sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

"Incêndio no Bazar" (1856) e "Palácio Iluminado" (1855)

Edição de 19 de Abril de 1856 - "A illustração luso-brazileira: jornal universal"
Incendio do bazar chinez em Macau
“Em 4 de Janeiro pelas duas horas da tarde, manifestou-se fogo no centro do bazar, ou bairro chinez, n´uma loja ou botica, como lá se dizem. O vento forte, que soprava rijo, espalhou-se rapidamente: ás 5 horas rondou para leste, e algum tempo depois voltou ao norte, o que fez com que as chamas avançassem em todas as direcções. O incêndio durou até ás 11 do dia seguinte.
Arderam umas 1:500 casas entre grandes e pequenas, incluindo mais de 600 lojas. As propriedades e valores perdidos sobem a mais de um milhão de patacas, ou para cima de 1:000 contos. Houve também alguma perda de vidas.
Ás 7 horas da tarde do mesmo dia, outro fogo se manifestou em sitio afastado do bazar, n'uma espécie de pequena doca, onde estavam fechados uns 100 tancares, ou botes chinezes, que serviam de habitação a mulheres publicas chins. Em poucos minutos tudo ardeu, e d´aquellas infelizes morreram 17, mulheres e creanças. O resto salvou-se dificultosamente através d´um postigo que conseguiram abrir na porto da doca, que estava cerrada á chave.
As autoridades, e força militar de mar e terra, e todos os cidadãos de Macau, trabalharam quanto poderam para atalhar o incendio, e evitar os roubos e desordens que sempre em taes ocasiões pratica a população chineza. Tambem prestaram valiosos auxílios as guarnições das fragatas francezas Virginie e Constantine, que estava surtas no porto.
Os melhores meios e os mais bem dirigidos esforços para atalhar na China fogos similhantes, são afinal pouco eficazes. O bazar ou bairro chinez de Macau, é um labyrintho de ruas e de casas, mais estreito, tortuoso e complicado do que o nossos bairro d´Alfama. Em varias partes são apenas corredores cobertos de esteiras, por onde os viandantes com dificuldade podem transitar. As casas são muito frágeis, construídas na maior parte de madeira. Em taes circumstancias quasi o único remedio de terminar um incendio, é derrubar todas as propriedades que se lhe avizinham, ao que os chins sempre repugnam. (...)
Nota: na sequência deste grande incêndio o governo tomou medidas para que não se voltasse a repetir, mas de pouco ou nada serviu.
"Illuminação do Palácio do Cônsul brasileiro* em Macau no festejo pela exaltação de S. M. D. D. Pedro V ao throno

"No dia 26 de Dezembro último, tendo chegado pouco antes a Macau a notícia da acclamação de S. M. El-rei D. Pedro V, ora felizmente reinante, a cidade do Nome de Deus quiz festeja-la com todas as demonstrações de alegria. (...) À noute a illuminação foi esplendida; a folha franceza** donde copiamos a nossa estampa diz assim: "Até os Chinas quizeram rivalisar com os portuguezes fazendo ao seu modo fogos de artificio dramaticos e pavilhões alumiados por differentes cores; (...) de todos os edificios o que se distinguiu mais pela riqueza e bom gosto das decorações foi a residência do barão do Cercal, consul geral do Brazil; mais de três mil lumes estavam habilmente collocados segundo um desenho que o filho do barão*** fizera imitando o que no género tinha visto de mais perfeito".
* O cônsul do Brasil em Macau era o Barão do Cercal (desde 1851), Alexandrino António de Mello (1809-1877). O Palácio referido, localizado na Praia Grande, ficou pronto em 1849 e a partir de meados da década de 1880 passou a ser o Palácio do Governo de Macau, primeiro por arrendamento e depois por compra à viúva do Barão do Cercal.
** Edição de 15 de Maço de 1856 do jornal "L'Illustration jornal universele"
*** O filho do Barão era António Alexandrino de Mello (1837-1885).

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