domingo, 30 de setembro de 2012

Macao: a picture book... por Harry Redl



É um livro recheado de fotografias de Macau do final da década de 1950 e início da de 1960. Foi editado em 1963 pela Dragonfly Books de Hong Kong. As fotos são de Harry Redl. Só a capa é a cores e retrata um arco comemorativo no Leal Senado. 100 páginas. Uma edição muito valiosa e rara de encontrar. A que possuo adquiri recentemente em França.

HR was born in Vienna in 1926, served during the war with the German navy in the Baltic Sea, and was captured by the Americans in 1945. He spent a year working as an interpreter for Canadian forces. In 1950 he emigrated to Canada, taking various jobs in Vancouver as a waiter, logger, and shipping clerk. A friend brought him a Rolleiflex in 1952, and that started him on his photographic career. In 1956, passing through San Francisco enroute to Mexico City, he was electrified by the flourishing literary and art scenes and returned for a 3 year stay. 
Estação de Jerinxás no Largo da Companhia de Jesus
Autoretrato: década 1950-60
Vista a partir do Farol Guia
In 1961 he shipped out to Hong Kong on what began as a vacation and turned out to be six years of work covering the Vietnam war, Communist uprisings in Indonesia, and events in Laos, Cambodia, and China. In 1967 he returned to Vienna for a year and then to Phoenix for the next seventeen years. He now lives in Vancouver, Canada.



a despedida de Harry Redl de Macau: foto área com vista sobre a península de Macau

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Festa da Lua

Gift certificate of Hin Kei bakery, famous for moon cake, wedding pastries and other goodies in old Macau.
Cupão de oferta da pastelaria Hin Kei, conhecida pelo 'bolo lunar' e demais doçarias para casamentos e épocas festivas em Macau de antigamente.
Por esta altura os chineses celebram o chamado T’Chang-Chau-Chit isto é o décimo quinto dia, do oitavo mês lunar, marcando o equinócio do Outono, que significa o fim das colheitas. Esta Festa da Lua é tb conhecida por Pat  Iut Sap Ng ou Bate-Pau (alusão à forma como os bolos eram introduzidos nas formas). A este propósito recordo um texto de Leonel Barros e deixo uma sugestão aos que queiram provar os bolos. Devem ser sempre acompanhados de chá (sem açúcar)!
"A Lua, segundo a opinião dos chineses, nesse dia, encontra-se mais redonda e mais brilhante. Reza a filosofia oriental que, nesta altura do ano, a harmonia dos elementos do yang e do ying, respectivamente masculino e feminino, começa a alterar-se, pendendo para o feminino. A essência do yang, começa a enfraquecer-se com o tempo do Verão, sendo a altura do ying exercer o seu domínio até final do Inverno, quando esse cede lugar à energia do renascimento, na Primavera.  A Lua redonda e luminosa simboliza a feminilidade e união familiar. Era costume, antigamente, familiares afastados regressarem ao lar para celebrar essa festividade da mesma forma como faziam com a passagem do Ano Novo Lunar.
São os deuses que determinam a curva da existência de todo o chinês e por isso, é da maior conveniência e utilidade estar em boas relações com eles, oferecendo-lhes ricos presentes, humilhando-se diante dos seus rostos severos e queimando em seus altares pivetes e velas, para que eles façam prosperar as suas vidas e os seus haveres. Essa tradição, essencialmente religiosa, vai passando de pais a filhos, como uma herança de família que é necessário conservar rigorosamente em todas as suas praxes.
Assim se explica o facto do novo povo chinês viver ainda agarrado a uma tradição de milénios e celebrar todos os anos, como o fazia há milhares de anos, todas as suas festas subordinadas ao calendário do ano lunar. A mais importante, porém, a mais típica, é talvez ainda a festa do Bolo Lunar cujo nome vem dos característicos bolos, que, nesta ocasião e conforme determina o rigoroso código de etiqueta chinesa, se permutam entre parentes, amigos e conhecidos. Metidos, quatro a quatro, em caixas de papelão, cuja tampa representa um motivo das várias lendas que se contam acerca da invenção e criação deste bolo, saem das pastelarias da especialidade, em grandes quantidades para irem deleitar o paladar dos convivas, em reuniões familiares ou de carácter social.
Estas reuniões constituem a forma mais expressiva de celebrar esta festividade. As reuniões familiares, geralmente realizadas nas varandas ou nos terraços voltados para a Lua, iluminadas apenas por lanternas cujas silhuetas, projectando-se nas paredes produzem um efeito estranho e exótico, destinam-se sobretudo a proporcionar a todos os membros da família alguns momentos de alegre confraternização.
As mulheres e raparigas põem todo o seu cuidado nas oferendas que fazem visto que sendo a Lua o símbolo do propício feminino, dela depende toda a sua felicidade.
Entre as ofertas à Lua não faltam nunca as frutas de forma arredondada, e por isso, as toranjas, as carambolas, os diospiros, as maçãs e as laranjas são muito procuradas apesar do seu elevado preço, por não serem frutas da estação. Além das frutas, nota-se também a presença da castanha aquática leng-kock, porque tendo a forma muito parecida com o morcego chinês, é considerada um emblema de felicidade.
Antigamente, uma das características destes reuniões era a presença dos músicos cegos que entretinham as pessoas presentes.
Os chineses põem sempre um esmero especial na ornamentação, pois consideram-na de grande importância nesta festividade. Basta observar as suas moradias, as lojas comerciais, os clubes ou recintos públicos. Nas casas de habitação esse trabalho é confiado à habilidade e bom gosto das filhas mais velhas, orientadas pela mãe. Nas lojas comerciais são os empregados os responsáveis pela ornamentação. Constituem motivos de ornamentação, as lanternas chinesas sá-tang, de formas e feitios variados e de muitas cores, em que predomina o vermelho, as borboletas que são o símbolo da longevidade e as lagostas que dão alegria e tornam-nos resignados com a nossa sorte, meios de fortuna e condição social. Os alunos das escolas ornamentam as classes com lanternas em forma de carpas e peixes dourados, que são animais que servem de estímulos nos estudos.
Esta festividade é também celebrada com muita pompa e rigor pelos camponeses, pois tendo terminado as colheitas, coincide a mesma, com um longo período de descanso. Os plantadores de arroz, aproveitam esta ocasião para prestar o culto ao Deus dos Campos, a cuja benevolência devem a sua prosperidade.
Em Macau são as crianças que mais apreciam a festividade. Qualquer criança, seja ela filha dum rico ou pobre, traz consigo nesse dia a sua lanterna para iluminar a noite, passeando-se orgulhosamente pelas ruas, parques, jardins e praias. As lanternas aparecem em todas as formas que o artista consegue inventar e enchem-se as papelarias situadas na Rua dos Mercadores. São coelhos, Fénix, borboletas, peixes, caranguejos, lagostas, macacos, frutas exóticas, etc.
Lanternas: década 1970
Em Macau existem várias casas onde o bolo bate-pau é confeccionado, sendo a mais conhecida a chamada In-Hor, estabelecimento antiquíssimo com duas entradas, sendo uma na Travessa do Soriano e outra na Rua dos Mercadores. Este tipo de bolo é preparado nesse estabelecimento e seguidamente exportado para o Canadá, S. Francisco e Taiwan.
Servindo-se dum pau com formato dum pequeno remo com uma altura arredondada, mete-se nela a massa de farinha e os recheios, carregando seguidamente com a palma da mão para comprimir bem; e em seguida, bate-se o pau com força sobre a mesa, a fim de fazer expelir o bolo que depois é levado ao forno para ser assado. Uma vez pronto, o bolo apresentará uma crosta acastanhada dourada. Os bolos mais saborosos e caros são os que possuem o recheio com sementes de uvas, acrescentando-lhes duas ou três gemas de ovo salgado. Várias e interessantes lendas estão ligadas a esta festividade e a mais conhecida de todas é a que a seguir vamos descrever:
Conta-se que em tempos idos, governava uma das mais importantes cidades da China Central, um homem muito cruel, avarento e sanguinário, que tinha à sua disposição um regimento de informadores de tudo quanto corria pela cidade. Esses informadores, para o alegrar, não hesitavam em contar histórias sobre certos indivíduos, honestos cidadãos que nenhuma culpa tinham. As suas cabeças eram roladas na praça pública.
Tinham como acusação, que andavam a preparar uma rebelião ou tramando a sua morte. Essas medidas de déspota, traziam em sobressalto constante a pacífica população até que, num lindo dia de Outono, apareceu na cidade um homem com cerca de quarenta anos, que captou logo a admiração e simpatia das pessoas com quem falou, devido aos seus modos afáveis e conhecimentos demonstrados nas suas palavras de homem culto.
Fabrico de bolo lunar em Macau na década de 1970
Andou pela cidade durante vários dias a fim de se inteirar, sobretudo nos bairros circunjacentes, da condição das classes pobres, abrindo uma modesta casa de pasto perto da praça pública.  Tal foi a enchente de gente a saborear as iguarias da nova casa de chá, destacando-se os comerciantes mais ricos e de maior influência da cidade, que o governador para lá mandou os seus informadores de confiança para descobrir o que se estava a passar.
Não havia dia em que dezenas de cabeças de indefesos não rolassem por terra. Essas cabeças eram colocadas sobre um enorme estrado na praça pública, a fim de meterem medo à população. Tal foi o receio da população que foi necessário o dono da casa de chá, aquietá-los na certeza de que melhores dias chegariam muito em breve.
Resolveu então confeccionar um tipo de bolo saborosíssimo que seria oferecido a todos os residentes da cidade, mas com a condição de só poder ser comido no décimo quinto dia, da oitava lua, quando os relógios batessem meia-noite. No interior de cada um desses bolos havia uma mensagem para o início duma revolta. No dia indicado chegou finalmente o dia da libertação e todos os homens válidos fortemente armados de paus, tochas e lanternas compareceram na praça pública, a fim de enfrentarem tais informadores. Apanhados de surpresa, nada puderam fazer contra a força esmagadora da população inteira que de há muito esperava que alguém soltasse aquele grito de revolta e de libertação. A cabeça do governador e dos seus informadores rolaram pelas escadas do palácio. A população cheia de alegria foi buscar o dono da referida casa de chá para lhe entregar o governo da cidade, mas não foi possível encontrá-lo. O seu nome ficou na memoria de toda a população como símbolo de valentia em defesa dos humildes."
Artigo da autoria de Leonel Barros publicado no JTM em Setembro de 2008  

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

1º centenário do Farol da Guia: 24 Set. 1965

Postcard celebrating first centenary of the Guia Lighthouse, 24 September 1865-1965
Postal comemorativo do 1º centenário do Farol da Guia, 24 de Setembro 1865-1965
(...)  Numa colina abrupta entre verduras escuras, surge um farol branco: o farol da Guia, a primeira luz europeia acesa nos mares da China. Macau cobre a pequena península com a sua frente portuguesa de arcarias amarelas, azuis ou cor-de-rosa, terraços ornamentados com faianças, torres quadradas de cornijas arrebitadas. O vapor contorna a ponta de rocha e, de repente, surge a frente chinesa da cidade e as suas casas baixas com varandas, o cais onde secam, ao sol, os peixes fedorentos (...)
O autor, Fred Blanchod (1883-1963), chega a Macau proveniente de Hong Kong na carreira de vapor na década de 1930. A imagem do farol da Guia é de facto a primeira que se avista quando se chega de barco ao território. Sempre foi. Hoje os altos edifícios já praticamente não o permitem... E é pena!
Excerto do capítulo dedicado a Macau e que em português foi traduzido por "A volta ao mundo por terras de maravilha". A primeira edição francesa é de 1939.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O ouro no eixo Hong Kong - Macau: entrevista

O comércio do ouro chegou a Macau em força em 1946, depois da quebra do negócio do ópio. Mas seria o jogo, em 1962, o grande responsável pelo boom económico. Aníbal Borges e Vasco Marques, autores de “O eixo do ouro Hong Kong-Macau (1946-1973)”, livro publicado pelo Instituto Português do Oriente, revelam pormenores deste período ao Hoje Macau.
Como é que o Estado Novo lidava com o comércio do ouro em Macau e que benefícios chegaram aos portugueses?
O Governo português, pela Administração de Macau, legislou em conformidade com os interesses de Macau. Em termos genéricos e materiais, pode dizer-se que aos portugueses de Portugal nenhuns benefícios chegaram. Como se escrevia na ‘insuspeita’ Far Eastern Economic Review, em 1 de Março de 1962, Macau não foi a ‘árvore das patacas de Lisboa’.
Aos portugueses de Macau, inicialmente, poucos benefícios chegaram. Porém, com o andar do tempo, foram chegando alguns benefícios à população em geral, mas não tantos quanto seria desejável. Não foi com o Ouro, mas sim com o Jogo, a partir de 1962, e com o acordo de Gongbei, a partir de 1967, que foram criadas as condições económicas e políticas para o take off de Macau.
Quem eram os principais países beneficiados com as trocas comerciais do ouro, e como era feito esse processo?
Entre 1953 e 1973 praticamente todo o ouro que chega a Macau vinha de Inglaterra e passava pelo aeroporto Kai Tak, em Hong Kong. A Mount Trading Co., Ltd., da Jardine Matheson & Co. e Samuel Montagu & Co., a Commercial Investment Co., Ltd., uma subsidiária da Wheelock Marden e a Premex Co., Ltd., com accionistas suíços e panamianos, são as principais firmas consignadoras em Hong Kong. Antes, entre 1946 e 1953, chegava ouro a Macau vindo da costa ocidental dos Estados Unidos, via Manila. Os interesses franceses, movimentam-se pelo Banque de l’Indochine, pelo Banque Nationale pour le Commerce et l’ Industrie e pelo bem conhecido despachante Denis Fréres d’ Indochine, com base em Saigão. Não é simples seguir os movimentos, bem sinuosos, do ouro (o segredo a isso obrigava e o ‘ouro não deixa cheiro’!), mas lá fomos descortinando, ao longo dos últimos anos, alguns desses movimentos. Pensamos ter traçado um quadro correcto do que se passou.
Quais as principais diferenças entre os diversos monopólios que passaram por Macau: o ópio, o ouro e o jogo?
São negócios de diferente natureza. Contudo, em determinado tempo, parece que algum ouro terá financiado algum ópio (ou terá sido o contrário?). Philippe Pons escreveu, com alguma ironia, que “Macau passou de um centro nevrálgico do tráfico de ópio para um do ouro com a mesma pessoa como maestro”. O jogo, financiou, com certeza, o ouro. Digamos que, em determinadas épocas, terá havido mais simultaneidade do que causa-efeito.
Qual foi o papel da STDM e, em especial, de Stanley Ho, nesta área?
Stanley Ho não teve ligações directas ao ouro, tanto quanto julgamos saber. Porém, o Banco Seng Heng teve fortes ligações ao ouro.
O comércio do ouro passou por várias fases. Qual foi a mais marcante?
A mais interessante, do nosso ponto de vista, a despertar mais curiosidades e a exigir mais estudos, é a segunda fase, entre Maio 1947 e Outubro de 1953, dado que os aviões da Matco e da Cathay andavam num verdadeiro corrupio entre várias cidades da região.
A logística então instalada em Macau, num muito curto espaço de tempo, é deveras impressionante, demonstrando bem a capacidade dos empresários de Macau. Durante este período, o ouro, transportado em hidroaviões, chega directamente a Macau em voos da Macau Air Transport Company, da Cathay Pacific Airways, da Thai Airways Company e da Civil Air Transport Company, entre outras, e é proveniente, principalmente, de Saigão, Banguecoque e Manila. De Macau, o ouro segue para destinos tão longínquos como a Índia, com entrada por Calcutá. A Far Eastern Economic Review chama, à Macau desses anos, o El Dorado do extremo oriente.
Como surgiu o decréscimo das trocas comerciais?
Com a abertura oficial do mercado do ouro em Hong Kong, em Janeiro de 1974, Macau desapareceu, de um dia para o outro, do mapa mundial do ouro. O mercado vinha enfraquecendo desde 1968, com o fim da London Gold Pool e o início do Two-tier Price System. O ano de 1968 é o último da superioridade orçamental do ouro como origem de recursos para a Administração de Macau.
A obra refere ainda os nomes do português Pedro Lobo e do empresário e deputado chinês Henry Fok. Quais as suas posições dentro deste sector?
Henry Fok não tinha ligações directas ao ouro, tanto quanto é do nosso conhecimento. Pedro Lobo era o director dos Serviços Económicos que tinha atribuições no âmbito do licenciamento da importação de ouro.
Como avaliam o papel de Pedro Lobo?
Foi um alto funcionário da Administração Pública de Macau que prestou relevantes serviços públicos, conforme se deduz da leitura dos inúmeros louvores que recebeu e das condecorações com que foi agraciado. Tentámos desvendar uma parte da sua vida menos conhecida, designadamente o início da sua carreira de funcionário em Timor, a sua passagem pela régie do ópio e uma prisão domiciliária que lhe foi imposta, em Macau, pelo Governador interino, João Pereira Barbosa, em 1936. Como referimos, o seu papel no ouro foi fundamental tal como tinha sido no ópio e foi no jogo, antes de 1960. Foi também importante a sua actuação durante a Guerra do Pacífico, designadamente na ligação da Administração Portuguesa, neutral, com os Japoneses que ocupavam Hong Kong e o lado de lá das Portas do Cerco. O abastecimento de Macau, nesses difíceis anos, muito deve a Pedro Lobo. Julgamos ter sido uma personalidade fascinante.
Chow Tai Fook, Cheng Yu Tung, esteve ligado a este negócio. Esse monopólio foi a principal razão para o actual sucesso das ourivesarias?
Cheng Yu Tung foi um dos grandes homens de negócios de Hong Kong e começou a sua carreira de ourives e joalheiro em Macau. Os seus interesses são múltiplos e a sua história
apaixonante. Damos uma pincelada dessa história no nosso livro, pois é o último concessionário e o último sobrevivente do sindicato do ouro.
Hong Kong soube tirar maiores proveitos do comércio do ouro do que Macau?
Durante os 30 anos do negócio, o circuito financeiro do ouro passou por Hong Kong. A Banca de Hong Kong estava ligada aos grandes centros financeiros mundiais. Como escreveu Catherine R. Schenk, o comércio do ouro ajudou à emergência do Centro Financeiro Internacional que hoje é Hong Kong. Na primeira (1946-1947) e terceira (1953-1973) fases, também, o circuito físico do ouro passou por Hong Kong. Mesmo na segunda fase (1947-1953), muito do ouro físico passou por Hong Kong à saída de Macau, como bem o confirma o tristemente célebre acidente do Miss Macau: avião que foi assaltado quando se dirigia de Macau, cheio de ouro e passageiros, para o aeroporto de Kai Tak, em Hong Kong.
Qual o papel desempenhado pelo Governo chinês na altura?

O Governo Nacionalista fornecia-se de ouro nos Estados Unidos: comprava-o ao preço tabelado por Bretton Woods e vendia-o ao preço de mercado. Era um excelente negócio! Há notícia que alguns elementos importantes do Governo ou próximos, como a designada CC-clique, uma poderosa facção política do Guomindang, liderada pelos irmãos Chen Guofu e Chen Lifu, teria especiais ligações aos negociadores privados do ouro. Em 1949, o Guomidang, em fuga, levou consigo para a Ilha Formosa muitas das reservas de ouro e divisas do país, para além de outros tesouros. Com a fundação da República Popular da China, o comércio do ouro e das divisas passaram para as mãos do Estado. Como refere Steve Tsang, depois de 1949, “Hong Kong tornou-se na galinha dos ovos de oiro da
RPC”. Macau, também. 
Com o comércio do ouro, como é que Macau conseguiu lidar com o pós II Guerra Mundial?
Depois da Guerra eram grandes as dificuldades financeiras da Administração Portuguesa. Com o termo da régie do ópio, a partir de 1 de Janeiro de 1946, a Administração deixou de arrecadar receitas geradas neste ‘negócio maldito’. Em Julho de 1946, ainda sem ouro, que só começou a chegar no último trimestre de 1946, Emílio Simões de Abreu, director da Fazenda, deixava escrito no relatório que acompanhava o Orçamento para 1947, o optimismo dos ventos de mudança. Sabemos que não foi assim, pois o jogo continuou, e que não foram os impostos que substituíram o ópio. O ouro chegou na altura certa, pois,
ao taxá-lo, a partir de finais de 1946, a Administração encontrou alternativa para as receitas do ópio.
Qual o papel dos ingleses e americanos em todo o comércio do eixo?
Naturalmente que os norte-americanos e, em especial, os ingleses estiveram sempre por dentro do negócio que se efectuava a ‘céu aberto’ na colónia britânica e em Macau. Bastava, para o efeito, lerem a Far Eastern Economic Review ou The Economist que seguiram o negócio de perto.
Sem o monopólio do ouro, a indústria do jogo seria diferente hoje?
Houve um tempo em que o exclusivo do jogo financiou as aquisições de ouro. Estas exigiam grandes investimentos. Com a entrega do exclusivo do jogo à STDM, em inícios de 1962, a ligação entre o ouro e o jogo terá terminado, segundo pensamos. São
dois exclusivos entregues a diferentes concessionários com áreas de negócio bem demarcadas. São negócios de diferente natureza, com diferentes exigências.
Entrevista de Andreia Sofia Silva publicada no HM de 18-9-2012

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

I Encontro de Antigos Alunos e Docentes do Liceu de Macau


Ao fim de alguns anos de realização com carácter irregular, acho que é chegada a hora de formalizar e institucionalizar os encontros de antigos alunos e docentes do Liceu. Já organizei alguns eventos do género e sei que não há uma data 'boa' para todos. Analisados os prós e contras o último domingo de Setembro (depois das férias e ainda com bom tempo) parece-me a data mais indicada para a realização de um encontro anual. Foi também no final de Setembro de 1894 que o Liceu foi inaugurado.
Após contactos com a Casa de Macau em Lisboa consegui que cedessem o espaço por 50 euros. Julgo que não será difícil reunir este número de pessoas que contribuiriam com 1 euro cada. Assim, lanço o repto para o primeiro encontro já no próximo domingo dia 30 Setembro entre o meio-dia e as 8 da noite.
Almoço self-service: entradas; prato de peixe e prato de carne; fruta/sobremesa; vinho, água e sumo. Preço adulto 11 euros Crianças até aos 10 anos não pagam; dos 11 aos 18 anos pagam 6 euros.
Pagamentos por transferência bancária até ao dia 28 Set: NIB 0010 0000 31544840001 79
com a confirmação do nº de pessoas para o e-mail liceumacau@gmail.com

domingo, 23 de setembro de 2012

Mercadores do Ópio

Lançamento 26 Setembro 2012 18h30 | Sociedade de Geografia de Lisboa
 Maria Helena do Carmo é ainda autora de "Uma aristocrata..."

sábado, 22 de setembro de 2012

Ferreira do Amaral fundou a indústria do jogo

O Governador Ferreira do Amaral (g.1846-1849) é unanimemente tido pelos historiadores como uma figura essencial e de viragem. Com ele findaram três séculos de jurisdição mista, de convivência de autoridades chinesas e portuguesas, e começou o período colonial. Uma história de Macau que dele não fale é incompleta ou errada. É conhecido o seu papel na imposição da soberania portuguesa e na adopção de importantes medidas: o não pagamento do foro do chão, a abertura do porto ao comércio com todas as nações e o fecho das alfândegas chinesa e portuguesa, a ocupação das ilhas, o lançamento de novos impostos, a efectiva redução do Senado a um município (já prevista na lei), entre outras medidas controversas de um líder de  personalidade forte e abrasiva, que enfrentou muitas resistências. E que pagou com a vida. Sobre esta época a melhor leitura é sem dúvida o estudo ímpar do Prof. Vasconcelos de Saldanha, “Um estabelecimento a refundir e criar de novo”. Macau e a política externa portuguesa na China (1842-1853).
Porém, nos relatos desta época só os aspectos político-constitucionais são normalmente salientados. A natureza das mudanças económicas ocorridas tende a ser omitida. Dando assim uma visão incompleta de  como tal viragem se deu perante a concorrência esmagadora dos britânicos em Hong Kong. Na historiografia da acção de Ferreira do Amaral sempre fica na sombra o seu papel de fundador dos jogos chineses legalizados em Macau.
É algo que cabe salientar, a par das suas outras importantes medidas. No tempo de Amaral esperava-se ainda contrariar os nefastos efeitos da criação bem perto de um estabelecimento inglês permanente. Tal não aconteceu. A partir de 1846-49, e apesar da abertura do porto, o comércio não renasceu. Em vez disso, Macau sobreviveu e tornou-se financeiramente auto-suficiente na base da lotaria Pacapio, do jogo do Fantan, do ópio e do tráfico de “coolies”. Este modelo económico imprevisto teve grande sucesso: os défices desapareceram em poucos anos. A refundação económica deu-se na base do jogo e de indústrias menos recomendáveis. Não havia outra alternativa. O estabelecimento de Hong Kong em 1841 após a derrota da China na primeira Guerra do Ópio teve um impacto económico destrutivo. O comércio mudou-se para Hong Kong. E muitos macaenses, à procura de empregos. Macau teve de buscar novas fontes de receita para cobrir os défices causados pela concorrência  devastadora da nova colónia inglesa e seu poderio marítimo superior. 
Consideramos que o Governador Ferreira do Amaral é o “pai fundador” da indústria do jogo: autorizou a exploração comercial da lotaria chinesa Pacapio e do jogo chinês de fortuna ou azar Fantan, que sobrevivem até hoje. No entanto, numa omissão flagrante, o seu papel na legalização do jogo não tem sido enfatizado.
No seu primeiro ano de mandato, em Janeiro de 1847, Amaral autorizou o Pacapio, que então se jogava de forma ilegal. A base da decisão não é conhecida mas pode ser reconstruída: a problemática da legalização do jogo é relativamente imutável. O jogo é normalmente legalizado durante crises económicas. Como noutros lugares e épocas, perante uma procura sustentada ter-se-á considerado que a proibição seria inexequível na prática, moralmente duvidosa e indesejável dos pontos de vista fiscal e da segurança. Com a proibição o jogo continuaria de modo ilegal, gerando criminalidade. Pelo que o razoável seria autorizar, regulamentar e tributar o jogo, como um exclusivo permitido a particulares, a título temporário, gerador de receitas.
O Fantan veio de seguida, em Abril de 1849. Sendo um jogo bancado, operado de modo contínuo, é mais viciante e nele se pode perder muito mais do que numa lotaria. Mas também pode fornecer maiores lucros e impostos do que o Pacapio, como sucedeu. Uma vez permitido o Pacapio, vistos os seus resultados, quebrada a resistência moral ou religiosa, e criadas estruturas e procedimentos, terá sido iniciada uma dinâmica para a legalização: seria inaceitável ter lado a lado uma lotaria Pacapio legal e um jogo ilegal de Fantan. O Pacapio e o Fantan continuam, após mais de 160 anos. A sua permissão por Ferreira do Amaral é outra razão pela qual o lugar na história deste governador é incontornável. 
Artigo da autoria de Jorge Godinho Jurista e professor da Universidade de Macau publicado no jornal Ponto Final de 23-8-2012

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Receitas da "Ti Mari"... do séc. 19


“De Francisca Alvez dos Remedios” – Receitas de Bolinholas, Macao 15 de Setembro de 1872"
Livro oferecido  por Florita Morais Alves e Victor Morais Alves em 2010 à Confraria da Gastronomia Macaense.

Algumas receitas:
Bollinhos
1 coco, ½ catte assucar 5 ovos gemas somente coze o assucar até que cake pronto ponha coco a cozer, depois cozido ponha a clara bem batido
Pastelinha de nata
6 taeis de assucar, 14 gemas de ovos 3 taeis de pinhão, menos ¼ de coco, amendôa pouco, 2 chupas de leite, ½ catte de farinha para fazer casca.
Rosquete
1 catte e 14 taeis de farinha, 1 chicara de assucar e 1 chicara de manteiga, 2 condrins de fermento, 25 gemas de ovos depois de bem amaçado com agua e sal faça forma de rosquete, e depois ferver um tacho de agua deita rosquete e deixa cozer quando o rosquete sobe na lume de agua então ja está cozido ponha ao sol deixar enxugar para ir o fogo.
Nota: no livro não existe informação sobre a forma de confeccionar, apenas sobre os ingredientes. pelo que a forma de os confeccionar é da responsabilidade de cada um. Quanto às medidas... Um "catte" corresponde a 604,8 gramas. 1 cate tem 16 taeis e 1 tael equivale a 37,8g.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Postal services

The Macau postal service dates back to 1798 when 'Correio Maritimo', or 'sea-mail', was established in Portugal to facilitate the transmission of letters and parcels between Portugal and Mozambique, India and Macau.
Service was infrequent and slow until the introduction of the adhesive stamp in the nineteenth century, a revolutionary innovation which caused a significant increase in demand for postal services.
 
1949
1950
In 1878 Macau joined the Universal Postal Union and on 29th February 1884 Ricardo de Sousa was formally recognized as the Administrator of the Correio Maritimo, a function which he had carried out since 1869. This paved the way for the publication on 1st March the following year of the "Provisional Instructions for the Postal Service" immediately following which the first adhesive stamps were issued in Macau. Ricardo de Sousa, who until then had conducted operations from his own house at No.1 Rua do Campo, transferred the business to a new location on Rua da Praia Grande. Thus 1st March 1885 is recognized as the birth of the Macau Postal Service.
1911
1937
Twenty years later the "Post Office Box" service was introduced and in 1910, on 26th August, the first local post marks were introduced identifying individual post offices. 1920 saw the introduction of the first direct mail bag between Macau and Lisbon, via Suez. In 1937 came the direct air mail.
Enviado de Macau em Fevereiro de 1900
Emissão de 1966
 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Macao: jogo de estratégia

At the end of the 17th century Macao the mysterious port city on the southern coast of China is a Portuguese trading post in theFar East. The players take on therole of energetic and daring adventurers. Those who chose the wisest course of action andhave the best overall strategy will earn the most prestige at the end.
Macao lasts twelve rounds, and in each round players select one new card from a display specific to that round, two of which were revealed at the start of the game and others that were revealed only at the start of the round. The deck of 96 cards includes all sorts of special abilities, with the more powerful actions costing more resources to put into play.
Criado em 2009
One player rolls six different-colored dice, then each player selects two of those dice (possibly the same ones chosen by opponents), then places cubes equal to the number and color of the two dice on a personalized "ship's wheel." For example, if a player chooses the blue die that shows a 5, he places five blue cubes on the ship's wheel position five spots away from the current round. (A player can never claim more cubes than the number of remaining rounds).
Players rotate their ship's wheels each round, then use the cubes available to them in that round to perform various actions: activating cards selected in that round or earlier rounds, buying city quarters and collecting the goods located there, moving that player's ship around Europe to deliver those goods, acquiring gold coins, taking special actions with card previously activated, and advancing on a turn order track.
Players score points by delivering goods, paying gold coins, using the powers on their cards, and building in Macao. Whoever has the most points at the end of twelve rounds wins.
Este "Macao" é um jogo de estratégia (de tabuleiro) que pode ser jogado em família inspirado na história de Macau no século XVII assim apresentado.
"Macau é uma misteriosa cidade portuária portuguesa no sudoeste da China. Os jogadores interpretam aventureiros atrás de excitantes desafios. O jogo desenvolve-se em 12 etapas, nas quais os jogadores devem tomar as decisões mais sábias, competindo por mercadorias que são carregadas para lugares distantes. A cada etapa, coleccionam-se cartas (são 96 no total) que abrem novas opções e permitem diversas combinações avançando nos objectivos. A cada feito alcançado são atribuídos pontos. No final ganha quem somar mais pontos." E mais não digo para não revelar tudo.
Podem jogar entre duas e quatro pessoas, a partir dos 12 anos. Tem um grau de dificuldade estimado de seis numa escala de 0 a 10 e é composto pelo tabuleiro e seis dados. O jogo foi lançado em 2009 pela Alea, uma subsidiária da multinacional de jogos e brinquedos Ravensburger (Alemanha), em co-produção com a Rio Grande Games, e já ganhou vários
prémios. Foi criado por Stefan Feld e tem ilustrações de Julien Delval e Harald Lieske.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Curiosidades da história menos conhecida

De quando em vez chegam-me pedidos de informação sobre este ou aquele aspecto da história de Macau menos conhecida. Por norma respondo colocando um post por cada tema, mas desta vez juntei várias perguntas e aqui vão as respostas, naturalmente, numa linguagem simples (não sou historiador) mas que espero seja do v. agrado.
O Mosteiro das Clarissas foi fundado no iníco do século XVII pelo português António Fialho Ferreira e pelo espanhol Diogo Enriquez de Losada. O mosteiro funcionava onde está hoje o Colégio de Santa Rosa de Lima, na rua de Santa Clara. As clarissas do convento de Santa Clara passaram a gerir o Recolhimento de Santa Rosa de Lima em meados do século XIX. O Recolhimento tinha sido fundado em finais do século XVIII pelo bispado de Macau e era especialmente dedicado a meninas órfãs. Até ser anexado ao Convento de Santa Clara mudou várias vezes de gerência. As raparigas pobres ou órfãs só podiam pedir esmolas para o dote do seu casamento entre os 14 e os 30 anos. A autorização era concedida (ou não) pela Santa Casa da Misericórdia.
A Roda era um sistema da Santa Casa que permitia o abandono de crianças, sem retorno nem perguntas. Funcionava no hospital de S. Rafael. Era ali, numa viela escura, que eram deixados os bebés. A prática tem de ser entendida à luz daqueles dias, permitia que as crianças não morressem à fome. Estamos a falar de, literalmente, uma roda de madeira: quem pretendesse abanaonar um criança, tocava à porta, colocava o bebé dum lado da roda, e do outro lado, virava-se posteriormente a roda, ficando a criança no interior do edifício.
Sobre o Hospital de S. Lázaro (leprosaria) e o bairro com o mesmo nome foram demolidos em 1900 (imagem acima). O que se conhece hoje em dia foi construído posteriormente.
Já a actual igreja de S. Lourenço (na imagem) foi construída em 1885, no mesmo local da anterior ermida. Desta, ficou para a posteridade o cruzeiro que ainda hoje pode ser visto e que data de 1637.
A Sé de Macau começou por ser uma pequena ermida construída em madeira ca. de 1576 ganhando uma estrutura mais sólida em 1622. Em 1836 sofreu grandes estragos devido a um tufão sendo recuperada entre 1844 e 1850 (ver imagem).
O macaense José Agostinho Tomás de Aquino foi o autor da obras de remodelação. Nos anos 30 do século XX viria a sofrer uma profundo restauro, completado em 1937, ficando com o aspecto que apresenta hoje em dia. (imagem da década de 1960)
As frequesias em Macau (e nas ilhas) foram mais uma divisão simbólica do que administrativa. Em cada uma existia (e existe) uma igreja... e correspondem praticamente aos chamados bairros católicos então existentes. Reparem na lista: Penha, S. Lourenço, Stº Agostinho, S. Lázaro, Stº António, Sé. Taipa e Coloane também têm cada uma as suas igrejas.

Macau tem concerteza o recorde de maior número de igrejas/ermidas/capelas (julgo que 17) em comparação com os seus pouco mais de vinte e poucos quilómetros quadrados de superfície. E só mencionei as católicas. Existem ainda as protestantes que devem rondar as 40.
Ainda antes da chegada dos portugueses já existiam pelo menos dois templos chineses: Ma Kok Mio (na Barra) e Kun Iam Tong (no sopé da colina de Mong Há).
Nesta mesa localizada no Templo Kuan Iam Tong foi assinado o primeiro tratado entre a China e os EUA (1844).
A propósito das matrículas e dos chamados números da sorte entre os chineses.
Matrícula da década de 1950
Os “números de sorte” são aqueles cuja pronúncia é semelhante à das palavras de boa sorte ou de bom significado, Por exemplo, em cantonense, os números preferidos são: “dois” (Yi-simplicidade), o três (San-progresso), o oito (Pat-prosperidade) e o nove (Gao- longevidade).
A Taipa foi outrora constituída por 3 ilhas: a Grande, a Pequena e o morro de Pac On. Mapa de 1912