quinta-feira, 31 de maio de 2018

O calor e as praias

O final de Maio deste ano está a ser especialmente quente em Macau. No dia 29 "os termómetros subiram até aos 35,8 graus na Taipa, "a temperatura mais alta registada no mês de Maio desde 1952", de acordo com os Serviços de Meteorologia.
Longe vãos os tempos em que Macau tinha a Praia de Cacilhas, a Praia do Bispo, a Praia do Bom Parto, a Praia do Tanque do Mainato, a Praia da Areia Preta... só para mencionar algumas ainda frequentadas nas primeiras décadas do século XX
Do livro "Macao: The Holy City - The Gem of the Orient Earth", da autoria de J. Dyer Ball editado em 1905 retirei alguns excertos sobre algumas dessas praias.
Praia de Cacilhas: "Soon after passing the Governor’s summer residence a road turns to the right which leads to Cacilha’s Bay with a pretty little sandy beach";Praia do Bispo: "The Bomparto Fort had three batteries. This fort is connected with the fort at Taipa Point, on one of the islands lying off the Outer Harbour, by a telegraph line, which lands at Bishop’s Bay, a small sandy bay n little beyond the end of the Praya, below the Penha Hills.";Praia da Areia Preta: "Just before reaching the Barrier a short distance is the bathing place, the whole coast line here forming with the sandy beach on the seaward side a magnificent roughly semi-circular bay. Many large fishing stakes are seen with the hovels of their owners perched up amongst the rocks."
Já na segunda metade do século XX, muito graças ao istmo entre Taipa e Coloane e à ponte entre Macau e Taipa 'descobriram-se' as praias de Coloane: Cheok Wan (imagem acima) e Hac Sa (imagens abaixo), aqui em fotografias da década de 1960/70.

 Hac Sa
Hac Sa. Foto de Ou Ping

quarta-feira, 30 de maio de 2018

"Portugal não é um país pequeno"

Nos tempos em que se apregoava o "império colonial português" a mensagem que se pretendia passar para o mundo era simples: "Portugal não é um país pequeno"... e em várias línguas. Ao todo, entre o Portugal continental e as colónias, a superfície do império era superior à da Espanha, França, Inglaterra, Itália e Alemanha, todas juntas! Mais de 2 milhões de quilómetros quadrados. Para o efeito Macau 'contribuia' com pouco mais de uma dezena (14).
O cartaz “Portugal Não É um País Pequeno” é de 1934 e é porventura  uma das imagens marcantes do período da propaganda mais ideológica e mais combativa do Estado Novo em Portugal. A autoria é de Henrique Galvão - mais tarde tornar-se-ia um forte opositor ao salazarismo - que organizou a 1ª Exposição Colonial que teve lugar no Porto nesse ano quando foi editada a brochura No Rumo do Império onde o mapa servia de ilustração. Este mapa foi produzido em vários formatos - cartaz, postal ,etc... - e chegou a estar exposto em todas as escolas do país.
Para além do português, o cartaz teve versões em francês - “Portugal n’est pas un petit pays” - e em inglês - “Portugal is not a small country”, da responsabilidade do SPN: Secretariado de Propaganda Nacional.
António Salazar became the Prime Minister of Portugal's dictatorship in 1932 and in 1933hHe founded the authoritarian Estado Novo presiding over Portugal until 1974. The Salazar regime was focused from the outset on the "greatness" of Portugal and the significance of the Portugese Empire. One of its first initiatives was the First Colonial Portuguese Exhibition (I Exposição Colonial Portuguesa), held in Porto in 1934.
A brochure entitled No Rumo do Império (The Course of Empire) was published to illustrate the exhibition, and the map above was the heart of the brochure. The exhibition was directed, and the map was produced, by Henrique Galvão, an army officer "very active in the colonial administration and colonial propaganda". The map shows the colonies of Portugal overlaid on a map of non-Portugese Europe and is entitled “Portugal is not a small country” (Portugal não é um pais pequeno). In the unlikely case that the image alone were insufficient, data on the map shows that Portugal with its colonies (principally Angola and Mozambique) was larger than the total area of Spain, France, England, Italy and Germany combined.
This map was produced not only in the Exhibition brochure, but in a number of other forms and formats over the years. Versions were published not only in Portuguese (aimed at strengthening internal support for the state) but also in other languages (aimed at visitors to Portugal).
A mesma ideia de cartaz mas comparando com os EUA. No verso pode ler-se "By its history Portugal contributed more than any other country in the world to the discoveries and to the extension and predominance of Christian civilization." Utilizado na Exposição do Mundo Português em 1940


terça-feira, 29 de maio de 2018

Jardins Garcia de Orta

A propósito dos 20 anos passados sobre a Expo'98 - em cima a fachada do antigo pavilhão actualmente no Parque da Cidade em Loures - recordo hoje mais uma 'marca' de Macau que ficou após a exposição mundial dedicada aos oceanos no espaço hoje denominado Parque das Nações.
Refiro-me aos Jardins Garcia de Orta (1501-1568), localizados junto ao rio em toda a extensão da FIL, onde Macau surge 'representado pelas Cycas revoluta, pelos bambús de tronco negro, pela Melastoma sanguineum, o alfinheiro-da-china (Ligustrum sinense), os arrozais e ainda a árvore do pagode (Ficus virens).
Em homenagem a Garcia de Orta, médico e naturalista português que se dedicou à investigação das plantas e ervas na Índia - ver a obra “Colóquios dos Simples e Drogas e Coisas Medicinais da Índia e Frutas nela Achadas” - os jardins com o seu nome reflectem a diversidade dos ecossistemas que os portugueses conheceram - e depois deram a conhecer - durante os Descobrimentos.
Os jardins dividem-se em cinco talhões: Macau/Coloane, Goa, São Tomé e Brasil, Macaronésia e África, com cerca de 500 árvores e 400 espécies de plantas.
 Memória da exposição "Macau: Empreendimentos Presentes e Futuros" durante a Expo'98

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Hugo Carvalho de Lacerda Castel Branco


Hugo de Lacerda (1860-1944) foi um ilustre hidrógrafo que se notabilizou em Moçambique onde, entre outros cargos, foi Inspector de Obras Públicas, Chefe dos Serviços da Marinha (1908) e organizou os serviços do porto de Lourenço Marques. Criou também a Missão Hidrográfica da Costa de Portugal. Colaborou nos ante-projectos dos portos comerciais de São Tomé e do Príncipe, dirigiu as obras do porto de Macau (onde foi director), foi consultor técnico das obras do Arsenal do Alfeite e ainda governador (interino) de Macau entre Julho e Dezembro de 1926.
Primeiro lente de hidrografia da Escola Naval, destacou-se com trabalhos de relevo em campos como a geologia, hidrografia, geodesia e topografia.


Em Macau a Avenida do Almirante Lacerda tem início, a norte, no cruzamento da Avenida do Conselheiro Borja com a Estrada do Arco e termina, a sul, no cruzamento da Travessa dos Estaleiros, Rua da Harmonia e Rua da Ribeira do Patane.
Deixou vasta obra literária sobre os portos de Macau, esteve ligado à exposição industrial de 1926, fez parte do grupo de intelectuais que em 1920 criou o Instituto Macau
Sugestão de leitura: 
Gazeta das Colónias: semanário de propaganda e defeza das colónias - Ano 1, n.º 5, 31 de Julho de 1924 - Artigo "Macau: Sobre as obras do porto de Macau: O que sobre elas diz o seu ilustre Director o sr. Almirante Hugo de Lacerda".

domingo, 27 de maio de 2018

A "Cathedral" de Macau (1857)

A velha cathedral de Macau, que existia no mesmo logar da nova que representa a estampa, era construída de taipa (terra com cal humedecida e batida), como a maior parte dos antigos edifícios da cidade. Os estragos do tempo, e os furiosos vendavaes ou tufões que de vez em quando assolam aquellas paragens, a reduziram a tal estado de ruinas, que o cabido pelos annos 1835 ou 1836, achando-se a sé vaga, resolveu cessar a celebração dos officios divinos n´aquella egreja, e com auctorisação do governo, passou a servir de cathedral a egreja do convento de S. Domingos. 
Este templo, posto tivesse melhores condições, por ser mais moderno, vasto, e construído de tijolo, estava mal situado para aquellas funcções, por causa da proximidade do basar chinez, onde sempre ha muita agitação e estrondo. Por isso começou a pensar-se no concerto da antiga cathedral, muito melhor situada, e contigua ao palacio episcopal. Tão reconhecida era a necessidade d´esta mudança, que a curia romana, quando expediu as bullas de confirmação do bispo de Macau, D. Nicolao Rodrigues Pereira de Borja, em 1843, recommendou particularmente este assumpto ao zelo d´aquelle prelado. Este não descurou d´elle, conseguindo, por suas representações, que fosse expedida pela secretaria da marinha e ultramar, em 26 de fevereiro de 1844, uma portaria auctorisando o mesmo prelado para fazer na antiga sé, de accordo com o governador da colonia, os reparos e concertos que se julgasse necessarios.

Cathedral de Macau – Desenho de Nogueira da Silva – Gravura de Flora

Feito o competente exame ao velho edifício, achou-se que não admittia concertos, e resolveu-se a completa reedificação. Promoveu-se subscripção entre os habitantes, que produziu de seis a sete mil patacas (seis a sete contos de reis), e deu-se começo à obra em dezembro de 1844, sob melhor forma e nova orientação. A antiga sé tinha o fronstispício para oeste, e estava como apertada entre as casas proximas e o palacio episcopal, que ficava a um canto, e encoberto em grande parte pela mesma sé. A nova egreja tem a frente para norte, ficando a frontaria do palacio desembaraçada e mais vistosa, como mostra a estampa.”

in "Archivo Pittoresco - Semanario Illustrado“, Vol I, 1857, n.º 35.

sábado, 26 de maio de 2018

Revisitando a edição do jornal "Único": Maio de 1898

Entre os vários conteúdos do jornal Único de 20 de Maio de 1898, editado na celebração do Quarto Centenário do Descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia por Vasco da Gama, está o poema "San Gabriel" de Camilo Pessanha, cujo manuscrito feito pelo punho de Pessanha data de 7 de Maio de 1898 e pode ser visto em baixo neste post num registo da Bilblioteca Nacional de Portugal. O jornal foi impresso na Typographia de N. T. Fernandes e Filhos e Noronha & Cia., em 1898, com um total de 55 páginas, pela Comissão Executiva das Celebrações em Macau do IV Centenário do Descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia.
A ideia de fazer este jornal surgiu numa reunião da comissão a 2 de Fevereiro de 1898 ficando encarregues da missão: António Joaquim Bastos, Conselheiro Artur Tamagnini da Mota Barbosa, Dr. José Gomes da Silva, Dr. Horácio Poiares, Capitão Eduardo Cirilo Lourenço, Pedro Nolasco da Silva, João Pereira Vasco, Camilo Pessanha e Wenceslau de Moraes.


No jornal "Echo Macaense" de 21 de Maio de 1898 escreve-se: “Espera-se que será posto à venda hoje, ou amanhã. Contará artigos, poesias, a viagem [de dez meses e onze dias] de Vasco da Gama [escrita por João Pereira Vasco para ser traduzida] em chinês, umas 10 fotografias das principais vistas de Macau, com as respectivas descrições, e, segundo se diz, um artigo em patois Macaense."
Os artigos estiveram a cargo de: conselheiro Galhardo, Bispo de Macau, D. Ana Caldas, conselheiro Tamagnini Barbosa, A. C. Abreu Nunes, comendador António J. Basto, Dr. Camilo Pessanha, António Talone da Costa e Silva, Dr. Horácio Poiares, Wenceslau de Moraes, Dr. José Gomes da Silva, Tenente do estado maior Eduardo Marques, Eduardo C. Lourenço, Mário B. de Lima, Pedro Nolasco da Silva, Abeillard Gomes da Silva, Domingos do Amaral, alferes J. L. Marques e João Pereira Vasco.
 
Algumas das fotografias - da autoria de Carlos Cabral - 
de grande formato incluídas no jornal
Porta do Cerco, Templo de A-Ma (da Barra) e vista da baía da Praia Grande
Na edição do jornal O Independente de 22 de Maio de 1898 numa notícia sobre o "Único" surgem referências às fotos e à capa:
"As fotografias que ornamentam este jornal são: vistas da Praia Grande, do Leal Senado, do Farol da Guia, do Porto Interior, Pagode da Barra, Portas do Cerco, Sé, Gruta de Camões, Avenida Vasco da Gama e uma fotografia do projecto da sua estátua. Todas estas fotografias, que são as melhores que aqui temos visto, foram tiradas pelo distinto amador, Sr. Carlos Cabral. A capa, que é um primor, foi desenhada pelo Sr. Rodrigues Belo, imediato da canhoneira Liberal e a impressão do jornal feita sobre aguarelas."
Destas celebrações fez também parte a emissão de selos alusivos à efeméride. Na imagem um selos com o valor facial de 1 avo e o carimbo da "Direcção do Correio de Macau" com a data 28 de Maio de 1898.

Inútil! Calmaria. Já colheram 
As velas. As bandeiras sossegaram, 
Que tão altas nos topes tremularam,
— Gaivotas que a voar desfaleceram.

Pararam de remar! Emudeceram! 
(Velhos ritmos que as ondas embalaram) 
Que cilada que os ventos nos armaram! 
A que foi que tão longe nos trouxeram?

San Gabriel, arcanjo tutelar, 
Vem outra vez abençoar o mar, 
Vem-nos guiar sobre a planície azul.

Vem-nos levar à conquista final 
Da luz, do Bem, doce clarão irreal. 
Olhai! Parece o Cruzeiro do Sul!




Vem conduzir as naus, as caravelas, 
Outra vez, pela noite, na ardentia, 
Avivada das quilhas. Dir-se-ia 
Irmos arando em um montão de estrelas.

Outra vez vamos! Côncavas as velas,
Cuja brancura, rútila de dia,
O luar dulcifica... Feeria
Do luar não mais deixes de envolvê-las!

Vem guiar-nos, Arcanjo, à nebulosa
Que do além vapora, luminosa,
E à noite lactescendo, onde, quietas,

Fulgem as velhas almas namoradas...
— Almas tristes, severas, resignadas, 
De guerreiros, de santos, de poetas.

Camilo Pessanha, Macau, 7 de Maio de 1898



sexta-feira, 25 de maio de 2018

"Banco de Macau e China": 1867

Publicado no Boletim do Governo
A 21 de janeiro de 1867 o governador faz publicar um "annuncio" no Boletim do Governo - imagem acima - onde convoca todos os cidadãos portugueses e chinas que queriam fazer parte da assembleia constitutiva "do futuro banco de Macau com o fim de se discutirem os estatutos". Esses mesmo estatutos seriam publicados a 28 de Janeiro de 1867 - imagem abaixo - sob o nome de Banco de Macau e China.
Recorde-se que o Banco Nacional Ultramarino tinha sido criado em Portugal, poucos anos antes, em 1864. Segundo a Carta de Lei de 1864 o BNU estava obrigado ao estabelecimento de sucursais e agências nas principais praças em Portugal e no ultramar,  com excepção de Macau. No seguimento de novo contrato assinado entre o BNU e o Estado português, na revisão que foi a Lei de 26 de Janeiro de 1876, o BNU chegaria a Macau em 1902.

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Turismo de Macau na 88ª edição da Feira do Livro de Lisboa

De 25 de Maio a 13 de Junho, o Parque Eduardo VII volta receber mais uma edição da Feira do Livro de Lisboa com o Turismo de Macau, através da sua livraria, a marcar mais uma vez presença.
Durante os sete dias da 88ª edição da Feira do Livro de Lisboa, a Livraria do Turismo de Macau - stand C13 - oferecerá a oportunidade dos visitantes descobrirem e reencontrarem-se com a literatura que se faz em Macau, quer através de autores locais, outros que passaram pelo território ou que sobre ele escreveram, realizando-se várias sessões de autógrafos:

João Botas – 25 e 26 de Maio, às 21h.
Jorge Arrimar – 27 de Maio, às 18h. 
Ernesto Matos – 30 de Maio, às 17h. 
Maria Helena do Carmo – 31 de Maio, às 17h.
Graça Abreu – 31 de Maio, às 18h.
Fernando Sobral – 2 de Junho, às 18h.
Ernesto Matos e António Correia – 3 de Junho, às 20h.
No dia 3 de Junho, entre as 18 e as 19 horas, o stand da Livraria do Turismo de Macau transforma-se em estúdio de emissão da Rádio Renascença, com entrevistas em directo. No mesmo dia, a partir das 19 horas realiza-se um show cooking de gastronomia macaense.
Horários da Feira do Livro:
2.ª a 5.ª feira das 12h30 às 22h; domingos e feriados das 11h às 22h, 6.ª feiras das 12h30 às 00h; sábados das 11h às 00h.

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Júlio Pomar: 1926-2018

Júlio Pomar, um dos nomes maiores da pintura moderna portuguesa, nasceu em Lisboa, em 1926. Frequentou a Escola de Artes Decorativas António Arroio e as Escolas de Belas-Artes de Lisboa (1942/44) e do Porto (1944/46), a qual abandonou depois de uma suspensão disciplinar por actividades estudantis. Expôs pela primeira vez em 1942, em Lisboa, numa mostra de grupo no seu atelier. A partir de 1946 fez parte da Comissão Central do Movimento de Unidade Democrática Juvenil (MUD), actividade pela qual foi detido no ano seguinte e condenado em tribunal. Em 1947 realizou a primeira exposição individual no Porto. Em 1949, por ocasião da participação na candidatura presidencial de Norton de Matos, de quem desenhou um retrato muito divulgado, foi afastado do lugar de professor de desenho no ensino técnico. Instalou-se em Paris em 1963. 
Considerado um dos artistas mais conceituados do século XX português, Pomar deixou uma obra marcada por várias estéticas - que vão do neorrealismo ao expressionismo, passando pelo abstracionismo - e uma profusão de temáticas abordadas. Dedicou-se especialmente à pintura, mas realizou também trabalhos de desenho, gravura, escultura e «assemblage», ilustração, cerâmica e vidro, tapeçaria, cenografia para teatro e decoração mural em azulejos.
Em 2004 foi condecorado pelo Presidente da República, Jorge Sampaio, com a Ordem da Liberdade. Quase dez anos depois, abriu o Atelier-Museu Júlio Pomar, em Lisboa, perto da residência do artista, com um acervo de cerca de 400 obras. Morreu esta terça-feira, 22 de Maio de 2018, aos 92 anos.

Obras de Júlio Pomar estiveram em Macau em pelo menos duas ocasiões: 1989 e 2015.


Nas imagens, o catálogo ilustrado e edição bilingue em português e chinês, referente à exposição de pintura de Júlio Pomar - que chegou a visitar Macau - realizado em Setembro/Outubro de 1989 na Galeria do Leal Senado. 

terça-feira, 22 de maio de 2018

Expo'98 foi há 20 anos

Na véspera de 22 de Maio de 1998, dia da abertura da exposição, ainda se ultimavam os detalhes, mas nesse dia era inaugurada a Expo'98. Seguiram-se 132 dias e 11 milhões de visitantes. O bilhete de um dia para um adulto custava 5 mil escudos. Criança e idoso pagavam metade. O encerramento ocorreu na madrugada do dia 1 de Outubro de 1998, com a maior enchente de sempre e um fogo de artifício épico.
A 24 de Janeiro de 1998 o JTM noticiava: «O governador de Macau mostrou-se “impressionado” pela “ambição” da Expo-98 e prometeu uma “boa campanha” de promoção do Território na última exposição internacional em que participa antes da transição da administração para a China. Rocha Vieira visitou o recinto da exposição durante mais de uma hora, designadamente o local onde ficará o pavilhão de Macau, na área das organizações nacionais, com o seu jardim chinês. O Governador garantiu à Lusa que o governo do Território foi o único responsável pelo conteúdo do pavilhão, não tendo havido qualquer interferência das autoridades chinesas. 
“A Expo-98 é uma oportunidade única para mostrar Macau aos portugueses e ao mundo, para mostrar a riqueza e a singularidade do Território. Os portugueses podem e devem ter orgulho do que fizeram em Macau”. Infelizmente Macau nem sempre é conhecido pelos melhores motivos, mas há imensos bons motivos porque Macau deve ser conhecido”, comentou. Além do pavilhão com o seu jardim chinês, Macau tem também um restaurante e trará a Lisboa, no Dia de Macau, a famosa Dança do Dragão com “alguns 400 homens”.»

1. Pavilhão de Portugal
2. Praça Cerimonial
3. Pavilhão do Conhecimento dos Mares
4. Pavilhão do Futuro
5. Jardins da Água / Parque Vitalis
6. Pavilhão dos Oceanos
7. Centro de Comunicação Social
8. Pavilhão da Utopia (Multiusos)
9. Área Internacional Norte
10. Área Internacional Sul
11. Área das Organizações Internacionais
12. Área das Organizações Nacionais
13. Pavilhão de Macau
14. Porta do Mar
15. Porta do Norte
16. Porta do Sol
17. Estação do Oriente
18. Área Central de Serviços
19. Porta VIP
20. Porta do Tejo
21. Estacionamento
22. Doca dos Olivais
23. Praça Sony
24. Anfiteatro da Doca
25. Jardins Garcia da Orta
26. Torre Vasco da Gama
27. Restaurantes, Comércio e Serviços
28. Teatro Camões / Sala Júlio Verne
29. Pavilhão da Portugal Telecom / Viagem à Oceânia
30. Restaurantes Flutuantes
31. Exibição Náutica
32. Porta de Serviço
33. Edifício de Apoio à exibição Náutica
34. Pavilhão Swatch
35. Pavilhão da Água / Unicer 


O Dia de Macau na Expo'98 foi celebrado a 19 de Junho com um Concerto da Orquestra Chinesa de Macau, Pedro Caldeira Cabral e Rui Veloso no auditório Promenade e um jantar.




Um lai-si com uma moeda de uma pataca (emissão de 1998) foi a oferta aos visitantes do pavilhão. Outra das 'marcas' da representação macaense foi a Lorcha "Macau".


A recriação da fachada da Igreja da Madre de Deus - uma réplica de 18 metros de altura - vulgo Ruínas de S. Paulo, foi a imagem de marca do Pavilhão de Macau na Expo'98 que ocupou uma área de 2 mil metros quadrados e incluiu ainda um restaurante.
No espaço central do pavilhão havia uma réplica de um jardim chinês. No final da visita era exibido um filme em ecrã panorâmico sobre Macau. Durante o genérico final, uma maqueta da skyline de Macau surgia de um aquário colocado à frente do ecrã.
Mesmo depois do fim da Expo'98, o Pavilhão de Macau continuou a operar durante vários meses após a reabertura do recinto em Novembro desse ano com a designação Parque das Nações. 

Posteriormente foi desmantelado, tendo a sua estrutura e respectiva fachada sido reconstruídas no Parque da Cidade, em Loures.

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Autores do projecto do Hospital Militar de S. Januário

Hospital Militar de S. Januário: projecto de 1873 do Capitão de Infantaria Henrique Augusto Dias de Carvalho (1843-1909)  e do 2º Barão do Cercal, António Alexandrino de Melo (1837-1885)

Na edição do Boletim do Governo de 10 de Janeiro de 1874 fica-se a saber como foi a inauguração, alguns dias antes:«Teve logar no dia 6 do corrente, como estava anunciado, a inauguração solemne do hospital militar de S. Januário segundo o programma que foi publicado n´esta folha. Sua Ex.ª o Governador da província de Macau e Timor, Visconde de S. Januário às 2 horas precisas deu entrada no edifício do hospital, dirigindo-se à sala destinada à inauguração. A sala achava-se decorada com trophéos artisticamente dispostos, no centro do trophéo principal achava-se o retrato de S. Ex.ª. Na balaustrada que circunda o perímetro onde se acha edificado o hospital e no mesmo edifício tremulavam nas suas hastes, numerosas bandeiras, distinguindo-se nos dois torreos extremos as que são privativas dos hospitaes(…).
Este edifício seria demolido por volta de 1952 para dar lugar a um outro hospital como mesmo nome inaugurado em 1958 e por sua vez, já no final da déada de 1980, também este seria demolido para dar lugar ao actual. Pela localização, numa colina, é conhecido em chinês, por Hospital do Monte. No ano da inauguração, 1874, viria a sofrer avultados estragos por via do tufão que assolou Macau em Setembro desse ano.
A primeira e a segunda 'versão' do hospital: foto da década de 1950

Henrique Augusto Dias de Carvalho frequentou o Colégio Militar. Em 1871, era então tenente, exerceu o cargo de Condutor das Obras Públicas em Macau. Destacou-se pela viagem realizada à região angolana da Lunda fazendo uma ampla divulgação da geografia da região e da cultura dos povos que a habitam. Em 1923, a atual capital da Lunda, Saurimo, era denominada Vila Henrique de Carvalho.


​António Alexandrino de Melo era filho de Alexandrino António de Melo, 1.º barão e visconde do Cercal (1809-1877). ​Nasceu em Macau, a 7 de Junho de 1837 e morreu em S. Lourenço a 27 de Maio de 1885. 2.º Conde de Cercal, filho de Alexandrino António de Melo, (1809-1877) e de Carlota Josefa Botelho (1819​-​1892), Viscondes de Cercal. Aos 7 anos foi estudar para o colégio jesuíta «Stonyhurst» no condado de Essex, Inglaterra, formando-se em engenharia civil. Aos 17 anos complet​ou​ os estudos em França​ e dois anos depois, em Roma, estudou pintura em aguarela e a óleo, em Roma, ​cidade onde viveu dois anos. Falava correctamente várias línguas: português, francês, espanhol, inglês, italiano e chinês.​Teve oito filhos no primeiro casamento (Com Guilhermina Pamela Gonzaga em 1841) e mais um posteriormente.
A 5 de Janeiro de 1862, por sua iniciativa foi inaugurada uma escola com o nome de “Nova Escola Macaense”. Encerrou a actividade a 21 de Outubro de 1867. Com o fim da escola, o capital remanescente dos fundos reunidos para criar a “Nova Escola Macaense” - 9.417,53 patacas - foi entregue por Alexandrino António de Melo (1837-1885) à Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM) para a fundação de um colégio para instrução dos macaenses, que primeiro se denominou "Collegio Comercial" e mais tarde passaria a chamar-se “
Escola Comercial”.
​E​m Macau ​exerceu vários cargos:
Vogal do Conselho de Governo; do Conselho Técnico das Obras Públicas; Director das Obras Públicas; Comandante do Batalhão Nacional, no posto de tenente-coronel (no tempo em que o Barão comandou o Batalhão, chegou este a ter um efectivo superior a 400 homens, gastando com ele o dito comandante, uma grossa quantia do seu bolso para o equipar devidamente​, escreveu o Padre Manuel Teixeira​); Provedor da Santa Casa da Misericórdia; Juiz substituto da Comarca; etc.
​Foi ainda Cônsul do Brasil, Itália, Bélgica e Vice-Cônsul da França.
Como engenheiro delineou ​vários​ edifícios​: Palácio do Governo, Palacete de Santa Sancha, Hospital Militar S​.​ Januário (demolido), Cemitério de S. Miguel, Capitania dos Porto​s​/Quartel dos Mouros, ​Grémio/​Clube Militar​, entre outros.​
​Foi dono da empresa ​"​A. A. de Mello & C.​a, proprietári​a​ de 5 navios que faziam ligações ​entre​ Portugal, Brasil e Austrália. Foi um dos mais ricos comerciantes de Macau mas sofreu duro revés com a instalação dos ingleses em Hong Kong, pelo que devido à má situação financeira, vendeu as casas dos seus pais, o Palácio da Praia Grande e o Palacete de Santa Sancha.​
Alguns dos títulos honoríficos:
Barão do Cercal a partir de 1865 ou 1868; Fidalgo Cavaleiro da Casa Real; Comendador da Ordem de Cristo; Cavaleiro do Santo Sepulcro de Jerusalém; Comendador da Ordem de N. S. da Conceição de Vila Viçosa; Cavaleiro da Ordem da Bélgica; Cavaleiro da Legião de Honra de França; Cavaleiro de S. Maurício e S. Lázaro de Itália; Comendador de 1.ª classe do Sol Nascente do Japão e da Indochina; Medalha de Isabel, a Católica, de Espanha. Era sócio Honorário da Real Sociedade de Geografia Inglesa e outras sociedades científicas estrangeiras.