Esta pintura a óleo de autor anónimo com uma representação da baía da Praia Grande em meados do século 19 faz parte do espólio do Museum of Old Newbury, no Estado de Massachusetts (EUA).
O museu foi fundado em 1877 com o nome Antiquarian and Historical Society of Old Newbury. Desde 1955 está instalado na Chushing House, uma mansão doada pela sobrinha de Caleb Cushing - Margareth - nome ligado à história dos EUA, Macau e China. Excerto de Dicionário Temático de Macau, Volume I, Universidade de Macau, 2010,
"Caleb Cushing (1800-1879). Filho de um abastado mercador norte-americano, estuda em Harvard, escreve para diversos periódicos como o North American Review e participa activamente na política local de Essex County. Ingressa na House of Representatives em 1834, como membro do partido Whig, e, em Washington, apoia a política anti-esclavagista, defendendo, no entanto, que o Norte não tem o direito de interferir com o esclavagismo sulista. Permanece no Congresso durante quatro mandatos e em 1840 é já considerado um dos principais líderes do seu partido, mas com a morte do presidente William Henry Harrison um mês após a sua eleição, Cushing alia-se ao novo presidente John Tyler, alistando-se no Partido Democrático. Tyler nomeia-o secretário do Tesouro em 1843, mas, devido à sua saída do partido Whig, o Senado não confirma esse cargo. Quando Edward Everett, ministro plenipotenciário norte-americano em Londres, recusa aceitar o cargo de responsável da missão americana à China, o presidente nomeia Cushing, instruindo-o para entregar uma carta ao imperador chinês e assegurar um tratado com as autoridades manchus que conceda aos E. U. A. condições favoráveis semelhantes às que a Grã- Bretanha conseguira com a assinatura do Tratado de Nanquim, com o objectivo de “regulamentar o comércio” norte-americano na China.
O diplomata chega a Macau em 24 de Fevereiro de 1844 a bordo do Brandywine e enfrenta inúmeros obstáculos para atingir os seus objectivos, chegando mesmo a afirmar que pretende ir pessoalmente a Pequim entregar a carta ao imperador, enquanto o governador Silveira Pinto deseja fazer o mesmo para defender os interesses portugueses no Sul da China. O plenipotenciário aproveita os três meses de espera em Macau para se familiarizar com a cultura e as instituições com as quais teria de negociar, funcionando o enclave como um local de preparativos e plataforma cultural entre o Ocidente e o Oriente.
O comissário imperial, Ch’i-ying (Qi Ying 耆英) chega finalmente a Macau em 18 de Junho, após ter estado reunido com o novo governador de Hong Kong, Sir John Davis, e o Tratado de Wanghia (Wangxia 望廈) é assinado em 3 de Julho de 1844, numa mesa de pedra do templo de Kun-Iam (Guanyin Miao 觀音廟), em Mong- Há (Wangxia 望廈), tendo-se o comissário chinês retirado de imediato para Cantão.
Após a missão na China, Cushing dedica-se à advocacia e à política interna, tornado-se um dos mais influentes políticos após a eleição do presidente Franklin Pierce. Durante a Guerra Civil, Cushing apoia as medidas de Lincoln, tendo-se voluntariado para chefiar o seu próprio regimento contra o Sul. Em 1873, é nomeado ‘ministro’ americano em Espanha, tendo permanecido em Madrid durante quatro anos, desenvolvendo excelentes relações com o governo espanhol até se demitir em 1877, para passar o resto dos seus dias em Newburyport, Massachusetts. Relativamente à estada do diplomata em Macau, Rebecca Chase Kinsman (mulher do mercador de Salem, Nathaniel Kinsman) que reside em Macau com o marido entre 1843-1847, descreve no seu diário a chegada da missão à China e o entusiasmo sentido pela comunidade norte-americana então residente em Macau. As referências à embaixada norte-americana começam desde a sua chegada a Bombaim, intensificando-se em 24 de Fevereiro quando o Brandywine ancora na Rada de Macau e a fragata norte-americana salva a bandeira portuguesa.
De acordo com a diarista, Cushing, cujos vestuário, bigode e espada causam sensação, ocupa a casa da família Tiers, que se encontra em Cantão, reunindo-se posteriormente com o cônsul americano de Hong Kong, Mr. Waldron, com Mr. Hooper e com o Dr. Parker, que dirige o Ministro Plenipotenciário à casa de Rebecca Kinsman, de surpresa, em 6 de Março, revelando este último o seu prazer ao encontrar-se com mulheres norte-americanas em Macau, voltando o mesmo grupo a encontrar-se, no dia seguinte, próximo da Baía de Cacilhas, durante um dos habituais passeios em Macau. A autora descreve os sucessivos encontros formais com membros da embaixada do seu país (políticos e missionários/intérpretes), bem como os jantares oferecidos por Cushing, e as alterações que o protocolo dessa visita origina no seu (solitário) quotidiano. No início do mês de Julho, o plenipotenciário americano desloca-se incógnito a Cantão para satisfazer a sua curiosidade, pois desde a sua chegada em Fevereiro não saíra de Macau. Aliás, a autora confessa que a estada de Cushing no enclave torna a vida da cidade muito mais alegre e activa, ambiente que termina quando o ‘embaixador’ deixa o território em 27 de Agosto de 1844, não sem antes as bandas filarmónicas da frota oferecerem serenatas de despedida às residentes americanas. A presença de diplomatas estrangeiros em Macau leva as autoridades portuguesas a reagir de forma a também defenderem os seus interesses e o seu estatuto no Sul da China, demonstrando a estada dos primeiros a importância do enclave nas relações sino-ocidentais desde o século XVII, neste caso, as relações políticas sino-americanas."