quinta-feira, 12 de novembro de 2020

EXCLUSIVO: Memórias de Nona Pio-Ulski Langley - 3ª parte

Em Agosto de 1966 Nona regressa a Macau. Desta vez a viagem é feita a bordo do ferry Fat Shan. Nas suas memórias, Nona - na altura com 19 anos - recorda como tendo sido "um fim de semana com as amigas", Jenny, Sheena e Pam. O motivo era ver uma corrida de touros à portuguesa que "ao contrário dos espanhóis, não matam o touro". Nona lembra-se que a certa altura a lide não estava a correr bem ao "matador" pelo que "o público começou a atirar as almofadas dos assentos para dentro da arena". Não participaram na ira do público e saíram mais cedo. 
Ficaram hospedadas no hotel Bela Vista e passearam bastante nas redondezas. "Lembro-me de termos ido ver as Ruínas de S. Paulo e de subir aquela escadaria para chegar lá", recordou Nona ao blog Macau Antigo. 
A mãe de Nona tinha-lhe pedido para, no regresso, levar caranguejos frescos. No domingo, antes de voltar a apanhar o ferry no Porto Interior encontraram um vendedor ambulante a quem comprou três caranguejos colocados empilha e enrolados com uma corda de bambú. "Foram muito úteis à chegada a Hong Kong; habitualmente as pessoas apressavam-se para sair e empurravam mas como tínhamos os caranguejos, com medo de serem mordidas, ninguém se aproximou de nós".
Em resumo, "foi um fim de semana muito divertido".
Nona (de rabo de cavalo) e as amigas Jenny e Pam sorridentes a bordo do Fat Shan
Jenny, Pam e Sheena a descansar na Av. da República a caminho do hotel Bela Vista
 Passeio de Riquexó 
Palácio do Governo
Nona e os caranguejos para a mãe

Estima-se que entre 1930 e 1960 passaram por Hong Kong cerca de 20 mil russos. A maior êxodo registou-se na década de 1960, tendo como destinos preferenciais a Austrália e EUA.
A família Pio-Ulski ficou por Hong Kong, ainda que por pouco tempo. Nona trabalhou para a HSBC até 1974, quando o pai se reformou e foram todos para Perth, na Austrália. Foi em Janeiro de 1974. Nona recorda que o pai ficou triste por não poder levar o piano.
Já casada, Nona Langley, regressou a Hong Kong, apenas uma vez, em 1980. Criou os filhos e assistiu ao crescimento dos netos na Austrália e só alguns anos depois dos pais morrerem é que descobriu "uma mala grande repleta de coisas... fotografias e outros objectos". 
Com a documentação que encontrou redescobriu a história dos antepassados e até criou um site, não só da sua família mas de outras famílias de russos 'brancos' que viveram na China na primeira metade do século 20.
Aos 73 anos, Nona - a quem agradeço a disponibilidade para recordar as memórias ao blogue Macau Antigo - diz que "saiu de Hong Kong mas Hong Kong nunca saiu dela".

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