A ilha de Tai-Vong-K´âm/Ilha da Montanha pode ser vista noutro mapa, por exemplo, aqui.
Por estes dias recebi um e-mail de um leitor chinês, Jin Gioping que pretendia saber mais informações sobre uma 'baixo-relevo', nas palavras dele, que ainda pode ser visto na Ilha da Montanha, junto a uma cascata.
Serve então este post para responder a algumas das questões que o leitor coloca (e a quem agradeço algumas das imagens que estão já a seguir.
Outra das perguntas que o leitor faz é sobre o lugar Man-ió, frente a Coloane, referido noutras fontes como Ma-Nio-ho. Era um dos pequenos povoados, aldeias piscatórias, da ilha (tinha 4 no total). No recenseamento de 1896, relativo a Coloane, refere-se existirem na povoação 31 casas habitadas com um total de 102 habitantes, todos chineses. Aliás, em nenhuma das povoações existiam habitantes de nacionalidade portuguesa.
Vejamos um testemunho do final do século 19 da autoria de Adolfo Loureiro:
24 de setembro de 1883 - Ás cinco horas da manhã embarquei com o tenente Cinatti na lancha a vapor Macau que se acha no porto para o serviço do governador. Dirigimo-nos á Taipa e descemos pelo canal do Kolowane passando em frente da povoação d'este nome que offerece uma perspectiva muito risonha. N'este canal desemboca a denominada Ribeira da Pedra por onde se desvia na vasante grande massa de agua do Broadway não tanto como a que sáe pelo canal da Taipa. Aquella ribeira passa ao sul da ilha de D João ou de Macarira, ilha que nos pertence e que é muito accidentada e despida de vegetação. Démos a volta á ilha de Kolowane que é bonita e subimos pelo canal da Taipa por onde antigamente se fazia a entrada em Macau e que hoje está muito assoriado e baixo.
Soprava um vento rijo e fresco e o mar estava muito encapellado com uma vaga curta e desencontrada que imprimia á Macau movimentos sacudidos e incommodos enxovalhando-a com a espuma e o salpico das águas. Eu que levava um fato de linho bastante leve tiritava de frio e sentia-me humido e gelado até á medulla dos ossos. Tomámos depois pelo canal do Bugio passamos junto ao grande e ao pequeno Malo chau e continuámos até á enseada de Hong mi. É este canal que serve á navegação do Broadway e que dá maior descarga a estas águas. Desenvolve-se por entre ilhas de vertentes muito rapidas e escabrosas defendidas ao sopé por uma orla de rochas graniticas. Á enseada de Hang mi vem desembocar um outro canal que se abre através de terrenos de recentissima formação e onde verdejam os arrozaes. O Broadway é como quem diz, a larga estrada, um braço de mar assás vasto mas com pouco fundo. Demos ali em secco e tivemos de esperar a maré para continuar a viagem, tempo que aproveitámos almoçando. Proseguindo depois passámos junto á ilha do Lam peão ou Tang lung chau em frente da qual o Broadway apresenta maior largura, despedindo diversos canaes através das varzeas que se estendem até Macau. Tudo aquillo é grande mas a emmaranhada rede de canaes abriu-se por assim dizer ao capricho das águas que trazem em suspensão massas enormes de sedimentos e que auxiliadas por um bom regimen de correntes colmatariam rapidamente os terrenos baixos formando varzeas de inexcedivel feracidade. Continuando a nossa exploração chegámos a um logar, Ioss Ho, onde se levanta um singelo pagode com um bosquesinho ao pé. (...)"
Tal como as ilhas da Lapa, e D. João, também a ilha da Montanha pertencia a Macau e era habitada por pequenas comunidades chinesas. A presença militar portuguesa remonta ao final da década de 1930, aquando da invasão da China pelo Japão cujas tropas invadiram estas ilhas. Na altura uma pequena guarnição de militares portugueses foi ali colocada - a lápide em betão que se mostra abaixo é desse tempo - para defesa das populações e dos missionários católicos mas acabaria por sair por volta de 1941. Os japoneses tomaram conta das ilhas e após o final da guerra, em 1945, seriam as autoridades chinesas a assumir o controlo das ilhas.
Actualmente as ilhas de D. João e Montanha estão ligadas por um aterro.
Praticamente desde o século 17 a soberania portuguesa sobre estas ilhas foi sempre uma questão em litígio entre as autoridades portuguesas e chinesas que a realidade da guerra, já em meados do século 20, viria a 'resolver'.
Num texto de 1877 - Historia universal: Nova ed. vertida da franceza de 1867 acompanhada da versão das citações gregas e latinas, e com alguns accrescentamentos relativos aos feitos dos portuguezes Volume 12 - pode ler-se: "Macau, unica possessão de Portugal na China está situada no extremo sul oriental do chinez faz parte da ilha Hiang Chan á provincia de Cantão na entrada do rio d'este nome. Tem 4 kilometros e meio de no sentido NS desde o forte de S Thiago Barra até á muralha que corta o isthmo separando o territorio portuguez do imperio chinez; na maxima largura, na parte média da peninsula, tem 1800 metros; para o S. diminue muito de largura a qual não passa de 600 metros em um espaço de 1500. A superficie da peninsula é de 375 ares. A O. de Macau fica a montanhosa ilha da Lapa, da qual é separada por um braço do rio de Cantão em 600 a 800 metros de largura. Entre as ilhas que ficam ao S. da peninsula, notaremos a pequena ilha da Taipa onde ha um forte portuguez e as ilhas de Macarira e Kai Kong alinhadas no rumo de OSO.
Nota: "Macarira" era o outro nome pelo qual era conhecida a Ilha D. João
Detalhe de um mapa de 1912 |
Mário Augusto Tancredo Borges (1898-1958) era chefe auxiliar técnico da RTOP (3ª secção - obras marítimas, pontes,cais, quebramares, etc...) nasceu em S. Lourenço a 13.1.1898 e morreu a 1 de Janeiro de 1958.
Era filho de José Abelard Borges, nascido a 28 de Julho de 1861 (filho de Manuel José Borges (1834-1889) e Filomena Francisca Batalha (1838-1915) e foi baptizado/registado na Igreja de S. Lourenço. Casou com Veríssima Eulália dos Remédios (1863 com quem teve 4 filhos. Terão casado, como era tradição na altura, pouco antes do nascimento do 1º filho, portanto, cerca de 1880, quando tinha 19 anos, o que é muito natural para a época. José Abelard morreu em 1906 e a mulher em 1952.
O primeiro filho do casal nasceu em 1883, Luísa Emília Borges, em 1889 Rafael Gastão Bordalo Borges, em 1892 Artur António Tristão Borges e, em 1898, Mário Augusto Tancredo Borges que viria a casar, primeiro em 1920 com Lucrécia Maria Borges (não tiveram filhos) e depois, em 1945 com Esbelta Maria Salvado Torres Borges (tb não tiveram filhos).
Fotos de Jimmy John. Na pedra está gravada a seguinte inscrição R.T.O.P.M. em Junho de 1937 por Mário Borges". Repartição Técnica de Obras Públicas de Macau
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