“The Fan Tan Players”, livro que mereceu uma nomeação para o Ásia Man Book Prize de 2010, passa-se em Macau da década de 30. O autor, Julian Lees, nasceu e cresceu em Hong Kong, mas passou grande parte de sua vida no Reino Unido a estudar. Durante dez anos trabalhou no ramo financeiro, decidindo trocar uma carreira de números pela das letras. Tornou-se escritor a tempo inteiro há menos de dois anos e tem, até agora, duas obras publicadas, Vive actualmente na Malásia. Para além do inglês existem versões em alemão, polaco estónio e checo. Fica a faltar, por exemplo, português e chinês.
The Fan Tan Players opens in 1928 in Macao on a cyclone-drenched Quasimodo Sunday. Nadia Shashkova, now in her late twenties, but originally a child refugee from pre-revolutionary Russia, is contemplating her diminishing marital prospects. None of the Portuguese suitors who pay their respects appeal to her in the slightest. Independent, astute, an outsider, Nadia is haunted by secrets from her childhood, memories of violence and rupture, and one terrible secret above all others will not let her go. Enter Iain Sutherland, an enigmatic Scot who is, officially, a British Consular representative, and who is very interested in Nadia for a number of reasons. As Nadia and Iain learn about each others' histories, neither of them can anticipate what the future holds for each of them a journey into Russia to find something that has been lost, internment in a Japanese prisoner-of-war camp, a courageous rescue. The Fan Tan Players is an opulent family saga, set in Macao, Russia, the Scottish Highlands and Hong Kong in the 1920s, 1930s and 1940s. Exotic and beautifully written, it is a story of love, history, adversity and adventure.
Julian Lees was born and raised in Hong Kong. After attending Cambridge University he worked for ten years as a stockbroker with UBS and Société Générale. Since then he has written two novels: A Winter Beauty and The Fan Tan Players . Both novels have been translated into German and published by Random House Germany with a third set for release in 2011. The Fan Tan Players has also been published in Polish by Proszynski Publishers. Julian currently lives in Malaysia.
É um livro que começa com uma grande tempestade, um tufão. Macau está a afundar-se como se fosse hoje, como se fosse na semana passada, com o Nesat. Julian Lees escreveu “The Fan Tan Players” e inspirou-se nesta terra, que considera “uma ponte maravilhosa entre duas culturas”. O autor, que editou a obra pela Sandstonepress, estará na RAEM na próxima sexta-feira, 14, para um encontro com os leitores na Livraria Portuguesa, às 18h30.
O romance, que esteve na corrida ao Man Asian Literary Prize, percorre os anos 20, 30 e 40 do século passado, abre em Macau no ano de 1928 mas vai até às paisagens verdes da Escócia e ao frio russo nos invernos que se seguem. A história de amor entre Nadia, uma russa à procura de rumo na vida, e Iain, um oficial escocês com intenções pouco claras, nasce no enclave então sob administração portuguesa, numa terra em que Julian Lees concebe personagens lusas como Izabel, recorrendo a vários termos na língua de Camilo Pessanha.
O autor natural de Hong Kong e hoje a viver na Malásia vai no segundo romance publicado. Antes deu à estampa “A Winter Beauty” (Random House), uma história de amor, exílio e sobrevivência, que também percorre a Rússia e as regiões de Harbin e Xangai entre 1915 e 1930. A trama, neste caso, é baseada na história da sua própria família.
Em entrevista, Lees fala de como é tentador misturar o trabalho de historiador com o de contador de histórias ficcionadas e defende o potencial literário da Macau dos nossos dias. Antes de rumar à Universidade de Cambridge e de trabalhar nos mercados financeiros durante quase uma década, Lees foi descobrindo um território que, durante a infância, ficava à distância de uma viagem de barco pelo Delta do Rio das Pérolas. Agora ficcionou-o. E gostava de ver a suas palavras vertidas para português e chinês.
- Porque é que decidiu usar Macau como pano de fundo para este livro? Nasceu e cresceu em Hong Kong. Qual é a sua relação com o território? Julian Lees – A minha relação com Macau é de há muitos anos. Quando era criança o meu avô trazia-me de Hong Kong até aqui regularmente. Costumávamos sentar-nos ao balcão do velho Hotel Bela Vista e pedir galinha africana. Ele geria um negócio de ervas medicinais e a pequena fábrica era na Travessa do Enleio [por trás do Jardim de Camões]. O negócio esteve primeiro estabelecido em Xangai, nos anos 1890, e mudou-se para Macau na sequência da tomada da China pelos comunistas. A minha mãe passou a adolescência em Macau. E da parte da minha mulher há também uma forte ligação a Macau – a minha sogra nasceu aí. Quis que “The Fan Tan Players” fosse passado em Macau porque esse lugar foi, e ainda é em menor escala, uma ponte maravilhosa entre duas culturas – a portuguesa e a cantonense. O facto de a história se passar nos anos 1930 também me deu a hipótese de reflectir sobre a elegância gentil e decadente que a cidade teve em tempos. Foi igualmente importante para o desenrolar da história que Macau não tenha sido ocupada pelos japoneses durante a [II] Guerra [Mundial]. Foi um contraste necessário àquilo que estava a acontecer em Hong Kong naquela altura.
- O livro cobre boa parte da primeira metade do século XX. Fez uma pesquisa histórica forte para escrevê-lo?
J.L. – Todos os meus livros envolvem uma pesquisa histórica intensa. Gosto de dar aos meus leitores um forte sentido de espaço e tempo, mas avisando que não quero ficar acorrentado aos factos e à história. Às vezes tenho de lembrar a mim mesmo que, em primeiro lugar e acima de tudo, sou um escritor de ficção e não um historiador, e por isso por vezes permito-me distorcer um pouco a verdade, se isso servir a trama. Normalmente passo pelo menos seis meses a estudar o período e o contexto político antes de começar a escrever.
- Para escrever sobre Macau esteve algum tempo aqui, a vasculhar arquivos? Entrevistou pessoas?
J.L. – Encontrei muito mapas antigos de Macau e deparei-me com um coleccionador de fotografias raras e de material cartográfico sobre o território. Também passei algum tempo no Arquivo Histórico de Macau, o que foi de grande ajuda. No entanto, a melhor inspiração para o livro foi a avó da minha mulher, que viveu em Macau durante a II Guerra Mundial.
- O livro arranca com uma tempestade enorme em Macau, com descrições que podiam ser dos dias de hoje. Alguma vez experimentou estar em Macau durante um tufão, para perceber como é?
J.L. – Nunca fui apanhado no meio de uma tempestade em Macau, mas experienciei muitos tufões enormes em Hong Kong, e por isso foi fácil escrever sobre esse tema. Lembro-me do tufão Hope, que atingiu Hong Kong em 1979. Fustigou as ilhas com ventos que chegaram aos 130 quilómetros. Morreram 12 pessoas e mais de 250 ficaram feridas.
- E porque é que decidiu chamar “The Fan Tan Players” ao livro?
J.L. – O fan tan é um tipo de jogo muito popular na China e ainda é jogado nos maiores casinos de Macau. Acho que o título dá uma referência oriental ao livro e o tema do jogo emparelha com a aventura arriscada da personagem Iain na Rússia soviética, bem como, mais tarde, a tentativa de Nadia em reencontrar-se com Iain num campo de prisioneiros de guerra.
Excerto de artigo/entrevista da autoria de Hélder Beja publicada no jornal Ponto Final de 9-10-2011