segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Catálogo "Macau" na Expo Sevilha 1929

Também conhecida na época por Exposição Ibero-Americana de Sevilha. No mesmo ano realizou-se um certame semelhante em Barcelona. Portugal esteve representado e Macau também com um pavilhão independente. Era gov. Tamagnini Barbosa que relegou para o Comandante Jaime do Inso a propaganda da presença macaense. Da comissão executiva da delegação de Macau fizeram parte o engº Carlos Alves,o capitão Jacinto de Moura e o Dr. Félix Horta que ficou encarregue de traçar o perfil do pavilhão. Viria a ter o perfil de um pagode com uma entrada semelhante à de Ma Kok Miu (o da Barra). No interior replicaram-se diversos motivos dos demais templos do território. O comércio local empenhou-e seriamente no projecto que serviu de montra para o que de melhor se produzia no território naquela época (panchões, cimento, mobiliário, tabaco, peixe seco, etc.).


 “... Macau é a menos extensa colónia portuguesa, mas decerto a mais bela”.
                 Ernesto de Vasconcellos, monografia sobre as colónias portuguesas, 1929 
De seguido publico um excerto de um texto escrito cerca de 1928 e publicado em 1929 para distribuição na Exposição Portuguesa de Sevilha da autoria de Ernesto de Vasconcellos.

“Fomos sem dúvida o povo do Ocidente que primeiro se fixou na China, onde, por serviços prestados na repressão da pirataria, nos foi dada na península de Ngáoman um ponto de apoio para o nosso comércio. Fixados aí, dentro de alguns anos, se criou uma colónia que ia prosperando gradualmente, até que por fim o direito consuetudinário e a nossa crescente acção tornou a colónia pertença da coroa portuguesa e domínio da Nação, como reconhece o tratado de 1887. Não devemos fazer aqui a história de Macau, mas somente diremos que esta colónia se tornou florescente graças à sua situação geográfica na costa sueste da China.
Como o nosso domínio estivesse firmado e o comércio por ali se fizesse com o sul da China, fomos os primeiros, para facilitar a navegação, que ali montámos um farol de costa, no local onde ainda se levanta o farol da Guia, que domina a Rada ou porto exterior de Macau. Pouco a pouco o estabelecimento de Macau foi crescendo, para se converter numa das mais belas cidades do distante Oriente.
Rivalidades, ambições e intrigas alheias dificultavam, por vezes, a nossa acção em Macau, onde a jurisdição portuguesa se estendia por todo o porto interior e pelas ilhas vizinhas. Taipa, D. João, Coloane, Vongcam e encosta oriental da Lapa subordinavam-se à acção portuguesa, mas razões ocultas da ordem acima apontada, perante a China, sobretudo junto do Vice-Rei de Cantão, perturbavam constantemente a tranquilidade, de sorte que, ao fazer-se o tratado de 1887 com a China, não foi possível fixar-se positivamente a jurisdição de Macau, de sorte que a nossa ocupação efectiva reside na península, nas duas Taipas e Coloane, mantendo, porém, direito aos outros pequenos territórios, onde possuímos alguns estabelecimentos humanitários. Seja como fôr e apesar de tudo, Macau é a menos extensa colónia portuguesa, mas decerto a mais bela.
Perante os nossos direitos seculares mantemos na China uma posição especial, sem por forma alguma termos quaisquer ambições que não sejam as do desenvolvimento crescente da nossa colónia, cuja posição geográfica, no complicado Delta do Tigris, é para Portugal uma garantia da nossa manutenção sem que nos intrometamos na política do Extremo Oriente, mas defendendo tam somente a nossa autonomia ali. Pena é que a jurisdição portuguesa de Macau não tenha sido ainda definida por instrumento diplomático bastante e que até perdêssemos uma oportunidade para o fazermos.”
Geografia
“É na Ilha Hianchang, entre o rio de Cantão e o de Oeste, na pequena península de Ngáoman, que está situada a nossa colónia de Macau, cujas coordenadas, referidas ao farol da Guia, são 22º 11’ 45’’ N. e 113º 33’ 24’’ E. Greenwich. As suas dependências, além do porto interior com a sua Ilha Verde, consistem nas duas Ilhas da Taipa e na de Coloane. Mantemos também direitos de soberania, como já aludimos, à parte oriental da Lapa, à Ilha de D. João e à parte norte de Vongcam, que reivindicamos perante a China, sendo questão que se pode considerar ainda pendente. A península de Macau tem de comprimento máximo 4.400 metros sobre 1.680 metros de largo e é toda ocupada pela cidade, capital da colónia. A superfície da parte ocupada da península com as Ilhas da Taipa e Coloane é de 10 quilómetros quadrados, dos quais 3k2,23 pertencem propriamente à cidade, onde existem bons edifícios e magníficas ruas. Alguns outeiros, que de permeio se levantam, são coroados por fortalezas para sua defesa.
Hoje, porém, devido às grandes obras de construção do porto exterior, olhando sobre a vasta Rada, e pelos aterros e muros de cais que envolvem a pequena península, a superfície da colónia elevou-se cerca de um terço do que antes era, embora por meios artificiais. Regularizou-se a margem que olha para as obras empreendidas, conquistando-se terrenos que têm grande procura, não só para as instalações do porto, como para estabelecimentos industriais e depósitos de vária ordem. Os acontecimentos de Cantão e a guerra entre os sudistas e nordistas têm chamado a Macau um aumento da população, que de 83.984 que era em 1920, deve ser actualmente de mais de 100.000 habitantes, em que figuram cerca de mil portugueses da metrópole, sem contar a força militar.
O porto de Macau é entre a cidade e a Ilha da Lapa a oeste, mas os envazamentos têm-no prejudicado. Os maiores fundos encontram-se do lado dos cais da cidade e formam aí como que uma cala de pequena largura. É muito frequentado pelos juncos da praça comercial de Macau e dos portos vizinhos.
Entre a península e a Ilha da Taipa fica um vasto espaço que constitui o porto exterior, ou Rada de Macau, também bastante assoreada e onde actualmente se tem dragado um canal para facilitar o acesso ao porto acabado de construir. Como para a Índia, não há navegação regular nacional para Macau. As comunicações com esta colónia fazem-se, porém, facilmente por intermédio das companhias marítimas estrangeiras. Macau é servida por uma estação do cabo telegráfico submarino, que se liga a Hong Kong e consequentemente à rede geral do globo, e pela telegrafia sem fios.
O regime atmosférico regula-se pelas monções de nordeste e de sudoeste, sendo nesta que caem as chuvas, abundantes de Maio a Agosto. Nos meses de Março a Maio é que a humidade mais se faz sentir. A temperatura média é de 22º,9 e a humidade 79º,2. Os meses mais quentes são Julho e Agosto. Os tufões do Mar da China afectam por vezes Macau, onde têm causado prejuízos. Caem ordinariamente nos meses de Junho a Outubro. A chuva média é de 2.000mm,6”. 

Informações adicionais neste post
http://macauantigo.blogspot.com/2009/05/exposicao-ibero-americana-de-1929.html

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