sexta-feira, 6 de julho de 2018

Santo António: o soldo e o 'capitão' da cidade

Após o tufão de 1874

No seu livro Em ”A Última Nau – Estudos de Macau” (2000), António Rodrigues Baptista escreve:
“Frisemos que Santo António em Macau, como noutras partes da diáspora lusitana, tem sido considerado o “capitão” da cidade tendo-lhe por isso, até sido atribuído um soldo anual conforme nos dão conta diversos documentos. Desta feita, pelo que a Macau concerne, consta que o Nosso Santo foi alistado como soldado em 1623, ano em que veio de Goa para Macau o primeiro presídio militar, com o primeiro Governador, D. Francisco de Mascarenhas. Em 1780, ter-lhe-á sido suspenso tal soldo; mas, três anos depois, ou seja, em 17 de Setembro de 1783, o Senado mandou-lhe pagar os atrasados, promovendo-o nessa altura a “Capitão”. 
Eis o registo da cerimónia ocorrida em 1784:
“Pelas oito horas da manhã do dia doze de Junho, véspera da festa de Santo António, saíram da casa da Câmara do Senado o Vereador mais velho Joaquim Carneiro Machado, o Escrivão da Câmara Jacinto da Fonseca e Silva, e o Tesoureiro Manuel Pereira da Fonseca todos em cadeiras, levando o Tesoureiro uma bolsa de cetim carmesim com suas borlas e cordões dourados. A bolsa com os seguintes dizeres: Soldo de Capitão da Cidade que tem vencido até ao dia treze deste mês o Glorioso S. Santo António e que lhe remete o Nobre Senado. Chegados à porta da igreja encontrava-se já o Porteiro do Senado com uma salva de prata na mão onde o Tesoureiro colocou a bolsa com o soldo, para que aquele a conduzisse ao Cruzeiro da Igreja onde se encontrava a imagem do Santo, numa credencia com oito velas acesas. Ali o Tesoureiro tirou a bolsa da salva e colocou-a aos pés do Santo, tendo durante algum tempo repicado os sinos. O Vereador, o Escrivão e o Tesoureiro fizeram orações ao Santo, receberam o recibo e retiraram-se sempre na companhia do Vigário da Igreja.”
O montante do soldo foi variando com os anos. Em 1975, o Leal Senado pagou 6 mil patacas de soldo anual; em 1995, o Presidente do Leal Senado entregou 40 mil patacas ao “Santo Capitão” do Município de Macau. O último pagamento ocorreu em 1999.
Foto do século XXI e imagem do século XIX
A história militar do Santo inicia-se em Portugal na Guerra da Restauração (1640-1668) quando os soldados começaram a atribuir-lhe os sucessos militares, o que levou o Regente do reino, D. Pedro II, a determinar em 1668 que assentasse praça, como soldado no Regimento de Infantaria de Lagos “por tão patriótico serviço”, sendo mais tarde promovido a capitão, e a major em 1780. 
Embora sem o soldo de outros tempos a procissão de Santo António continuou a assinalar -se depois de 1999, sempre no dia 13 de Junho.
Curiosidade: O Pão dos Pobres foi instituído em 1903, por diligências do pároco António José Gomes. Os benfeitores contavam-se tanto em Macau como em Hong Kong, Xangai e Cantão, principalmente. Em 1931 matava a fome a 200 famílias com a distribuição mensal de 22 picos de arroz, cerca de 1300 quilos de arroz por mês.
Estátua do Santo António com o Menino Jesus ao colo na nave principal da igreja, construída no local da primeira, erguida por volta de 1565, pelos jesuítas. Conhecida como a Igreja dos portugueses - 聖安多尼教堂(花王堂 - faz parte da Lista do Património Mundial da Humanidade.


1 comentário:

  1. Que hei-de acrescentar? Só congratular-me por saber que a devoção a Santo António continua em Macau, sempre presente. Bem hajam!!

    (Aproveito que os 2 sinos que estão hoje no Museu de Macau, foram da torre da igreja de Sto. António retirados, a meu pedido, para o Museu)

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