sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Viagem no século 17

Os livros publicados no século 17 são raros e nestes incluem-se os relatos de viagens feitos maioritariamente por religiosos. Para o post de hoje seleccionei um registo ainda mais raro e que conta uma viagem do Ocidente ao Oriente, por via terrestre, levada a cabo por um civil.
Henri de Feynes (1573-1647), também conhecido por Monsieur de Monfart, inicia a viagem 1608 chegando à  China no ano seguinte, tendo passado por Macau. Terá sido o primeiro francês a realizar esta façanha.
Poucos anos depois da chegada a França, um inglês que visita Paris tem conhecimento da viagem e com base nos apontamentos de Feynes publica o relato da viagem, num livro impresso em Londres em 1615 intitulado "An Exact and Curious Survey of All the East Indies, Even to Canton, the Chiefe Cittie of China - All Duly Performed by Land, by Monsieur de Monfart, the Like Whereof was Never Hetherto, Brought to an End: Wherein Also are Described the Huge Dominions of the Great Mogor, to Whom that Honorable Knight, Sir Thomas Roe, was Lately Sent Ambassador from the King: Newly Translated Out of the Travailers Manuscript"
Tradução do título do livro
"Um levantamento preciso e curioso de todas as Índias Orientais, até mesmo de Cantão, a cidade principal da China - tudo devidamente realizado por terra, por Monsieur de Monfart, como nunca foi até agora, levado até ao fim: onde também são descritos os Enormes Domínios do Grande Reino de Mogor*, para quem o Honorável Cavaleiro, Sir Thomas Roe, foi recentemente enviado Embaixador do Rei: recentemente traduzido dos manuscritos do viajante". 
* Império Mogol, Mugal ou Mogul, autodesignado Gurkani existiu entre 1526 e 1857 e chegou a dominar quase todo o subcontinente indiano.
Nessa altura os portugueses já se tinham 'estabelecido' em Macau (desde ca. 1555/7) mas este era ainda o início de uma parte importante da história do território que merece uma breve referência. Feynes passa duas vezes por Macau, antes e depois de ir a Cantão. Excerto da pág. 20
"From Malaca I went to Macao (near a months travail) which is a Citty situated on the sea coast at the foot of a great Mountaine where in times past the Portugalls had a greate fort and to this day there be yet many that dwell there. This is the entrance into China but the place is of no great importance; they are Gentiles and there the inhabitants begin to bee faire complextioned. Thence I travailled 2 months to the Cochinchines."

"De Malaca fui para Macau (cerca de um mês de viagem) que é uma cidade situada na costa marítima, no sopé de uma grande montanha, onde em tempos passados ​​os portugueses tiveram um grande forte e até hoje ainda há muitos que lá habitam. Esta é a entrada na China, mas o lugar não tem grande importância; eles são gentios e lá os habitantes começam a se preocupar. Daí eu viajei durante dois meses até à Conchinchina".

Notas:
Samuel Purchas, na obra Pilgrimes, de 1625, inclui várias extratos deste relato.
Em 1630 foi publicada uma versão em francês:"Voyage faict par terre depuis Paris Jusques a la Chine. Par le S.r de Feynes gentilhomme de la maison du Roy, Et ayde de Mareschal de Camp de ses armées. Avec son retour par mer."
Nesta edição Macau surge nas páginas 153 e 154 e com a grafia "Maquau". O conteúdo é muito semelhante ao da versão inglesa. Excerto: "Ce lieu n'est pas autrement de consequence, ny sort à priser pour l'humeur grossiere des habitants, qui son tour payés et addonnez à l'idolatrie."

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

"The Quarrel between Great Britain and China"

Excerto de um longo artigo intitulado "The Quarrel between Great Britain and China" (Guerra do Ópio) publicado numa edição de 1840 do The Monthly Chronicle:
"We insert for the illustration of this article a map of the bay of Canton, exhibiting all the positions connected with the trade of that city. The map contains also a plan of the city and suburbs of Canton and a plan of the town and harbor of Macao. The two latter are reduced from plans contained in a Historical Sketch of the Portuguese settlements in China published in Boston in 1836 by Sir Andrew Llungstedt, a work containing much curious information. The plan of Canton of which this is a reduced copy is stated to be a fac simile of one of the best native maps of the city with the exception of the lettering which in the original is in Chinese. On the native map the name of the city is written Kwang tung Sang ching which means the capital of the Province of Kwang tung or Canton. The natives usually call it Sang ching or the capital of the province. It stands on the north bank of the Choo Keang or Pearl river about forty miles from the Bocca Tigris or mouth of the river and about ten miles from the island of Whampoa where foreign ships usu ally discharge. The relative position of these places and of Macao Lintin, Hong Kong, Toong koo and other important points will be seen by reference to the map of the Bay of Canton which is compiled from the most authentic charts."

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

"Do Ocidente da Europa aos Confins da Ásia"

Em 1969 o empresário portuguê José Gonçalves de Abreu (1914-2002) - oriundo de Freixo de cima, Amarante e fundador do grupo Tabopan, fábrica de aglomerado de madeira - viajou até ao Japão a convite da Union of Japanese Scientists and Engineers para participar na Conferência Internacional do Controle de Qualidade. A viagem foi feita num DC9 (da MCDonnel Douglas, EUA)  com as escalas Lisboa-Copenhaga-Alaska-Japão-Hongkong-Macau-Tailândia-Irão-Itália-Lisboa.
No regresso haveria de publicar as impressões dessa experiência no livro - bastante ilustrado - "Do Ocidente da Europa aos Confins da Ásia (impressões duma viagem)" publicado em 1970.
Alaska, Tókio, Hong-Kong, Macau, Tailândia e Irão são os capítulos apresentados. Sobre Macau dirá que "A cidade faz lembrar um presépio na sua configuração e de todos os lados de onde se veja, é uma preciosidade."
Excerto:
"A cidade de Macau é uma preciosidade na margem do Rio das Pérolas, que atesta a presença de Portugal naquelas paragens de sonho que trouxe, há cerca de quinhentos anos, ao convívio do Ocidente. As suas ruas e avenidas tipicamente à moda portuguesa, banhadas por um sol quente e acolhedor, a que um mundo de transeuntes em mangas de camisa ou em lindos conjuntos, de largas calças e túnica preta, contrastavam com os trajes garridos dos turistas americanos, davam àquela paisagem a beleza das mais lindas capitais daquele lendário continente. (...) 
Ali, como em qualquer outra parte do nosso Ultramar pode ver-se a nossa forma de vida, plurirracial, em convívio fraterno com todas as raças e todas as cores de pele. Nos restaurantes, nos cafés, a passear pelas ruas, nas escolas, enfim por toda a parte, os portugueses não escolhem os seus pares ou os seus amigos, juntam-se na mais harmoniosa convivência, com todos os habitantes da cidade, quer sejam chineses, mestiços ou provenientes de qualquer outra parte do mundo. Somos assim e não temos que fazer qualquer esforço para sermos tal qual somos. (...)
Durante a nossa permanência em Macau, procuramos ver tudo que a magnífica cidade possui de mais belo e representativo da vida cultural e recreativa portuguesa, dado que, estando tão longe da mãe Pátria, com uma população de mais de 290 mil chineses e somente 10 mil portugueses seria lógico aceitar que pouco ou nada ali haveria a marcar a nossa permanência em tão pequena minoria. Pois ficamos deslumbrados com a satisfação com que o macaísta declina a sua identidade. Sou português, filho de pai português e de mãe chinesa; aqui nasci, sou português e prezo-me muito disso, não conheço ainda a Metrópole, mas tenho uma certa esperança de lá ir qualquer ocasião. Estudo a língua Pátria, frequento a escola portuguesa, falo chinês mas, cada dia, onde posso fazê-lo, isto é, logo que tenha quem fale a língua de Camões, é essa a língua que gosto de falar. (...) 
A presença de Portugal está patente em todos os cantos da cidade. Escolas, repartições públicas, indicações de trânsito, enfim, tudo revela que ali é terra de Portugal, e quando entramos num estabelecimento chinês – praticamente todos são chineses – somos recebidos com visível agrado e dispensam-nos as maiores atenções. (...)
Também encontramos alguns militares que gostosamente ali prestam serviço. É uma alegria que se dá àqueles rapazes, alguns naturais da metrópole, que ali estão cumprindo serviço e que dão à cidade um ar de urbanismo e importância que nos enche de orgulho e satisfação."

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Licença para um monumento em 1872

Na edição de 29 de Outubro de 1872 a Gazeta de Macau e Timor: semanario politico, litterario e noticioso informava que "por portaria do ministério da marinha e ultramar foi concedida licença para ser erigido no largo do senado um monumento ao benemérito governador João Maria Ferreira do Amaral".

O monumento a Ferreira do Amaral só viria a ver a luz do dia  quase 80 anos depois, em Junho de 1940, e ficaria localizado nos então novos aterros da Praia Grande. Nesse mesmo mês no Largo do Senado seria colocado um monumento a Vicente Nicolau de Mesquita. As duas personalidades estão ligadas à história de Macau na sequência do assassinato do governador Ferreira do Amaral em 1849.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

"No ponto mais remoto da nossa Monarchia"

(...). Finalmente, tendo passado a fortaleza da Barra, pelas onze horas parou a lorcha no porto interior da cidade. Era chegado ao logar do meu destino, tendo percorrido 8872 milhas geographicas, ou perto de 3:000 legoas, em 50 dias e algumas horas, e deduzindo 10, somma do tempo das differentes paradas, vim' a andar as 3:000 legoas em 40 dias: achava-me no ponto mais remoto da nossa Monarchia; nesse paiz tão pouco frequentado modernamente pelos Portuguezes da Europa, e que ainda no sentir commum do nosso povo se reputa extraordinário e maravilhoso, julgando-se uma temerária aventura o tentar visital-o. Apesar da hora avançada, e da escuridão da noite, não me soffreo o animo demorar-me a bordo: desembarquei, e exactamente á meia noite eu abraçava respeitoso o venerando Bispo diocesano, meu parente, beijava-lhe suas sagradas mãos, e agradecia a Deos o feliz acabamento da minha viagem. (...)
Gosando de benigna hospedagem na bella residência e palácio episcopal do Bispo de Macao, os primeiros dias que passei nesta cidade foram occupados em receber e fazer algumas visitas, travar novos conhecimentos, e ver a cidade. Em summa saboreei os encantos da no vidade, que para mim tinha uma mudança tão completa de local e trato de pessoas. Nas primeiras sahidas que fiz a cavallo para o campo fui ao forte chinez do Passaleâo, cousa de uma milha para além da Porta do Cerco, ou do limite do nosso território. (...)
Praia Grande numa pintura do início do sec. 19.

Macáo e as ilhas de Timor e SoIor na Polynesia constituem hoje uma provincia ultramarina, cujo centro é a cidade do Santo No me de Deos de Macáo, que jaz em 22° 12' de latitude norte e 122° 40' de longitude-léste do meridiano de Lisboa. 
O território que nos pertence dentro dos muros da cidade, e fóra delle até á Porta do Cerco ou do Limite, terá 8 milhas em circuito, 3 de comprimento, e menos de 1 na maior largura, formando tudo uma península de forma irregular e montanhosa, tendo aproximadamente a configuração de um X na parte mais oriental. 
A população actual portugueza ou christã regula de 40 a 50.000 almas, sendo dois terços ou mais feminina: os habitantes chinas calculam-se de 20 a 25:000. 
A cidade vista do mar é muito bonita, e dizem semelhar em miniatura a perspectiva de Nápoles: em terra nas differentes alturas ha também magníficos pontos de vista. (...)

Carlos José Caldeira in Apontamentos d'uma viagem de Lisboa à China e da China a Lisboa, Typographia de G.M. Martins, Lisboa, 1852.
Nota: As ilustrações deste post não fazem parte do livro.

domingo, 12 de janeiro de 2025

Uma espera de cinco minutos... ou melhor... 20 dias

Em 1845 foi inaugurado na Washington Street em Boston (EUA) o "Chinese Museum" (Museu Chinês) que tinham no espólio cerca de 800 objectos relacionados com a arte, agricultura, trajes e outros costumes chineses. Na época a China era um motivo de bastante interesse já que apenas um ano antes os EUA tinham assinado o primeiro acordo de comércio e amizade com o Império do Meio, no templo de Kun Iam em Macau - Av. do Coronel Mesquita - a 3 de Julho de 1844. Ficaria para a história como o Tratado de Wanghia, designação de Mong-ha em chinês, zona de Macau onde fica(va) o templo e que na época, era considerada bastante afastada do centro da cidade.
Da comitiva dos EUA fazia parte George R. West (1811-1877), pintor oficial da expedição que registou para a posteridade várias aguarelas de Macau, incluindo esta onde se vê a entrada do Templo de Kun Iam.

Dois dos protagonistas desse acordo foram Caleb Chushing, o emissário do governo dos EUA - presidente John Tyler - e o secretário da missão, Fletcher Webster. Ambos fizeram inúmeras palestras públicas sobre a viagem, eventos amplamente noticiados na imprensa norte-americana.
Aqui fica um pequeno excerto de uma palestra de Webster feita em Nova Iorque e noticiada por jornais como o New York Courier and Enquirer em 1845. O excerto refere-se ao momento em que a delegação norte-americana aguardava pela chegada do representante do imperador da China.
"(...) The American embassy arived at Macao in February and the months of March, April and May, said Mr W., we passed in studying the and waiting as contentedly as we could for intelligence from Keying who was to meet us. At last we received a letter from him, 1,500 miles to West, saying that he was on his way, had been detained by want of water in the canals, and would be there in five minutes. We waited as patiently as possible in a city without society, walks or anything in the slightest degree amusing; and his five minutes proved to be according to our division of time, twenty days. At last he reached Canton, and finally a messenger announced that he was at Macao and had taken up his lodgings at a great temple a mile and a half out of town. He announced his intention of calling upon us the folowing day at 11'o clock precisely. The Chinese are very particular in all matters etiquette. (...)"

"(...) A embaixada americana chegou a Macau em Fevereiro e nos meses de Março, Abril e Maio, disse o Sr. W., passámos o tempo estudando e esperando da melhor forma que podíamos por informações de Keying, com quem nos íamos encontrar. Finalmente recebemos uma carta dele, 1.500 milhas a oeste, dizendo que estava a caminho, que havia sido detido por falta de água nos canais e que chegaria em cinco minutos. Esperamos com a maior paciência possível numa cidade sem sociedade, passeios ou qualquer coisa no mínimo divertida; os cinco minutos dele transformaram-se, de acordo com nossa divisão do tempo, em vinte dias. Por fim chegou a Cantão e finalmente um mensageiro informou que ele estava em Macau onde se alojara num grande templo, a uma milha e meia da cidade. Anunciou ainda que nos iria visitar no dia seguinte, precisamente às 11 horas. Os chineses são muito exigentes em todos os assuntos de etiqueta. (...)"

sábado, 11 de janeiro de 2025

"Noticias Officiaes" de Macau n'O Vimaranense em 1857


"Receberam-se noticias officiaes de Macau até á data de 13 de Janeiro. Naquelle estabelecimento reinava completo sócego não tendo até agora experimentado damno ou compromettimento algum por effeito das hostilidades entre os inglezes e os chins. A exportação e os viveres para Kong Kong havia sido prohibida pelas auctoridades do imperio mas para Macau continuavam a vir como d'antes e não se recciava que acontecesse o contrario. 
Tinha chegado áquella cidade o novo juiz de direito Angusto Henrique Ribeiro de Carvalho, transferido da comarca de Salcete no estado da India e para alli ia partir no immediato paquete o anterior juiz o conselheiro José Maria de Sequeira Pinto, despachado juiz da relação de Goa. No dia 6 de Janeiro teve logar a abertura do Seminario diocesano no collegio de S. José de Macau em observancia e conformidade da carta de lei de 12 de Agosto do anno findo. Ficavam já funccionando as aulas de theologia dogmatica e moral e das linguas latina e chineza devendo as outras de que se compõe aquelle seminario ser providas com os professores que vão ser mandados deste reino."
in O Vimaranense (Guimarães), 16 de Março de 1857

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

"Delightful walks within the limits of Macao"

Quando se reformou da Marinha dos EUA, Daniel Ammen (1820-1898) escreveu um livro "The Old Navy and the New" - publicado em 1891 - onde relata as suas memórias. Numa das viagens pelo Oriente passou por Macau. Aqui fica um excerto relativo à Primavera de 1846 a bordo do USS Vincennes, tendo como companhia o USS Columbus e onde o destaque são as constantes visitas dos membros das tripulações à gruta de Camões onde existia um busto do poeta.

"(...) Entretanto, os oficiais e tripulantes de Vincennes desfrutaram de agradáveis passeios em Macau e alguns de nós nunca se cansaram de visitar o túmulo de Camões (leia-se gruta, já que nunca existiu um túmulo), um português e um dos grandes poetas cujos nomes perdurarão enquanto o homem existir. A localização e vegetação tornam-no num local encantador. Os Lusíadas é um poema de eleição que regista um romance de viagem que dificilmente deixará de ser lido no futuro. (...)"
Aspecto da Gruta de Camões em Macau em 1846
A imagem não faz parte da obra referida

"(...) Early in March we dropped down to the Bogue and a few days later went to the roads off Macao. The water is shoal for miles out and the lower part of the Canton River or rather the archipelago into which it discharges is quite extended, lying between high and picturesque islands, those nearest the sea being more rocky and less green.
The outer islands have few inhabitants while the inner ones are thickly populated. At that time the island of Hong Kong had very few residents and the foreign population was quite small. Macao had been in possession of the Portuguese for more than two and a half centuries and was for many years the summer residence of the larger number of foreign merchants in Canton. Bordered by broad waters and peninsular in form, just on the edge of the tropics, it was an agreeable residence and many years ago, when the Chinese were more exclusive, it had a large trade, but in 1846 its commercial glory departed.
The very extensive ware houses were empty and pleasant residences for Europeans could be had at a nominal rental.
The Columbus left Macao on the 15th of March for Manila. She was ten days in making the voyage and after less than a week her crew began to die of cholera and she left for Macao, where she anchored on the 9th of April having lost twelve men. What is known as Manila cholera, is not the true Asiatic although the treatment is the same it is not at all infectious and on her return we went on board without fear of attack.
The true Asiatic cholera has visited Manila several times since then and between that disease, earthquakes and typhoons, the inhabitants have had within past years what is called a rough time. 
In the mean while the Vincennes officers and crew enjoyed the delightful walks within the limits of Macao and some of us never tired of visiting the grave of Camoëns, a Portuguese and one of the great poets whose names will live as long as man exists. The situation and trees make it a charming spot. The Lusiad is a choice poem recording a romance of travel that can hardly fail to be read in the future. (...)"

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Macao Trading Co.

O anúncio da "Macao Trading Co." é de 1910 e foi publicado no jornal "Vida Nova". A empresa localizada na Rua Sul do Mercado de S. Domingos (junto ao Largo do Senado) intitulava-se como "único agente nesta cidade da poderosa firma de Hong Kong (Queen's Road), Calbeck, Macgregor & Co." vendendo aos mesmos preços da congénere na colónia britânica "todas as melhores cervejas, vinhos, champagnes, vinhos do Porto, licores, aguas mineraes, etc" e ainda "artigos de vestuario" e "creolina desinfectante".
A Calbeck tinha sucursais em várias cidades na Ásia, desde Singapura, Cantão, Xangai, Tientsin, Hankow, etc...
Curiosidade: Existe actualmente em Nova Iorque um estabelecimento na área da restauração denominado Macao Trading Co./Companhia da Mercadoria inspirado "nos antros de ópio da antiga Macau dos anos 30...um lugar exótico fora do tempo...misterioso, aventureiro, decadente."

terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Mudanças no horário do White Cloud em 1868

Este anúncio publicado no jornal The China Mail (Hong Kong) informa sobre a nova hora de partida do vapor a pás White Cloud - que fazia a ligação marítima entre Macau e Hong Kong - a partir de 1 de Junho de 1868.

William Athenry Whyte foi um dos muitos estrangeiros que recorreu a este vapor nesta altura e conta isso mesmo no livro de 1871 "A Land Journey from Asia to Europe - Being an Account of a Camel and Sledge Journey from Canton to St. Petersburg Through the Plains of Mongolia and Siberia". O testemunho vale ainda pelas suas impressões sobre a cidade naquela segunda metade do século 19:

"After a pleasant sojourn of three months I left Canton paying a passing visit to the Portuguese settlement of Macao, the sanatorium of the south of China so called, although for what reason I hardly know as when I was there it was awfully hot.
It is a great place of resort for bridal couples also for the dwellers in Hong Kong who cross over on Saturdays and return on Mondays and indulge in very sumptuous breakfasts on Sundays. There is a great deal in imagination so no doubt many people do fancy Macao very healthy and consequently do not complain so much as they would in Hong Kong which they fancy unhealthy.
I should say Macao was a splendid place for eye diseases for anything like the glare I never experienced anywhere. The principal products of Macao are decidedly very dirty and repulsive beggars. Every other creature seems to be a beggar or a lunatic. The inhabitants are certainly not handsome as may be expected from a mixed breed of Portuguese and Chinese. The population is mainly hybrid, at least seven eighths of the people being of this mixed Chinese type.
On first approach Macao gives one the idea of a strongly fortified place but on inspection one finds it to be all a grand sham. The walls on which antiquated popguns are placed are painted outside being only made of plaster & c something like Vauxhall Gardens used in old times to exhibit.
From one of the batteries a salute on one occasion was fired and the walls crumbled away instantaneously. It looks very picturesque but is very useless. I wonder the Chinese have never taken Macao back. I should not think it would be an enterprise of much difficulty. The scenery about Macao is beautiful. The situation of the town and the bay reminds one very much of Naples. Of course being Portuguese or rather Macanese it is Roman Catholic and from outward appearance most devout. Bells ringing at all hours and half caste looking shovel hatted priests wandering about. All the rites of the Church are adhered to in most exaggerated form which really reminds one very much of the sort of worship one sees in the neighbouring Chinese temple and seems quite as incomprehensible.
The trade of Macao since the cession of Hong Kong to England has nearly died away and at present is most insignificant.
A day or two at Macao as far as sight seeing is concerned is quite enough so I bid adieu to the beautiful spot with its dummy forts, antiquated looking soldiers, gambling shops, pretty boat women, beggars, church bells and half caste population with their monkey faces reminding one a great deal of the monkey house of the Zoological Gardens and embarked on the steamer White Cloud, commanded by the well known and deservedly liked Captain Carroll and soon found myself again in Hong Kong.

Notas: 
O White Cloud - veio de Nova Iorque na década de 1850 - ficaria destruído no tufão de Setembro de 1874. A 5 de Julho de 1875 seria lançado à água um novo White Cloud.
White Cloud é também a tradução literal de uma montanha perto de Cantão.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Afonso Carrão Pereira: 1946 - 2025

Afonso Carrão Pereira, empresário da área da restauração, morreu na sexta-feira com 79 anos. Mais de quarenta anos de Macau, tornaram Afonso Pereira num homem da terra, a que chegou em 1984, e uma figura incontornável da restauração portuguesa no território. Natural de Paialvo, Tomar, Afonso Pereira chegou a Macau para abrir o “Afonso’s” no Hotel Hyatt, na Taipa, cabendo-lhe igualmente tomar as rédeas do restaurante “1999” em Coloane. No Verão de 1990 abriu o “Afonso III”, que foi um dos pontos nevrálgicos da Rua Central durante mais de duas décadas, e ponto de encontro da comunidade portuguesa e de quem não dispensava uma faustosa e bem regada refeição, sem aditivos supérfluos. Após, a mudança para a Rua de Tomás Vieira, o restaurante de Afonso Pereira passou a chamar-se Café Xina, nas traseiras do Hospital Kiang Wu. Aberto em Julho de 2014, trinta anos depois de Afonso Pereira ter chegado a Macau, o Café Xina formou uma dupla de peso nas noitadas de Macau com o bar Che Che, hoje em dia Mico. Após fechar o Café Xina, Afonso Pereira ainda arranjou forças para ter um balcão de comida para fora na Avenida Sidónio Pais, negócio que abriu em colaboração com o filho.
A imagem do chef que transforma a cozinha num local de batalha, com berros e gestos de irascibilidade, tornou-se num cliché propagado pela televisão. Afonso Pereira tornou-se uma figura que gerou alguma controvérsia, especialmente em críticas em sites como o Tripadvisor para clientes habituados a “paninhos quentes”. Na versão em inglês, as críticas dividem entre o fantástico e as estórias de terror, incluindo uma crítica em que o internauta se queixava de ter sido ameaçado com uma barra de ferro pelo dono do restaurante. Quem privou com Afonso Pereira conheceu-lhe o temperamento especial, como um teste de carácter de primeiros encontros. Passado pouco tempo e atingido um conhecimento mútuo, vinha ao de cima a enorme ternura que dava tanto prazer conquistar. A partir daí, já não se estava num restaurante, estava-se em casa de um amigo. Afonso Carrão Pereira foi, durante cerca de quatro décadas, um embaixador da boa gastronomia portuguesa, das porções generosas e da comida feita sem efeitos especiais para publicar nas redes sociais. Homem de um coração imenso, irá deixar muitas saudades. Paz à sua alma. Até sempre, Afonso.
Notícia assinada por João Luz publicada no jornal Hoje Macau 6.1.2025

domingo, 5 de janeiro de 2025

"Cascata do jardim público, em S. Francisco"

"A cascata do jardim publico, em S Francisco, acha-se já concluida. Ficou graciosa. Hontem - domingo - á hora da musica ja funccionou experimentando-se differentes jogos d'agoa de bonito effeito. Parece porem que não seria mau que os tubos conductores fossem de mais largo diametro para que os jorros da cascata se tornassem mais abundantes. Ouvimos dizer que se farão essas pequenas alterações."
in Boletim da Província de Macau e Timor, 23.3.1868

O jardim foi o primeiro de carácter público da cidade. Remonta a 1860, tinha dois pisos, murete e vários portões de acesso. No postal acima pode ver-se do lado esquerdo o murete do lado da Praia  Grande e um dos portões.
Na edição de 1 de Abril de 1882 do jornal O Macaense menciona-se a cascata do "Jardim Publico".
Os aterros da Praia Grande nas décadas 1920/30 fizeram com que o jardim de S. Francisco deixasse de ser murado junto à linha de costa. 
O chamado pavilhão octogonal ali construído por volta de 1928 para café/salão de bilhar seria comprado na década de 1940 por Ho Yin que transformou o espaço em biblioteca (a estrutura do edifício foi aumentada) e doou ao território. No lado junto à Rua do Campo foi feita uma nova rua, a de Sta. Clara (referência ao convento com esse nome que ali existiu), que vai do Clube Militar até ao Cineteatro e passou a dividir em duas partes o jardim. Ao mesmo tempo a Rua da Praia Grande (só passou a ser avenida na década de 1980) passou a ter um cruzamento com a rua do Campo e passou a ligar, entre outras, com a Estrada de S. Francisco e outros arruamentos novos criados nos aterros.

 

sábado, 4 de janeiro de 2025

A gruta de Camões em "My Last Cruise"

Publicado nos EUA em 1857 o livro "My Last Cruise: Or, where We Went and what We Saw" é o relato das viagens do tenente da marinha norte-americana, Alexander Wylly Herbersham (1826-1883), no âmbito de uma expedição científica dos EUA entre 1853 e 1856.
Excerto:
"Hong Kong is more of a European settlement than anything else and the same is pretty much the case with Macao. The former of these is remarkable as the residence of money makers of all nations and a few ramrod like English soldiers who, to use the words of an old messmate, walk up and down the Queen's Road encased dingy boy like in dangerously tight trousers and amuse themselves by switching the dust from them with very delicate canes. Macao is remarkable for its pure air cool temperature fine summer retreats and as the residence of Portugal's great epic poet, the second Milton, Camoens the beautiful. We visited his cave, the birthplace of his most glorious lines and went away with sad thoughts of his brief though brilliant advent."

As ilustrações são de Edward Kern. 
A gruta de Camões surge na capa e no interior

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Restaurante Long Kei - 龍記酒家

Fundado cerca de 1945 o "Long Kei" - no Largo do Senado - foi um dos mais afamados restaurantes chineses de Macau tendo encerrado em 2011. Da garoupa frita ao porco agridoce passando pelas variedades do dim sum e pelo chau min era vasta a oferta gastronómica. 
Referindo-se à década 1950, Álvaro de Moraes refere no livro "Macau Memórias - década de 50" que "No meu tempo havia alguns bons restaurantes chineses, o melhor dos quais era o Long Kei, no Largo do Senado."
No Travel Guide to the Orient and the Pacific (1965) pode ler-se: "If you feel like having Chinese food, the best is probably Long Kei, conveniently located near the Post Office."
Caixa de fósforos
No guia turístico Lonely Planet: "In the heart of Largo do Senado, this unpretentious restaurant has an assortment of Cantonese dishes (300-plus items on the menu!). It’s a handy choice for a delectable seafood experience."

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Le magnifique quai planté d'arbres de la Praya Grande

"La ville de Macao est bàtie sur les terrasses qui bordent la presqu'ile en forme demi-circulaire. Au sommet des collines, des forts qui ajoutent au pittoresque, mais qui seraient inutiles à la défense; sur les pentes de somptueux édifices, des églises, des couvents transformés la plupart en casernes, des maisons peintes de toutes les couleurs, çà et là encadrées de jardins et de verdure en bas le magnifique quai planté d'arbres de la Praya Grande, qui forme la promenade la plus fréquentée de la ville; tout cet ensemble harmonieux et élégant vu sous un beau ciel, charme l'œil du voyageur qui débarque dans la rade de Macao."
Excerto de "L'Asie: Choix de lectures de géographie", de Lucien Lanier, Paris, 1892.
Pintura da baía da Praia Grande ca. 1860
autor Guan Lianchang (Tingqua)
(imagem não incluída na obra referida)
Tradução/adaptação
"A cidade de Macau está construída nas encostas das colinas que ladeiam a península semicircular. No topo das colinas existem fortes que embelezam a paisagem, mas inúteis em termos defensivos; nas encostas sumptuosos edifícios, igrejas, conventos transformados na sua maioria em quartéis, casas pintadas de todas as cores, aqui e ali com jardins, nomeadamente junto ao magnífico cais arborizado da Praia Grande, que forma o passeio mais movimentado da cidade; todo este conjunto harmonioso e elegante visto sob um belo céu, encanta o olhar do viajante que chega ao porto de Macau".

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Caracteres chineses na fachada das Ruínas de S. Paulo

Fachada da Igreja de São Paulo de Macau (Ruínas de São Paulo)
澳門聖保祿教堂 (大三巴) 正立面
A fachada está repleta de figuras simbólicas e também alguns caracteres chineses.




No painel simétrico ao da nau, a Virgem sobre a hidra de sete cabeças, onde aparece a inscrição em caracteres chineses que significa: "Nossa Senhora esmaga a cabeça do dragão.
Uma inscrição vertical em caracteres chineses: "O demónio tenta o homem para praticar o mal"
O esqueleto a simbolizar a morte (3ª fileira) tem ao lado a inscrição em caracteres chineses 念死者為無罪 - "Lembra-te da morte e não pecarás".

Excertos do artigo "A Igreja do Colégio da Madre de Deus (ou de S. Paulo) em Macau, 1601-1640", da autoria de Gonçalo Couceiro, publicado na Revista de Cultura, Jan./Mar., 1997, Macau.

"(...) Dedicada à Mãe de Deus (Mater Dei), Nossa Senhora da Assunção, o novo templo foi inaugurado em 1603 na manhã da véspera de Natal. Depois de celebrada a última missa na capela que servira provisoriamente, transportou-se para o novo templo o Santíssimo Sacramento em solene procissão, onde foram todos os padres e irmãos, seguindo atrás muita da população de Macau.
A primeira missa foi aí celebrada pelo P.e Alessandre Valignano, havendo na noite de Natal "várias invenções de fogo", Matinas e Missa Cantada. Todos festejaram a conclusão do novo templo erigido devido ao patronato dos comerciantes e população deste porto, tendo-se gasto, até essa data, cerca de sete mil taéis.
A nova igreja tinha três naves, correspondendo às três portas da frontaria, três capelas: a Capela Mor, a Capela de Jesus, do lado do Evangelho, e a Capela das Onze Mil Virgens, no lado oposto. No cruzeiro ficavam os dois altares, o Altar do Espírito Santo, do lado do Evangelho, e o Altar de S. Miguel Arcanjo, do lado da Epístola.
Os arcos da Capela Mor e das duas capelas colaterais foram os primeiros arcos de volta perfeita que se fizeram em Macau, todos feitos de pedra branca gravada.
A igreja tinha uma cobertura de madeira e telha, que era apoiada em oito grossas colunas de madeira, e todo o tecto em trabalho de talha executada pelos chineses, trabalho que impressionou o viajante inglês Peter Mundy, que considerou o tecto desta igreja como o mais bonito arco que se lembra de ter visto, relatando-o como "excellent workmanship, done by the Chinese, carved in wood, curiously built and painted with exquisite colours, as vermilion, azure, etc." O tecto era forrado com caixões quadrados e tinha grandes rosas de muitas pétalas sobrepostas, em talha de madeira, com cerca de 90 centímetros de diâmetro e pendentes em relevo com a mesma dimensão.
A igreja da Madre de Deus, ou de S. Paulo, acabada de construir em 1603, era um templo amplo, com uma torre sineira lateral, encimada por um terraço, donde se avistava toda a cidade e a barra do porto de Macau. (...)"

terça-feira, 31 de dezembro de 2024

"Macao, in Chinese, Aou mun"

Macao, in Chinese Aou mun, the entrance to the bay, is a small granitic peninsula attached to the island of Heang shan by a very narrow isthmus across which the Chinese have built a wall with a guard house and barrier.To the south and east of the peninsula is highland behind which is a stripe of alluvial soil employed in the cultivation of rice.
It is situated in 22 11 N lat and 118 32 lon E of Greenwich. The climate is healthy being freely exposed to the sea air and the place has good water, bread and a well stocked bazaar. On landing you have before you a spacious semicircular bay encompassed with rising hills crowned with forts convents churches and private buildings.
The circuit of the peninsula is said to be about eight English miles its greatest extent three and its greatest breadth nearly a mile. The good harbour which Macao possesses for vessels of small burthen attracted the attention of Europeans at a very early period of their intercourse with China and after having had temporary abodes on it for twenty years the Portuguese in the year 1558 after their expulsion from Ningpo and Chingchew obtained liberty from the local officers to take up their fixed residence at the place and to build more substantial houses.
This liberty was obtained by the seasonable use of bribery with local authorities and not by any Imperial grant in reward for service done by the Portuguese in driving away pirates Macao therefore still belongs in fact to the Chinese Government and in this light it is always regarded by them.
The Portuguese also virtually acknowledge the fact by the annual payment of a ground rent which has varied at different times but is now limited to five hundred taels. This sum is paid at the beginning of every year to the magistrate of Heang shang on the delivery by him of a discharge signed by the Poo ching sze or Treasurer of Canton. The Portuguese are however under the government of their own officers and subject to their own laws though several Chinese authorities have at various times been placed among them.
The Portuguese officers are a Governor and Captain General, an Ouvidor or Chief Justice called also the Minister and the Dezembargador and a Senate which comprises among its members three Vereadores or Inspectors of various branches of the Government, two Judges and a Procurador, who has the general charge of the town and the revenue and is also the organ of communication with the Chinese authorities.
Macao was likewise early erected into a Bishoprick but the see is at present vacant. The Chinese officers are a Keun min foo who is an assistant to the Chief Magistrate of Canton department a Tsoo tang or assistant to the Heang shan district Magistrate two Wei yuens or Custom house officers deputed by the Canton Hoppo and a military officer with a small force under his command residing at Tsee shan or Casa Branca, a military station and village at a short distance beyond the barrier erected by the Chinese in 1597 to prevent the further ingress of foreigners.
The Portuguese and Chinese are both governed by their respective laws and officers while foreigners are subject in some degree to the government of both parties. In civil cases between Chinese and Portuguese the officers of the two nations correspond with each other through the medium of the Procurador, but in several instances of importance the former have shewn a determination to dictate to the latter in what way they are to act.
Before Canton was opened to European commerce generally the Portuguese were for nearly a century almost the only carriers between China and Europe and possessed an exclusive market at Canton for fifty or sixty years as they at that time also enjoyed the carrying trade to Japan.
Baía da Praia Grande na primeira metade do século 19
Guache sobre papel de arroz
Não incluído na obra referida


Macao was then a rich and flourishing settlement the best and most important pillar the Portuguese had in all the east. Hence when other European nations began to compete with them it became the constant object of mutual contention and strife. Had the offers then made by the Chinese in the years 1717 and 1732 that Macao should be made the emporium for all foreign trade and should receive the duties on all imports been accepted its former affluence and splendour might not only have been still retained but might even have been increased. In both cases however, this splendid offer was declined by the Senate acting under the directions of the Viceroy of Goa.
The gradual decline of Macao dates from this period when other European nations began to compete with the Portuguese in China and in the general Asiatic market. The illiberal principle on which the merchants frequently acted accelerated its ruin which was almost completed in the reign of Kanghe by a prohibition to all China subjects among whom the inhabitants of Macao were included to navigate the southern seas.
At this period (1686) the shipping consisted of but ten vessels which were reduced in 1704 to only two ships that could neither be manned nor fitted out. The number of vessels now belonging to the port is fifteen being ten less than the number to which they are limited by the Chinese.
When Portugal became united in 1581 to the crown of Spain Macao was also induced to submit to the government of Philip I and on the separation of the two kingdoms about sixty years afterwards it was still of so much importance as to be considered a desirable possession. Endeavours were therefore made to retain it for Spain but a large majority of the citizens declared their adherence to the new Portuguese dynasty.
In 1622 the Dutch being anxious to obtain a footing and possession in China endeavoured an invasion of Macao. Thirteen sail of ships were sent against it and eight hundred men effected a landing at Casilha's bay and began marching towards the town but on coming between the two forts of the Monte and the Guia they were routed and driven back by the Portuguese.
To make amends in some measure for their defeat they then took possession of the Piscadore islands in the Formoso Channel belonging to China, on the pretence that the Chinese had assisted the Portuguese against them.
Five years after this, the Dutch made a second attempt on Macao by blockading the Port and making seizure of all vessels that arrived there. But the Portuguese contrived to take and burn the chief ship and the others hearing that a Spanish squadron was advancing from Manila to succour Macao speedily took their departure. 
In 1808 an English expedition under the command of Admiral Drury was sent from Bengal to occupy Macao and defend it for the Portuguese against the French. But the Chinese Government immediately stopped the British trade and refused to receive any communication from the Admiral so long as the troops remained in the place. After about three months stay they were therefore quietly withdrawn.
Though the story of Macao being granted to the Portuguese for their services against the pirates be a fabrication yet it is not without the appearance of foundation for since they have occupied the place they have more than once been called upon to assist the Chinese in driving away and subduing the numerous pirates who have at all times infested the coast of Canton.
In 1809 these pirates had become so powerful and daring that they set the Imperial squadron at défiance and frequently plundered European as well as Chinese boats. On this occasion Macao furnished at the desire of the Chinese six vessels manned and furnished for six months and with this assistance accompanied by promises of rewards and honours the chief pirates were brought to surrender to the Government while their immediate assistants were severely punished, some by execution, others by transportation.
Macao is the place set apart by the Chinese for the residence of  foreigners when not engaged in business at Canton. The Portuguese Government denies this as a matter of right and has at various times shewn a disposition to refuse individual foreigners permission to reside but the Viceroy of Goa has recently issued an order directing its being granted in all cases so long as the Court of Lisbon shall issue no orders to the contrary.
For a foreign lady landing at Macao the Chinese custom house officers used to exact about one hundred dollars. This in consequence of an old Imperial prohibition against any new females coming to the place issued at the same time with a prohibition against building houses in any new situations or rebuilding old ones without permission. The former prohibition and consequent connivance have now been got over but the latter prohibition still continues in force. New houses are however built but not without much expense on the score of bribery of the local officers. The custom house men used also to levy a charge on every box or package brought on shore from a ship on the Praya Grande and will still do so when they can. But such charges are in opposition to the orders of the Governor of Canton issued two or three years back. The Portuguese Government population is about four thousand five hundred and the Chinese population fifty thousand 
in History of the British Colonies: Possessions In Asia, Robert Montgomery Martin, 1834.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Desenho e pintura da Praia Grande ca. 1840

"The panorama taken from the Bay of Typa, exhibits the city, on what may he termed the British side, consequently in its most interesting aspect. Immediate!/ in front of the spectator, facing the east, is the fine crescent curve of the Praya grande, a broad and spacious quay, unbroken (with the exception of a small fort defending a landing place) by any wharf or jetty. The houses which present their fronts to the water, and occupy the whole of the vast extent of the semi-circle, are large, substantial buildings, in the European style; of simple architecture, with large gables, and little or no ornament; yet being painted of many colours, have a varied and pleasing ap¬ pearance. At the back of the line, rising like an amphitheatre on the sloping ground, numerous other houses are seen, intermixed with churches, and sacred edifices—always conspicuous objects in a catholic town—large gardens, and light and airy summer-houses; the highest portion being broken into several hills, crowned by forts or monasteries, has a fine effect; and, far above all, rising from a neighbouring island, towers a mountain of considerable elevation, and picturesque shape, forming a noble back ground."
Excerto de Description of a view of Macao in China, de Robert Burford, publicado em 1840 que inclui também o desenho que na montagem abaixo anexei a uma pintura da época
clicar na imagem para ver em tamanho maior

"The only English hotel in the place is large and kept by a man of the name of Marquick who has another still larger in Canton" (25 e 26 na imagem acima), excerto de The Fan-Qui in China 1836-37, de Charles Toogood Downing.

domingo, 29 de dezembro de 2024

As "portas" da antiga muralha

Em "As Alfândegas Chinesas de Macau" - publicado em 1879 - António Marques Pereira explica que "A construcção das principaes fortificações effectuou-se no decurso dos annos de 1612 a 1638. Por occasião do ataque e derrota dos hollandeses em 1622 já existia a fortalesa de S. Paulo do Monte, uma das antigas baterias da de S. Francisco, o forte de Nossa Senhora de Bom Porto (leia-se Bom Parto) e uma bateria no lugar onde depois em 1629 se ultimou a edificação da fortalesa de S. Thiago da Barra. Os fortins de S. João e S. Jeronimo e a larga extensa e solida muralha que liga com elles ainda hoje as fortalesas de S. Francisco e do Monte começaram logo a construir-se depois do mencionado ataque e estavam acabados em 1626.  A fortalesa de Nossa Senhora da Guia teve principio em setembro de 1637 e terminou em março de 1638." 
Esta muralhas que faziam a ligação com os vários tipos de fortificações circundavam pois a denominada cidade cristã. Necessariamente tinham alguns pontos de acesso, as chamadas portas.
Detalhe de um mapa da primeira metade do século 18
onde se pode ver a muralha e uma das portas:
a que no texto abaixo se refere dar acesso ao campo de Mong Ha

"(...) E pegado a ella (Fortaleza do Monte) está hua porta que vai para o Campo de Moha, (Mong Ha) e desta porta vai correndo o muro das casas dos moradores athe S. António, aonde está outra porta para o ditto Campo, e na mesma forma vay correndo o muro para o Campo da Patane, aonde está hu postigo, e vindo de volta para a praya pequena, fica outro postigo que se fechou por não ser necessário, e do terceiro baluarte desta Fortaleza corre outro pano de muro para a parte de leste pegado ao Baluarte, aonde está o sino, aonde tem hum postigo para o Campo, e andando para o pano do muro a tiro de mosquete* está a porta que vai para o Campo de S. Lázaro, e desta porta andando pelo muro a tiro de mosquete está um Baluarte (S. João) cô duas peças de ferro de 10 libras e na mesma conformidade a tiro de mosquete no mais alto d´esta muralha, e defronte da fortaleza da Guia está outro Baluarte (S. Jerónimo) cô huma pessa de ferro assistida para a porta da Fortaleza da Guia e dahi volta o muro para o sul em direitura ao convento de S. Francisco, e antes de chegar a elle tem hua porta que cahe para o mar, a qual se fecha todas noites.
Está a Fortaleza de S. Francisco pegada ao convento, que te hu postigo na cerca dos Frades, e da parte de dentro a porta da Fortaleza tem hua peça de 40 libras de bronze invocada N. Snra. De Loreto, outra peça de 20 libras de bronze invocada N. Snra. do Rozario, segue-se outra peça de 18 libras de bronze, e vindo correndo o pano de muro para a p.te da Cidade, e praya grande que acaba no princípio da Povoação da Cid.e, aonde tem hua porta que sahe para o rocio (campo/largo) de S. Francisco”

Esta descrição refere-se ao século 18 e é um excerto de "Apparatos para a Historia Eccleziastica do Bispado de Macao 1749-1753", manuscrito da autoria do Padre José Montanha.

No livro An Historical Sketch of the Portuguese Settlements in China (1836) Anders Ljungstedt refere: "In this wall are the Gates of St Anthony, porta de St Antonio, and between the Monte and St Francis, are the Gates of St Lazar, porta de St Lazaro, both leading to the fields. Each has a guard of a few town's men who shut the gates at night and open them in the morning." 

* referência à distância aproximada do alcance de um tiro de mosquete (arma), cerca de 100 metros.

sábado, 28 de dezembro de 2024

Muralha da Estrada do Chunambeiro

"Annuncio" sobre o aterro feito entre a Praia Grande e o Chunambeiro em 1868
"Aviso" sobre "construção da muralha que deve sustentar o aterro do Chunambeiro, próximo à fortaleza do Bom Parto, até à altura da chacra de Maximiano António dos Remédios" em Janeiro de 1873

Boletim da Província de Macau e Timor, 1873

sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Chinese Godowns

Para além da baía da Praia Grande, o pintor inglês George Chinnery também fez muitos desenhos, aguarelas e pinturas a óleo retratando o Porto Interior.
No topo da colina o convento e ermida da Penha
Aguarela

Pintura a óleo

Aguarela
Note-se as semelhanças deste desenho - imagem acima - da autoria de Thomas Boswall Watson (1815-1860), feito sensivelmente no mesmo local. Tem como legenda "José Maria's godowns, Inner Harbor, Macao", ou seja, "Armazéns de José Maria, Porto Interior, Macau".
Thomas Watson era médico cirurgião e dedicava-se ao desenho nos tempos livres. Viveu em Macau ao mesmo tempo que George Chinnery (1774-1852) e aprendeu com o mestre.
Em 1846 Chinnery surge na lista de residentes em Macau como "miniature and landscape painter" e Watson como "M.D./surgeon".
Boletim do Governo 1872

Nota: Godowns significa armazéns. No português mais antigo existia a palavra "godões".