O navegador
Jorge Álvares foi o primeiro europeu a chegar à China por via marítima. Levantou um padrão perto de Macau, na ilha de Lin Tin, onde o
seu barco aportou. Em 8 de Julho de 1521 morria nessa ilha, onde fora
enterrado o seu filho e onde também foi sepultado junto do padrão
português.
Albertino Dias de Almeida recorda no texto que se segue as origens da
estátua de Jorge Álvares que existe em Macau.
"Como
nós sabemos, encontram-se por esse mundo fora estátuas de grandes
homens que levaram até às mais longínquas paragens os conhecimentos de
outras civilizações, os benefícios das suas artes e ciências e a fé
cristã, com o fim altruísta de fazer com que partilhassem desses bens
temporais e espirituais, num admirável espírito de abnegação, que
tantos e tantos portugueses levaram através do Mundo, onde ainda hoje o
nome português é relembrado e respeitado. Faltava, assim, nestas
paragens, pagar uma dívida de gratidão a um grande português – o
primeiro a demandar a China no princípio do século XVI.
«Antes
tarde do que nunca!» e, talvez por isso, o Governo da Metrópole achou
que era tempo de prestar uma homenagem a Jorge Álvares, encarregando um
escultor português de grande mérito, Euclides Vaz – irmão do meu antigo
professor do Liceu de Macau, Cândido Vaz – de fazer a estátua do
navegador. Construída
em mármore de lioz, com um pedestal em azulino de Sintra, a estátua
chegou a Macau em Junho de 1954, a bordo do paquete português «Índia»,
propriedade da Companhia Nacional de Navegação. A fim de escolher o
local mais apropriado para a sua colocação, o então governador de
Macau, almirante Joaquim Marques Esparteiro, nomeou uma comissão para
se pronunciar sobre o assunto.
A
comissão apreciou a opinião do conhecido historiador e investigador,
Jack Braga, o qual sugeriu que a estátua devia ser colocada no Miradouro
da Estrada D. Maria II, voltada para o mar, pois ficaria de frente
para a ilha Lin Tin, onde Jorge Álvares pisara pela primeira vez terra
da China. Esta opinião, com muito peso histórico, foi, porém,
desvalorizada por dois membros da comissão, nomeadamente, pelo director
das Obras Públicas, José dos Santos Baptista e pelo reitor do Liceu de
Macau, Pedro Guimarães Lobato, com o argumento de que o local não era o
mais apropriado, não só por estar afastado do centro da cidade, como
pelo facto da estátua ter sido construída em mármore de lioz e, naquele
ponto, estar mais exposta às inclemências do tempo e a brincadeiras de
mau gosto. Para ambos, a estátua devia ser erguida numa das praças da
cidade. Falou-se também no Jardim de São Francisco, mas, examinados
alguns esboços, chegaram à conclusão de que, devido à sua disposição,
não se prestava para o fim em vista, sem grande prejuízo da sua
estética, tornando-se oneroso o seu arranjo, pois seria necessário
demolir a biblioteca chinesa que lá se encontra e construir outra no
mesmo jardim.
Finalmente,
Luís Gonzaga Gomes, conhecido historiador e escritor macaense, também
membro da comissão, disse que, como as estátuas se destinam a
ornamentar as praças de uma cidade, portanto, os centros, achava que um
dos pontos mais centrais – passagem obrigatória de todas as pessoas que
vivem ou visitam a cidade – era em frente do Palácio das Repartições
Públicas, à Praia Grande, no começo da então Avenida Salazar.
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Foto de AJMN Silva |
A comissão submeteu à apreciação do governador os resultados a que chegou, tendo o mesmo dado o seguinte despacho: «Examinando as três hipóteses consideradas, reconhece-se que:
a)
o Miradouro de D.Maria II, se bem que haja razões históricas a seu
favor, tem o inconveniente de deixar a estátua à acção do tempo e dos
homens, como friza a comissão;
b) o Jardim de S.Francisco, a ser usado, implicaria a mudança da biblioteca chinesa, com grande aumento de despesas;
c) na Praia Grande, em frente do Palácio das Repartições Públicas, evitam-se os inconvenientes apontados.
Por estas razões escolho este último local.»
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Junto ao Hotel Metrópole e o Solmar no início da década de 1980 |
Em
cumprimento desse despacho, a estátua de Jorge Álvares foi erguida no
local escolhido pelo governador, onde hoje, felizmente, ainda podemos
contemplá-la, toda inteirinha, muito embora, em tempos idos, tivesse
sido «abusada» – deceparam-lhe um braço – pelas diabruras importadas da
Revolução Cultural da China, no ano de 1966. E onde está o problema?"