Ao longo de 33 anos, o JTM foi um fiel observador do quotidiano de Macau e marcou a vida do território e da comunidade portuguesa com notícias, entrevistas e reportagens que seriam impossíveis de reproduzir numa única edição. Aqui ficam algumas das que se destacaram nas mais de quatro mil edições publicadas. Noutra altura será interessante contar mais umas igualmente muito interessantes.
A 30 de Outubro de 1982, um Sábado, era publicado o número inaugural do novo jornal em língua portuguesa do território, a Tribuna de Macau. Fundado por Jorge Neto Valente e José Rocha Dinis(só mais tarde teve que passar a assinar Diniz com z), o semanário juntava-se aos seis jornais em língua chinesa e dois em língua portuguesa que já existiam no território, afirmando-se como um “espaço de diálogo” e rejeitando o papel de “órgão oficioso de um qualquer grupo de pressão (política ou económica)”. “Este semanário pretende, no fundo, colaborar no progresso e desenvolvimento do Território, num clima de harmonia e bom entendimento entre toda a população e tornar-se um veículo para que esse desenvolvimento seja correcto e socialmente justo”, escrevia o Director José Rocha Dinis, no primeiro Editorial. Com uma equipa de jovens redactores, a Tribuna tinha, entre os colaboradores da primeira hora, o Padre Manuel Teixeira, o advogado João Lourenço e o comentador radiofónico Alfredo Andrade. “Aperitivos” era o título da coluna do Padre Manuel Teixeira que a inaugurou com uma incursão à história nem sempre pacífica da imprensa portuguesa em Macau. A começar pelo antiquíssimo “A Abelha da China”, no século XIX, fiel às causas dos liberais portugueses, e que acabou queimado pelo novo Governo Conservador à porta do Tribunal. Ou passando pelo “Petardo” que surgiu com o propósito de “bombardear o governador Tamagnini Barbosa mas que também teve uma “morte macaca” com os redactores deportados para Timor. “Aparece agora a Tribuna que, como o nome indica, será não o órgão de um partido, mas o porta-voz dos cidadãos desta Leal Cidade”, afiançava Manuel Teixeira.
A primeira manchete versava sobre a proposta de aumento para a função pública que andava “na boca e na mente de toda a gente”. Em “De Fonte Limpa” dava-se conta da possibilidade de ser contratado um treinador de Hóquei em Campo paquistanês com um ordenado de mil dólares Americanos, mais alojamento, para além do “opíparo jantar” que antigos estudantes de Coimbra iriam organizar no restaurante “Portas do Sol”. Numa das primeiras edições, o antigo Governador Garcia Leandro reflectia sobre as dificuldades que encontrou no cargo no pós 25 de Abril de 1974. “Foi difícil não tanto por Macau mas pelo período que se vivia. Vim para cá em Novembro de 1974 e realmente havia uma certa incerteza, uma indefinição em relação ao futuro que tinha consequências na situação económica. A situação financeira era péssima, nessa altura. Em termos políticos tudo o que se passava em Portugal tinha repercussão aqui. A nível de Macau, nós conseguimos sempre (e havia uma certa desconfiança da população chinesa e da própria China em relação ao futuro) ir ganhando essa confiança”, recordou, sustentando que o futuro de Hong Kong não estaria necessariamente ligado ao futuro de Macau. Na rubrica “Divagasom”, dedicada à crítica musical, eram passados em revista os mais recentes trabalhos de ícones do “rock da pesada”, os de The Clash, até à música electrónica dos Kraftwerk. Na edição de 27 de Novembro do mesmo ano, isto é a primeira grande cacha: o jornal anunciava em primeira mão a saída do Governo dos Secretários-Adjuntos Amaral Lopes e Almeida Viana, uma edição que “fez história” e que terá mesmo “esgotado nas bancas”, escreveu-se no número seguinte. Na realidade, tratava-se do que se denomina “uma notícia pura e dura”, pois o jornal conseguira confirmar a saída junto de um dos Secretários-Adjuntos, apresentando as suas declarações sem qualquer comentário. O Governador Almeida e Costa, contudo, não estava habituado a estes “devaneios” jornalísticos e acusou o jornal de querer intrometer-se na composição do seu Governo. Uma situação que na altura era ridícula mas que ajudou a clarificar ao que vinha a “Tribuna de Macau”: um projecto de jornalismo profissional. Com a sua atitude, o Contra-Almirante Almeida e Costa fazia a propaganda do jornal… estava-se então apenas no quarto número!
Artigo da autoria de A. J. in JTM de 30.10.2015