quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

"Do Ocidente da Europa aos Confins da Ásia"

Em 1969 o empresário portuguê José Gonçalves de Abreu (1914-2002) - oriundo de Freixo de cima, Amarante e fundador do grupo Tabopan, fábrica de aglomerado de madeira - viajou até ao Japão a convite da Union of Japanese Scientists and Engineers para participar na Conferência Internacional do Controle de Qualidade. A viagem foi feita num DC9 (da MCDonnel Douglas, EUA)  com as escalas Lisboa-Copenhaga-Alaska-Japão-Hongkong-Macau-Tailândia-Irão-Itália-Lisboa.
No regresso haveria de publicar as impressões dessa experiência no livro - bastante ilustrado - "Do Ocidente da Europa aos Confins da Ásia (impressões duma viagem)" publicado em 1970.
Alaska, Tókio, Hong-Kong, Macau, Tailândia e Irão são os capítulos apresentados. Sobre Macau dirá que "A cidade faz lembrar um presépio na sua configuração e de todos os lados de onde se veja, é uma preciosidade."
Excerto:
"A cidade de Macau é uma preciosidade na margem do Rio das Pérolas, que atesta a presença de Portugal naquelas paragens de sonho que trouxe, há cerca de quinhentos anos, ao convívio do Ocidente. As suas ruas e avenidas tipicamente à moda portuguesa, banhadas por um sol quente e acolhedor, a que um mundo de transeuntes em mangas de camisa ou em lindos conjuntos, de largas calças e túnica preta, contrastavam com os trajes garridos dos turistas americanos, davam àquela paisagem a beleza das mais lindas capitais daquele lendário continente. (...) 
Ali, como em qualquer outra parte do nosso Ultramar pode ver-se a nossa forma de vida, plurirracial, em convívio fraterno com todas as raças e todas as cores de pele. Nos restaurantes, nos cafés, a passear pelas ruas, nas escolas, enfim por toda a parte, os portugueses não escolhem os seus pares ou os seus amigos, juntam-se na mais harmoniosa convivência, com todos os habitantes da cidade, quer sejam chineses, mestiços ou provenientes de qualquer outra parte do mundo. Somos assim e não temos que fazer qualquer esforço para sermos tal qual somos. (...)
Durante a nossa permanência em Macau, procuramos ver tudo que a magnífica cidade possui de mais belo e representativo da vida cultural e recreativa portuguesa, dado que, estando tão longe da mãe Pátria, com uma população de mais de 290 mil chineses e somente 10 mil portugueses seria lógico aceitar que pouco ou nada ali haveria a marcar a nossa permanência em tão pequena minoria. Pois ficamos deslumbrados com a satisfação com que o macaísta declina a sua identidade. Sou português, filho de pai português e de mãe chinesa; aqui nasci, sou português e prezo-me muito disso, não conheço ainda a Metrópole, mas tenho uma certa esperança de lá ir qualquer ocasião. Estudo a língua Pátria, frequento a escola portuguesa, falo chinês mas, cada dia, onde posso fazê-lo, isto é, logo que tenha quem fale a língua de Camões, é essa a língua que gosto de falar. (...) 
A presença de Portugal está patente em todos os cantos da cidade. Escolas, repartições públicas, indicações de trânsito, enfim, tudo revela que ali é terra de Portugal, e quando entramos num estabelecimento chinês – praticamente todos são chineses – somos recebidos com visível agrado e dispensam-nos as maiores atenções. (...)
Também encontramos alguns militares que gostosamente ali prestam serviço. É uma alegria que se dá àqueles rapazes, alguns naturais da metrópole, que ali estão cumprindo serviço e que dão à cidade um ar de urbanismo e importância que nos enche de orgulho e satisfação."

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