quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Memórias de João Martins: décadas 1940-1950 (primeira parte)

Já há bastante tempo recebi este e-mail do leitor do blog João Martins (Ramsey, NJ, EUA). No dia 15 último reencontrei-o em Algés aquando de uma palestra que proferi a convite do Rotary club de Algés sobre Macau durante a Segunda Guerra Mundial pelo que me veio à memória este e-mail já antigo e que reproduzo nos próximos dois dias. Ao João Martins os meus agradecimentos.
Tive a oportunidade de em 1948 ter feito o exame de admissão no Liceu Nacional Infante D. Henrique no Tap Seac. Lembro-me de na mesma sala e na carteira ao lado estar a Carocha Barros Lopes, nossa amiga e filha do Dr. Barros Lopes. O irmão dela formou-se em Medicina em Hong Kong e casou com a Ana Maria Bernard Guedes, filha do General Bernard Guedes, que na altura era Comandante Militar de Macau. 
O Reitor do Liceu nessa altura era o Dr. Garcia da Silva, que uns anos mais tarde foi meu professor de matemática no Liceu Salazar em Lourenço Marques. Infelizmente não me recordo dos nomes dos professores que nesse longínquo ano de 1948 fizeram os exames de admissão ao Liceu. Será que algum dos alunos dessa época se lembra?
Fica a pergunta que espero vários leitores possam responder. Entretanto, pedi ao João para escrever um pouco mais sobre as suas memórias de Macau na já longínqua década de1940-50.
(...) Entre 1947 e 1951 o meu pai foi Juiz de Direito da Comarca de Macau, depois te ter servido em anos anteriores em Moçambique e Angola. Passei aí uns tempos inesquecíveis, frequentando os últimos anos da primária no Colégio D. Bosco, que na altura estava nas instalações das Oficinas de S. José, situadas frente da Igreja de S. Lourenco, aonde ainda lá se encontram. O director, Padre Antonio Giacomino, um brasileiro paulista que ainda estava vivo há uns anos e o professor Padre Montini, italiano e sobrinho do Papa Paulo VI (Cardeal Montini) eram alguns dos docentes a que se juntava o professor de Inglês, Joe Thomson, um negro americano, antigo marinheiro que trocou a circum-navegacao pelos braços de uma chinesa de Macau, lançando ferro de vez no território...
O núcleo Lusitano era muito limitado, com a composição tradicional de metropolitanos que exerciam funções na então colónia e macaenses, sobretudo descendentes dos casamentos entre portugueses e chinesas, que por lá foram ficando e continuaram por várias gerações...
O Governador era o Comandante Albano de Oliveira, que com a esposa Maria Helena e filha Norma eram uma das famílias mais simpáticas dessa época. O comandante militar era o Coronel Cotta Morais, que mais tarde foi substituído pelo brigadeiro Bernard Guedes, que com a sua mulher Maria José e filha também Maria José, se não me engano, eram também uma simpatia. Voltamos a encontrá-los em Lourenço Marques (1951-1955) onde o Bernard Guedes foi Comandante Militar de Moçambique e mais tarde em Goa, onde foi Governador Geral.
O bispo de Macau era o D. João de Deus Ramalho, o Comandante da PSP Capitão Paletti, das Obras Públicas Poaires Baptista e o 'verdadeiro' governador de Macau era o Pedro Haydman Lobo, Director dos Serviços Administrativos e Económicos e a ponte de ligação entre as entidades públicas portuguesas com as chinesas...
Conheci-o muito bem porque frequentemente usávamos a piscina da sua casa chamada Vila Verde, que tivemos oportunidade de assistir a sua inauguração, integrando mais tarde a Rádio Vila Verde, já que o Pedro Lobo era chegado à musica e teatro, tendo levado à cena várias operetas nos jardins da casa, estreando numa delas uma das mais famosas cantoras chinesas da época chamada Dora Chi. Era um autêntico mecenas que gastava rios de dinheiro com orquestras (que dirigia...) e músicos e artistas...
Também nos encontramos várias vezes com alguns dos líderes da comunidade chinesa com Kou Ho Neng, Fu Tak Iam, Ho Hin, Sir Robert Ho Tung (que quando ia a Macau visitava o Colégio D. Bosco e eu era o encarregado do discurso de boas vindas em português, enquanto outros dois colegas apresentavam a tradução em chinês e inglês, tudo muito bem urdido pelos padres com o objectivo de sacar mais umas patacas ao generoso bilionário, tio do Stanley Ho...
(...) Gostava de destacar no período em que vivemos em Macau 1947-1951 os eventos ocorridos em 1949, com a chegada às fronteiras de Macau (Portas do Cerco) e Hong Kong (New Territories) do People's Liberation Army de Mao Tse Tung, da fuga das tropas do Koumitang de Chiang Kai-Check que pediram asilo a Macau e da reacção da população civil e militar, que tivemos a oportunidade de viver e testemunhar.
O texto do João Martins suscita muitos e interessantes temas e figuras da história de Macau. Sugiro novas leituras de apenas três. Para outras que v. possam suscitar interesse  aconselho a utilização do pcampo de "pesquisa" e/ou as tags/etiquetas.
Sobre o governador Albano de Oliveira 

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