terça-feira, 30 de agosto de 2011

Vicente Nicolau de Mesquita: 1818-1880

Carlos Montalto de Jesus, no seu livro “Macau Histórico”, criou porventura intencionalmente, o mito do herói romântico corporizado na figura do Coronel Mesquita, de seu nome completo, Vicente Nicolau de Mesquita (1818-1880), insuflando uma energética motivacional mais aguerrida e viril a uma história de Macau que dela parecia necessitada. Com uma poderosa e sedutora escrita de ideias, similar em alguns aspectos com a de Oliveira Martins, Carlos Montalto de Jesus descreve as façanhas de Vicente Nicolau de Mesquita salientando a valentia, a temeridade e a coragem de que deu provas, numa época em que a soberania portuguesa esteve em risco de ser apagada da geopolítica local e regional. Sem a sua acção, Macau tinha, provavelmente, acabado em 1849. Contudo, para entendermos melhor algumas mudanças estruturais que aconteceram em Macau, e que precipitaram para a ribalta a figura de Vicente Nicolau de Mesquita, será necessário evocarmos uma sábia e clarividente providência régia, assinada pela Rainha D. Maria II, em 1844, cujo artigo primeiro rezava assim: “A Cidade de Macau e os Estabelecimentos de Solor e Timor, com todas as suas dependências, e territórios a que tem direito a Coroa portuguesa, formarão uma Província que se denominará – Província de Macau, Solor e Timor – independente, quanto ao seu governo do Geral do Estado da Índia”. Esta fragmentação do mapa político e administrativo do Império, com o progressivo apagamento de Goa e com a emergência de Macau como unidade política autónoma, exigia uma nova política cuja praxis não poderia ser inconsequente e, evidentemente, um novo governador. Assim, foi destacado para governar Macau, em 1846, João Maria Ferreira do Amaral, um destemido oficial da armada, que tinha perdido o braço direito no decurso da guerra da independência do Brasil, na ilha de Itaparica. A sua missão era clara e inequívoca, repor e restaurar a soberania portuguesa, centrada na figura do governador, fazendo cessar a jurisdição chinesa e as constantes e caprichosas interferências dos mandarins.
Por outras palavras, era a imposição pura e dura da soberania portuguesa: o Leal Senado perdeu a preponderância política que detinha no relacionamento com as autoridades chinesas, as alfândegas chinesas foram abolidas, as ilhas da Taipa e Coloane foram plenamente ocupadas, foi enfrentada a tiro a revolta dos faitiões (há uma Rua dos Faitiões), mandou-se rasgar uma estrada estruturante cujo traçado coincidia com um cemitério chinês, entre muitas outras acções. Tudo isto, como é bom de ver, configurou uma verdadeira revolução em Macau. Afrontar o status quo dominante, hostilizar as autoridades mandarínicas e alterar o jogo de interesses económicos, políticos e sociais, foi uma mudança muito grande em muito pouco tempo. Com o pleno apoio do governo régio, em Lisboa. Mas Lisboa ficava muito longe.
Ouçamos Carlos Montalto de Jesus: “Em Cantão, cartazes inflamatórios, afixados com a conivência oficial, ofereciam recompensas pela cabeça de Amaral. Em Macau, a sanguinária conspiração era tão evidente que, dois dias antes da sua consumação, Amaral expressou a D.Sinibaldo de Mas a sua convicção de que cedo ou tarde seria disso vítima; e na própria noite da chocante tragédia, um dos seus criados chineses o avisou do perigo que o aguardava no seu usual passeio a cavalo até à Porta do Cerco – um aviso repetido por um amigo mendigo que encontrou no caminho”. O cobarde assassinato foi consumado no dia 22 de Agosto de 1849. Macau ficou em estado de choque perante a tragédia. Mas não era tudo. Nas cercanias da Porta do Cerco, junto do Forte do Passaleão, reuniu-se um pequeno exército chinês, com mais de 2000 homens, com o objectivo de invadir e conquistar Macau e cuja artilharia começou a fazer fogo sobre o Território. A situação era dramática, o Conselho de Governo estava tolhido de indecisão e a angústia tomava conta de uma cidade que se sentia indefesa. Aparece Vicente Nicolau de Mesquita, então subtenente de artilharia, a oferecer-se “como voluntário para, com um grupo escolhido por ele, assaltar o Forte do Passaleão”, no dia 25 de Agosto. A descrição de Carlos Montalto de Jesus é verdadeiramente épica: “À frente de dezasseis homens com um morteiro - presente de um comandante naval francês a Amaral - Mesquita correu para o campo de acção e entregou ao capitão Sampaio uma ordem do Conselho para avançar com as forças até aos arrozais; aí, ele mesmo carregou e assestou o morteiro. A carga, rebentando onde havia mais gente, dentro do forte, criou um pânico evidente. Foi o único tiro eficazmente disparado. No coice, uma roda partiu-se, incapacitando o morteiro. Mesquita pediu, então, formalmente, ao oficial em comando, permissão para assaltar o forte, apresentando a autorização do Conselho para esse efeito; em seguida, dirigindo-se às tropas, pediu aos que o queriam seguir que dessem um passo em frente. Vinte bravos o fizeram e, com os dezasseis escolhidos que tinham trazido o morteiro, seguiram em fila indiana pelos estreitos caminhos que bordejavam os arrozais para além dos quais, no cume de um escarpado cabeço, o Forte do Passaleão lançava para o ar fumo e estrondos. Quando se aproximavam eram tais o canhoneio e a fuzilaria que o capitão Sampaio chegou a ordenar a retirada. Ao ouvir o toque de corneta para esse fim, Mesquita, sedento de sucesso, ordenou ao seu corneteiro que tocasse para avançar; e enquanto isto ocorria, um tiro, passando a assobiar, fendeu a corneta em dois pedaços. Incitados pelos gritos de Mesquita, lançaram-se então para a frente os galantes trinta e seis, com um entusiasmo digno dos mais orgulhosos dias do heroísmo luso. (…) Quando escalavam o cabeço escarpado, disparando, o inimigo foi tomado de pânico e abandonou o forte, assim como as elevações vizinhas. Quase exaustos sob o sol escaldante, Mesquita e os seus seguidores saltaram para o forte mesmo a tempo de matar um soldado que estava prestes a deitar fogo ao paiol por meio de uma pederneira. Os canhões – de vinte e nove quilos – foram então encravados. Um dos heróis, que trazia uma bandeira portuguesa dobrada junto ao peito, desdobrou-a e, por entre frenéticos vivas, desfraldou-a por cima das ameias do Passaleão, conquistado à custa de apenas um soldado gravemente ferido. (…) Do paiol, Mesquita fez um rastilho de pólvora até ao local onde o grupo estava reunido e aí acendeu-o. Com um estrondo medonho o paiol voou pelos ares e a muralha adjacente cedeu, desmantelando vários canhões”. A emoção eufórica da narrativa não belisca o arrojo e a valentia patenteadas por Vicente Nicolau de Mesquita e pelos seus homens.
A situação serenou e o equilíbrio de forças recompôs-se lentamente, com fragilidades evidentes. Incidentes diversos pontuaram a vida do Território, por exemplo, no dia 21 de Novembro de 1873, há um ataque ao comandante da escuna ‘Príncipe Carlos’, tendo morrido diversos oficiais e marinheiros, acometidos por piratas que tinham um refúgio seguro na ilha da Lapa, ou, ainda, um problema ainda mais delicado, que se prendia com o reconhecimento formal do exercício da soberania portuguesa, em 1878, protagonizado pelo Governador de Macau, Carlos Eugénio Correia da Silva, pelo Governador de Hong Kong, John Pope Hennessy e o Vice-Rei dos dois Kuangs, o Mandarin Liu. A diplomacia começou a trabalhar na elaboração de um Tratado com a China que garantisse a idiossincrasia de Macau, a governação portuguesa e o modus operandi em termos de relações bilaterais. O primeiro passo foi dado pelo Tratado de Tientsin, em 1862, embora não ratificado, pelo que só em 1887 é que foi assinado um Tratado, cujo artigo segundo dizia o seguinte: “A China confirma a perpétua ocupação e governo de Macau e suas dependências por Portugal (…)”. As Portas do Cerco, melhor dizendo, Porta do Cerco, foi inaugurada em 1871, ostentando duas datas simbólicas, uma referente ao assassinato de Ferreira do Amaral (22 de Agosto de 1849), a outra, dedicada a Vicente Nicolau de Mesquita e à Batalha do Passaleão (25 de Agosto de 1849).
Estátua no Largo do Senado em Dezembro de 1966 quando foi derrubada nos eventos do 1,2,3
Vicente Nicolau de Mesquita foi promovido por mérito a Primeiro-Tenente em 1850, atingindo a patente de Tenente-Coronel em 1867. Com o pedido da reforma, em 1873, é promovido a Coronel, com “o vencimento de 54$000 réis mensais”. A progressão dos oficiais do quadro ultramarino revelou-se mais lenta e marcada por algumas situações de injustiça, decorrente do enquadramento legislativo que era diferente daquele que servia os oficiais do quadro metropolitano. O Coronel Mesquita foi particularmente sensível a essa questão. Está por averiguar se lhe terá sido proposta uma comissão no exterior, por exemplo, em Timor. Desempenhou os cargos de Comandante da Fortaleza do Monte, de Comandante do Forte de São Tiago da Barra, de Comandante da Fortaleza da Taipa, tendo integrado o Conselho de Justiça Militar e o Conselho de Governo. Recebeu diversas condecorações, entre elas a Medalha de Prata de Valor Militar, a Medalha de Ouro de Conduta Exemplar, a Comenda da Ordem de Aviz e a Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa.
A vida do Coronel Mesquita terminou numa tragédia. No circunspecto ‘Boletim da Província de Macau e Timor’, de 27 de Março de 1880, o comandante geral interino da Guarda Policial de Macau, major Francisco de Paula da Luz, assina o relatório das ocorrências havidas no dia 20 de Maio: “Pela uma hora da madrugada de hoje houve uma denúncia a S.Exª o Governador de que o Coronel Mesquita assassinara todas as pessoas de sua família achando-se o denunciante, filho mais velho do referido Coronel, gravemente ferido por três tiros de revólver, em vista disto marchou imediatamente, por ordem do mesmo Exmº. Sr. o tenente Azedo com 4 praças do piquete sendo pouco depois seguido pelo comandante da guarda policial com oito homens, e tendo chegado ao lugar da habitação do referido coronel, ali encontrou S.Exª. o Governador, juiz de direito da comarca, delegado do procurador da coroa, e mandando em seguida bater à porta a que respondeu o silêncio; mandou depois buscar uma picareta e arrombar a porta principal e aberta esta entraram parte das pessoas presentes, tendo de se arrombar também a porta interior que dava para a escada e em poucos momentos se deu com os cadáveres de duas senhoras e uma outra ferida gravemente. Devia ter havido grande luta porque tudo estava em desordem, percorrendo-se a casa em procura do mesmo coronel foi encontrado morto dentro do poço, donde se tirou pelas 5 horas da manhã por falta de aparelho próprio e pela enorme profundidade do mesmo. Foram prestados os socorros que em tais ocasiões se devem prestar, recolhendo a ferida ao hospital de S. Rafael, bem como o filho”. Nunca foram devidamente esclarecidas ou estudadas com rigor científico as causas desta tragédia, se loucura, se demência ou outra grave patologia. Leôncio Ferreira, na qualidade de administrador do concelho, publicou um documento, “Relatório do Administrador de Macau sobre a Tragédia da Morte do Coronel Reformado, Vicente Nicolau de Mesquita, ocorrido na noite de 19 de Março de 1880”, que é omisso quanto à origem psicopatológica de tal acto tresloucado. Tendo em conta, lê-se num documento oficial, “os nefandos crimes que aquele oficial acabava de praticar”, não se prestarão honras militares “ao assassino de sua mulher e de seus filhos”, sequer terá o direito a uma sepultura cristã.

Busto no cemitério de S. Miguel

A memória e a honra de Vicente Nicolau de Mesquita foram reabilitadas em 1910 pelo Juízo Eclesiástico, o que permitiu que os seus restos mortais fossem transladados para o Cemitério de São Miguel com as honras inerentes. Muito mais tarde, o Leal Senado inaugura a Avenida do Coronel Mesquita e manda erguer uma estátua em bronze, em frente à sede da municipalidade, com os seguintes dizeres: “Homenagem da Colónia ao Herói Macaense Coronel Vicente Nicolau de Mesquita. 25 de Agosto de 1849. Monumento erigido por subscrição pública e auxílio do Governo da Colónia. Foi inaugurado por ocasião das festas comemorativas do duplo centenário da Fundação e Restauração de Portugal. 24 de Junho de 1940. Oferta do Leal Senado”. Esta estátua foi vandalizada nos tumultos maoístas do 12.3, em 1966, tendo sido retirada e removida para Portugal. No Cemitério de São Miguel existe o seu busto em mármore, em cuja base se pode ler: “Vicente Nicolau de Mesquita, heróico defensor de Macau em 25 de Agosto de 1849”; “Erecto por subscrição pública com o concurso da primeira subscrição promovida pela Comunidade Portuguesa de Hong Kong em 1884”; “Tomou Passaleão em 25-8-1849. Faleceu em 20-3-1880. Foi transladado em 28-8-1910. Teve nesse dia honras militares e eclesiásticas”. Vicente Nicolau de Mesquita foi realmente o último herói romântico de Macau cuja vida terminou em tragédia.
Artigo da autoria de António Aresta, docente e investigador, publicado no JTM de 26-5-2011

sábado, 27 de agosto de 2011

Chiquia


Rapazinho chinês do bairro social Hak Sa Wan jogando chiquia com o pé. 
("bater andorinha com o pé")
Fotografia (década 1960) e legenda da prof. Ana Maria Amaro.
Neste conjunto de selos de Macau da década de 1980 são evocados 4 jogos tradicionais de Macau: chiquia, ta lu, xadrez chinês e triol.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

"Boa Vista": brief history

Mais um de diversos post's sobre este edifício emblemático de Macau, desta feita, em inglês... procurando ir de encontro a um pedido frequente dos leitores mais assíduos.
Built in 1870, originally as a residence for Edward and Chatherine Clarke, a British Captain and his wife, they decided in 1890 to turn it into a hotel and named it the “Boa Vista”. Unfortunately their fortunes weren’t so great and they were forced to put it on the market after only a few years. They were about to sell it to the French, who wanted to turn it into a hospital for French soldiers wounded in Indo-China but the sale was opposed by the British who feared a French expansion in China.
And so it went on with several owners, including the Santa Casa De Misericordia (an age-old Catholic charitable organisation that administers various hospitals and clinics and which has an eponymous building on Senado Square). In an unspecified year it was once again turned into a hotel with initially and French, then a  British manager (the latter was deported due to running illegal roulette games in the building – perhaps providing the inspiration to turn Macau into its current status as the worlds biggest gambling twon?) before then being used as a Secondary school (Liceu). All this before 1936.
In 1936 it once again became a hotel, this time under its most famous name as the “Bela Vista” and was unfortunate enough to have its new opening coinciding with the invasion of China by Japan. As a result the place was taken over by the Govt to house Portuguese refugees from China – in particular Shanghai.
The building wasn’t turned back into a hotel again until 1948 when it was bought by three Chinese women. 1948, it seems that the hotels fortunes still had yet to pick up and was hit by more misfortune when its manager, Paulo Chung, suddenly disappeared during the cultural revolution in 1965.  His replacement, Pinto Marques, was luckier staying at the hotel for twenty years until his death – in a chair on the verandah – in 1985. Pinto Marques was a big fan of Napolean and decked the hotel with souvenirs from that era, and was credited with restoring the hotel’s fortunes.
His son Adriano, picked up where he left off but seemed to founder before Excelsior Hotels took out a 25 year lease from the Govt. They decided  a renovation was in order and a couple of local architects were taken on board to see the project through during 1990-92. When it reopened its capacity was drastically reduced (6 rooms) and its financial ruin was more or less secured. It finally closed as a hotel on March 1999. In the end it was taken over by the Portuguese Consul when Macau was handed back to China in December 1999.
From the book called Macao by Phillipe Pons, Hong Kong university Press 
Post em português e com mais imagens (in portuguese and with more images)

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

As belas casuarinas de Hac-Sá

Sou neto, com imensa honra, de um engenheiro silvicultor, homem que militou quase toda a sua vida em defesa da árvore. Em 1938 surgiu o Plano de Povoamento Florestal e o eng. Augusto Ferreira Machado foi um dos pioneiros e responsáveis pela florestação do norte de Portugal, como chefe da 1ª Circunscrição Florestal dos Serviços Florestais. Tinha a seu cargo as montanhas agrestes do Gerês, Marão, Cabreira, Montesinho e Corôa, Bornes e Nogueira. Milhões de árvores foram plantadas e a paisagem do norte do país viria a ser alterada, de uma tonalidade acastanhada escura para uma enorme mancha verde!
No entanto, houve também o condão de saber negociar com as populações que se opunham à retirada dos baldios que eram uma tradição comunitária e serviam de pastagem, pois aí o gado andava livre. Foram pois necessárias muitas horas de negociações, em virtude da oposição das aldeias, muitas horas de diálogo, que o meu avô sempre soube enfrentar de cabeça erguida, pois o melhor estaria para vir e os beneficiários seriam os próprios habitantes destas aldeias, com as novas potencialidades que iriam ser criadas, turismo de montanha, madeira, piscicultura. Uma mudança que se operou no norte e o centro desta foi indiscutivelmente o meu avô Augusto!
Em Macau, corria o ano da graça de 1968, ano do Verão quente na Sorbonne, em que era “Proibido Proibir”, dos excessos, da Revolução Cultural na República Popular da China e com os ânimos a arrefecer, mas ainda algo exaltados, em Macau, no pós 12.3 de Dezembro de 66!
Foi neste Verão que o meu pai, militar na altura, comandante da Polícia de Segurança Pública, José Luís Ferreira Machado, resolveu dar continuidade ao espírito ecológico e amigo da árvore do seu pai. E vai daí, com a colaboração dos serviços responsáveis da então Administração das Ilhas, e do Eng. Reinault, um homem enorme e bom, a fazer lembrar um pegador de touros do grupo de forcados amadores, com toda aquela sua pujança física, resolveram plantar um infindável número de casuarinas na zona reservada à colónia de férias da PSP em Hac-Sá. Este plano mais tarde estendeu-se ao que é hoje o parque de estacionamento em frente da piscina pública e parque infantil e das merendas.
Um esforço que contou com a colaboração de todo o pessoal de serviço nessa colónia de férias, entre eles o destaque vai para os chefes e polícias Sabugueiro, Machado, Ricardo, Saludes, e outros que a memória não me permite recordar, assim como dos jovens, que como os meus amigos do Liceu e eu, por lá passávamos os nossos meses de Verão naquela idílica praia de areia preta, ainda não tanto assoreada nem poluída como hoje, passados que estão mais de quarenta anos.
A escolha desta árvore, “Casuarinaceae”, não foi pois, obra do acaso. Requereu estudos profundos e teve sempre em conta o habitat, o clima tropical e sub-tropical, os ventos marítimos que por vezes são trazidos com as intempéries, os tufões, que nos assolam nos meses mais quentes do Verão macaense. Era preciso segurar as areias e estas árvores, por terem fortes raízes e profundas, eram as mais indicadas, para além de servirem de corta-ventos e barreira natural à fuga das areias para o interior, sendo imensamente eficazes nessas tarefas.
Agora que o meu pai vai fazer 90 anos, esta notícia da substituição das lindas e robustas casuarinas, por umas palmeiras “lingrinhas” ao estilo de “Sunset Boulevard” ou de mais um novo riquismo qualquer que não se compreende lá muito bem, foi um golpe muito forte e traiçoeiro. Para nós, que as plantámos com todo o carinho e as vimos crescer em altura ao longo dos últimos 43 anos, é uma tristeza saber que as querem arrancar só porque não gostam delas!
Ou será que os interesses financeiros também aqui se sobrepõem?! Espero bem que não sejam mais uma história de enriquecimento fácil, os motivos que estão por detrás desta encenação! Estou com o meu amigo Albano Martins e digo não ao abate das casuarinas de Hac-Sá! Nem que tenhamos de militar nalgum movimento ecológico “armados” de caneta em riste! Deixem as nossas lindas casuarinas em paz e sossego! Obrigado!
Artigo da autoria de Luís Machado publicado no JTM de 24-8-2011
No Verão de 1975... a ponte tinha sido inaugurada meses antes, a 5 de Outubro de 1974

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Porta do Cerco: 1902


Stereoview showing the Porta d(o)e Cer(c)o, boundary mark of Portugese China Empire and the Chinese Empire, Macao, China. Copyright 1902, The Universal Photo Art Co., C.H. Graves, Publisher.
Traditional stereoscopic photography consists of creating a 3-D illusion starting from a pair of 2-D images, a stereogram. The easiest way to enhance depth perception in the brain is to provide the eyes of the viewer with two different images, representing two perspectives of the same object, with a minor deviation exactly equal to the perspectives that both eyes naturally receive in binocular vision.
NA: no blog existem outros exemplos.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Caixas de fósforos para Moçambique


Entre as décadas de 1930 a 1960 existiam dezenas de fábricas de fósforos em Macau. A maior parte da produção era exportada representando uma das maiores indústrias da economia local. Nas imagens, caixas de fósforos feitas de propósito para Moçambique, então uma cólonia de Portugal, tal como Macau.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Ponte-Cais do Porto Exterior: 1989

A imagem que ilustra este post relembra Macau de 1989, ano em que o território recebeu quase 6 milhões de visitantes, a maioria por via marítima. Desde então muito mudou. Aumentaram os postos fronteiriços, remodelou-se a ponte-cais, construiu-se o aeroporto e... em 2010 foram mais de 21 milhões os turistas que visitaram Macau.
Agradecimentos: Arquivo Histórico de Macau (fotografia)

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Macau em 1870 por John Thomson

John Thomson (1837 - 1921) was born in Edinburgh, Scotland. He first came to Asia in 1862 and visited Singapore, Sumatra, Thailand and Cambodia. In the 19th century, most Westerners coming to the East were priests, business people or were posted to work there. Thomson was different. He was attracted by this remote land with a long history.
In 1868, he made his second trip to Asia and learned Mandarin Chinese in Hong Kong. He took the chance and visited Guangdong Province three times. In 1870, he began an extensive two-year journey, visiting Guangdong and Fujian provinces and Taiwan before heading to eastern and northern China, and finally to Beijing, the capital city, from where he turned southward to the regions around the Yangtze River. The journey covered a total of 8,000 kilometres.
This experience made Thomson the first foreigner to document the facets of Chinese society with a camera. Appearing in his works were palaces and landscapes, imperial nobles and street people. Using the wet plate collodion develping process, his works vividly recorded many fine details and were not inferior in quality to those of today. But his devices were so bulky that he had to hire several coolies. In the 19th century, few Chinese had seen any foreigner, let alone the modern technology of a camera. Naturally Thomson encountered much misunderstanding as the Chinese feared that his camera would bewitch them.
Informações sobre a vida e obra de Thomson neste link

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O Senhor Ventura

Se fosse vivo, Miguel Torga faria hoje 104 anos. Aqui fica, em jeito de homenagem, uma sugestão de leitura para as férias... com Macau como pano de fundo.
O Senhor Ventura é o protagonista que dá nome a uma obra de ficção da autoria de Miguel Torga, publicada pela primeira vez em 1943, mas que o autor de certa forma renegou até 1985 quando foi publicada uma 2ª edição, modificada e com um prefácio explicativo onde diz que escreveu esta obra "de uma assentada há mais de quarenta anos, na idade em que os atrevimentos são argumentos", uma obra onde deixou "a nu toda a fantasia descabelada e toda a canhestrez expressiva que se tem impunemente na juventude."
Na Primeira Parte, aparece-nos o Senhor Ventura, um português, natural de Penedono, no Alentejo, onde viveu até ao momento de ir cumprir o serviço militar em Lisboa. Começou por ser guardador de ovelhas, depois trabalhou no campo, no Farrobo, uma das herdades do Sr. Gaudêncio. A partida para Lisboa para cumprir o serviço militar desencadeia uma reviravolta na sua vida. Como não sabia ler, tanto lhe importava que na sua caderneta militar escrevessem bem como mal, e, desta forma, têm início as suas vicissitudes, tornando-o cada vez mais conhecido entre os seus companheiros e superiores. É assim que começa por faltar ao recolher e apanha três dias de cadeia, mas em contrapartida, aprende a tocar e faz serenatas que encantam os camaradas. 
Capa da edição de 1943
Um dia foi mandado num contingente militar (soldado 185) que seguia para Macau. Nesta terra vive uma relação com Loo, uma "pequenita chinesa", que o leva a desejar conhecer a China e novos mundos. Entretanto, uma relação com a filha do secretário do Governador origina-lhe problemas, levando-o à deserção do exército português, tendo de fugir de Macau. Começa, então, a trabalhar como "marinheiro a bordo dum navio que fazia cabotagem no mar da China" -  e daí em diante o percurso da sua vida foi-se diversificando em actividades e complicando em muitas situações. Fez contrabando, assassinou um fiel de alfândega, voltou para terra depois de cinco anos de vida no mar. Na China, foi empregado da Ford, paralelamente foi sócio de um restaurante, partiu para a Mongólia para entregar camiões, vendeu armas.
Na Segunda Parte, o narrador refere-se ao Senhor Ventura como o seu Dom Quixote que vai casar com a Dulcineia. Na Terceira Parte, este alentejano que percorreu o mundo, regressa outra vez ao Alentejo, onde passa por diversas situações de prejuízo nos negócios da terra. Entretanto o filho, Sérgio, chega a Portugal, enviado por Tatiana, inclusive com a conta da viagem para pagar. A desilusão do Senhor Ventura foi enorme e a sua decepção aumentava à medida que lhe era cada vez menos possível partir em busca de Tatiana, já que as colheitas eram más e as dívidas cresciam. Quando, após boas colheitas, vieram dias melhores, pagou as dívidas, deixou o filho num colégio de Lisboa e partiu de novo para a China, em perseguição de Tatiana. Percorreu diversos locais, faminto, esfarrapado, acabando por morrer longe da sua terra.
A obra termina com o regresso de Sérgio a Penedono. O filho do Senhor Ventura, órfão, já que não pôde continuar a frequentar o colégio por falta de pagamento das mensalidades, inicia a vida activa como guardador de gado, a mesma actividade pela qual o pai tinha começado, e a servir o mesmo amo – o Senhor Gaudêncio.
NA: este livro foi editado em Macau, edição bilingue, em 1989 pelo Instituto Cultural de Macau. A tradução para chinês foi de Cui Wei Xiao.
Mais sobre Miguel Torga em Macau aqui:
http://macauantigo.blogspot.com/2009/07/miguel-torga-1907-1995.html

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Grande Prémio: primeira edição em 1954

1st Macau Grand Prix (1954). Passing the pavement of S. Francisco. The car number 5 is a Triumph TR2, red colour, drive by Eduardo (Eddie) de Carvalho, the winner of the race. The racing car (5) is now in the Museum of Macau Grand Prix still with the plate number (of the car) 9517 and the helmet.
1954: primeria edição do Grande Prémio de Macau. Na imagem o carro nº 5 (Triumph TR2 vermelho, conduzido por Eddie Carvalho) iniciando a subida para a Estrada de S. Francisco. Foi este o vencedor da prova. O carro e o capacete podem ser vistos no Museu do Grande Prémio em Macau.
Mais imagens dessa primeira edição aqui: http://macauantigo.blogspot.com/2009/09/origens-do-gp-de-macau.html
Agradecimentos: Joon Do, Museu e Organização do GP de Macau

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

300,000 visitas

Na primeira semana de Agosto de 2011 o projecto "Macau Antigo" ultrapassou a marca das 300,000 visitas (número de sessões individuais iniciadas pelos visitantes do site). De acordo com as estatísticas da plataforma onde o projecto está alojado temos uma média de 100,000 mil clic's/ano - 10,000/mês - 300/dia.
Porto Interior: década de 1960
Colina da Penha: década de 1970
A todos os que ao longo destes últimos três anos e cinco meses têm acompanhado o projecto aqui fica o meu agradecimento e a promessa de continuar a honrar o compromisso assumido desde a primeira hora: preservar e divulgar a identidade da cultura macaense.
Enviem comentários, sugestões, críticas, contributos, etc... para o e-mail indicado no perfil.
Novidades e conteúdos inéditos/exclusivos muito em breve. Até lá têm à disposição para consulta cerca de 3 mil post's e 10 mil imagens.
Esta última imagem representa a San Ma Lou (Almeida Ribeiro) na década de 1960. A perspectiva é da ligeira subida como quem vai da Praia Grande em direcção ao Largo do Leal Senado, vendo-se à direita os Correios e em frente o Hotel Central. Do lado esquerdo ficava o Café Ruby, a Tabaqueria Filipina e o Cinema Apollo, por exemplo.

domingo, 7 de agosto de 2011

Os dois caracteres de Macau: 澳門

Ao invés de letras para formar palavras, o sistema chinês utiliza sete diferentes traços. Um caracter pode ser desenhado com apenas um traço, o caso do número “um” (一) ou mais de 30. Os dois caracteres de Macau (澳門) escrevem-se com um total de 23 traços. Regra geral o carácter desenha-se da esquerda para a direita e de cima para baixo, mas há excepções. Se o caracter é composto por dois ou mais módulos, estes são desenhados em separado. Em vez de linhas, as folhas caligráficas chinesas são quadriculadas e o resultado final do carácter, independentemente do número de traços utilizados, deve ocupar basicamente a mesma dimensão, dentro do quadrado. Quando obedece a todos os diversos factores que lhe estão associados – desde a preparação da tinta, à posição do pincel na mão, passando pelas técnicas de respiração – a caligrafia é considerada uma forma de arte cuja importância na cultura chinesa é apenas comparável, enquanto expressão artística, à pintura.         
Excerto de artigo da revista Macau
NA: a 'romanização' lê-se "Ou Mun", o que traduzido à letra quer dizer "Porta da Baía".

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Memória colectiva

Antes de mais deixem-me dar os parabéns a todas as iniciativas que têm vindo a lume pela mão de diversas pessoas particulares, entidades ou mesmo colectividades de Macau, no âmbito da recolha da nossa memória colectiva, para que os vindouros possam ter uma ideia do que foi a vida noutros tempos, dos seus antepassados ou seja dos seus “egrégios Avós”!
A verdade é que esta última a que me refiro, “O Album da Malta”, mais concretamente, partiu da Associação dos Macaenses, com a chancela do nosso querido amigo Miguel de Senna Fernandes e conta já com um enorme e estrondoso sucesso, a julgar pelas fotos que nos tem sido dado a apreciar numa das redes sociais mais populares, passe a publicidade, no “Facebook”!
Através desta rede ou seja da “internet” temos assistido a um desenrolar de fotos magníficas, de festas, de desfile de “Misses” ou mesmo de modelos, como o que podem ver na foto a ilustrar esta crónica, com um grupo de donzelas lindíssimas, hoje muitas delas já Avós (babadas!) mas sempre lindas! Conjuntos ou bandas musicais d’outrora, fotos da tropa pertencentes aos jovens das incorporações locais, desde 1950, como por exemplo os “Dragões das Palafitas”! Equipas de futebol, de Hóquei em Campo. A festas de aniversário e casamentos um retrato muito fiel sem dúvida, do que foi a vida social desta pequena península, sim porque as Ilhas … essas ficavam ainda …no “fim do mundo”! Conforme nos dizia o saudoso “SIR HENRY” – o Dr. Henrique de Senna Fernandes, com muita graça, quando se referia á Taipa e Coloane, antes dos anos 60.
Outro “site” - Memória Macaense - de outro conterrâneo nosso a viver na diáspora, em S.Paulo no Brasil, Rogério da Luz que muitas vezes tenho aqui citado, talvez tenha sido o pioneiro ou um dos que mais tenha lutado, no âmbito da internet para divulgar a sua terra natal. Recentemente foi agraciado pelo Instituto Internacional de Macau, pelo trabalho realizado, com o prémio “Identidade Macaense”.
É preciso realçar que já nos finais do século passado o casal de Editores – Jornalistas, Cecília e Beltrão Coelho, com reduzidos meios, muito fizeram neste âmbito com os magníficos exemplares e álbuns de fotografias de Macau antigo, uma recolha trabalhosa e magnífica, assim como acompanhado de artigos de fundo e publicações na Revista Macau, uma obra a ter sempre presente em qualquer boa biblioteca.
Outros vieram nesta onda de publicações, na rede, o grupo de amigos a residir em Portugal, que dá pelo nome de “Gente de Macau” que acabou de comemorar os seus 9 anos de realizações no âmbito gastronómico e social, assim como actividades paralelas há quatro anos na internet a exemplo, o seu “Jornalinho”. Pois daqui felicito e envio os parabéns para os seus fundadores, “activistas” e bons organizadores, que são, a Virgínia Badaraco & Alberto Pereira. E á boa maneira “british”- vai o recado,“Keep Up the Good Work!
Não nos podemos esquecer ainda do jovem jornalista da RTP, João Botas, que estudou e residiu por cá e tem uma obra publicada, dedicada ao Liceu de Macau assim como um sítio na net, que dá pelo nome de “Macau Antigo”, com centenas de fotos e mais de três mil amigos que visionam e fornecessem mais fotografias quase diariamente, um site a “surfar na net” – pessoalmente recomendo vivamente uma ida até lá!
Voltando ao “Album da Malta” - estamos ansiosos pela “apresentação” de todos os trabalhos que a ADM já recolheu e os que ainda irá receber. Até aqui só temos visto a “ponta do iceberg” na net! Bom trabalho Miguel e todos os seus valorosos colaboradores, esta iniciativa vai ser, aliás já é seguramente, um dos maiores e retumbantes sucessos alguma vez alcançados, contando com a participação e espírito de solidariedade de todos quantos se interessam pelo passado e que lutam por um futuro ainda melhor para a sua terra.Isto tudo é Macau! Assim san Macau.
Artigo da autoria de Luis Machado publicado no JTM de 4-8-2011

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

As árvores de Hac Sa

As casuarinas (de origem australiana), como também são chamadas, foram plantadas em Hac Sa entre os anos 1960 e 1980, junto à colónia balnear junto à praia. São cerca de um milhar mas muitas estão no final do seu ciclo de vida pelo que terão de ser cortadas. Servem para consolidar o solo e funcionam ainda como quebra-vento. A ideia de as substituir por palmeiras é que pouco ou nada tem a ver com a história do local.
Árvores arrancadas depois da passagem de um tufão na década de 1990.
Foto de Francisco Lima
Vista da praia na década de 1970.
Foto IICT