Tripulado pelos oficiais da Aeronáutica Militar, Sarmento de Beires e Brito Pais, grandes impulsionadores dos “raids” aéreos portugueses nos anos 20 do século passado, o “Pátria”, um avião Breguet XVI com motor de 300cv, descolou de Vila Nova de Milfontes a 7 de Abril de 1924, rumo a Macau, que apenas acabou por sobrevoar devido a um tufão que obrigou a uma aterragem forçada na vizinha Hong Kong.
Na viagem, os dois pilotos estiveram acompanhados pelo mecânico Manuel Gouveia que, no entanto, só se juntou à tripulação em Tunes, para onde viajara de barco. O início da viagem ficou marcado por um forte temporal que obrigou os aviadores a efectuarem escalas em Málaga e Oran, antes da chegada a Tunes. Já com Manuel Gouveia a bordo, a ligação prosseguiu sem contratempos de maior, passando por Tripoli, Homs, Benghazi, Cairo, Rayak, Bagdad, Bushire, Bender Abbas e Dsjask. Em contrapartida, na etapa até Karachi, uma montanha não registada nas cartas de navegação causou alguns calafrios aos tripulantes. A etapa seguinte, com destino a Agria, não foi mais tranquila devido a um problema grave que levaria à substituição do aparelho, depois do voo ter sido interrompido na aldeia de Budana, no percurso para Jodhpur, a 7 de Maio de 1924.
Após 22 dias em terra, a ligação foi retomada graças à aquisição de um aparelho, o De Haviland Liberty 9A, de 450 cv, baptizado de “Pátria II”. Na passagem por Ambala, Boumari, Calcutá, Akiab, Rangum, Banguecoque, Oubon e Hanói, a tripulação não encontrou quaisquer problemas que, ironicamente, só voltaram a aparecer na derradeira parte da viagem, rumo a Macau.
Afectado por um violento tufão, o “Pátria II” acabou por aterrar de emergência num cemitério perto de Shum-Chum, nos arredores de Hong Kong, sem que tal tenha inviabilizado o objectivo de sobrevoar efectivamente Macau, facto que aconteceu no mesmo dia - 20 de Junho. Quatro dias depois - dia de Macau, Sarmento de Beires e Brito Pais embarcaram num navio de guerra português e pisaram Macau onde tiveram uma recepção apoteótica.
José Manuel Sarmento de Beires nasceu em Lisboa a 4 de Setembro de 1892. Frequentou o Colégio Militar e em 1916, concluiu o curso de engenheiro militar na Escola de Guerra. No ano seguinte, com a patente de alferes, terminou o primeiro curso de pilotagem militar efectuado em Portugal, e recebeu o diploma da Sociedade de Geografia de Lisboa. Após a promoção a tenente, partiu para França, integrando os Serviços de Aviação do Corpo Expedicionário Português. Em terras gaulesas, frequenta cursos de aperfeiçoamento e especializou-se em aviação de caça para regressar a Portugal em 1919, vindo a integrar o Grupo de Esquadrilhas de Aviação da República. Foi o primeiro piloto a efectuar uma missão de voo nocturno em Portugal (1920). O aviador esteve também ligado ao grupo da “Seara Nova”, sendo afastado por motivos políticos, devido à oposição a Salazar, mas seria reintegrado com a patente de coronel em 1972. Foi também escritor e jornalista. O homem que um dia escreveu “a aeronáutica militar tem uma missão histórica a cumprir”, morreu em Vila Nova de Gaia a 8 de Junho de 1974.
Em cima: aterragem na Índia e vista da Praia Grande (Macau)
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