sábado, 18 de janeiro de 2014

Do Asylo dos Orphaos ao ICM

O edifício número 89 da Rua Conselheiro Ferreira de Almeida onde actualmente funciona o Instituto Cultural do Governo da R.A.E.M., na Praça do Tap Seac, teve múltiplas utilizações desde a sua construção e todas elas dignas de registo para a sociedade macaense.
Começou por albergar o Asylo dos Orphaos (Asilo dos Órfãos) criado em 1900 (Boletim Oficial n.º 15 de 14-04-1900) pelo Provedor da Santa Casa da Misericórdia, Pedro Nolasco da Silva. A instituição acabaria por ser extinta por razões económicas em 1918 tendo recolhido e educado ao longo desses anos cerca de 200 rapazes. Curiosamente, um deles, Pedro Paulo Ângelo, quando fez parte da direcção da Santa Casa na década de 1930, fez renascer das cinzas o asilo. A 14 de Julho de 1931 teve início uma subscrição pública para subsidiar o projecto e em Agosto do ano seguinte os estatutos foram aprovados pela Portaria n.º 936 do Governo de Macau.
Com cerca de 10 mil patacas conseguidas na subscrição pública e o empenho de personalidades como o arquitecto Keil do Amaral e o Dr. Gustavo Nolasco da Silva foi construído um novo edifício no número 2 da Travessa dos Anjos. Deste modo, o Novo Asilo dos Órfãos seria inaugurado a 6 de Janeiro de 1933 “sob o patrocínio da Associação Pública de Protecção aos jovens Pobres e Órfãos, alimentada com cotas mensais, sessões de animatógrafo e outras representações de benefício”.
Com o edifício no Tap Seac vago no início da década de 1920 (imagem abaixo), Governo e Santa Casa entram em negociações. Na época o Liceu funcionava no antigo hotel da Boa Vista (construído em 1890, actual residência do cônsul português em Macau e Hong Kong) que era propriedade da Santa Casa. Para mudar o liceu de local o Governo compra o edifício à Santa Casa - queria voltar a reabrir o espaço como hotel) por cerca de 80 mil patacas e a escola passa a funcionar no antigo asilo no Tap Seac. Se no espaço do antigo hotel viveram nomes como Camilo Pessanha, Venceslau de Moraes e Manuel da Silva Mendes, também no ‘novo’ liceu do Tap Seac se destacaram nomes maiores da sociedade macaense (alunos e professores): José Gomes da Silva, Carlos Assumpção, Luís Gonzaga Gomes, Henrique de Senna Fernandes, entre muitos outros.
Voltando ao liceu… A mudança aconteceu a 12 de Julho de 1924 e é ali que o Liceu (criado em 1893) vai funcionar até à construção do primeiro edifício de raiz, em Outubro de 1958, na Praia Grande, onde é hoje o espaço Sintra/Banco da China.
Logo que o Liceu teve finalmente um espaço condigno (1958, na Praia Grande) o edifício do Tap Seac passou a funcionar, ao longo de várias décadas, primeiro como Repartição Provincial dos Serviços de Saúde, depois como Delegacia da Saúde e já na década de 1980 albergando os Serviços de Saúde de Macau, depois de obras de remodelação.
Um última nota para referir que toda aquela zona é composta por um conjunto de edifícios com características neoclássicas (vejam-se, por exemplo, as colunas e as arcadas nas fachadas). Os edifícios estão inseridos na lista do Património da Unesco.
É caso para dizer que se as paredes dos edifícios aqui mencionados falassem, tinham muito que contar sobre a história de Macau...
Publicado no JTM de 17.1.2014

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