quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Curiosidade filatélica no início do séc. XX

A implantação da República em Portugal em Outubro de 1910 implicou alterações também em Macau. Houve ruas que mudaram de nome... No caso dos selos e valores selados, para se aproveitar os antigos que era impressos em Portugal e, portanto, tinham custos avultados, foi a Imprensa Nacional local autorizada a imprimir sobre os que existiam na diagonal a "sobrecarga" 'República' nas cores vermelho ou verde. A medida foi aplicada de igual forma nas restantes colónias portuguesas. Os selos antigos (em réis) só vigoraram até Outubro de 1914.




Ministro das Colónias era Artur de Almeida Ribeiro; o que deu o nome à avenida tb conhecida por San Ma Lou.
Um selo de 10 avos D. Carlos com a 'sobrecarga' República.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Penteadeira

Esta fotografia é de meados da década de 1960. Representa uma penteadeira "numa das ruas marginais do Porto Interior" segundo me confidenciou a autora da fotografia, a Drª Ana Maria Amaro.
Tal como as penteadeiras, também os barbeiros exerciam a sua profissão na rua um pouco por toda a cidade, com destaque para zonas como a Estrada do Arco, a Travessa das Galinholas, a Rua Cinco de Outubro, o Pátio do Piloto, entre outras.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

VII Fórum Internacional de Sinologia

Debaixo do céu (天下), o mar (海) e o continente (陸) onde o Homem (人) há milénios vive e fez surgir uma China que se vem afirmando como uma grande potência a nível mundial.
O Céu apela para o pensamento religioso e para as grandes escolas filosóficas. O Mar fala-nos das grandes epopeias navais, nos seus recursos económicos e nas rotas migratórias. A Terra remete-nos para o meio ambiente, para as energias renováveis e para os recursos naturais. O Homem criou a sociedade, a família e formas de conquistar os recursos tanto do mar, como da terra e do próprio céu ao invocar os deuses.
É nesta ideia, de uma China global, que tem por centro o Homem, a sua capacidade de trabalho e a sua criatividade, que assenta o espírito do VII Fórum Internacional de Sinologia.

Organizado pelo Instituto Português de Sinologia o evento tem lugar entre os dias 1 e 3 de Março no ISCAP em S. Mamede de Infesta (Porto) onde vão estar presentes mais de 30 especialistas (sinólogos) nacionais e internacionais.
Para inscrições e informações detalhadas sobre o programa consultar o site do IPS.

Ciclo de conferências sobre a China


O Centro de Estudos Internacionais da Sociedade Histórica da Independência de Portugal evocando os "500 anos da chegada de Portugal à China e ao Sudeste Asiático" está a organizar uma série de conferências. As próximas estão agendadas para 15 de Março, 12 de Abril, 17 de Maio e 14 de Junho.
Às quintas-feiras, sempre às 18 horas. no Salão Nobre do Palácio da Independência (Largo de S. Domingos), em Lisboa. Em Março e Abril vão ser oradores os generais Garcia Leandro e Rocha Vieira, antigos governadores de Macau.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Na Tcha vai ter museu

O projecto de construção de um museu dedicado a Na Tcha - integrado na lista do Património Mundial - próximo do templo erguido em honra do Deus irreverente, vai ser concretizado este ano. O novo espaço cultural pretende reforçar a divulgação da cultura chinesa dos templos.
De acordo com JTM "no espaço do museu, que mantém uma parte da antiga muralha da cidade, serão expostos trajes tradicionais usados no festival comemorativo de Na Tcha, fotografias antigas das celebrações, armas típicas e uma estátua do Deus, entre outros artigos. Além disso, o espaço será usado para a apresentação de vídeos do festival do aniversário de Na Tcha. O Instituto Cultural revelou ao JTM que pretende que o Museu entre em funcionamento antes do dia do aniversário de Na Tcha, assinalado em Junho, prevendo que as peças históricas poderão ser colocadas naquele espaço já no próximo mês.."
Década de 1960
Localizado junto às Ruínas de São Paulo, o Templo de Na Tcha foi fundado em 1888, reconstruído em 1901 e restaurado em 1955 e 2000. Em 2005, passou a ser considerado Património Mundial no âmbito da candidatura do Centro Histórico de Macau aprovada pela UNESCO.
A candidatura das “Crenças e Costumes de Na Tcha” a Património Cultural Imaterial de Macau foi uma das quatro que tiveram “luz verde” do júri criado para o efeito, juntamente com as do “Gastronomia Macaense”, “Teatro Maquista (Teatro em Patuá )” e “Crenças e Costumes de A-Ma de Macau”.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

"Johnny Reis": 1928-2012

João Sameiro Afonso dos Reis, mais conhecido por Johnny Reis, morreu (ontem) aos 84 anos no hospital S. Januário em Macau. Natural de Braga, JR foi  para Macau em 1939 e fez carreira na rádio, onde se estreou em 1948 na Rádio Vila Verde. 
Apresentou programas como “Hit Parade”, “Yours for Asking”, “Disco-Mistério” e ainda noticiários. A partir de 1966 com o fim das emissões em português na Rádio Vila Verde, JR Reis passou para a Emissora de Radiodifusão de Macau. Esteve aos microfones durante quatro décadas e chegou a chefe dos locutores. Foi ainda responsável pelo arquivo discográfico da Rádio Macau. Esteve ainda ligado ao concurso Miss Macau que chegou a apresentar na televisão.
A Rádio Macau recordou-o no programa Rua das Mariazinhas: “Recordando Johnny Reis”.
Foi uma das melhores vozes que passou pela rádio em Macau e tive o prazer de o conhecer nos meus primeiros passos na rádio. Recordo como se fosse hoje os programas da manhã na década de 1980 bem como o seu irmão, Walter Reis, também locutor. Há não muito tempo, quis retomar contacto mas soube que JR já estava doente. Paz à sua alma!
Former Rádio Macau presenter João Sameiro Afonso dos Reis passed away yesterday at the age of 83 in Macau.  The Portuguese national, better known as ‘Johnny Reis’, arrived in Macau as a child in 1939. After completing his studies, he worked as a public servant but less than a decade later he dived into the local radio world at Rádio Vila Verde.  In 1966 he moved into the public radio broadcaster, which later became Rádio Macau, where he was a presenter for about 40 years before retiring.
 
Segue-se a transcrição de um artigo de Cecília Jorge datado de 1998.
João Sameiro Afonso Reis, Johnny Reis, para a comunidade macaense que o “adoptou” prepara-se para a reforma ao sol do Algarve, a ocupar-se da neta predilecta. Ao fim de trinta anos, completados em 1996 como “músico” semi-profissional, além da Função Pública, vai sobejar-lhe tempo para descansar e recordar peripécias na cena do “show-bizz” local, algumas já referidas no artigo de Rigoberto do Rosário que a Revista MacaU publica. Natural de Braga, veio para Macau em 1939 numa comissão de serviço do pai que acabou por se prolongar por causa do deflagrar da II Grande Guerra e posterior entrada do pai para o Corpo da PSP. Foi adiando o gozo da licença a Portugal e o seu primeiro regresso à terra natal, de onde saíu ainda criança, deu-se só em 1993. Considera-se “macaense”. “A música ajuda as pessoas a viver a vida”, refere ao explicar a estreita ligação (sua e dos seus “conterrâneos”) a esta forma de passar o tempo.
Com a mesma voz de timbre quente, com que encantou quem o ouviu cantar durante tantos anos em nights-clubs, festas e festivais, e foi apresentando programas radiofónicos e noticiários, diz-nos que a memória o trai quando quer referir datas e alguns nomes. Mas se o diálogo se proporcionar, as cenas avivam-se e a “voz” também, com a fluência das palavras que nunca se deixaram contaminar pela pronúncia típica de Macau.
No início da aventura musical — mais ou menos em 1966, ainda a Rádio Vila Verde se situava na esquina da Francisco Xavier Pereira , Johnny, Nuno e Alberto Senna Fernandes, Tony Hyndman, Sonny Gomes e Kenny Barnes entretinham-se a “fazer música”. Nessa altura, os dois últimos, mais profissionais, marcavam o ritmo “batendo as palmas”… Os agrupamentos mais certinhos vieram depois, como os uniformes: com camisas axadrezadas com faixas “à toureiro”, a princípio, depois blazers, cinzentos, e mais tarde vermelhos. (Os “Rockers”, assinalados com o monograma R, e os “Four Aces” com quatro ases, de naipe diferente para cada componente).
Tocaram em todos os locais onde era possível tocar — recorda hoje Johnny Reis. Tocavam igualmente todos os instrumentos em que pusessem as mãos, apreendendo todos “de ouvido” e uns com os outros…
JR no xilofone
Rockers
A carestia de vida e do equipamento levou inclusivamente a que, uma vez, a avalizar um empréstimo pedido a Guilherme Silva, gerente da Pousada de Macau, para compra dum xilofone, providenciassem música de dança no seu restaurante durante uns tempos.
Mas, se foram muitas as actuações do grupo, que mudou mais de nome do que de componentes — tocando no Hotel Riviera, no Bela Vista, no Estoril, na Pousada de Macau, no “Helena” que ficava na Ponte-Cais nº 16, em todos os Clubes e Associações, no Clube Recreio e até no Indian Club de Hong Kong, mais foram as oportunidades perdidas. Tratando-se de funcionários públicos que se agrupavam pelo gosto da música, pelo prazer de entreter amigos e um público animado, e para complementar o salário, as limitações da pesada burocracia dos anos 60 e 70 impediram-nos de “voar mais alto”.
Johnny ainda hoje lamenta não terem podido aceitar um convite do “Paramount” de Hong Kong para substituirem “Giancarlo and his Combo” naquela boite de luxo ou mesmo noutras actuações em Hong Kong. E Mário Sequeira lembra-se dos problemas , depois da transferência para “a outra banda” (Ilha da Taipa), com autorizações para ir a Macau actuar em festas, ou por exemplo no Macau Palace. Transportes, só em tancares ou barcos condicionados à maré. Mas vezes houve também que a timidez e relutância dos camaradas do grupo os impediu de actuar em programas de grande audiência da Televisão de Hong Kong. Estreou-se na emissora VilaVerde, que começou a funcionar em 1948 com Johnny Alvares como engenheiro de som e seu irmão Walter Reis, locutor.
JR no acordeão
Acabara de sair da tropa. E apresentou programas como os “Hit Parade”, “Yours for the Asking” (em inglês) e os “Request”, de grande audiência, porque dias havia em que o carteiro despejava na emissora quilos de cartas com pedidos de discos e se preenchiam 5 folhas A4 com dedicatórias de cada canção. Eram tantas e tão fiéis as radiouvintes que chegou a ser necessário apaziguar pais que julgaram atentatório do bom nome das filhas a frequência alarmante de dedicatórias públicas dos (múltiplos) enamorados. Alegavam forte “distracção em horas de estudo”. E o meio-termo foi a proibição de inclusão de apelidos.
A voz de Johnny era inconfundível. E contudo, quando uma vez, em desespero de causa, quis evitar o pior no seu programa “Disco-Mistério” (oferta de discos de 45 rotações a quem identificasse o vocalista), e cantou com música de fundo, não houve um único ouvinte que o reconhecesse. É claro que disseram ser batota… mas o certo é que já pesava estar a custear ele próprio os prémios, quando lhe faltou o financiamento prometido. Graça teve também aquela vez quando, habituado a improvisar, e depois de anunciar o início da transmissão do “Terço do Bairro”, teve que fazer as vezes do sacerdote que faltou.
Era indiscutivelmente um bom profissional da rádio, pela experiência, pela dicção, pela voz, pela presença, e simpatia contagiante. Lembra-se das últimas locuções na Vila Verde, quando durante os incidentes de 1966 teve que ler comunicados oficiais à população na qual se minimizava a situação, ao mesmo tempo que, pela janela aberta do estúdio se ouviam disparos e o tiroteio na cidade. O canal em língua portuguesa encerrou pouco depois. E Johnny passou a funcionar na ERM, localizada na torre do edifício dos CTT.  
Artigo da autoria de Cecíla Jorge publicado na Revista Macau em Junho de 1998
As imagens foram reitradas ao arrtigo da revista Macau já mencionado e do livro "Meio século em Macau" de J. J. Monteiro, editado recentemente pelo IIM
Na primeira pessoa (declarações à TDM: rádio e TV)
"Recebi (1967) um telefonema do director dos correios, Salazar Trindade". (...) Macau conheceu-me criança (tinha 10 anos). Foi cá que eu me fiz homem, foi cá que eu me eduquei e por Macau fiquei, até hoje. Nunca regressei à terra que me serviu de berço, sou natural de Braga, por nunca se ter proporcionado a ocasião".
Nos Rockers.. o 2º a contar da direita
Testemunhos publicados no Hoje Macau e Jornal Tribuna de Macau de 23-2-2012 / recolhidos por mim:
João Severino
"Johnny Reis, deixou-nos. Companheiro inseparável no 98FM, o Johnny foi sempre um grande amigo pronto a colaborar e a aceitar os desmandos de muita porcaria que por lá apareceu. Lamento o seu desaparecimento. Macau ficou mais pobre"
Miguel Brandão
"Tinha figura de gentleman. Todos gostavam dele pela maneira de estar, pela sua voz. Lembro-me do seu programa logo pela manhã em que ele dedicava 15 minutos à música portuguesa. Servia de despertador para mim. Lembro-me também dele a tocar nas noites de festa do Hotel Lisboa. Aprendi com ele muito do que sei na rádio. Era um excelente profissional. Lamento a sua morte e quero enviar as condolências à família".
Hélder Fernando
"Quando, na rádio, uma genuína voz se cala, permanece no éter o seu timbre, e nos ouvintes um sentimento de perda. No cósmico, jamais se apagará a voz de Johnny Reis. Na memória do colectivo auditório que o conheceu e lhe sobrevive, também. "Os Dias da Rádio", entendidos como um tempo em que as telefonias, depois os transístores, ofereciam o fascínio dos sons da música, das vozes, dos programas de radiodifusão com os cantores e as orquestras tocando ao vivo, as reportagens vividas de forma empolgante, o estilo coloquial e bem pronunciado das conversas em estúdio, tinham em Macau um profissional do mesmo nível dos melhores em qualquer parte do mundo radiofónico. Johnny Reis oferecia a verdadeira magia da rádio. Quando há quase 30 anos comecei a ser seu companheiro de trabalho, foi o Johnny que me apresentou e mobilizou as primeiras pessoas de Macau com quem fiz as minhas quase primeiras horas de emissões na Rádio Macau. Ainda na Rua Francisco Xavier, lembro-me da alegria dele quando o João Canedo (outro gigante da rádio que esta terra acolheu, com irreparável partida precoce há uns anos) transformou os antigos estúdios, dentro do possível, numa lógica mais semelhante ao pleno exercício profissional de radiodifusão. Era, então, o Johnny Reis o nosso querido Rei da Rádio, a voz singular, o dono das manhãs em antena, para além de outros espaços. Elegantíssimo, afectuoso, sempre disponível para novas tentativas de melhor, dinamizar, operacionalizar a forma de fazermos rádio. Inesquecível companheiro de trabalho. No princípio dos anos 1990, a sua voz deixou de ser escutada nas telefonias, por motivos algo nebulosos, que muito entristeceram ouvintes e profissionais na época, passando a exercer funções na discoteca interna. Momentos provavelmente escuros que a longa história da radiodifusão em Macau, talvez um dia venha a dar relevância. Mas a vida pública do senhor Johnny Reis também transmitiu brilho a muitíssimos espectáculos que apresentou com extraordinária elegância e eficácia. Tal como tantos concursos "Miss Macau", inclusivamente através da televisão. Em récitas do patuá macaense, tal como músico permanente, anos a fio, no então "Portas do Sol" do Hotel Lisboa. Noites inesquecíveis nos bailes, ao som da sua banda; dias e noites inesquecíveis com a rádio que ele nos proporcionava. Muitos, bem melhor do que, dará acrescentado testemunho a estas singelas e rápidas palavras que aqui deixo como um longo e fraterno abraço a um grande cavalheiro, a um enorme profissional, a um sempre fiel companheiro de trabalho".
Miguel Senna Fernandes
"Foi um grande senhor. Muita gente, por diversos motivos e de diversas formas, expressaram o seu pesar e isso deixou-me satisfeito. Johnny nunca foi esquecido. Foi uma grande voz e um grande músico. Para mim, foi a Voz dos anos 60 e 80 da Rádio Macau. A sua voz mítica é inesquecível. Foi ainda um dos fundadores do Doci Papiaçam di Macau e sempre foi uma pessoa prestável e profissional. Lembro-me dos Rockers, enfim. Há vários anos que já não estava bem e a última vez que apareceu em público, num espectáculo, foi em 2006. Guardo muita saudades do Johnny" . 
Luís Machado

"Era muito afável e não levantava nunca a voz para ninguém". Lembro-me que ele tinha uma rubrica chamada "O que é que a baiana tem?". Tinha uma voz e dicção perfeitas."
Nuno Silveira Ramos 
"Durante muito tempo partilhei a mesma sala de produção de programas da Rádio Macau com ele, nos estúdios da Xavier Pereira e, mais tarde, passámos também muito tempo na converseta na sala de arquivo e discoteca da Nam Kwong onde ele continuou a ser o boss Johnny. Falámos muito de rádio, de locução, de música, de discos, da vida, de Macau, de boas e más memórias. Falávamos de tudo e mais alguma coisa mas, até em temas em que entrávamos em desacordo, não tenho memória de o ver zangado ou de mau humor. Sempre pacato, afável, disponível, simpático."
André Serpa Soares
"O primeiro chefe que tive e que recordo com saudade, como pessoa atenta, afável e de uma educação extrema. Um grande homem da rádio, um Homem grande."

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Turismo de Macau na BTL com nova imagem

Os Serviços de Turismo de Macau já garantiram presença em mais uma edilção da Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL).  Neste certame será apresentada uma nova imagem da campanha “Momentos Memoráveis - Sentir Macau” e serão sorteadas duas viagens para duas pessoas com destino a Macau. Os visitantes vão ainda poder vivenciar uma experiência que remonta ao quotidiano macaense do passado. No pavilhão vão estar os tradicionais adivinho e calígrafo/perfilista.
De 29 de Fevereiro a 4 de Março na FIL, Parque das Naçoes, Lisboa

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Licença para "brincar ao carnaval" em 1945

Administração do Concelho de Macau - Edital
Eduardo de Madureira Proença, capitão de cavalaria, Administrador do Concelho e Comissário de Polícia de Macau. Faço saber que, durante os dias do próximo Carnaval, é proibido, sob pena de desobediência aos mandados da autoridade, o seguinte:
A Exibição de danças, música, paródias e grupos carnavalescos, cujos directores não tenham obtido a necessária licença do Govêrno da Colónia, não podendo os mesmos solicitar, sob pretexto algum, esmolas ou dádivas;
Atirar das casas, ruas e outros I ugares quaisquer cousas que possam molestar, sujar ou, por qualquer forma, incomodar as pessoas ou deteriorar as suas propriedades;
A divagação de mascarados no bairro chinês;
A apresentação de mascarados com trajos ofensivos das crenças religiosas, da moral e dos bons costumes.
Para conhecimento de todos e para que se não possa alegar ignorância, é êste edital, com a respectiva versão chinesa, publicado no Boletim Oficial desta colónia, e afixado nos lugares públicos do costume. Administração do Concelho e Comissariado de Polícia em Macau, 8 de Janeiro de 1945 O Administrador do Concelho e Comissário de Polícia, Eduardo de Madureira Proença, capitão de cavalaria
Tuna Negro Rubro

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Luís Amadeu Marrucho: 1927-2012

Conheci Luís Marrucho, antigo militar em Macau entre 1949 e 1951, há poucos anos e já no final da sua vida. Foi o seu neto que encontrou este blog e que nos 'apresentou'.
Trocámos cartas e telefonemas. E comigo 'regressou' a Macau numa entrevista publicada no Jornal Tribuna de Macau em 2010. Sempre muito afável, convidou-me por diversas vezes para o ir visitar e na última Páscoa fui à aldeia de S. Gregório, "a terra mais a norte de Portugal", como gostava de salientar. Recordo a simpatia com que me recebeu (bem como a da restante família) e a conversa que tivemos durante uma tarde inteira sobre a sua estadia em Macau. Perante dezenas de fotografias recordou Macau do seu tempo, no início da década de 1950. Morreu há poucos dias. Este post é mais uma homenagem que lhe presto. O que se segue são alguns excertos da longa conversa que tivemos... Até sempre, amigo Luís!
Luís A. Marrucho chegou a a Macau 24 de Agosto de 1949 ao fim de 40 dias de viagem a bordo do 'Niassa'.
“Chegados à barra, na foz com o rio Cantão, o navio fundeou ao largo pois a maré estava baixa. Fomos transportados, através do rio Cantão, em grandes barcaças até ao porto. Avistava-se uma grande avenida, a Avenida da Praia com árvores frondosas. No alto da colina, o Farol da Guia. Sentimos muito calor que era amenizado pela brisa do mar, mas em terra o calor abrasava. No porto encontravam-se dois navios de guerra portugueses, o Pedro Nunes e João de Lisboa.”
Perspectiva sobre a San Ma Lou ca. 1950 destacando-se o hotel Central (ao meio) e a Sé (à esq.).
Foto de L. Marrucho
Os homens foram então transportados para o quartel em Mong Ha. Este aquartelamento ficava situado junto à estrada da Areia Preta, que se juntava, numa bifurcação, da Avenida Almirante Lacerda, que por sua vez ia directamente às Portas do Cerco.
“No quartel encontravam-se 5 ou 6 soldados duma companhia, dita das Beiras. Fui dos primeiros a chegar e esperei pelos restantes. Fomos para a formatura, munidos com um copo, cantil e marmitas. Pelas 14h30m, em fila, fomos receber a 1ª refeição do dia: uma concha de arroz, meio frango grelhado, sopa, vinho e fruta à escolha. Perguntei se era sempre assim e disseram-me que ainda era melhor já que aquilo tinha sido à pressa. Nesse quartel não havia refeitório e no dia seguinte foi necessário improvisar um, e à pressa. Estas instalações improvisadas só duraram aproximadamente dois meses pois entretanto foi construído o quartel e ficamos bem instalados. Já tínhamos casa de banho, mosquiteiros e ventoinhas.”
O quartel de Mong-Há ca. 1950. Foto de Luís Marrucho
Agradeço todo o apoio prestado pela família de LM, desde a sua mulher, ao neto (Bruno) e à filha (Filomena). Graças a eles o história de LM em Macau viu a luz do dia e com isso deram um contributo precisoo para quem vier a fazer a história de Macau no século XX.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Primeira década do século XX

Baía da Praia Grande
Busto Vasco da Gama na Alameda com o mesmo nome
Ilha Verde
Da esq. p/ dtª: Palácio do Governo, palácio repartições, correios e hotel
Palácio do Governo
Ruínas de S. Paulo
Santa Sancha
Palácio das Repartições

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Rádio: décadas 1930 e 1940

A primeira experiência de rádio em Macau data de 26 de Agosto de 1933 com a estação “CQN-Macau”. Foi a primeira do então Império Colonial e até mesmo da metrópole, já que a Emissora Nacional só começou a funcionar em Fevereiro de 1934. À “CQN” sucedeu em Maio de 1938 a “CRY-Macau” e meses depois, em Setembro, a “Rádio Polícia XX9”, pertença da corporação e com um pequeno emissor que só era utilizado fora do expediente daquela força policial. Funcionava na esquadra nº 2, junto ao canídromo.
Com o aparecimento do Rádio Clube de Macau  (RCM) em Maio de 1941, extinguiram-se a CRY e a Rádio Polícia. O RCM teve um papel muito importante durante a Guerra do Pacífico. Funcionava numa pequena sala junto à torre do relógio do edifício dos Correios. Tinha apoio do governo mas era privada. Ainda assim, ao serviço da ideologia do Estado Novo. Emitia programas em inglês, português, cantonense e japonês. No âmbito dos noticiários terá utilizado, para além das já mencionadas, o francês e o alemão. A razão é simples. Ir de encontro às diferentes comunidades estrangeiras de refugiados que se encontravam no território.
Programação de Abril de 1942 anunciada no jornal "A Voz de Macau"
Pelos microfones do RCM passaram nomes como Francisco de Carvalho e Rêgo, Evaristo Fernandes Mascarenhas, José de Sousa Lourenço, padre Fernando Leal Maciel, tenente Alberto Ribeiro da Cunha, Bernardino de Senna Fernandes, tenente Virgílio Abrantes Pereira, Carlos Lun Chou, Cassiano da Fonseca, entre outros. Em Outubro de 1941 é adquirida uma nova antena que faz com que as emissões do RCM pudessem ser captadas em todo o Extremo Oriente, “chegando mesmo a alcançar o Alasca e a Nova Zelândia”.
Uma nota final para a estação XKRA sobre a qual pouco se sabe. Surgiu em 1939 na banda dos 200,7 metros em 1380 quilociclos por segundo. Emitia programas às 14h e às 20 horas a partir da Ilha da Lapa, operada por uma locutora de Cantão. Com uma potência de 100 watts, “destinava-se a dinamizar o comércio de Macau, numa iniciativa da comunidade local dos negócios”. A fim de evitar as operações de pirataria, contrabando e outras ilegalidades, na época era proíbido instalar emissores privados em Macau. A ilha da Lapa (frente ao Porto Interior) pertencia a Portugal mas só em teoria.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Coreto do Jardim de S. Francisco

Desde pelo menos 1890 até 1935 quando foi demolido, tocaram ali várias bandas, militares sobretudo, mas também civis, caso da Banda Municipal, no início do século XX. Ao final da tarde de quinta e domingo, sempre que as condições climatéricas permitiam. A sua demolição em 1935 está relacionada com os aterros ali ao lado e com a abertura da rua de Santa Clara (imagem de baixo), entre o Grémio Militar e o edifício Ribeiro.
O coreto foi destruído para dar lugar à construção da Rua de Santa Clara, espaço que já se consegue adivinhar nesta imagem.
NA: não perca em breve alguns post's sobre a banda municipal.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

"Os Bispos de Portugal e do Império"

Um historiador da Universidade de Coimbra estudou a importância das nomeações de bispos para o reforço do poder dos reis portugueses. Até 1777 Macau era das menos desejadas Dioceses do Império. Os jesuítas ensombravam o poder dos bispos, que renunciavam com frequência.

Quem foram os bispos de Macau no período compreendido entre 1495 e 1777? E qual era a influência da Diocese local? O historiador José Pedro Paiva esteve ontem no Instituto Politécnico de Macau (IPM) para abordar o papel dos “bispos em Portugal e no Império”, que é também o título de um livro da sua autoria. O investigador do Centro de História da Sociedade e da Cultura da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra foi o primeiro dos três académicos que vão estar no IPM ao longo deste semestre lectivo, para participarem no Ciclo de Conferências da Universidade de Coimbra.
Criada em 1576, a Diocese de Macau tinha originalmente uma abrangência “gigantesca”, incluindo Macau (que começou por fazer parte da Diocese de Malaca), a China, o Japão e parte daquilo que hoje é o Vietname. Com o estabelecimento de outras Dioceses asiáticas (Funai, no Japão, e Nankin e Pequim, na China), Macau deixou de ter um alcance geográfico tão vasto, mas continuou a ser “pouco desejada” por parte dos candidatos a bispos. “Pouca gente queria ser bispo de Macau”, explicou o historiador da FLUC, que descreveu longos períodos em que “a sede esteve vacante”, ou seja, em que Macau não teve bispo designado. Do estudo dos bispos de Macau (no período até 1777) resulta que todos eles “tinham origem social modesta e nenhum é filho da nobreza”. Ao contrário dos bispos das principais Dioceses de então, os nomeados não eram oriundos do grande centro de poder (Lisboa), mas antes de aldeias portuguesas, tendo todos eles estudado teologia.
Outra característica identificada por José Pedro Paiva é que muitos resignaram ao seu cargo. “Não me lembro de nenhuma Diocese em que tenham havido tantas renúncias, tantos bispos a pedirem para se irem embora”, analisou. Enfrentando “grandes dificuldades em governarem o território”, foram muitos os que se desligaram, como reflecte um documento do arquivo da Universidade de Coimbra intitulado “Manifesto das causas que o bispo de Macao tem para renunciar, reduzidas a hum aso qual he não poder fazer a sua obrigação”. Nesta carta de meados do século XVIII, o bispo franciscano D. Hilário de Santa Rosa enumerava um rol de queixas, entre elas o facto de haver em Macau mais mulheres do que homens e muitos gentios [não convertidos]. “Como são todos pobres, buscam sobretudo o sustento comendo pecados”, expunha o prelado, que continuava dizendo que os populares “não sabem nem querem trabalhar”, dedicando-se antes “aos ócios”. O jogo já era então identificado como uma característica de Macau.
O investigador defende que, até ao período do Marquês de Pombal, as figuras mais importantes da presença do cristianismo em Macau não eram os bispos, mas antes os jesuítas: “O poder do bispo não era, sequer, comparável ao dos jesuítas. Basta olhar para a fachada da Igreja de São Paulo e para a fachada da Sé, que já não é a original, a original era ainda mais pobre.”
S. Lázaro (desde 1557)
José Pedro Paiva explicou a uma plateia composta por professores do IPM e por alunos do curso de tradução que a nomeação dos bispos “foi um processo central para a construção do Estado português desde o tempo de D. Manuel”. Isto porque os monarcas portugueses perceberam que a Igreja tinha uma grande influência junto da população, dispondo de uma organização territorial que praticamente chegava a todos os pontos do território e que era mais vasta do que a estrutura controlada pelo rei. Por outro lado, a Igreja tendeu a criar um sistema onde as noções de aceitação da ordem e das hierarquias eram decisivas.
S. Domingos (desde 1587)
“A monarquia percebeu que teria que dominar o sistema de nomeação dos bispos para que pudesse ter pessoas que estivessem às suas ordens. Isso foi assim na nação e no Império”, expôs o académico. Num contexto em que “a espada e a cruz andavam sempre juntas, com isso se amparando mutuamente e com isso reforçando o seu poder”, todos os bispos passaram a ser nomeados pelo rei a partir de 1505. As nomeações era confirmadas pelo Papa, que deu a sua anuência às mais de 680 nomeações episcopais estudadas por José Pedro Paiva até 1777. A única excepção aconteceu quando D. Manuel nomeou o seu filho D. Henrique para bispo, tinha o infante tinha apenas 12 anos.
Sto. Agostinho (desde 1586)
Depois de um período em que as nomeações eram feitas com maior informalidade, Roma começou a impor critérios mínimos. Assim, os nomeados passaram a ter que ser formados em cânones ou teologia e só eram aceites candidatos com mais de 35 anos. Os bispos não poderiam também ser filhos ilegítimos, ao contrário do que sucedia no século XVI, quando se deram casos de bispos que eram filhos e netos de outros bispos. Em suma, o conferencista do IPM considera que “o processo de escolha episcopal não tinha quase nada de religioso e era um processo eminentemente político”.
Artigo da autoria de Paulo Barbosa publicado no JTM de 9-2-2012

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Bibliotheca Chineza de Macau

Sun Yat-Sen viu em Macau a terra “livre” ao sul da China para dar início à propaganda política. Pela via cultural, delineou estratégias para recrutar novos membros, deixando o nome do território na história da revolução que alterou os destinos do País.
Bibliotheca Pública Chineza de Macau. Fotografia tirada entre 1910 e 1920. 
R. Pedro Nolasco da Silva, 1. This public library was open in 1910 by Lou I Ieoc and closed one year later. During this period it was used as the delegation of the Tongmenghui in Macau. The building was demolished in the 1960s. (Pedro Pinto)
Macau serviu a Revolução de Xinhai pela via intelectual e foi usada como palco de propaganda contra a dinastia Qing e o próprio regime colonial português. No final deste capítulo, o território foi o refúgio de alguns dos políticos, que mudaram o destino político da China. Para compreender o papel desempenhado por Macau na revolução nacionalista chinesa de 1911, é necessário recuar no tempo e contextualizar a região a nível político. Governado por Portugal, o território gozava de um regime mais liberal, longe da repressão que imperava no Interior da China e até mesmo em Hong Kong. A união entre o Oriente e o Ocidente, mais visível com a assinatura do Tratado de Amizade e Comércio Sino-Português, em 1887, fez com que a península se tornasse base ideal para actividades políticas e revolucionárias.
Segundo Vincent Ho Wai-kit, professor assistente de História na Universidade de Macau, a situação ficou clara com a formação da Aliança Revolucionária da China, em 1905, em Tóquio, por mais de 800 estudantes e outros líderes revolucionários do Interior da China. Sun Yat-Sen decidiu expandir a organização revolucionária para Sul, criando ramificações em Cantão, Hong Kong e Macau. O médico deixou a cargo de Feng Ziyou e Li Zichong o recrutamento de novos membros para o agrupamento e fez de Hong Kong a base das actividades das três cidades do Delta do Rio das Pérolas. “Sun teve um papel crucial no início da revolução em Macau. Viu em Hong Kong, Cantão e Macau, regiões importantes para a luta política”, explica Vincent Ho Wai-kit.
Um ano mais tarde Feng Ziyou destacou três revolucionários - Ruan Yizhou, Liu Sifu e Liu Yuehang - para o território, de forma a que se desse início aos primeiros movimentos revolucionários, usando instituições culturais como abrigos da propaganda política. A estratégia foi delineada – usar a cultura para espalhar os ideais de um novo modelo de governação -, mas não houve grande sucesso na sua implementação. “Durante anos os investigadores ignoraram o papel do território, focando-se apenas em Cantão e Hong Kong. Pode ser uma das explicações pelas quais as actividades em Macau falharam: por serem encobertas e por falta de registo histórico”, aponta Vincent Ho, que se tem dedicado a aprofundar o tema da influência de Macau na revolução.
O primeiro passo para colocar Macau na rota da revolução foi a criação de uma biblioteca com o nome de Lequn Shu Shi. A designação evocava abertamente o objectivo: “grupo de leitura harmonioso”, ou seja, educar a massa para mudar mentalidades e recrutar novos membros. “No entanto, passados alguns meses, os revolucionários chegaram à conclusão que não estavam a ter sucesso e que ninguém se juntava à causa”, contou o professor. Uma das razões poderá ter sido o facto de naquela altura a maioria da população ser iletrada. “Se não se sabia ler, uma biblioteca não fazia sentido.”
Uma nova abordagem teve que ser adoptada. Os revolucionários organizaram então um agrupamento de teatro tradicional chinês, sob o nome de “Associação do Melhor Paraíso”. Fundada por um grupo de jornalistas, os ideais de um novo regime serviam de argumento para dramatizações, interpretadas não por actores, mas por revolucionários. Meses depois, a tentativa mostrou-se infrutífera. “As pessoas gostavam de ir ver as peças de teatro, mas o principal objectivo não estava a ser atingido – ninguém era recrutado.”

Mais um falhanço, mais uma nova ideia. Desta feita, avançou-se para a criação de uma escola primária em Macau dirigida apenas por revolucionários, sob o nome “Cultivating Fundamental Two-Level Primary School”. A linha orientadora era a insurreição armada dos militares revolucionários através da educação das massas desde tenra idade. “O Governo português era liberal e permitia que qualquer um estabelecesse uma escola.” Vincent sublinha ainda que, naquela altura, os chineses defensores do imperialismo regiam e dominavam os estabelecimentos de ensino e a própria educação, pelo que o novo sistema com o selo de Sun mostrava-se algo completamente inovador. De forma estruturada, os revolucionários organizaram alguns estudantes mais velhos que se reviam na ideologia, para mais facilmente influenciar a camada mais nova. “Foi uma escola relativamente grande, com mais de 100 alunos”, esclarece o professor universitário.
O último parágrafo que narra esta história foi uma tentativa de estabelecer outra biblioteca, situada na zona central de Macau. A propaganda política continuava a ser feita de forma aberta, inclusivamente “no Boletim Oficial constavam os nomes verdadeiros dos proprietários, que eram revolucionários”. “O Governo português teve sempre uma posição de inércia perante esta situação. Era amigo da China e, nesse sentido, não apoiava os revolucionários, mas também nada fazia para os impedir. Era mais fácil não falar.” Em 1908, sob a liderança de Huang Luyi, os revolucionários voltam a criar um teatro. Atraíram a massa, convidaram o Governador para a abertura do espaço e fizeram um discurso manifestamente revolucionário. “De certa forma, as estratégias influenciaram alguns dos jovens da comunidade chinesa, especialmente alunos da escola primária e jovens chinesas.” Como em qualquer relato histórico, existiu aqui também uma história de amor. As raparigas juntaram-se ao exército militar para lutar em Cantão por estarem rendidas aos encantos dos jovens revolucionários. “É preciso enfatizar as raparigas, que deram um contributo e apoiaram grande parte da revolução. Elas juntaram-se às tropas e seguiram com os homens para combater em Cantão, em 1911.” Em Macau nada mudou após a revolução devido ao facto de estar sob a governação portuguesa. Contudo, a região teve ainda um papel importante depois da queda dos manchus. “Havia instabilidade política na China e como Macau era uma terra segura serviu de abrigo a dissidentes políticos”, acrescenta Vincent Ho. “Esta é a ligação de Macau com a revolução de 1911. É importante dizer que o território não deixou de ter um papel limitado.”
Artigo da autoria de Lia Coelho publicado na revista Macau em Setembro de 2011

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Imprensa: os primeiros anos

A 19 de Agosto 1822 assume o cargo de governador Paulino da Silva Barbosa. Macau vivia na altura a agitação política entre absolutistas, liderados pelo ouvidor Manuel Arriaga, e os liberais, chefiados pelo tenente-coronel Paulino da Silva Barbosa. Estes sairiam vitoriosos e o jornal foi mais um 'troféu' dessa vitória. Em 23 Setembro de 1823 recebeu ordem de prisão do Bispo e refugiou-se na casa do conselheiro Manuel Pereira abandonando o cargo.
Foram os jesuítas que no século XVI levaram a tipografia da Europa para Macau criando na cidade aquilo que se pode considerar um centro de publicações ímpar no Oriente já que dispôs da primeira tipografia ocidental moderna.
Para além de livros, o território passou a ver publicados jornais do tipo ocidental em português e noutras línguas. É assim que surge em 1822 a Abelha da China. Um semanário fundado por Paulino da Silva Barbosa, líder do grupo liberal. Terá sido impresso no convento de S. Domingos.
Em 1833 aparece o Za Wen Pian, jornal não periódico fundado por Robert Morrison. Foi o primeiro jornal chinês de tipografia moderna tanto em Macau com em toda a China. Entre 1839 e 1840 publicou-se o "Jornal das Notícias de Macau" (ou, em chinês, Ou Mun San Man Zhi). Era da responsabilidade de Lin Zexu, Comissário Imperial da Dinastia Qing encarregue da destruição do ópio. (NA: Destes dois últimos não encontrei até agora qualquer ilustração)
Entre 1839 e 1843 publicou-se "O Portugueza na China".

O "Echo Macaense" (tinha como sub título "semanário luso-chines") teve uma edição chinesa logo em 1893 (foi o primeiro jornal bi-lingue de Macau) facto que se terá devido à amizade entre o seu fundador, Francisco Hermenegildo Fernandes e Sun Yat-sen. Em 1897, Kang Youwei, Liang Qichao e Kang Guangren fundaram em Macau o jornal "A China Reformadora".

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

"Pinga"

Pinga é "uma vara de bambu que serve para transportar ao ombro cabazes ou outros objectos".
Há ainda a definição "varal de cadeirinha".
No Glossário Luso-Asiático (1921) pode ler-se: "É um aparelho que se parece muito com o dos nossos cabazeiros ou vendedores ambulantes de peixe.
Nas pingas feitas comummente de uma vara de areca (aliás arequeira] carregam os chingalas em cestos pendentes das duas extremidades os fretes equilibrados." (Rodrigo Felner em Nota a Bocarro). E nestas extremidades transportam de tudo, acrescento eu, água, tijolos, animais, etc. Já praticamente não existe.
O termo é corrente em Macau, onde também designa o "varal du cadeirinha", uma vara de bambú a que, para tal modo de carregar, chamam pinga.