segunda-feira, 30 de setembro de 2013

1979: fotos da família King

"I was working in Hong Kong and went over first for a weekend when we stayed at the Bella Vista. We then went again and stayed at the Pousada de Coloane. We loved Macau. It was far less hetic than HK." Chris King  / Copyright - photos

Vista sobre o Porto Interior
A China ali ao lado

domingo, 29 de setembro de 2013

Postal: "Negociante Chinez - Commerçant chinois"

Colecção Colonial - Marques Pereira & Pires Marinho
Colonias portug. - 31 / Macau - XXXI. Editado em Portugal ca. 1910 
(clicar para ver em tamanho maior)

sábado, 28 de setembro de 2013

Rua do Cerco


Nota: O título deste post engana. E são vários os motivos para isso. Primeiro porque a referida rua há muito que deixou de existir. Segundo porque o texto - uma fantástica recolha documental publicada no final da década de 1970 - fala essencialmente da  Porta (do Cerco) e não da rua. Deixo-vos com as palavras de Monsenhor Manuel Teixeira. Bom fim de semana!
Começava ao lado do Arco da Porta do Cerco e seguia paralela ao Istmo de Ferreira do Amaral, devendo ir a terminar, segundo o Cadastro de 1925, na Estrada da Areia Preta. A primeira parte desta via pública está hoje dentro do Aquartelamento da Porta do Cerco, do qual faz parte, e a segunda parte tem hoje o nome de Estrada dos Cavaleiros. Deixou, pois, de existir o nome de Rua do Cerco.
António Feliciano Marques Pereira, em As Alfândegas Chinesas de Macau, p. 24 e segs., informa que a primitiva Porta foi cons­truída em 1573: «Muitos escravos dos portugueses de Macau fugiam a seus donos e iam praticar roubos nas povoações da ilha de Hian Chan (Heung-Shan, hoje Chong-Shan). Este facto deu motivo, em 1573, à construção da muralha e barreira do istmo, a que os nos­sos ficavam chamando «Porta do Cerco» e os chinas «Kuan-Chap». Construída a «Porta do Cerco», foi acordado com os mandarins de Hian-Chan que ela se pudesse abrir somente dois dias em cada lua, que nesses dias os chinas fizessem mercado para os portugueses irem fornecer-se dos géneros que precisassem, que aos chinas fosse proibido entrar no estabelecimento e aos portugueses e mais es­trangeiros sair ao território chinês, e que a dita porta fosse guarda­da por soldados e um oficial chinês. Passados anos, e já depois existir o Senado, estabeleceu-se o mercado semanal, e o procurador recebia dos mandarins uma lista que designava os chinas a quem era permitido vir à cidade, continuando, porém, a ser proibido a todos habitar nela. Os que se encontravam sem licença, ou não mencionados na referida lista, eram presos à ordem do procurador como vagabundos. Afinal a Porta do Cerco passou a abrir-se todos os dias, o mercado internou-se e fixou-se: pouco a pouco, o zelo dos pro­curadores enfraqueceu, a brilhante e industriosa actividade chinesa insinuou-se, fez-se benquista, e foi construindo e multiplicando casas, lojas e oficinas».
A asserção de Marques Pereira de que a Porta do Cerco foi construída em 1573 tem sido seguida por todos os historiadores: mas o Ou Mun Kei-Leok (Monografia de Macau), a pág. 37, diz que foi no ano seguinte: «Os cumes de Chi’in-Sán enfrentam os cu­mes das colinas de Macau pelo lado sul e do mar. O norte do istmo é atravessado por um dique de areia de 10 lei (5,Km.36) de comprimento e 5 a 6 braços (21,m48) de largura. Na extremidade do istmo surge um monte que se desenvolve enroscando-se e forman­do como que o cálice de uma flor de loto. Este monte é conhecido por Lin-Fá-San (Monte de Loto). O istmo adoptou portanto o nome do monte. No 2.° ano do reinado de Man-Lek (1574) construiu-se uma barreira a meio do istmo e os guardas incumbidos de a abrir e fe­char edificaram residências na sua parte superior, as quais com o tempo ficaram arruinadas. No 12.° ano de Hon Hei (1674), o Magistrado Distrital, Sân-Leong-Hón, mandou repará-las e construir ao lado uma casa de governo para servir de alojamento aos que vigiavam os que passavam pela barreira». A mesma Monografia diz a pág. 89: «Pela barreira da Porta do Cerco se deixavam passar todos os anos uns poucos de séàks (72 quilos) de arroz e, para isso, era ela aberta seis vezes ao mês depois de ser conjuntamente inspeccionada pelas autoridades civis e militares».

Peter Mundy, que esteve em Macau em 1637, escreve: «Uma muralha entre os chinas e os portugueses; o fim a que se destina. A cerca de 3/4 de milha de distância, existe um braço estreito de terreno, que liga com o resto a parte da ilha onde fica Macau. Neste estreito local, está levantada uma muralha que se estende de mar a mar, numa extensão de cerca de meio tiro de espingarda. Na dita muralha existe uma porta ou passagem com guardas chinas, que nenhum português pode transpor sem licença especial. E os escravos, que planeiam fugir de seus senhores se conseguem transpô-la, ficam livres de ulterior perseguição, e não são poucos que o fazem. Estes guardas exigem e cobram alguns direitos da gente do interior que traz provisões, etc. E em certas ocasiões de descon­tentamento com os portugueses essa porta é fechada, sendo im­pedida pelos chineses toda a forma de provisões, que os portugueses recebem deles, como nos foi contado» (C. R. Boxer, Macau na época da Restauração (Macau, 1942), p. 72.
Lyunsgstedt escrevia, em 1834, no seu Esboço Histórico dos Estabelecimentos Portugueses na China: «No meio do muro há uma porta de comunicação, chamada a Porta do Cerco, guarda por alguns soldados e um oficial, para que nenhum estrangeiro possa passar além deste limite. No princípio, a porta, segundo Navarrete, era aberta só duas vezes ao mês; depois, cada cinco dias, para vender mantimentos aos degredados; agora abre-se ao romper da aurora».

R. Marim escreve em O renascimento do Município Macaense, 2.° Vol. p. 148-150: «Mas o desenvolvimento da população tais engulhos ocasionava às reacionárias autoridades cantonenses, que estas olvidando os valiosos serviços que anos antes lhes havíamos prestado, conseguiram em 1573 que o novo imperador (Van-Li) nos impusesse o pagamento anual de quinhentos taéis de foro pelo ter­reno que estávamos ocupando. Ao mesmo tempo, ergueram no istmo da península um muro com uma pequena porta abobadada ao centro, afim, diziam eles, de marcar o limite do território macaense. Era a Porta do Cerco que os chinas apelidam de Kuan-Chap, edificada pouco mais ou menos no local onde actualmente se encontra. Reparavam os mandarins, com certo receio, no crescimento da população. Sabiam, por observação direta, que os portugueses não se levavam de vencida com facilidade em combate franco e leal. A Porta do Cerco, com o rótulo de marco divisionário de fronteiras, servir-lhes-ia admiràvelmente para travar qualquer pretensão da nossa parte de nos tornarmos independentes da sua autoridade ou qualquer instinto nosso de lhes conquistarmos o poder. E tanto assim era que a Porta do Cerco, depois de construída, passou a abrir-se unicamente de quinze em quinze dias. De modo que, como, pela via marítima, os víveres de que neces­sitávamos estavam já sujeitos ao controle e às alcavalas dos vários mandarins do mar, nada podendo ser importado em Macau sem o respectivo salvo-conduto, a Porta do Cerco era o meio excelente de que eles se serviriam para subordinar o nosso estômago às suas exigências. Enquanto pagássemos o foro ao imperador (o que era uma insignificancia) e todas as contribuições que o vice-rei de Cantão e os mandarins de Hian-Chan nos lançassem (e a violência estava nisto), Macau teria arroz, carnes, hortaliça e todos os mais gêneros alimentícios de que necessitava para o seu consumo; no caso contrário, a porta deixava de se abrir (o que várias vezes sucedeu) e a população citadina correria o risco de morrer à míngua…
Vê-se evidentemente o fim a atingir com a edificação da Porta do Cerco: 1.° O estabelecimento de um único mercado onde os portugueses teriam de adquirir os gêneros de consumo em dias determinados pelas autoridades de Cantão; 2.° Tolher o desenvolvimento da progressiva Amacau com a proibição de nela entrarem os chineses que voluntariamente escolhessem a civilização moralizadora dos europeus de preferência à jurisdição venal das autori­dades do seu país; 3.° Impedir a penetração dos portugueses no seu território».
A 25 de Setembro de 1828, o mandarim da Casa Branca proibiu os chineses de atirar pedras às casas vizinhas do Forte de S. An­tónio e de cometer outros distúrbios para exigirem a abertura das Portas do Cerco antes do tempo determinado, as quais costumavam ser abertas às 5h. a. m. e fechadas às 20h., conservando-se as cha­ves em poder do Governo.
A Estrada das Portas do Cerco foi construída em 1875, segundo se lê no Boletim Oficial de 13 de Fevereiro desse ano: «Vão bastante adiantados os trabalhos da estrada das portas do cerco; já se pode passar de carro desde a rampa dos cavalheiros (aliás cava­leiros) até ao ponto em que a estrada se liga com a denominada do Coelho do Amaral, que vem a S. Antônio.»
A 18 de Março de 1928 foi inaugurada pelos governadores de Macau e Hong Kong, Artur Tamagnini Barbosa e Sir Cecil Clementi e autoridades chinesas a Estrada que vai das Portas do Cerco a Seak-Kei, com uma procissão de milhares de pessoas, que mar­charam da aldeia de Tch’in-San até Macau.
O actual arco da Porta do Cerco foi levantado para honrar a memória do Governador Ferreira do Amaral, a 31 de Outubro de 1871, durante o governo de António Sérgio de Sousa (1868-1872). Nele se lê esta inscrição: «A Pátria honrai que a Pátria vos contempla». O director das Obras Públicas, ten.coronel Francisco Jerónimo Luna, no seu relatório acerca das obras realizadas em Ma­cau, em 1871-1872, escrevia acerca do Arco das Portas do Cerco: «Obra construída segundo o plano que achámos delineado, tendo sido inaugurado o seu acabamento, por ordem do governo da colônia, no dia 31 d’Outubro (1871) anniversario natalicio de S. Magestade Fidelissima El Rei o Sr. D. Luis 1.° Este cerco construido no caminho principal, que de Macau segue a varias povoações chinas é dedicado á memória do benemérito exgovernador — João Ferreira do Amaral, á tomada de Passeleão, conforme se acha publicado no Boletim Official do governo n.° 44, de 30 do referido mez». 
Padre Manuel Teixeira in "Toponímia de Macau", CIT, 1979-1981

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Fábrica de cimento da Ilha Verde

Ainda a Ilha Verde não estava integrada na Península de Macau, ligação que ocorreu em 1890-92 por ordem do governador Conselheiro Custódio Miguel Borja quando, a 7 de Maio de 1886, o seminário de S. José realizou um contrato com o senhor Creasy Evens. Este inglês pretendia, numa parte da ilha, estabelecer a Companhia de Cimento da Ilha Verde, ‘Green Island Cement Company, Limited’; era a primeira existente na China. Após o Governo de Macau, em 13 do mesmo mês, ter passado o alvará de licença, publicado no Boletim Oficial n.º 20, de 20 do dito mês de Maio, ali ficou estabelecida a fábrica. Este contrato, em anos posteriores, sofreu alterações nas suas cláusulas, sendo também reconhecido pela P.P. nº 51 de 10-6-1889.
A 10 de Agosto de 1887, por se reconhecer operacionalidade na Companhia Industrial de Cimento na Ilha Verde é-lhe cometida a tarefa de extracção do lodo, que rapidamente se acumulava nos fundos do rio Oeste no Porto Interior. Tinha adjacente a produção de tijolos e cal e, para além de servir Macau, também exportava. Decaiu quando, cerca de meio século mais tarde, deixou de receber matéria-prima de Cantão.
Em 1911, dá-se início, pela Casa MacDonald, à abertura do canal entre a Rada e a Ilha Verde. Mas “além dessa importantíssima fábrica, propriedade de uma companhia inglesa, arrendatária, como já se disse, ao Seminário de S. José e licenciada legalmente pelo Governo de Macau e deste contribuinte e cujas instalações ocupam uma grande área da antiga ilha, nesta existem um destacamento militar, uma delegação oficial da Direcção das Obras dos Portos de Macau com os seus depósitos e pessoal, várias outras construções, parques de ostreiras pagando os seus impostos ao Governo Português, havendo também ali a indústria da exploração, já iniciada há muitos anos, de pedreiras de natureza granítica, com uma produção verdadeiramente apreciável, e para a exploração da qual é paga renda ao Seminário de S. José e são satisfeitos impostos ao Governo de Macau”. 
Breve Memória Documentada acêrca da Soberania de Portugal na Ilha Verde, do Governo da Província de Macau, (Imprensa Nacional, de 1922 Macau).
Nota do autor do blog: Este postal - imediatamente acima - foi editado no início do séc. XX e a julgar pela legenda seria de supor que retrata a fábrica de cimento da ilha Verde. Um olhar mais atento prova que não. Trata-se da Taikoo Sugarworks em Hong Kong. O erro deveu-se ao facto do postal ser impresso na então colónia britânica havendo uma troca de imagens. No postal acima pode ver-se o que foi a verdadeira fábrica de cimento da ilha Verde. Neste em baixo a fábrica de Hong Kong. O erro/lapso tem vindo a ser replicado ao longo dos anos e pode ser encontrado, p.e., no livro "Macau 1844-1974" na pág. 78. A imagem que se afirma ser da fábrica de cimento em Macau em 1920 é de facto a de Hong Kong. Estamos perante um erro que se perpetua há mais de cem anos...
 
Os terrenos conquistados ao mar em finais de década de 20 do século XX nos novos aterros do Porto Interior e exterior e na ilha da Taipa, numa superfície de quase 150 hectares, equivaliam a um terço da área da península de Macau nessa altura. Pelos aterros unira-se definitivamente à Ilha Verde a parte peninsular, a mesma ilha Verde onde já havia falido a empresa a que antes se vaticinara: “A fábrica de cimento, vasta, espaçosa, muito bem construída e movida a vapor, deve dar um excelente resultado, pois todo o cimento que se gasta no Oriente é importado da Europa. (...) além da fábrica apenas existe uma construção que pertence ao seminário. A ilha, ouriçada de penedos, de mato e de algumas árvores é tão pequena que essa volta se faz a pé em meia hora” .
Conde de Arnoso no livro Jornadas pelo Mundo.
Segundo Silveira Machado no seu livro Macau na Memória do Tempo: Em 1925 a fábrica foi transferida para Hong Kong e faliu em 1936. “Os quatro fornos de altas chaminés, a complicada maquinaria e todos os outros equipamentos e apetrechos desapareceram da extensa área que aquela unidade industrial ocupava.”
De acordo com o contrato, todas as construções, incluindo a residência do gerente, edificadas no terreno da Missão, juntamente com todos os edifícios levantados dentro dos muros da Ilha Verde, foram entregues ao Seminário. Também entregues foram o armazém de ferro fundido e os dois edifícios que serviam de secretaria da Companhia, que estão construídos uma parte sobre o terreno da Missão e a outra sobre terrenos conquistados ao mar. Após a Green Island Cement Company ter rescindido o contrato, o senhor L. R. Brown arrendou parte da Ilha Verde em 1937, ocupando algumas casas deixadas pela falida Companhia de cimento. Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau. “Depois da retirada deste arrendatário e dado o grande número de refugiados chineses devido à Guerra Sino-nipónica, as casas da Ilha Verde foram arrendadas a vários chineses para habitação, indústria, armazém e escolas. Parte está (1940) arrendada ao Governo.” Padre Manuel Teixeira
As residências dos proprietários e administradores passaram então a ser casas de férias dos alunos do Seminário de S. José. “O edifício que servia de secretaria da Companhia (do cimento) foi aumentado com 45 quartos pelo bispo D. Paulo José Tavares, servindo de Casa de Retiros”, segundo o padre Manuel Teixeira.
Os militares militares na Ilha Verde
Devido ao facto de a Ilha Verde ser o único ponto saliente no curso do rio, por onde todas as embarcações teriam de passar, esta foi aproveitada para baluarte de defesa da fronteira.
O padre Manuel Teixeira escreve em 1940: “Hoje parte da Ilha Verde está alugada ao Governo da Colónia, que ali tem um pequeno destacamento de soldados, os quais escavaram trincheiras, fizeram campos de jogos, caramanchões, etc.”
Para a Ilha Verde foi enviada em 1949 uma companhia militar do exército português e durante a Revolução Cultural vedada aos civis, deixando os alunos do Seminário de irem aí fazer os seus retiros, para que os militares vigiassem as movimentações da parte chinesa. A residência de férias e de retiros, na costa sul da ilha, logo à direita da entrada do portal em arco, serviram depois, em 1962/3 para aquartelar a Companhia Independente de Caçadores nº 3. Em 12 de Maio de 1953 realizou-se a festa de Nossa Senhora de Fátima no Aquartelamento da ilha Verde, havendo a inauguração de um altar-gruta.
Segundo o professor Jorge Cavalheiro, durante o período da Revolução Cultural, a ilha Verde era um local militar, estando vedado à entrada de civis. Por isso, os retiros que os estudantes do Seminário até então faziam, deixaram-se de se realizar. Os militares nas vigias que em torno da ilha se encontravam observavam os descampados do território chinês de Zhuhai. O exército português saiu de Macau no fim do ano de 1975.
Artigo da autoria de José Simões Morais publicado no JTM de 2-9-2011

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Miguel Machado, um mercador do século XVII


Mercador estabelecido em Macau na primeira metade do século XVII, Miguel Machado encontra-se referido na «Lista De La gente Efetiua que Ay Em esta Ciudad Assy Visinos Como Estrauagantes forasteros E gente De lla tierra» de 1625, como sendo residente na freguesia da Sé. Em 1633 foi nomeado Juiz, juntamente com António Rodrigues Cavalinho, pelo Desembargador Sebastião Soares Pais.
Desempenhou o cargo de Procurador em 1633 e 1636, e integrou o círculo de Eleitos e Adjuntos na década de trinta de Seiscentos. Tendo feito parte da elite do poder, riqueza e saber, foi familiar do Santo Ofício desde pelo menos 1636. Participou no debate de 1631-1636 em que se discutiu o novo tipo de eleição do feitor da viagem do Japão imposto pelo Vice-Rei Conde de Linhares, segundo proposta do Desembargador Sebastião Soares Pais. Em 1642 foi, juntamente com o seu cunhado Dâmaso Correa e D. Francisco Castelo Branco, apoiante dos Comissários do Santo Ofício de filiação jesuíta, padres Gaspar Luís e Gaspar do Amaral, nas contradições ocorridas entre estes e o Governador do Bispado frei Bento de Cristo. Encontra-se entre os signatários do Termo 31 de Maio de 1642 aquando da aclamação de D. João IV em Macau. Entre 1645 e 1646, participou no debate que ocorreu sobre o envio de uma Embaixada ao Japão, tendo-se mostrado a favor. Na década de 1640 tinha uma estadia de cerca de trinta e dois anos em Macau.
Bibliografia:
Charles Boxer - Macau na Época da Restauração, Lisboa, Fundação Oriente, Vol.II, 1993. Miguel Rodrigues Lourenço - O Comissariado do Santo ofício em Macau (c.1582-c.1644): A Cidade do Nome de Deus na China e a articulação da Periferia no distrito da Inquisição de Goa, Universidade de Lisboa (dissertação de mestrado), 2007.

Elsa Penalva - Lutas pelo Poder em Macau (c.1590-c.1660), Universidade de Lisboa (tese de doutoramento), 2005.
Idem, «Elites Mercantis de Macau de 1642», Edição conjunta do Centro Científico e Cultural de Macau e do Centro de História de Além-Mar da Universidade Nova de Lisboa do bulletin of Portuguese/Japanese Studies, 2008.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Miradouro de Santa Sancha: antes e depois

 A zona conhecida como Sam Ka Tchun na década de 1950 e actualmente.
um hiato de 60 anos
Foto actual cedida por Willis Chan e a de 1950 por JD

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Quem se lembra e quem não nas ruas de Macau

Macau foi sempre um território constituído por uma esmagadora maioria de chineses de fé budista nas suas diversas formas. A população católica não vai além dos 25 a 30 mil fiéis num cômputo total de meio milhão de almas, ou seja, uma gota católica que se perde num mar ou, pelo menos, num grande lago budista e taoista. No entanto, qualquer estudioso do futuro que se debruçasse sobre a toponímia da cidade e das ilhas, sem se rodear das necessárias precauções, seria levado a pensar precisamente o contrário.
De facto, quanto a padres, bispos, e irmãs da caridade, não parece haver cidade que tanto tenha preservado os seus nomes como Macau. Sobre o que fizeram, pouco se sabe em concreto, para além do facto de terem sido de facto padres, freiras, bispos e cónegos.
Tal é o caso do Padre António (António José da Costa) que para além de “administrar bem os dinheiros de vários fundos e legados que lhe tinham sido confiados”, nada mais terá feito de importante para merecer a posteridade. Mesmo assim teve direito a uma rua inteira.
Camões administrou também os dinheiros de vários fundos e legados, como Provedor dos Defuntos e Ausentes se é verdade que alguma vez ocupou tal posto. Eduardo Ribeiro, por exemplo, assevera que sim em dois livros e artigos impressos em revistas de grande valor cultural no mundo lusófono dados há não muito tempo à estampa. Mas seria profundamente duvidoso que o seu eventual zelo contabilístico lhe concedesse direito ao jardim que ostenta o seu nome, se não possuísse os outros dotes pelos quais ficou imperecível na história. E assim ficou para a tradição portuguesa o “Jardim de Camões” e para a chinesa o “Jardim das Pombas Brancas” (Pack Hap Chau).
Quanto ao padre Vasconcelos (António Maria Augusto de Vasconcelos), os créditos são ainda menores, do que os do seu confrade António, constando apenas ter pregado gratuitamente a oração fúnebre de D. Pedro V. Cinquenta anos antes, o frade António de S. Gonçalo de Amarante pregou a oração fúnebre de D. João VI igualmente gratuita. Mas, para além de não lhe terem sequer concedido um beco ainda o levaram preso a ferros para Goa. No entanto este frade (prior dos Dominicanos) foi o autor do primeiro jornal português do Extremo Oriente (“A Abelha da China”), facto que por si só teria merecido justo reconhecimento se não se tratasse de um liberal “contaminado” pelas ideias subversivas da Revolução Francesa, ou se em vez de ter sido superior da ordem espanhola fosse reitor dos franciscanos, confraria mais adequada ao nacionalismo luso e menos eivada de fumos castelhanos, ou então se fosse jesuíta. Mas, certo é que Vasconcelos teve direito, a uma rampa, enquanto o frade liberal (e provavelmente “pedreiro-livre”), Frei António de S. Gonçalo, perdeu-se na história apenas com o epíteto de “malhado” sem rua nem beco, nem pátio sequer.
A caminho do Farol da Guia
No que se refere ao jesuíta Roliz (António José Gonçalves Roliz), já se conhece mais alguma coisa. Formado pelo seminário local (S. José), partiu para a Europa a fim de repetir os cursos de filosofia e teologia, voltando à Ásia para leccionar em Cochim (Índia), missionando posteriormente na cidade chinesa de Shiu-Hing, antes de terminar os seus dias em Macau como perfeito, professor e director espiritual do seminário, promovendo aqui o culto de Nª. Sª. de Fátima. Teve, por isso, direito a uma rua.
No que se refere ao padre Narciso (Narciso Firmiano) nada há que justifique os gastos de uma placa ainda que em simples azulejo, nem a sobrevivência da memória, tendo em conta que os autos biográficos oficiais referem apenas ter sido criado de um francês chamado Molinau que era piloto de uma chalupa pertencente ao rico comerciante António Correia de Liger e, mais nada. Sendo assim, não se encontra explicação capaz para a sua perpetuação, já que nem Molinau nem Liger (Liger talvez merecesse, mas não cabe aqui fazer a sua história) figuram em parte alguma como particularmente lembrados por pensamentos, palavras, ou obras como diria a Igreja. O facto de ter falecido na dignidade de cónego não consegue, mesmo assim, resolver o enigma, tendo em conta que os cónegos foram pelo menos mais de uma centena ao longo da história de Macau e pouco se sabe sobre o que tenham feito de relevante fora de portas do Paço Episcopal.
O mesmo se pode dizer do padre Soares (Luís Soares) que também não possui biografia própria. Segundo Mons. Manuel Teixeira, este sacerdote, era “filho de Francisco Xavier Placé Soares e de Ângela Vicência Osório Soares, tendo um irmão, Matias da Luz Soares que casou com Júlia de Vasconcelos, filha de António José Vasconcelos, natural de S. Miguel, nos Açores e de Júlia Maria Cândida de Castro...” Convenhamos que, se trata de um currículo manifestamente insuficiente para lhe conceder quaisquer direitos, mesmo que a uma travessa. Quem teria sido este padre do qual consta apenas a biografia dos seus parentes?
Cruzamento da rua do Campo com a rua da Praia Grande
No caso de Madre Terezina (Maria Teresa Lucian), já a posteridade se justifica plenamente. Desde que fundou o convento das irmãs Canossianas no Território, distinguiu-se imediatamente, por ocasião do surto de “cólera morbus” que afectou Macau em 1888, auxiliando os doentes e também o Dr. Gomes da Silva, cirurgião-geral que se “matou” a trabalhar lutando contra as infecções e o maioritário preconceito que na cidade rejeitava a medicina ocidental. Vencida a crise, Madre Terezina fundou e desenvolveu colégios, voltando a distinguir-se na luta contra novo surto de peste dez anos depois (1898). Entre crises, ergueu asilos e estendeu a acção das Canossianas a Singapura e a Malaca, ganhando assim com mérito os créditos necessários a fim de poder figurar na panóplia dos heróis e heroínas locais com todo o valor. Acho que, neste caso deveria ter direito a, pelo menos, um bonito jardim, ou alameda com árvores frondosas e crianças a brincar, mas enfim... a história às vezes é ingrata e a Madre Terezina ficou-se por uma rua traseira o que é pena, em minha opinião!...
Edifício no nº 15 da rua Madre Terezina
No que toca a prelados, muitos ficaram esquecidos nos recônditos dos séculos, outros não. Da justiça, ou injustiça das homenagens toponímicas não nos compete julgar, mas apenas assinalar que, por exemplo, D. Melchior Carneiro, esse bispo esclarecido do século XVI, o mesmo que para além de construir a primeira Misericórdia e o primeiro hospital e lançar as bases da organização política da cidade consubstanciadas no antigo Leal Senado, actual IACM, apenas teve direito a nome numa discreta rua das traseiras das ruínas de S. Paulo, num sítio onde poucos peões frequentam a passagem, a não ser os moradores e os que vão à missa, ao sábado, ou domingo à Igreja de Santo António.
Mais de trezentos anos depois, já que o cadastro de 1869 não o refere tendo sido perpetuado apenas no censo cadastral de 1925, D. Melchior, ainda que permanecendo na memória das conservatórias, da “Santa Casa da Misericórdia” e do “Arquivo Histórico”, ali ficou lembrado, mas foi praticamente eximido da toponímia. Desgraçado, jesuíta a quem Macau deve os alicerces da sua existência política de mais de quatro séculos mas, o qual a posteridade avara negligenciou negando-lhe a honra merecida de uma avenida, ou pelo menos de uma rua principal, ou de uma grande praça.
A rua de S. Paulo em 1965
Rua Padre António Roliz. Década 1960
Mas, ainda no que se refere a bispos, as injustiças são evidentes. De todos os prelados de Macau (e foram alguns os recordados) ficaram apenas o bispo Enes, um franciscano doutorado por Coimbra, par do reino e comendador da Conceição, que dirigiu a diocese local entre 1877 e 1883, sendo depois transferido para Bragança e também o Bispo Medeiros. O primeiro foi mesmo considerado um dos maiores prelados da diocese (ainda que não se saiba lá muito bem porquê). Ambos conquistaram duas ruas. D. João Paulino, fundador do Boletim Eclesiástico da Diocese, perpetuou-se, por seu turno, numa estrada ainda que deveras íngreme.
D. Jerónimo José da Mata, fundador da ideia do iberismo, talvez por isso, apesar do que fez e foi muito não só em Macau, mas também em todo o sudeste asiático, pelo catolicismo, esfumou-se nas brumas do tempo sem direito a memória a azul e branco em qualquer placa de azulejo que eu saiba, ou tenha visto (se calhar existe, mas não reparei nas minhas deambulações pela cidade).
Esquecido ficou também, em parte, o maior de todos os bispos de Macau depois de Melchior Carneiro, que foi D. José da Costa Nunes. Esclarecida personalidade, D. José, para além de ter dinamizado a vida religiosa, social e cultural de Macau nas primeiras décadas do século XX atingiu as mais altas honras da Santa Sé. Seria o sucessor de Pedro Hispano (Papa João XXI - 1276-77 - o único Papa português) se a morte não o tivesse levado prematuramente. No entanto, esta figura ímpar, de Portugal sobre a qual também há uma biografia por fazer não teve direito a quase nada, figurando apenas no pórtico de um infantário que esteve em risco de ser deitado abaixo há poucos anos por “ignorância dos povos” como diria o poeta e prevalência do camartelo do progresso e ganância da construção civil.
Que razões misteriosas levaram a toponímia macaense a esquecê-lo assim? Talvez um dia se saiba, embora antes de morrer o próprio bispo tenha queimado, todo o seu acervo de documentos pessoais. Que segredos pretenderia esconder este homem superior, magnânimo e esclarecido? Possivelmente terá apenas querido preservar a sua memória impoluta da incompreensão dos vindouros.
Traseiras das ruínas de S. Paulo
Passem as injustiças conclui-se todavia que a toponímia macaense regurgita de bispos, padres e freiras. No entanto, apesar da antiguidade da religião budista, do facto do templo da Barra ser anterior à chegada dos portugueses e de os pagodes se contarem por mais de uma centena na cidade e ilhas a toponímia macaense soberanamente decidiu ignorar esta fatia maioritária. É assim que, apesar de existir o Largo do Pagode da Barra, ou a recentíssima rua do Kun Iam Tung, não existe em Macau uma única via, nem um esconso beco que tenha merecido o nome de um monge budista de renome histórico. Em quatrocentos anos, não é crível que pelo menos um ou dois não tenham merecido ficar perpetuados. Chega-me notícia de que agora já constam alguns nomes dos seguidores de Buda na toponímia de Macau. Ainda que embora poucos. Ainda bem que assim é, mas falta divulgar o que fizeram tanto em chinês como em português.
Artigo da autoria de João Guedes publicado no Jornal Tribuna de Macau a 11-05-2011
Uma travessa na San Ma Lou

domingo, 22 de setembro de 2013

Selos: anos 30, 40 e 50

1952
1938
A mais provável explicação para que um selo (década 1940) com valor facial de 5 patacas se tenha transformado em apenas '20 avos' poderá estar nos anos da guerra (1939-1945) altura em que a circulação de correio foi bastante afectada. Outra explicação poderá ser o terem-se esgotado os selos de valores inferiores e como não chegaram novos 'stocks' teve de se utilizar os de maior valor fazendo uma correcção no valor a posteriori.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Travessa da Paixão - 戀愛巷

Não deve ter mais de 30 metros de extensão esta travessa que começa na rua de S. Paulo (entre os nºs 31 e 33) e acaba na rua da Ressurreição, na escadaria que dá acesso às ruínas de S. Paulo (e ao templo Na Tcha virando à esq) e ao Largo da Companhia de Jesus (virando à direita). Fotos (acima) de Pedro Cortes.
'Viajando' até à época da construção das ruínas percebemos que descendo por esta travessa num instante estaríamos no Porto Interior.
Segundo Monsenhor Manuel Teixeira a travessa "foi, felizmente, consertada pelas Obras Públicas, em meados de 1961" e, como se verifica nesta imagem, foi também 'consertada' no final da década de 1990. A origem do nome desconheço e nem na "Toponímia" aparece uma explicação. Através de um postal dos primeiros anos do século XX percebe-se que, também aqui, a cerca que rodeava toda esta zona gerida pelos jesuítas (horta, colégio, igreja, etc) tinha uma porta. Num documento do século 17 pode ler-se “A cerca do Colégio fez a mesma cidade, para porem ali em salvo suas mulheres e filhos, vindo, como se temia, naus holandesas, por naquela cidade não haver fortaleza”. A fortaleza do Monte foi construída depois.
Comparando este postal do início do séc. XX com a imagem do início do século XXI verifica-se que no espaço de 100 anos a Travessa da Paixão mudou de fisionomia: ao fundo ainda se vê parte da cerca que circundava a igreja e que tinha diversas portas de acesso (aqui era uma delas). Do lado esquerdo os prédios 'ganharam' mais um piso enquanto do lado direito foram totalmente reconstruídos e 'avançaram' pela travessa adentro tornando-a mais estreita e tapando a vista sobre o que resta da antiga igreja.
 Fotos de JB tiradas em 2009
Década 1970-80
Foi com este post que se iniciou no dia 19 de Setembro último a publicação de uma coluna semanal (às quintas-feiras) intitulada "Macau Antigo" no Jornal Tribuna de Macau.