domingo, 22 de setembro de 2019

Henry Kissinger e a questão de Macau discutida em Pequim

Henry Kissinger receive his honorable degree at University of East Asia 1987
澳門東亞大學 頒受榮譽學位比 基辛格
Kissinger doutor honoris causa pela Univ. Ásia Oriental (Macau) 1987



Henry Alfred Kissinger foi o 56º Secretário de Estado dos Estados Unidos, cargo que ocupou de 1973 a 1977. Foi, também, Assistente do Presidente para os Assuntos de Segurança Nacional de 1969 a 1975. Durante este período foi responsável pela normalização das relações entre Pequim e Washington.
A primeira viagem a Pequim ocorreu em Julho de 1971. Uma célebre visita - secreta à época - que abriria caminho à histórica viagem do Presidente Nixon à China, meses depois.

Já nos EUA e no cargo de secretário de Estado, depois de ter sido antes conselheiro de segurança nacional, Kissinger escreveu um memorando ao Presidente Nixon onde explica o teor das conversas tidas em Pequim. “Mao sugeriu energicamente que não usará a força contra Taiwan, lembrando a serenidade com que trata as questões de Macau e Hong Kong”, escreveu Kissinger no documento actualmente desclassificado e aberto a consulta pública.
Excerto da acta da conversa que Kissinger manteve em Pequim com Mao Zedong e Zhou Enlai, sobre as questões relativas a Taiwan, Hong Kong e Macau:
Kissinger e Zhou Enlai em Julho de 1971
Secretário Kissinger: Do nosso ponto de vista, queremos relações diplomáticas com a República Popular da China. A única dificuldade é que não podemos esfriar as relações com Taiwan imediatamente, por várias razões, todas elas relacionadas com a nossa situação interna. Disse ao Primeiro Ministro (Chou En Lai) que esperamos completar o processo durante 1976. Portanto, a questão é saber se conseguimos encontrar uma fórmula que nos permita ter relações diplomáticas, cuja utilidade seria um reforço simbólico dos nossos laços, porque, de um ponto de vista técnico, o Gabinete de Ligação já funciona de uma forma muito útil.
Presidente Mao: Pode ser.
Secretário Kissinger: O que é que pode ser?
Presidente Mao: Podemos continuar como estamos, porque vocês ainda precisam de Taiwan.
Secretário Kissinger: Não é uma questão de precisarmos; é uma questão de possibilidades práticas.
Presidente Mao: O que é a mesma coisa (risos). Também não temos pressa em relação a Hong Kong (risos). E nem sequer tocamos em Macau. Se quiséssemos tocar em Macau, bastar-nos-ia um toque muito ligeiro. Porque esse é um entreposto estabelecido por Portugal no tempo da Dinastia Ming (risos). O Khrushchev procurou embaraçar-nos, perguntando-nos por que não queríamos Hong Kong e Macau de volta. E eu não apenas disse ao Japão que concordamos com as suas reivindicações sobre as quatro ilhas do norte, como a União Soviética ao longo da história se apropriou de um milhão e meio de quilómetros quadrados da China.
Secretário Kissinger: Tal como vejo o problema das relações diplomáticas, Sr. Presidente, é assim. Na questão de Taiwan, julgo que temos um bom entendimento, que devíamos procurar manter. E o Gabinete de Ligação está a fazer um bom trabalho. Portanto, a única questão está em saber se a uma determinada altura, um de nós, ou ambos, sentirá a necessidade de demonstrar que a nossa relação é normal em todos os aspectos. Nesse caso, devíamos encontrar uma fórmula para o tornar possível, mas não é uma necessidade.
Presidente Mao: Estabelecemos relações diplomáticas com a Índia e com a União Soviética, mas não são muito boas. Não são sequer tão boas como as nossas relações convosco. Por isso, este não é um problema importante. Problema importante é a situação internacional.
Secretário Kissinger: Concordo completamente com o Presidente e acho que esta é uma questão em que devemos estar de acordo, e estamos de facto de acordo (…)”
Entre os inúmeros prémios que Kissinger recebeu contam-se o Prémio Nobel da Paz, em 1973; a Medalha Presidencial da Liberdade (maior condecoração civil dos Estados Unidos), em 1977; e a Medalha da Liberdade (atribuída apenas a 10 líderes norte-americanos nascidos no estrangeiro), em 1986.

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