segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

O "Victoria" nos tempos do cinema mudo

No início do século XX o cinema chegava a Macau. Henrique de Senna Fernandes, apesar de nascido em 1923, registou para memória futura esses tempos no livro "Cinema em Macau". Segundo ele "era uma diversão desprezada, qualquer coisa equiparada à exibição de saltimbancos, apresentado em barracões de feira, que se admirava com curiosidade despicienda e sorriso desdenhoso, e de que até se tinha vergonha de falar”.Nesses tempos dos “filmes mudos em barracões sujos e desconfortáveis, em pleno Bazar, coração da cidade chinesa” surgiram vários cinematógrafos.
Do Chip Seng, na Rua da Caldeira, com bilhetes entre os oito e os 35 avos, ao Tin Lin, no Largo de Hong Kong Mio, com preços entre os dez e os 50 avos. Havia ainda o Olympia, na Rua do Hospital (actual Rua Pedro Nolasco da Silva) e partir de 9 de Janeiro de 1910, na actual Rua do Dr. Soares (então Rua da Cadeia), junto ao edifício do Senado, surge o Victória. Naqueles primeiros tempos, ainda em construção abarracada os filmes exibidos eram essencialmente curtas metragens. O Victória (que tb terá existido na Calçada Oriental) viria a mudar de instalações em 1921 passando para o edifício no cruzamento da Rua dos Mercadores com a Av. Almeida Ribeiro, (até 1971) onde hoje se situa o banco Tai Fung.
Ainda de acordo com Henrique de Senna Fernandes “Apesar de todos os espectáculos, o Vitória foi essencialmente uma casa de cinema. E citamos o Vitória, porque foi nele que se desbobinaram os melhores filmes mudos, não havendo outro cinematógrafo que se lhe equiparasse”.
Vejamos então quais os êxitos de bilheteira da época quando o sonoro dava os primeiros passos e o mudo ainda vingava: “O êxito de Fairbanks era tão grande entre a rapaziada de Macau que, nos dias que se seguiam à estreia das suas películas, desapareciam dos jardins, hortas e quintais, pela cidade e fora de portas, todas as estacas de bambu, convertidas em espadas para a petizada se esgrimir em grupos rivais, com grande perigo para os olhos e desespero de jardineiros e horticultores que então abundavam nesta Terra do Nome de Deus”.
Além de Fairbanks havia ainda Charlie Chaplin: “O maior deles foi sem dúvida Charlot. A sua aparição na tela (...) enchia o Vitória. Os chineses, simplesmente, adoravam-no.”Já quanto às condições da sala de cinema, a opinião era bem diferente: "Quem desconheça o Vitória poderá julgar tratar-se de um cinema confortável, luxuoso, de bons assentos, e à altura dos magnífico, filmes que exibia. (...) Denominando-se a primeira casa de espectáculos, sem outra a fazer-lhe sombra, era, assim, um monumento de desconforto".

1 comentário:

  1. I watched many films in Vitoria during my Childhood in the sixties, but forgot whether it retained the original shape and appearance of the twenties whenit was established. You have its pictures after WW2?

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