo dos bárbaros para não se revoltarem. Os bárbaros que frequentavam as feiras marítimas, anteriormente realizadas a bordo dos navios, findas as transacções, iam-se embora e se tomavam no ano seguinte. Mas agora, em vez de se irem embora ao terminar as feiras, deixam os seus navios e instalam-se em terra em casas construídas. Os bárbaros que são, por temperamento, astutos, com a orientação de rebeldes ou fugitivos aqui refugiados, adquirem profundos conhecimentos sobre as vantagens e desvantagens da China bem como as facilidades de navegação até à Cidade de Cantão pela via fluvial. Esta situação como é que poderia continuar a existir! As autoridades não deveriam procurar alguma solução para esta situação?
No motim do distrito de Dongguan, na última Primavera, os rebeldes conseguiram chegar, a bordo de lorchas e ao som dos tambores, à capital da Província, obrigando ao encerramento das portas da cidade em pleno dia. Os rebeldes ousaram fazer festas no Templo da Concubina Celestial. O comandante Tang Kekuan teve vários combates com eles, mas todos foram sucessivamente mal sucedidos. Mandou então um mensageiro aos bárbaros de Haojingao (Macau) aliciando os bárbaros de Macau a dar o seu apoio para derrotar os rebeldes com a promessa de isenção da medição no caso de vitória, o que não era nenhuma ideia do Governador Provincial. Ao obter a vitória sobre os rebeldes, o comandante Tang considerou-a como uma vitória de seu próprio mérito e o Haidao, desconhecendo também o conteúdo do prometido, não os isentou do pagamento da medição. Os bárbaros, inconformados com a situação, recusavam-se a pagar os direitos das suas mercadorias, o que fez com que as autoridades provinciais procurassem meios para colocá-los em apuros. Foi decretada a proibição de exportação de viveres para Macau. Esfomeados, os bárbaros acabaram por pagar os direitos em causa, mas lamentavam a falta de dignidade e de palavra por parte dos chineses, desconhecendo que tudo tivesse sido obra do comandante Tang. As autoridades de instância superior, por sua vez, achavam que os bárbaros eram muito difíceis de controlar, também por ignorar a promessa feita pelo comandante Tang no sentido de isentar os bárbaros da medição se viessem a conquistar a vitória sobre os rebeldes. Ora, os conflitos nascem sempre assim, ou seja, pela falta de comunicação entre as partes."


Carta sobre a ocupação de Macau pelos portugueses, dirigida à Corte imperial da China em 1565 por Wu Guifang.
"Tal como muitos outros funcionários, estou também convicto de que (a contradição entre nomes apresentados) resulta ou de más línguas dos marginais, ou do receio dos bárbaros no sentido de poderem perder as oportunidades de negócio caso confessem a sua verdadeira identidade. A longa distância entre os países e a existência de informações contraditórias dificultaram o apuramento da verdade. O facto de que, mesmo entre os bárbaros, a comunicação é feita através de tradução, agravou também a nossa investigação. Pu-Li-Du-Jia, como nome de um país, não se encontra em nenhuma fonte histórica, sendo certo que se trata de um país que nunca possuiu o estatuto tributário desta Dinastia. Duvido que os que desta vez vieram pedir o estatuto tributário sejam os bárbaros do reino Folangji, tal como aqueles que, nos anos anteriores, disfarçados em gentes de Malaca, cá vieram para materializar o comércio clandestino. A intenção deles não é outra senão pretender a isenção de impostos. Tendo em atenção as dúvidas suscitadas, é-nos difícil fazer uma política adequada, pelo que solicitamos um despacho de S. Majestade." (...)
Sendo uma situação excepcional a vinda dos bárbaros para solicitar a apresentação de tributos, e se da parte dos bárbaros se vê uma verdadeira vontade de vassalagem e da nossa parte não se vêem perigos latentes, é de todo possível acolher calorosamente a sua gente e aceitar os seus produtos oferecidos. No entanto, a partir do levantamento da proibição da vinda das embarcações estrangeiras, autorizado em 1529 pelo Grande Coordenador e Comandante das Forças Armadas de Guangdong, Lin Fu, e do estabelecimento do sistema fiscal, os países estrangeiros constantes das 'Sagras Instruções do Imperador-Fundador' e das ‘Instituições', ou seja, os antigos reinos vassalos mandaram numerosas embarcações cujas velas se vêem em todos os lados do porto de Cantão. Entre as embarcações chegadas misturavam-se, às escondidas, barcos de alguns países proibidos de fazer negócio com o nosso Império, como o reino de Folangji. Nos últimos anos, pessoas estrangeiras de muitos países apoderaram-se de Haojingao, construindo ilegalmente casas de palha, quartéis e templos estrangeiros, vindo e partindo com grande liberdade, até tendo filhos e netos. Recordamos que, no início da abertura do comércio, era muito pouco o número de embarcações estrangeiras, e os bárbaros não se atreviam senão a seguir as legislações - novas legislações na altura - impostas, pelo que trouxeram grandes lucros para a China. À medida que o tempo passava e que se habituavam com o ambiente, começaram a contestar os impostos e a situação começou a deteriorar-se, com lucros cada vez mais escassos para o nosso Império. Estes bárbaros estranhos à nossa etnia, cujo número ultrapassa os dez mil, já ocupam Macau há mais de 20 anos. Os mais conscientes preocupam-se com esta situação opinando que estes bárbaros, embora vinculados actualmente pelas relações comerciais, serão um perigo imediato e latente para a cidade de Cantão."
Wu Guifang, Informação sobre a Não-Aceitação da Prestação de Tributo pelos Portugueses em Macau, in Colecção de Clássicos de Administração Pública na Dinastia Ming, Re-edição fac-similada, Taipei, 1964, Vol. 21

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

"Officina de Seguro"

Os especialistas na matéria consideram que o Rei D. Dinis foi quem criou a “primeira forma de Seguro“. Foi ele, “O Lavrador”, quem em 1293 estabeleceu em Portugal a primeira forma de seguro dedicada exclusivamente aos riscos marítimos para os mercadores. O cálculo do 'prémio' de seguro era feito de acordo com o porte da embarcação e carga. O montante servia para fazer face a eventuais sinistros, por perdas de navios e mercadorias.
Anúncio no jornal O Macaista Imparcial de 1836

A Carta Regia de 18 de Maio de 1810 autoriza a "creação de uma casa de Seguro em Macau". Antes e também depois desta data era o Senado que cobrava juros sobre os riscos do tráfego marítimo, na prática uma primeira versão do que viriam a ser os seguros. Por via dos interesses estrangeiros no comércio com a China foram sobretudo as empresas holandesas, americanas e britânicas que se estabeleceram no território.
Anúncio de 1846 no Boletim do Governo da Província de Macao, Timor e Solor



 

domingo, 16 de janeiro de 2022

Pedro Barreiros: 1943-2022

Pedro Manuel Pacheco Jorge Barreiros nasceu em Macau a 14 de Agosto de 1943. Descendente de uma ilustre família macaense - filho de Leopoldo Danilo Barreiros e Henriqueta Pacheco Jorge - licenciou-se na Faculdade de Medicina de Lisboa. Ainda jovem foi viver para Portugal.
Ingressou no quadro de Oficiais Médicos da Força Aérea Portuguesa em 1968. Como médico militar, fez uma comissão em Angola e foi cooperante técnico-militar em S. Tomé e Príncipe.
Em 1997 foi promovido a Major General Médico e Director de Saúde da Força Aérea em 1997.
Para além de médico foi ainda professor, dinamizador cultural, diigente associativo, escritor e pintor. Dizia que a arte da pintura surgiu em criança com um mestre chinês. Fez várias exposições não só em Macau como também em Portugal.
Outra das suas paixões era a escrita sendo um admirador e profundo conhecedor da obra de Venceslau de Moraes* e de Camilo Pessanha, personagens que também abordou na pintura.
Fez a primeira exposição individual no Porto, em 1974, estando representado em colecções particulares e oficiais, em Macau, Portugal, Angola, Brasil, Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, Estados Unidos, França, Itália e Vaticano.
Tendo ido muito jovem para Portugal só regressou a Macau na década de 1990, um regresso  que repetiu várias vezes e assinalado na mostra "Macau fui eu que nasci".
“Durante esses mais que quarenta anos vivi sempre em Macau, nessa cidade em que tinha nascido e que tinha, ao longo desses mesmos anos, construído dentro de mim e a que regressei em Outubro de 1990.
Quando desembarque do ‘hovercraft’ de Hong Kong senti-me, como se nunca tivesse saído de Macau, envolvido pelo calor húmido do Outono pelos cheiros, pelo ruído permanente com a musicalidade do falar cantonense.
Desde esse primeiro retorno, após os vinte e três anos que tinham passado, e nos que se seguiram, eu e a Graça vimos a metamorfose brusca que se deu em Macau cada vez que desembarcámos, sempre com uma emoção crescente.
Quadriculámos centenas de vezes a cidade horas a fio por dia, encontrando nos nossos passeios os sinais que sabíamos da nossa cidade construída e sonhada, pelas nossas recordações, leituras, conversas e imaginação.
Com um bloco de papel e uma caneta ou um lápis, parava de vez em quando para desenhar, fixando alguns ângulos como tinha por costume fazer em todas viagens que fiz.
Reproduzi inúmeras vezes as mesmas cenas, sobretudo em sítios em que me pudesse sentar ao ar livre a descansar um pouco dos quilómetros andados (o que cada vez, em Macau, se vai tornando cada vez mais difícil, mesmo a pé, sobretudo ao fim de semana e nas zonas mais centrais).
Essa série de blocos de desenho a preto e branco, tornaram-se, quando de regresso a Lisboa, os pontos de partida para os regressos de todos os dias a Macau.”
É autor do romance biográfico “Danilo no Teatro da Vida”, sobre o pai, Danilo Barreiros. Em parceria com a mulher, Graça Pacheco Jorge Barreiros, assinou a fotobiografia do avô “José Vicente Jorge - Macaense Ilustre”. Juntos assinaram ainda a autoria do guião do documentário “Macau, uma Paixão Oriental”, realizado por Francisco Manso. Foi também Pedro Barreiros que escreveu o capítulo introdutório de “Notas sobre a Arte Chinesa”, de José Vicente Jorge (primeira edição é de 1940).
Foi professor de Fisiologia da Escola de Serviço de Saúde Militar, assistente convidado da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, nas cadeiras de Patologia Médica e Clínica Médica, professor convidado da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, na cadeira da Iniciação à Clínica e regente da cadeira de Patologia Geral nos cursos de Saúde da Universidade Atlântica. Apresentou trabalhos científicos em congressos médicos realizados em vários países e publicou estudos e artigos em jornais e revistas de Medicina, Arte e Cultura.
* Foi comissário das comemorações de 150º Aniversário do Nascimento de Wenceslau de Moraes e fundador da Associação Wenceslau de Moraes.
Pessoalmente, só posso agradecer a paciência com que sempre me recebeu em sua casa, tal como a sua mulher, Graça Pacheco Jorge (uma autoridade em termos de gastronomia macaense), e nunca irei esquecer a forma apaixonada como falávamos de Macau,  da sua história e do pai, Danilo Barreiros. Isto, claro está, para além da minha profunda admiração pelos seus quadros. Demorei até lhe pedir um para mim. Pequenino que fosse. Por vicissitudes várias nunca se concretizou mas sei que quando nos encontrarmos o fará. Pedro Barreiros morreu este sábado. Tinha 78 anos. Até sempre Pedro. E obrigado por tudo!
Com a sua partida perde Macau mais um ilustre macaense.