quarta-feira, 29 de junho de 2016
terça-feira, 28 de junho de 2016
Restaurante Beira Mar
O "Beira Mar" ficava Rua da Praia Grande n.º 63-63A e tinha dois pisos (rés do chão e 1.º andar). Abriu na década de 1980 e a carteira de fósforos tem o símbolo YF, sigla da Year Full Enterprises Co. Ltd, empresa que geria este e outros espaços de restauração no território como o Café Safari, Café Shangri-La, Restaurante Paraíso e St. Honoré Cake shop.
Carteira de fósforos com uma vista nocturna do restaurante
segunda-feira, 27 de junho de 2016
domingo, 26 de junho de 2016
Os canhões da Torre de Londres
Na Torre de Londres (Inglaterra) existem dois canhões cuja origem está em Macau: Canhão de S. Lourenço, fundido por Manuel Tavares Bocarro em Macau. em 1627, e ainda o Canhão S. Ildefonso.
Segundo Monsenhor Manuel Teixeira " no canhão de S. Lourenço estão gravadas as armas de Portugal, ladeadas de dois anjos, segurando um escudo; o anjo da direita leva na cabeça uma cruz, o da esquerda um astrolábio;
logo abaixo está o brazão de armas de Macau (a Cruz de Santiago), rodeada dum círculo que tem a inscrição: "da Cidade de Nome de Deuz da China";
mais abaixo num cartucho: Manuel Bocarro a fez a 1627"
(imagem à esquerda)
(imagem à esquerda)
sábado, 25 de junho de 2016
Vasco Callixto recorda viagem a Macau
Edição de 1978 |
Vasco Callixto assinalou em 2011 - tinha 85 anos - meio século de viagens com o lançamento do livro "50 Anos de Viagens" que complementa as três dezenas de livros de viagens pelos cinco continentes, que escreveu ao longo da vida.
Callixto foi o primeiro português a alcançar o Cabo Norte de automóvel e deu a volta ao mundo também ao volante. Neste livro, transformou 50 itinerários em artigos e juntou-lhe outros 3.500 artigos publicados na imprensa ao longo de meio século.
Nascido na Amadora a 12 de Janeiro de 1925 é neto do jornalista e político Carlos Callixto, senador da República e primeiro chefe de redacção do jornal «A Luta».
Estreou-se como jornalista na revista «Turismo» em 1944 e desde então viajou por todo o mundo, tendo colaborado com jornais como o «Diário de Notícias», «Século» ou «Correio da Manhã» e com várias revistas especializadas de turismo, automobilismo e aviação.
Sobre Macau editou em 1978 "Viagem a Macau uma relíquia de Portugal no Oriente" e em 1999 "Os Primeiros Aviadores Portugueses em Macau, um opúsculo baseado numa palestra de sua autoria proferida na Casa de Macau em Portugal em 1998.
Callixto foi o primeiro português a alcançar o Cabo Norte de automóvel e deu a volta ao mundo também ao volante. Neste livro, transformou 50 itinerários em artigos e juntou-lhe outros 3.500 artigos publicados na imprensa ao longo de meio século.
Nascido na Amadora a 12 de Janeiro de 1925 é neto do jornalista e político Carlos Callixto, senador da República e primeiro chefe de redacção do jornal «A Luta».
Estreou-se como jornalista na revista «Turismo» em 1944 e desde então viajou por todo o mundo, tendo colaborado com jornais como o «Diário de Notícias», «Século» ou «Correio da Manhã» e com várias revistas especializadas de turismo, automobilismo e aviação.
Sobre Macau editou em 1978 "Viagem a Macau uma relíquia de Portugal no Oriente" e em 1999 "Os Primeiros Aviadores Portugueses em Macau, um opúsculo baseado numa palestra de sua autoria proferida na Casa de Macau em Portugal em 1998.
Na obra "Viagem a Macau" relata-se a viagem de Vasco Callixto que teve 26751 km de avião, 140 km de barco, 285 km de automóvel, no percurso entre Lisboa-Paris-Bangkok-Hong Kong- Macau- Paris- Genebra-Lisboa.
Esta semana Vasco Callixto recordou esses tempos numa pequena conversa que tivemos via e-mail e da qual aqui dou conta num pequeno excerto:
Esta semana Vasco Callixto recordou esses tempos numa pequena conversa que tivemos via e-mail e da qual aqui dou conta num pequeno excerto:
"Fui a primeira vez a Macau em 1977, pelo grande desejo que tinha em conhecer Macau e muito lamento ter ficado sem conhecer Timor. Estive lá uns vinte dias, vi tudo e assisti ao Grande Prémio, conheci o governador Garcia Leandro e o Dr. Jorge Rangel e os jornais locais e voltei a Macau em 1992, por quatro ou cinco dias, tendo então ido à China mas só até Zhongshan, à casa de Sun Yat Sen."
sexta-feira, 24 de junho de 2016
Casa de Macau em Portugal recebe Prémio Identidade
24 de Junho, antigo Dia de Macau, é também o dia da Casa de Macau em Portugal. Criada em 1966 é a mais antiga de toda a diáspora macaense
No ano em que comemora 50 anos de existência, a Casa de Macau em Portugal foi galardoada com o Prémio Identidade, do Instituto Internacional de Macau. O vice-presidente da representação da comunidade macaense em Portugal, João Botas, explicou ao PONTO FINAL que esta distinção traz motivação para mais 50 anos de actividade.
Orgulho e uma dose de motivação para continuar a desenvolver o trabalho realizado. Foi desta forma que o vice-presidente da Casa de Macau em Portugal, João Botas, explicou, ao PONTO FINAL, o sentimento da instituição, que foi galardoada com o Prémio Identidade em 2016, que é atribuído pelo Instituto Internacional de Macau.
“É uma distinção que nos orgulha e que nos honra e que nos dá mais responsabilidade para mantermos aquela que é a missão da Casa de Macau”, afirmou João Botas, ontem, ao PONTO FINAL. “É o reconhecimento de um trabalho que tem vindo a ser desenvolvido há 50 anos e que espero que seja um motivo de elã para os próximos 50 anos, no mínimo”, frisou.
Orgulho e uma dose de motivação para continuar a desenvolver o trabalho realizado. Foi desta forma que o vice-presidente da Casa de Macau em Portugal, João Botas, explicou, ao PONTO FINAL, o sentimento da instituição, que foi galardoada com o Prémio Identidade em 2016, que é atribuído pelo Instituto Internacional de Macau.
“É uma distinção que nos orgulha e que nos honra e que nos dá mais responsabilidade para mantermos aquela que é a missão da Casa de Macau”, afirmou João Botas, ontem, ao PONTO FINAL. “É o reconhecimento de um trabalho que tem vindo a ser desenvolvido há 50 anos e que espero que seja um motivo de elã para os próximos 50 anos, no mínimo”, frisou.
O Prémio Identidade do IIM foi instaurado em 2003 e é atribuído com o objectivo de galardoar pessoas ou instituições que tenham contribuído de forma continuada para o reforço e valorização da identidade macaense. Entre os vencedores anteriores estão nomes como Henrique de Senna Fernandes, a Diocese de Macau, a Universidade de Macau ou a Escola Portuguesa de Macau.
Este ano o Instituto Internacional justificou a atribuição da distinção à Casa de Macau em Portugal com “a relevante contribuição, ao longo de 50 anos, para a promoção e divulgação da cultura macaense em Portugal”, com o “reforço dos laços de amizade e solidariedade entre os membros” e o “desenvolvimento de relações entre as comunidades macaenses espalhadas pelo mundo”.
Este ano o Instituto Internacional justificou a atribuição da distinção à Casa de Macau em Portugal com “a relevante contribuição, ao longo de 50 anos, para a promoção e divulgação da cultura macaense em Portugal”, com o “reforço dos laços de amizade e solidariedade entre os membros” e o “desenvolvimento de relações entre as comunidades macaenses espalhadas pelo mundo”.
O prémio, que vai ser formalmente entregue em Novembro, adquire ainda uma importância extra porque a Casa de Macau em Portugal cumpre este ano o seu 50.º aniversário: “Em 50 anos muita coisa muda e a Casa de Macau em Portugal tem feito por se adaptar aos tempos e ao contexto onde está inserida. Somos um elo de ligação entre macaenses e todos os que têm Macau no coração”, explicou o vice-presidente sobre o momento da instituição.
Actualmente a instituição tem cerca de 500 sócios, sendo que um dos objectivos mais próximos passar por garantir a renovação do contingente de membros e por uma maior abertura à sociedade civil.
“Ao longo dos anos temos tido um número de sócios muito perto do meio milhar, uma vezes mais outra vezes menos. Isto mostra que faz sentido continuar com a nossa actividade. É uma instituição que precisa de se renovar, mas estão reunidas todas as condições para continuar porque Macau é uma terra que tem uma história ímpar e que faz com que as pessoas se mobilizem e liguem por afectos”, acrescentou.
Apesar de formalmente a entrega do prémio apenas estar agendada para o Encontro das Comunidades Macaenses, que terá início no dia 30 de Novembro, já no próximo dia 25, a instituição vai já receber um diploma relativo ao galardão. Este documento vai ser entregue durante a cerimónia da celebração dos 50 anos da Casa de Macau em Portugal.
Actualmente a instituição tem cerca de 500 sócios, sendo que um dos objectivos mais próximos passar por garantir a renovação do contingente de membros e por uma maior abertura à sociedade civil.
“Ao longo dos anos temos tido um número de sócios muito perto do meio milhar, uma vezes mais outra vezes menos. Isto mostra que faz sentido continuar com a nossa actividade. É uma instituição que precisa de se renovar, mas estão reunidas todas as condições para continuar porque Macau é uma terra que tem uma história ímpar e que faz com que as pessoas se mobilizem e liguem por afectos”, acrescentou.
Apesar de formalmente a entrega do prémio apenas estar agendada para o Encontro das Comunidades Macaenses, que terá início no dia 30 de Novembro, já no próximo dia 25, a instituição vai já receber um diploma relativo ao galardão. Este documento vai ser entregue durante a cerimónia da celebração dos 50 anos da Casa de Macau em Portugal.
in Ponto Final 13.6.2016
quarta-feira, 22 de junho de 2016
Pessanha em The Bath Fugues, por Brian Castro
Como sugestão de leitura apresento o romance ficcional The Bath Fugues, de Brian Castro, nascido em 1950 em Hong Kong e radicado na Austrália desde 1961.
A parte que diz respeito a Macau está a meio do livro e transporta-nos ao território no final do século XIX/início do século XX: ao hotel Boa Vista, ao ópio, às casas de jogo de fan tan, aos banhos na Baía do Bispo, etc... através da personagem de Camilo Conceição (alusão a Camilo Pessanha), poeta e juiz viciado em ópio.
Excerto: "Each morning I ride the small triangular route of five miles between the Leal Senado, the Border Gate and the Boa Vista hotel."
Para este post coloquei algumas perguntas ao autor que amavelmente respondeu assim:
Your relation with Macau:
- My father was Portuguese and even thought he was born in Shanghai, he lived much of his childhood in Macau. He was descended from Carlos Castro.
Inspiration for this novel:
- I read a translation of Pessanha’s Clepsidra and was intrigued by his symbolist style and lyricism.
Camilo Pessanha was the figure you had in mind?
- Yes I read about his life and how he lived with a concubine and had several children. This miscegenation was very typical in Macau at that time and again I was intrigued. Also he met Fernando Pessoa, another favourite poet of mine when he went back to Portugal.
The story takes place in Macau in the begining of 20th century; where did you find info about those days?
- I have a friend in Macau... Isabel de Moraes, who helped me in the research. We are working together again in the writing of a book on Macau with the painter John Young.
I dont know your other books; can we find Macau on them?
- Yes, my fictional autobiography Shanghai Dancing deals with some early 20th century aspects in Macau.
The Bath Fugues (ed. 2009) is Castro at his best, in a wonderful performance wrought from intrigue, romance, deception – and comedy. The book is composed of three interwoven novellas, the first centred on an ageing art forger; the second on a Portuguese poet (Camilo Conceição), opium addict and collector; the third told by a well-connected doctor, with a cabinet of venom, and an art gallery on the north Queensland coast.
Around these characters circle others, in the contrapuntal manner of the fugue suggested by the book’s title. Some are related, some fugitive, some like the essayist Montaigne, the poet Baudelaire or the philosopher Benjamin, enter the story from the past.
Motifs recur – baths, bicycles, clocks, addiction, the counterfeit – deepening the lines of association and inheritance which bind their lives, and giving weight to the friendships thrust upon them.
Brian Castro was born in Hong Kong in 1950 of Portuguese, Chinese and English parentage. In 2003 Giramondo published his Shanghai Dancing, which won the Vance Palmer Prize for Fiction, the Christina Stead Prize for Fiction and the NSW Premier’s Book of the Year Award, and his most recent novel, The Garden Book (2005) was shortlisted for the Miles Franklin Award and won the Queensland Premier’s Award for Fiction. Brian Castro is Chair of Creative Writing at the University of Adelaide.
Around these characters circle others, in the contrapuntal manner of the fugue suggested by the book’s title. Some are related, some fugitive, some like the essayist Montaigne, the poet Baudelaire or the philosopher Benjamin, enter the story from the past.
Motifs recur – baths, bicycles, clocks, addiction, the counterfeit – deepening the lines of association and inheritance which bind their lives, and giving weight to the friendships thrust upon them.
Brian Castro was born in Hong Kong in 1950 of Portuguese, Chinese and English parentage. In 2003 Giramondo published his Shanghai Dancing, which won the Vance Palmer Prize for Fiction, the Christina Stead Prize for Fiction and the NSW Premier’s Book of the Year Award, and his most recent novel, The Garden Book (2005) was shortlisted for the Miles Franklin Award and won the Queensland Premier’s Award for Fiction. Brian Castro is Chair of Creative Writing at the University of Adelaide.
segunda-feira, 20 de junho de 2016
Canídromo de Macau já teve época dourada mas "deixou de se justificar"
O canídromo de Macau, a única pista de corridas de galgos na Ásia, teve a sua 'época dourada' nos anos 1960 e 1970, quando a cidade "não tinha nada", mas "deixou de se justificar", defendem antigos frequentadores.
A seis meses do fim da licença do canídromo, decorre uma intensa campanha internacional para encerrar o espaço, que associações de direitos dos animais de vários países dizem ser o "pior do mundo", não só por abater centenas de animais por ano, mas também por os submeter a treinos cruéis e acondicionamento inadequado.
"Os tempos mudaram, o canídromo deixou de se justificar. Já não faz lucro, não faz sentido. Ganhámos outro tipo de sensibilidade, custa-nos ver os maus tratos dos animais. Há que desmantelar aquilo", diz à Lusa Miguel Senna Fernandes. No entanto, o presidente da Associação dos Macaenses recorda que, apesar de ter "deixado de ser 'in'", a pista já foi muito popular, antes de Macau se tornar a capital mundial do jogo. "Era o entretenimento do povo, da gente de economia mais humilde. O chinês sempre foi um jogador afoito", lembra. Até aos anos 1980, "muita gente corria ao canídromo, até de Hong Kong. Não era uma coisa de família, mas era para a malta", conta. Senna Fernandes recorda como emocionante a primeira vez que assistiu a uma corrida, aos 14 anos -- a entrada não era permitida a menores "mas arranjava-se maneira". Depois disso voltou algumas vezes, mas com pouco regularidade -- a última vez foi nos anos 1990, quando o espaço "já não tinha casa cheia". O macaense compara a discussão em torno do canídromo com a das touradas em Portugal: "Por mais sensíveis que sejamos para com os animais, há sempre uma nostalgia".
A licença do canídromo, com cerca de 50 anos, terminou no final do ano passado, mas o Governo optou por renovar a concessão por mais um ano.
A associação local Anima, de proteção dos animais, liderou a campanha pelo encerramento do canídromo e tem sido seguida por instituições de todo o mundo. Fizeram-se manifestações, petições e até boicotes ao fornecimento e transporte dos animais.
Para José Luís Sales Marques, as corridas de cães são hoje "uma atividade totalmente extemporânea", que prejudica "a imagem de Macau". "Não acho que deve ser mantido aberto", afirma o economista.
Não tendo sido grande frequentador -- chegou a ir, "em miúdo", nos anos 1960, para acompanhar o pai --, Sales Marques admite que o bem-estar dos galgos não era uma questão. "Não se falava dessas coisas, não havia essa consciência", diz. Na altura, "era uma novidade, Macau não tinha nada, só cinemas. Mas não uma coisa madura, para homens feitos, que queriam apostar numa corrida em que a sorte os bafejasse".
Era também um espaço onde os funcionários públicos podiam apostar, como fazia o seu pai, trabalhador dos correios. As corridas, recorda, dominavam as conversas de café, onde se faziam "palpites" e "trocavam informações" sobre os cães.
Para o macaense Jorge Fão, o grande motivo para encerrar o canídromo é económico. "Já deu o que tinha a dar. Devem utilizar aquele espaço para outras finalidades", diz.
"Os tempos mudaram, o canídromo deixou de se justificar. Já não faz lucro, não faz sentido. Ganhámos outro tipo de sensibilidade, custa-nos ver os maus tratos dos animais. Há que desmantelar aquilo", diz à Lusa Miguel Senna Fernandes. No entanto, o presidente da Associação dos Macaenses recorda que, apesar de ter "deixado de ser 'in'", a pista já foi muito popular, antes de Macau se tornar a capital mundial do jogo. "Era o entretenimento do povo, da gente de economia mais humilde. O chinês sempre foi um jogador afoito", lembra. Até aos anos 1980, "muita gente corria ao canídromo, até de Hong Kong. Não era uma coisa de família, mas era para a malta", conta. Senna Fernandes recorda como emocionante a primeira vez que assistiu a uma corrida, aos 14 anos -- a entrada não era permitida a menores "mas arranjava-se maneira". Depois disso voltou algumas vezes, mas com pouco regularidade -- a última vez foi nos anos 1990, quando o espaço "já não tinha casa cheia". O macaense compara a discussão em torno do canídromo com a das touradas em Portugal: "Por mais sensíveis que sejamos para com os animais, há sempre uma nostalgia".
A licença do canídromo, com cerca de 50 anos, terminou no final do ano passado, mas o Governo optou por renovar a concessão por mais um ano.
A associação local Anima, de proteção dos animais, liderou a campanha pelo encerramento do canídromo e tem sido seguida por instituições de todo o mundo. Fizeram-se manifestações, petições e até boicotes ao fornecimento e transporte dos animais.
Para José Luís Sales Marques, as corridas de cães são hoje "uma atividade totalmente extemporânea", que prejudica "a imagem de Macau". "Não acho que deve ser mantido aberto", afirma o economista.
Não tendo sido grande frequentador -- chegou a ir, "em miúdo", nos anos 1960, para acompanhar o pai --, Sales Marques admite que o bem-estar dos galgos não era uma questão. "Não se falava dessas coisas, não havia essa consciência", diz. Na altura, "era uma novidade, Macau não tinha nada, só cinemas. Mas não uma coisa madura, para homens feitos, que queriam apostar numa corrida em que a sorte os bafejasse".
Era também um espaço onde os funcionários públicos podiam apostar, como fazia o seu pai, trabalhador dos correios. As corridas, recorda, dominavam as conversas de café, onde se faziam "palpites" e "trocavam informações" sobre os cães.
Para o macaense Jorge Fão, o grande motivo para encerrar o canídromo é económico. "Já deu o que tinha a dar. Devem utilizar aquele espaço para outras finalidades", diz.
As receitas do canídromo, localizado numa zona de elevada densidade populacional, têm vindo a cair há vários anos. Em 2015 cifraram-se em 125 milhões de patacas (13,7 milhões de euros, ao câmbio atual), menos 13,7% em que 2014, e menos 63% que em 2010. As corridas de cães representaram no ano passado 0,05% do total arrecadado por todo o setor do jogo.
"Era muito divertido, era uma novidade para as pessoas que viviam cá. Apostar nos galgos é como apostar no futebol, é preciso estudar os cães, o peso, o comportamento, o treinador", recorda. Fão afasta qualquer tipo de preocupações, à época, com o bem-estar dos animais: "Qual quê! A gente até comia os cães. Era tradição e hábito".
Dos quatro macaenses entrevistados pela agência Lusa, Francisco Manhão é o único que gostaria de manter o canídromo de portas abertas, desde que fizesse obras de melhoramento. "Acho que fechar é uma pena, ainda há um grande número de entusiastas. Naquela altura, as pessoas não estavam preocupadas [com os cães], queriam passar um bom bocado ao fim de semana. Mas naturalmente que também acho que devia ter melhores condições, aquilo é lastimável, os galgos devem ser mais bem tratados", defende. "Sempre gostei de ir às corridas, desde novo. Em 1963, a aposta mínima era de duas patacas (22 cêntimos, ao câmbio atual). De vez em quando ainda dou lá uma saltada. Se fechar fico um bocado magoado", diz.
A Companhia de Corridas de Galgos Macau (Yat Yuen), que faz parte do universo da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM), fundada por Stanley Ho, tem hoje cerca de 700 animais. Segundo a Anima, entre 260 e 280 cães morreram no ano passado, alguns apenas um mês depois de chegarem à pista. Não havendo um programa de adoções, os animais são abatidos quando começam a piorar a sua prestação, sendo necessário adquirir novos regularmente.
De acordo com a Anima, cerca de 30 animais eram abatidos mensalmente, ainda jovens, por já não serem rentáveis. No entanto, em maio, a Anima indicou que desde que a campanha internacional conseguiu suspender a vinda de animais da Austrália, o maior fornecedor, em dezembro de 2015, apenas nove cães tinham chegado a Macau, vindos da Irlanda. As organizações esperam conseguir 'secar' totalmente a fonte de galgos, de modo a obrigar o espaço a fechar.
"Era muito divertido, era uma novidade para as pessoas que viviam cá. Apostar nos galgos é como apostar no futebol, é preciso estudar os cães, o peso, o comportamento, o treinador", recorda. Fão afasta qualquer tipo de preocupações, à época, com o bem-estar dos animais: "Qual quê! A gente até comia os cães. Era tradição e hábito".
Dos quatro macaenses entrevistados pela agência Lusa, Francisco Manhão é o único que gostaria de manter o canídromo de portas abertas, desde que fizesse obras de melhoramento. "Acho que fechar é uma pena, ainda há um grande número de entusiastas. Naquela altura, as pessoas não estavam preocupadas [com os cães], queriam passar um bom bocado ao fim de semana. Mas naturalmente que também acho que devia ter melhores condições, aquilo é lastimável, os galgos devem ser mais bem tratados", defende. "Sempre gostei de ir às corridas, desde novo. Em 1963, a aposta mínima era de duas patacas (22 cêntimos, ao câmbio atual). De vez em quando ainda dou lá uma saltada. Se fechar fico um bocado magoado", diz.
A Companhia de Corridas de Galgos Macau (Yat Yuen), que faz parte do universo da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM), fundada por Stanley Ho, tem hoje cerca de 700 animais. Segundo a Anima, entre 260 e 280 cães morreram no ano passado, alguns apenas um mês depois de chegarem à pista. Não havendo um programa de adoções, os animais são abatidos quando começam a piorar a sua prestação, sendo necessário adquirir novos regularmente.
De acordo com a Anima, cerca de 30 animais eram abatidos mensalmente, ainda jovens, por já não serem rentáveis. No entanto, em maio, a Anima indicou que desde que a campanha internacional conseguiu suspender a vinda de animais da Austrália, o maior fornecedor, em dezembro de 2015, apenas nove cães tinham chegado a Macau, vindos da Irlanda. As organizações esperam conseguir 'secar' totalmente a fonte de galgos, de modo a obrigar o espaço a fechar.
Artigo Agência Lusa - 12.6.2016
domingo, 19 de junho de 2016
"58 Million a Day"
Por volta de 1957 a Coca Cola lançou uma campanha publicitária onde 'garantia' que o sucesso da marca era tal que vendia 58 milhões de garrafas por dia. A campanha teve vários formatos (nalgumas a expressão era "over 58 million a day" no que a marca considerava ser "sign of good taste") e por Macau pintaram-se anúncios em paredes, uma prática habitual na época.
Nos anos seguintes o essencial da campanha publicitária seria recuperado alterando-se apenas o número de garrafas alegadamente vendidas todos os dias um pouco por todo o mundo. Em 1960 já eram mais de 60 milhões todos os dias...
sábado, 18 de junho de 2016
O pugilista que encantou Macau com truques de magia
Muhammad Ali, a maior figura do boxe mundial - campeão mundial de pesos pesados - morreu no passado dia 3 de Junho de 2016 com 74 anos. Segue-se um artigo da autoria de João Santos Filipe publicado no jornal Ponto Final que recorda a passagem por Macau do pugilista em Setembro de 1994.
Muhammad Ali veio a Macau na qualidade de pugilista promover a modalidade no ano de 1994, mas foi com os truques de magia que conquistou a simpatia dos residentes, na única visita que fez ao território.
Nessa altura o “The Greatest,” que morreu na passada sexta-feira, já lutava contra a doença de Parkinson que o limitou nos últimos anos da sua vida e veio a Macau para assistir a um evento com combates de boxe, organizado pela Associação Nacional de Boxe Americana, que teve lugar no ringue do Pavilhão do Colégio D. Bosco.
O ex-presidente do Instituto Cultural, Manuel Silvério, foi uma das pessoas que acompanhou de perto a visita de Muhammad Ali, um momento que considerou marcante para todos quantos tiveram a oportunidade de conviver com o campeão olímpico de 1960: “Quando veio já estava limitado em termos de fala devido à doença de Parkinson. Mas tinha permanentemente um lenço no bolso para fazer magia e tentar ser simpático com as pessoas. Eram truques simples, com as mãos e o apoio do lenço”, recordou Manuel Silvério, ao Ponto Final.
“A impressão [que ele deixou] foi muito boa. Era uma pessoa muito afável, notava-se que estava preparado não só para combater em ringue mas também em termos de diplomacia, gentileza e acima de tudo um trato muito humano e afável”, acrescentou sobre a personalidade do pugilista norte-americano.
Em 1994 foi Muhammad Ali que demonstrou interesse em visitar o território, depois de em 1993 ter tido a oportunidade de visitar a República Popular da China: “Contactaram-me e falaram-me desse assunto. Naturalmente, respondi logo que Macau o recebia com todo o gosto. Na altura era o melhor trampolim ou plataforma para lançar a modalidade”, explicou Silvério. “Ele veio por iniciativa própria e suportou as suas despesas. Ele queria estudar o potencial do mercado do boxe na região”, frisou.
Os conhecimentos do norte-americano sobre Macau era muito limitados, no entanto, a imagem que levou do território, segundo Silvério, foi positiva: “Ele ficou surpreendido com Macau porque não conhecia nada sobre o território. Mas o objectivo dele era ajudar no desenvolvimento do boxe e era o melhor embaixador possível. Cá em Macau onde ele ia era logo seguido por multidões”, recorda.
Vertente solidária
O antigo presidente do Instituto do Desporto lembra ainda que durante a visita a Macau, Ali esteve em vários sítios como a actual residência do Cônsul-Geral português, que na altura era o Hotel Bela Vista, o gabinete de Jorge Rangel, que tutelava a pasta do desporto em Macau ou o ainda no antigo hotel Mandarim, o actual Grand Lapa.
Muhammad Ali fez igualmente várias visitas de caridade para ajudar os menos favorecidos. Um dos episódios é relatado por um do seus seguranças, Pedro Fernandez, num artigo publicado em 2012 no portal RingTalk.
O actual comentador da HBO conta que, na altura, o pugilista pediu para ser conduzido a um orfanato, depois de se ter fartado das visitas protocolares. Nesse espaço, o pugilista encontrou uma freira católica e uma “equipa pequena” a cuidarem de 30 crianças com idades entre os 3 meses e os 10 anos.
Emocionado com o cenário que encontrou, o norte-americano pediu aos presentes que contribuíssem com o dinheiro que tinha e juntou 1400 dólares americanos na hora, que doou ao orfanato. No final, a freira explicou-lhe que aquele montante era suficiente para pagar todas as despesas da instituição durante mais de um ano. A vertente solidária da visita de Muhammad Ali é também confirmada por Manuel Silvério: “Ajudou algumas instituições de cá, mas não sei dizer quais nem quanto ele doou”, frisou, ao Ponto Final.
De Cassius Clay a Muhammad Ali
Muhammad Ali nasceu com o nome de Cassius Marcellus Clay Jr. a 17 de Janeiro de 1942 em Louisville, no estado americano do Kentucky. Como pugilista foi campeão mundial de pesos-pesados e alcançou o ouro olímpico em, 1960, em Roma. Ao longo da sua carreira profissional, participou em 61 combates, tendo vencido 56, dos quais 37 por KO, e perdido 5.
Em termos de estilo, Ali era um pugilista muito rápido, que conseguia conciliar a velocidade com um murro forte. Segundo as palavras do mesmo, “voava como uma borboleta, e picava como um abelha”, afirmou um dia.
Foi já depois de se sagrar campeão mundial, em 1964, que Cassius Clay mudou o nome para Muhammad Ali, acontecimento que está ligada à sua conversão religiosa ao Islão: “Cassius Clay é nome de escravo. Não escolhi esse nome e não quero viver com ele. Sou Muhammad Ali, um nome livre, sendo que o meu nome significa amado por Deus”, disse sobre a mudança.
Apesar do registo invejável, Ali esteve impedido de lutar entre Março de 1967 e Outubro de 1970. Na altura Ali recusou fazer parte do exército americano que estava envolvido na Guerra do Vietname. O americano afirmou publicamente que preferia ser preso a lutar, tendo sido condenado a 5 anos de prisão – que nunca cumpriu – e ao pagamento de uma multa de 100 mil dólares americanos.
Quando regressa, em Março de 1971, protagoniza com um dos seus principais rivais, Joe Frazier, aquele que ficou conhecido como o “Combate do Século”. Foram 15 rounds para que fosse encontrado um vencedor por decisão unânime dos júris, que na altura foi Frazier. Esta foi a única vitória que Frazier conseguiu nos três combates frente a Muhammad Ali.
Diagnosticado com a doença de Parkinson em 1984 – uma doença que pode ter sido causada pelos golpes na cabeça que sofreu enquanto pugilista – Ali morreu na sexta-feira no Arizona, devido a um choque séptico, após ter sido internado na quinta-feira com dificuldades respiratórias.
Muhammad Ali veio a Macau na qualidade de pugilista promover a modalidade no ano de 1994, mas foi com os truques de magia que conquistou a simpatia dos residentes, na única visita que fez ao território.
Nessa altura o “The Greatest,” que morreu na passada sexta-feira, já lutava contra a doença de Parkinson que o limitou nos últimos anos da sua vida e veio a Macau para assistir a um evento com combates de boxe, organizado pela Associação Nacional de Boxe Americana, que teve lugar no ringue do Pavilhão do Colégio D. Bosco.
O ex-presidente do Instituto Cultural, Manuel Silvério, foi uma das pessoas que acompanhou de perto a visita de Muhammad Ali, um momento que considerou marcante para todos quantos tiveram a oportunidade de conviver com o campeão olímpico de 1960: “Quando veio já estava limitado em termos de fala devido à doença de Parkinson. Mas tinha permanentemente um lenço no bolso para fazer magia e tentar ser simpático com as pessoas. Eram truques simples, com as mãos e o apoio do lenço”, recordou Manuel Silvério, ao Ponto Final.
“A impressão [que ele deixou] foi muito boa. Era uma pessoa muito afável, notava-se que estava preparado não só para combater em ringue mas também em termos de diplomacia, gentileza e acima de tudo um trato muito humano e afável”, acrescentou sobre a personalidade do pugilista norte-americano.
Em 1994 foi Muhammad Ali que demonstrou interesse em visitar o território, depois de em 1993 ter tido a oportunidade de visitar a República Popular da China: “Contactaram-me e falaram-me desse assunto. Naturalmente, respondi logo que Macau o recebia com todo o gosto. Na altura era o melhor trampolim ou plataforma para lançar a modalidade”, explicou Silvério. “Ele veio por iniciativa própria e suportou as suas despesas. Ele queria estudar o potencial do mercado do boxe na região”, frisou.
Os conhecimentos do norte-americano sobre Macau era muito limitados, no entanto, a imagem que levou do território, segundo Silvério, foi positiva: “Ele ficou surpreendido com Macau porque não conhecia nada sobre o território. Mas o objectivo dele era ajudar no desenvolvimento do boxe e era o melhor embaixador possível. Cá em Macau onde ele ia era logo seguido por multidões”, recorda.
Vertente solidária
O antigo presidente do Instituto do Desporto lembra ainda que durante a visita a Macau, Ali esteve em vários sítios como a actual residência do Cônsul-Geral português, que na altura era o Hotel Bela Vista, o gabinete de Jorge Rangel, que tutelava a pasta do desporto em Macau ou o ainda no antigo hotel Mandarim, o actual Grand Lapa.
Muhammad Ali fez igualmente várias visitas de caridade para ajudar os menos favorecidos. Um dos episódios é relatado por um do seus seguranças, Pedro Fernandez, num artigo publicado em 2012 no portal RingTalk.
O actual comentador da HBO conta que, na altura, o pugilista pediu para ser conduzido a um orfanato, depois de se ter fartado das visitas protocolares. Nesse espaço, o pugilista encontrou uma freira católica e uma “equipa pequena” a cuidarem de 30 crianças com idades entre os 3 meses e os 10 anos.
Emocionado com o cenário que encontrou, o norte-americano pediu aos presentes que contribuíssem com o dinheiro que tinha e juntou 1400 dólares americanos na hora, que doou ao orfanato. No final, a freira explicou-lhe que aquele montante era suficiente para pagar todas as despesas da instituição durante mais de um ano. A vertente solidária da visita de Muhammad Ali é também confirmada por Manuel Silvério: “Ajudou algumas instituições de cá, mas não sei dizer quais nem quanto ele doou”, frisou, ao Ponto Final.
De Cassius Clay a Muhammad Ali
Muhammad Ali nasceu com o nome de Cassius Marcellus Clay Jr. a 17 de Janeiro de 1942 em Louisville, no estado americano do Kentucky. Como pugilista foi campeão mundial de pesos-pesados e alcançou o ouro olímpico em, 1960, em Roma. Ao longo da sua carreira profissional, participou em 61 combates, tendo vencido 56, dos quais 37 por KO, e perdido 5.
Em termos de estilo, Ali era um pugilista muito rápido, que conseguia conciliar a velocidade com um murro forte. Segundo as palavras do mesmo, “voava como uma borboleta, e picava como um abelha”, afirmou um dia.
Foi já depois de se sagrar campeão mundial, em 1964, que Cassius Clay mudou o nome para Muhammad Ali, acontecimento que está ligada à sua conversão religiosa ao Islão: “Cassius Clay é nome de escravo. Não escolhi esse nome e não quero viver com ele. Sou Muhammad Ali, um nome livre, sendo que o meu nome significa amado por Deus”, disse sobre a mudança.
Apesar do registo invejável, Ali esteve impedido de lutar entre Março de 1967 e Outubro de 1970. Na altura Ali recusou fazer parte do exército americano que estava envolvido na Guerra do Vietname. O americano afirmou publicamente que preferia ser preso a lutar, tendo sido condenado a 5 anos de prisão – que nunca cumpriu – e ao pagamento de uma multa de 100 mil dólares americanos.
Quando regressa, em Março de 1971, protagoniza com um dos seus principais rivais, Joe Frazier, aquele que ficou conhecido como o “Combate do Século”. Foram 15 rounds para que fosse encontrado um vencedor por decisão unânime dos júris, que na altura foi Frazier. Esta foi a única vitória que Frazier conseguiu nos três combates frente a Muhammad Ali.
Diagnosticado com a doença de Parkinson em 1984 – uma doença que pode ter sido causada pelos golpes na cabeça que sofreu enquanto pugilista – Ali morreu na sexta-feira no Arizona, devido a um choque séptico, após ter sido internado na quinta-feira com dificuldades respiratórias.
sexta-feira, 17 de junho de 2016
Visita do Sultão da Malásia em 1969
Na imagem surge o ex-sultão da Malásia numa visita a Macau em 1969. Ismail Nasiruddin Shah (1907-1979) ocupou esse cargo entre 1946-1979. A sua paixão pela fotografia foi de tal ordem que foi o patrono da Photographic Society of Malaysia e desde 1958 pertenceu à Royal Photographic Society, do Reino unido, sendo o primeiro malaio a ter essa honra. Foi ainda membro honorário da Photographic Society of Singapore (1959) e agraciado pela Federation Internationale de l’Art Photographique, da Suíça.
O gosto pela fotografia começou na década de 1920 quando lhe foi oferecida uma câmara Kodak começando a fotografar de forma regular a partir de 1928. Tinha 21 anos e recebeu ensinamentos de um tutor japonês, para além de ter um estúdio de revelação na sua residência em Istana Badariyah. O seu neto, Raja Ihsan Shah, explica tudo isto e muito mais no livro "HRH Sultan Ismail Nasruddin Shah: Pioneering Malaysian Photography 1923-1971".
O gosto pela fotografia começou na década de 1920 quando lhe foi oferecida uma câmara Kodak começando a fotografar de forma regular a partir de 1928. Tinha 21 anos e recebeu ensinamentos de um tutor japonês, para além de ter um estúdio de revelação na sua residência em Istana Badariyah. O seu neto, Raja Ihsan Shah, explica tudo isto e muito mais no livro "HRH Sultan Ismail Nasruddin Shah: Pioneering Malaysian Photography 1923-1971".
Voltando à imagem (registo que permite perceber como era as placas toponímicas da época), foi feita em Macau em 1969 precisamente no ano em que 'nasceu' a rua de D. Belchior Carneiro. Foi por ocasião do 400º aniversário da chegada daquele bispo a Macau. Antes chamava-se rua da Horta da Companhia (arruamento construído em 1954). O local fica muito perto das ruínas de S. Paulo. O termo "horta" remete para o espaço cultivado pelos jesuítas em redor do convento que era murado e a palavra "companhia" refere-se à Companhia de Jesus.
Sacerdote jesuíta, D. Belchior Carneiro foi o primeiro bispo da diocese de Macau. Foi também o primeiro a introduzir a medicina ocidental na China, com a criação do Hospital de São Rafael, em 1569 e fundou ainda a Santa Casa da Misericórdia, a organização de beneficência mais antiga do território.
quarta-feira, 15 de junho de 2016
A exoneração do Governador Sanches de Miranda
Rua de Sanches de Miranda, ex-governador de Macau, ao longo dos tempos.
Excertos da Sessão do Senado (Parlamento português) de 23 de Abril de 1914 a propósito de uma interpelação de Pedro Martins ao Ministro das Colónias (Lisboa de Lima) acerca do Governador de Macau (Sanches de Miranda) que seria exonerado do cargo.
(...) O Sr. Ministro das Colónias (Lisboa de Lima). — Sr. Presidente, ouvi com toda a atenção as considerações do Sr. Pedro Martins ás quais vou procurar responder, muito especialmente no que elas se referiram a factos que, pode entender-se, serem da minha responsabilidade. Com relação á primeira parte da interpelação do Sr. Pedro Martins, a verdade é que se em épocas anteriores á da minha entrada para o Govêrno, se deram factos, a respeito dos quais se travou larga discussão, só me cumpre acatar as opiniões que sôbre êles foram apresentados pelo Senado. (Apoiados).
Ao tomar conta da pasta das colónias, encontrei-me diante do seguinte facto. Estava nomeado Governador interino de Macau o Sr. Sanches de Miranda.
O Senado podia então manifestar se, e votar qualquer moção para que a nomeação do Governador interino de Macau fôsse substituída imediatamente e nos termos da lei por uma nomeação definitiva; eu tinha uma maneira fácil de atender a essa manifestação; trazer ao Senado a proposta para nomeação definitiva do Sr. Sanches de Miranda para governador de Macau.
Sr. Presidente, eu venho, desde longa data defendendo a opinião de que entre outras cousas que tem feito demorar o desenvolvimento das colónias, se não mesmo atrasar êsse desenvolvimento tenho afirmado que um dos motivos que tem impedido o seu progresso é a facilidade que havia na mudança dos governadores. (Apoiados).
Quando eu assumi a gerência da pasta das colónias, desde logo fiz tenção de não deslocar dos lugares onde se encontravam os governadores das províncias ultramarinas, a não ser que êles tivessem manifestado que não estavam á altura da missão que lhes incumbia.
Eu como já por mais duma vez tenho dito ao Senado, não pertenço a nenhum agrupamento político; mas ainda que tivesse filiação partidária, continuaria nesta questão de governadores a defender o princípio de que estas frequentes mudanças tem sido uma má prática que não pode nem deve continuar porque afecta considerávelmente o desenvolvimento das colónias.
Um indivíduo toma conta do governo de uma colónia, e, quando, passado algum tempo, começa a estar habilitado a conhecer das suas necessidades e dos seus problemas, e a indagar dos meios de os resolver, é substituído por outro, só porque na metrópole houve mudança de Govêrno. Logo que tomei conta da pasta das Colónias resolvi não realizar nenhuma mudança de governadores das províncias ultramarinas, a não ser que motivos poderosos determinassem essa substituição.
Sanches de Miranda, major, quando foi nomeado como Governador de Macau em 1912 |
Encontrei o Sr. Sanches de Miranda governando a colónia de Macau em condições excepcionais; na minha primeira impressão foi trazer imediatamente ao Senado uma proposta para a sua nomeação definitiva, regularizando assim a situação. Nenhuma dúvida devia ter em tomar tal resolução, visto que desde que a República se implantou tem êste oficial desempenhado cargos de grande importância e responsabilidade que certamente não lhe teriam sido cometidos se porventura êle não tivesse demonstrado não possuir todas as qualidades para os desempenhar cabal e completamente.
Eu não tinha motivos, absolutamente nenhuns, para não pensar assim e não devia ter hesitação em procurar confirmar o Sr. Sanches de Miranda por que êle nem mostrou desejos de deixar o lugar; e com efeito ao contrário do que fizeram os outros governadores, nem sequer cumpria a formalidade de pedir a sua demissão ao novo Ministro, embora se considere o cargo de governador da confiança do Ministro.
O Sr. Sanches de Miranda limitou-se, ao saber da constituição do actual Govêrno, a enviar um telegrama dizendo que a província estava em pacificação e que tudo corria regularmente. Eu estava por isso perfeitamente à vontade, para fazer a confirmação do Sr. Sanches de Miranda, e decerto o teria feito se factos de diversa natureza me não obrigassem a sobreestar nessa resolução.
Aqui tem V. Exa. Sr. Presidente o que se passou com o Sr. Sanches de Miranda nos primeiros dias do actual Govêrno. Começaram, porêm depois, a aparecer notícias de certa gravidade acêrca de factos passados em Macau e que me puseram de sobreaviso levando-me a não efectivar a confirmação do Sr. Sanches de Miranda como governador naquela província sem que a situação se esclarecesse convenientemente. Apareceu depois o caso a que se referiu o Sr. Dr. Pedro Martins na segunda parte das suas considerações.
Era um conflito de gravidade. Estava no Ministério das Colónias a acusação feita pelo governador ao delegado do procurador da República em Macau.
Mandado ouvir êste funcionário sôbre as acusações que lhe eram feitas respondeu enviando directamente ao Ministério a sua defesa em vez de o fazer por intermédio do Governador.
O meu antecessor entendeu dever ouvir o Governador sôbre a defesa do delegado e enviar-lhe para Macau essa defesa, que, por não ter sido ainda devolvida de Macau, eu não consegui ainda ver. Já instei pela vinda do processo para o Ministério das Colónias, pois constitui êle precioso elemento de informação para regular o meu proceder acêrca do Govêrno de Macau; o processo não voltou ainda. Não desejando proceder levianamente sôbre o caso, indispensável era conhecer o processo completamente.
Mas por êsse e outros casos recentes em Macau precisei de ouvir o Sr. Sanches de Miranda e por isso lhe comuniquei que viesse a Lisboa conferenciar comigo. O Sr. Sanches de Miranda pediu para se demorar algum tempo mais na colónia para acompanhar um concurso importante que em breve se realizaria. Tratava-se da situação em que êle tinha trabalhado largamente, fazendo com que a nova arrematação rendesse trinta e nove vezes mais do que até então tinha rendido, esta e ainda outras circunstâncias que se davam em Macau fizeram-me compreender a necessidade de não mandar retirar o Sr. Sanches de Miranda imediatamente.
Êle porêm já se encontra em viagem para Lisboa, e nestas circunstâncias e ainda que tivesse, fartas medidas para o exonerar de governador tal não faria sem que êle em Lisboa se me apresentasse para o ouvir. Se, porêm, e apesar de tudo, o que supus o Senado entendeu que a única forma de ser mantida a lei é exonerar o Sr. Sanches de Miranda, eu cumprirei essa resolução do Senado.
Assume a presidência o Sr. Abílio Barreto.
O Sr. Pedro Martins: — Entende que, esteja ou não aberto o Parlamento, impõe-se ao Sr. Ministro das Colónias o dever de insistir, mais ainda, de ordenar, que lhe seja enviado todo o processo do bacharel Correia Mendes com a defesa dêste e a informação do governador; e isso rapidamente para que se adie o menos possível o momento de fazer justiça.
Precisa o Sr. Ministro das Colónias qualquer informação do Sr. Sanches de Miranda para saber que êle não tinha direito a impor a suspensão disciplinar do bacharel Correia Mendes? A atitude do Senado nesta questão é clara e está definida. O Sr. Ministro das Colónias não espera decerto que esta Câmara arrepie caminho nessa atitude. O Senado não tem nem pode ter, em relação ao Sr. Sanches de Miranda, senão a opinião de que êle não pode manter-se mais à testa do Govêrno de Macau. Mais ainda. O Senado quere que o Poder Executivo intervenha por qualquer acto, de forma a restabelecer-se o império da lei. Neste sentido, manda para a Mesa a seguinte
Moção: O Senado, ouvidas as explicações do Sr. Ministro das Colónias, entende que o império da lei se deve manter, exonerando o Sr. Sanches de Miranda de governador de Macau. = Pedro Martins. Foi aprovada. Foi lida e admitida.
O discurso será publicado na íntegra quando o orador restituir as notas taquigráficas. O Sr. Ministro das Colónias (Lisboa de Lima): — Aceito a moção, visto que está em harmonia com as minhas declarações. (...)
terça-feira, 14 de junho de 2016
Dragão de Macau 'invade' Avenida da Liberdade
Foi o maior dragão visto em Lisboa. Tinha 18 metros. Com ele mais de 30 elementos vindos de Macau encheram de movimento, cor e irreverência as Avenida da Liberdade, desfilando como convidados nas Marchas Populares perante milhares de lisboetas e turistas. Foi o quinto ano consecutivo em que Macau marcou presença na mais importante e popular festa de Lisboa, os Santos Populares.
Texto e imagens do Turismo de Macau em Portugal alusivas ao 'desfile' do passado dia 12.
segunda-feira, 13 de junho de 2016
Hotel Bela Vista: a reabertura na década de 1990
Em 1990 o Governo de Macau arrendou o hotel Bela Vista por um prazo, renovável, de 25 anos, de acordo com os padrões de um hotel de luxo. O projecto arquitectónico de remodelação de interiores e exteriores foi entregue ao atelier Irene O e Bruno Soares Arquitectos.
No livro "Bela Vista" (1994) Luís Andrade de Sá escreve: "A grande novidade reside na cor (...) um amarelo-claro, com frisos brancos, diferente do verde (…). O trabalho de um consultor de interiores português, Jorge Burnay, permitiu que os quartos continuassem com a porta de entrada dupla, típica do Bela Vista, e que o seu interior fosse decorado com mobiliário português, sobretudo dos estilos D. Maria e D. José, azulejos de Portugal, propositadamente pintados à mão (…); loiças Vista Alegre (…) tapetes de Arraiolos – misturado embora com peças chinesas (…). E de Portugal veio também uma equipa de calceteiros portugueses, para contribuir com a sua arte (…). "
Em 1992 o Bela Vista reabria as portas mas seria por pouco tempo (imagem a cores). A imagem acima (preto e branco) é da década de 1940/50. Desde 1999 o edifício é a residência do Cônsul de Portugal em Macau e Hong Kong.
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