Afastado dos negócios do jogo e do jogo dos negócios, Stanley Ho celebra hoje 90 anos sem mão firme no cedro do império, muito pelo seu estado de saúde - rastilho para acirradas disputas entre as suas quatro “famílias”. Um bolo em forma de roleta foi preparado para o aniversário do “rei dos casinos” numa das festas que têm vindo a ser organizadas pelas suas “mulheres” em hotéis de Hong Kong, desde domingo, altura em que Stanley Ho apagou as primeiras velas, à luz do calendário lunar.
Foto de Paul Hilton / Bloomberg News |
Segundo a imprensa local, perante o rebuliço o magnata manifestou algum cansaço, mas, Pansy Ho, uma das filhas, garantiu que o pai se encontra bem. O alegado traumatismo que sofreu no final de Julho de 2009 confinou Stanley Ho a uma cadeira de rodas e levou-o a afastar-se da gestão das empresas, cujas respectivas participações geraram polémica entre os filhos e mulheres por causa da partilha dos bens.
A disputa foi superada aparentemente, em Março, com um acordo, cujos contornos permanecem desconhecidos do público, mas que travaram a contenda no seio do clã. Stanley Ho, um exemplo acabado de um ‘self made man’, tem 16 filhos vivos de quatro mulheres, incluindo Clementina Leitão Ho, falecida em 2004, alegadamente a única com quem se casou legalmente, e não é claro o tipo de relação que mantém com Lucina Laam, Ina Chan e Angela Leong. A “quarta mulher” destaca-se pelo reforço gradual da posição na estrutura accionista da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), que explora uma licença de jogo e uma quota de mercado de 30%, sobretudo após ter assumido o lugar de Stanley Ho como administradora delegada e adquirido as suas ultimas acções.
Stanley Ho nunca escondeu as suas origens como filho de um pai que perdeu a fortuna no jogo da bolsa na II Guerra Mundial, que trocou os estudos pelos negócios e deixou a britânica Hong Kong, fugido da ocupação japonesa, para assentar na portuguesa Macau, onde fez fortuna ao lado da mulher macaense, oriunda de uma das mais influentes famílias da altura. Apesar de sempre ter afirmado que não fazia depender decisões dos mestres de “feng-shui”, o nome de Stanley Ho estará sempre ligado à influência desse tipo de elementos, pois sempre foi voz corrente em Macau que o magnata não descura a importância do equilíbrio com, por exemplo, obras permanentes no velho Hotel Lisboa, um conselho que lhe terá sido dado por um mestre. Indissociavelmente ligado ao desenvolvimento de Macau e Macau ao crescimento da sua fortuna, Stanley Ho, depois de explorar em exclusivo o jogo durante 40 anos, não só ganhou uma das três licenças a concurso em 2001, como fez entrar os filhos Pansy e Lawrence através de subconcessões da sua SJM e da Wynn Resorts.
Ganhou o monopólio em 1960 com uma Macau adormecida e deixou a sua assinatura na transformação da cidade para cujo desenvolvimento tinha de contribuir à luz do contrato de jogo e mandando construir edifícios não muito populares, mas ao seu gosto e com elementos ligados aos novos símbolos de Macau como o Hotel Grand Lisboa semelhante à flor de Lotus. Em 1998, foi dado o seu nome a uma avenida e Stanley Ho tornar-se-ia no primeiro chinês na História de Macau a receber tal honra em vida.
As ligações a Portugal, onde perdeu o primeiro filho num acidente na marginal de Cascais, contam hoje vários investimentos em imobiliário, navegação, hotelaria, banca e jogo, investimentos que se espalham também por África. Negócios à parte, Stanley Ho também desempenhou funções políticas nos processos de transição de Macau e Hong Kong, participou do Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, sendo ainda membro do restrito colégio eleitoral que elege o Chefe do Executivo de Macau.
Agência Lusa (por Diana do Mar) 25-11-2011
Escritura da revisão do contrato de jogos, assinada em 30.12.1982 no Palácio do Governo. Governador Almeida e Costa e Dr. Stanley Ho (STDM). No meio, Mário C. Lemos como notário. O monopólio do jogo em Macau pertenceu à STDM entre 1962 e 1982 e a exclusividade seria renegociada neste ano.
Sem comentários:
Enviar um comentário