década 1980
Medalha comemorativa: 5 de Outubro de 1974
A Ponte Nobre de Carvalho ou a Ponte Macau‐Taipa, como também é conhecida, liga Macau peninsular, junto ao edifício do Casino Lisboa, à Ilha da Taipa, junto à colina norte. Denomina‐se Nobre de Carvalho em homenagem a José Manuel de Sousa e Faria Nobre de Carvalho, governador de Macau entre 25 de novembro de 1966 e 19 de novembro de 1974.
Tomando a forma sinuosa do dorso de um enorme dragão, com o Casino Lisboa representando a cabeça e a Taipa Pequena a cauda, acentua a sua expressiva presença na paisagem como algo de singular e específico, contribuindo para que seja reconhecida com um valor cultural de pertença pela comunidade, que a considera património histórico de Macau, e passando a concentrar em si o valor de símbolo do lugar.
Foi durante muito tempo a ponte mais longa do mundo. Projetada no final da década de 1960 pelo engenheiro Edgar Cardoso (1913‐2000), a construção iniciou‐se em junho de 1970 e a inauguração teve lugar a 5 de outubro de 1974. Com um comprimento de três quilómetros e uma largura de nove metros e vinte, o trainel da ponte é elevado numa pequena parte formando um arco triangular agudo que atinge a altura máxima nos trinta e cinco metros, garantindo assim a necessária passagem de barcos.
A Ponte Nobre de Carvalho constitui um estimulante desafio técnico, que dá forma e responde genialmente a questões e requisitos complexos resultantes da articulação do vão a vencer, com os condicionamentos ao traçado em perfil e aos gabaritos de navegação e de modelação dos vãos e pela provocação da convexidade da super‐estrutura. Para além da resolução brilhante dos aspectos formais, a obra representou na época aspectos inovadores também no quadro do desenvolvimento de uma tecnologia de pré‐fabricação importante.
No dia da inauguração: 5.10.1974
Os cerca de três quilómetros de extensão são resolvidos com apenas três juntas de dilatação, integrando um viaduto contínuo em peça monolítica com mais de um quilómetro e um vão central com setenta e quatro metros, elevado trinta e cinco metros sobre o nível médio das águas. Mas é também na tecnologia da pré‐fabricação que residem os aspectos mais inovadores da obra, com a aplicação inovadora de resinas epoxídicas na ligação de elementos pré‐fabricados de betão e aço. A esbelteza da ponte é notável, e o sistema de contraventamento transversal para os fustes dos pilares, idealizado por analogia com os sistemas adotados nas pontes metálicas, uma solução de extrema elegância.
No quadro da obra extraordinária que o engenheiro Edgar Cardoso nos legou, a Ponte Nobre de Carvalho confirma a singularidade e o lado experimental da sua estratégia projetual. Ator privilegiado da transformação do território, modelando em profundidade a paisagem, criador técnico e plástico de realizações que surpreendem – quer pela força escultórica, quer pelo risco assumido na diversidade de soluções trabalhadas – sempre defendeu que “a perfeição técnica de uma obra de engenharia tem sempre reflexo na sua qualidade estética. A simplicidade e a justeza com que foi concebida comandam o grau de emoção que desperta naqueles que a contemplam.” A Ponte Nobre de Carvalho é a prova da sua máxima de que “em todos os rios há um sítio que foi feito para se pôr uma ponte. É preciso é encontrá‐lo!” Primeira ponte construída em Macau, permitindo antever a transformação do território, desencadeou um processo de drásticas mudanças que têm vindo a alterar a dimensão, a forma e finalmente a vida quotidiana, introduzindo um fator multiplicador no tempo e no espaço.
De facto, a abertura da Ponte Nobre de Carvalho constituiu o primeiro ato isolado de um processo de crescimento do território que em breve tomaria proporções impressionantes. Só vinte anos depois seria inaugurada a segunda ponte, integrada agora num vasto plano de investimentos, e mais tarde a terceira. Taipa sempre foi uma ilha pouco povoada, mas esta situação mudou quando a Ponte Governador Nobre de Carvalho foi concluída. A partir desta data, a ilha iniciou um processo de grande desenvolvimento, aumentando substancialmente de população e constituindo hoje uma grande área residencial. Réplica moderna das tradicionais pontes asiáticas de bambu, justamente comparada a um corpo de dragão que repousa sobre o estuário do Rio das Pérolas, a Ponte Nobre de Carvalho é hoje um ex‐líbris da cidade, um símbolo perene e belo de Macau como se dela fizesse parte, fisicamente, como uma segunda natureza.
Texto de Ana Tostões
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