quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Os 'peloteiros' de Macau

O casino Jai Alai ficava junto ao Terminal do Porto Exterior e surgiu pouco depois do hotel Lisboa, em meados da década de 1970. Era conhecido pela 'pelota basca' que ali se jogava num campo interior 'gigantesco'. Um jogo espanhol importado via Filipinas.
A “Sociedade de Pelota Basca de Macau S. A. R. L.” foi criada em 1971 e no ano seguinte assinava a concessão do jogo por um período que ia até 1989. O primeiro jogo ocorreu a 15 de Junho de 1974. O casino começou a funcionar no ano seguinte, encerrando então o casino do Estoril que passou a funcionar apenas como hotel. O Jai Alai tinha, além de bares, restaurantes e casino um espaço para espectáculos apreciável realizando-se eventos para o grande público como a eleição da Miss Macau.
Numa brochura turística da década de 1980 pode ler-se:
“A spectacular stadium with a capacity of 5,000, where the fastest ball game in the world is played seven days a week. Jai-Alai, know as Basque Pelota, is played each night of the week (starting 7.30 p.m.), Saturdays and Sundays. when there are matinée performances (from 2 p. m.). The game takes place in the Jai-Alai Palace located on Macau´Outer Harbour near the hydrofoil terminals. Admission is 1 pataca. Boxes are 18 patacas for six persons. Bar, snack-bars and restaurants facilities are available in the stadium”
Feito o enquadramento, segue-se um artigo da autoria de Luís Machado sobre este jogo em Macau.
Um título algo estranho (o mesmo que escolhi para este post) para uma crónica, comentarão os leitores, mas é precisamente de um desporto invulgar que vamos falar hoje. Um desporto já com muitos séculos de existência, originário lá para as bandas dos Pirenéus, numa zona que dá pelo nome de “País Vasco” para uns e “Basco” para outros dependendo de que lado estão, se de Espanha ou de França. Um País sem Nação (ou será uma Nação sem País!?), nem passaporte, para os seus cidadãos, mas que luta há muito pela sua autonomia, por vezes de uma maneira bem sangrenta.
O desporto característico deste País, a “Pelota” (ou bola em português), foi em tempos exportado para vários continentes e chegou a Macau através duma empresa própria que deu o nome ao edifício que ainda hoje o mantém “Jai-Alai”. Foi precisamente no outrora Palácio da Pelota Basca, em Macau que nos meados dos anos 70 (do século passado), jogadores famosos, recrutados no País de origem – Espanha, vieram para Macau, demonstrar e fazer com que as apostas neles gerassem lucros para os empresários que neles confiavam. Foi “sol de pouca dura” podemos agora afirmar, pois ao fim de 10 anos, desmontaram-se as redes que protegiam o público da parede e do campo com cerca de 200 metros de comprimento, onde os jogadores arremessavam a bola contra este muro a velocidades estonteantes de mais de 180Mph ou seja 290Km/h.
Destes peloteiros, conforme nos foi recordado por um ainda jovem macaense que se empenhou afincadamente nestas “lides” – o Carlos Rosário, para os amigos “Charlie” alguns ficaram, enfeitiçados pelas nossas belezas locais, casaram e constituíram família. Outros partiram para outras zonas de Jogo, como Miami, na Florida, para Argentina ou Filipinas, locais onde também é muito popular este desporto.
Nomes grandes como o treinador Zabala, que conseguiu pôr alguns jovens de Macau a atirar a “pelota” de borracha maciça com toda a força contra a parede sendo um deles chinês de Macau de nome, Chiang Ngok Kuan e outro da grande família Manhão, o Henrique “Quinho”, o Morais “Cóque” cujo Pai, o Sr. “Moraissi” foi também figura de destaque como fisioterapeuta, bem conhecido de todos os desportistas com “mazelas” e Bombeiro reformado.
Tempos idos que fizeram vibrar aquele Palácio e as cabeças destes nossos conterrâneos, apesar de por vezes terem de ir receber tratamento á enfermaria anexa, pois as bolas nem sempre acertavam nos “cascos” capacetes que deveriam proteger das boladas perdidas!
O nosso amigo Charlie, ainda se recorda destes tempos áureos da sua carreira de “peloteiro”, com imenso prazer, não pela fortuna, que nunca ganhou, nem pouco mais ou menos, mas sim pelos bons momentos de convívio e camaradagem que viveu com os seus parceiros ou rivais nas contendas nocturnas e pelas ovações do público que era muito nesses tempos e quase enchia a plateia. Recorda-se muito bem do seu treinador, que apostou neles e os pôs a competir com os verdadeiros campeões da arte, que eram nomes grandes na época – Larrea, Adurriaga, Sotto, Gandiaga, Perez, Alberdi, Goitia, Ibarola, Garay, Medina, Echeta, Orbea, Manu, Echaniz, Tano, Ibañez - entre muitos outros nomes famosos vindos directamente do País Basco, para aqui jogarem e encantarem!  
Diga-se que este desporto, foi transformado em “jogo”, onde as apostas recaíam nos jogadores ou nas equipas, pois havia jogos singulares e por equipas. Pois foi exactamente aí é que “a porca torceu o rabo” quanto a nós e para os apostadores, havia sempre muita desconfiança e suspeitas de ser um espectáculo “montado” para fazer com que a “casa” ganhasse sempre!
Jogos em que o factor humano (ou mesmo animal no caso dos cavalos e dos cães) deixam sempre uma réstia de dúvidas aos apostadores asiáticos, ou seja, por causa do estado físico dos jogadores com problemas de lesões mal curadas etc., ou mesmo do foro do “dopings” que por vezes eram detectados nos animais com mais frequência. Talvez essa tenha sido a principal causa do insucesso ou o “busílis” do problema deste desporto com apostas a dinheiro em Macau, uma modalidade que até já teve honras de ter figurado como de demonstração olímpica. Para os “peloteiros” formados na “cantera” local e ainda para os que se naturalizaram macaenses pela via do casamento sem esquecer aqueles que partiram e deixaram muitos corações dilacerados, especialmente das nossas jovens, vai um abraço muito especial.
Artigo de Luís Machado publicado no JTM de 12-10-2011

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