Procura-se actualmente o consenso necessário para escrever uma história de Macau. Uma história verdadeira e abrangente que dê conta dos passos deste minúsculo território oriental. Tal necessidade corresponde naturalmente à ausência de compêndios metódicos que reúnam 400 anos de andanças dos portugueses pelas paragens da China. Quanto à presença dos chineses nesta pequena península, não está melhor documentada e, se o está, os manuscritos permanecem indecifráveis, na sua maior parte guardados nas gavetas esconsas dos arquivos de Cantão, Pequim, Nanjing , sabe-se lá?
No que se refere à parte portuguesa, a omissão é notória, já que para além das cartas dos visitadores jesuítas, do século XVII, referências fugazes de cronistas de circunstância (como Fernão Mendes Pinto) ofícios de governadores e ouvidores e artigos avulso de escritores e poetas, ninguém se abalançou até hoje a compilar uma verdadeira história de Macau. Salve-se, nesta omissão catastrófica, um sueco (Ljungstedt) que estudou os arquivos antigos do Paço, nos idos de 1830, estudo de que resultou dar à estampa uma obra ainda que imbuida de preconceitos de que a acusam mas que constitui ainda hoje, a principal fonte dos estudiosos da matéria, sendo também (afinal de contas) o mais imparcial relatório do passado de Macau à falta de concorrência. Depois daquele, um padre francês (Regis Debray), publicou um resumo, parco de palavras e de páginas, que nunca chegou a ser sequer uma história concisa. Mais tarde, já no dealbar do século XX, surgiu o primeiro português que se empenhou verdadeiramente na realização de um compêndio: Montalto de Jesus, um macaense residente em Hong Kong. No entanto, a obra deste homem ilustre, recentemente reeditada, não constitui trabalho ao jeito de Herculano, sendo antes um libelo bastante mais próximo de Oliveira Martins, no seu pessimismo carregado e preconceituoso.
Depois de Montalto apenas Austin Coats, (um inglês, apaixonado pelas coisas portuguesas) viria, já nos anos 60 a publicar uma resenha histórica de Macau, a que deu o nome de “A Macau Narrative” e que em português, alguns anos mais tarde, titulou de “Calçadas da História”, mas Coats não é um historiador. Charles Boxer, talvez o estudioso de maior mérito da expansão portuguesa para Oriente, abordou apenas Macau de passagem, nomeadamente em o “barco negro” que nos fabulosos idos de quinhentos apenas esperava na cidade do Nome de Deu a monção apropriada a fim de seguir viagem. Para além de todos estes refira-se o mérito de monsenhor Manuel Teixeira cujas obras (mais de uma centena) constituem um verdadeiro dicionário do passado, os trabalhos do jesuíta Videira Pires e da professora Beatriz Basto da Silva com a sua cronologia da história de Macau ainda em fase de publicação juntam-se ao acervo actualmente computável. Mas quanto à repetição do feito do sueco do século XIX ainda está para vir.
No que se refere aos chineses, o panorama não é melhor. Ao que se sabe para além das “chapas sínicas” enviadas pelos mandarins ao Senado de Macau (algumas guardadas na Torre do Tombo em Lisboa) apenas se conhece o pequeno Ou Mun Kei Leok, relatório de dois letrados sobre a vida setecentista de Macau. Fica-se no entanto a obra pelo repositório de curiosidades, entre almanaque e diário de viagem, mas nada que se pareça com uma história. Se alguma coisa de mais fôlego existe sobre Macau no campo chinês, não se conhece. De concreto sabe-se apenas que muito recentemente alguns historiadores encetaram verdadeiras investigações sobre o Território, o que parece indicar que nada estava feito.
Praia Grande: início século 20
Conclui-se do que até aqui ficou dito que a cidade carece de uma história. Mas, para a fazer são necessárias fontes credíveis e em Macau quase tudo é lenda, ou então transmitido em segunda mão através de cronistas que afirmam ter visto documentos originais, embora deles nem o pó reste a atestar que existiram. É assim que sobre a alegada doação do Território aos portugueses pelo auxílio que teriam dado à China na luta contra os piratas no século XVI, nada de concreto existe, a não ser umas cartas obscuras de dois jesuítas, referindo tais batalhas. Quanto aos documentos facultados pelo bispo local a Ljungstedt levaram também sumiço impedindo os investigadores posteriores de aferir o seu rigor histórico. Depois disso, como refere monsenhor Manuel Teixeira, arquivos e bibliotecas foram sendo sucessivamente destruídos, umas vezes pelos tufões, outras pela formiga branca, mas, na maior parte dos casos, pela pura e simples incúria, num território, onde as letras de maior valor foram sempre, quando muito, as de câmbio, já que as outras eram de transacção duvidosa, para além de conterem germes perigosos de subversão.
Foi pois entre catástrofes naturais ou fabricadas que se chegou aos dias de hoje no que toca à conservação de papeis. O Arquivo Histórico local, depauperado, só há poucos anos encetou diligências sistemáticas destinadas a trazer para o Território os documentos espalhados um pouco por todo o mundo, desde o Brasil à Holanda, passando pela Índia ex-portuguesa, antigas colónias africanas, Madrid, Filipinas, etc. Quanto aos livros existentes em bibliotecas e repartições públicas foram sendo devorados pelas mesmas razões anteriormente apontadas. Tudo isto reduziu a zero as existências de Macau, ou quase. Acresce ainda as sucessivas remessas de documentação e bibliografia para Lisboa. Algumas chegaram ao destino, encontrando-se hoje em diversos depósitos, sem que tivessem ficado quaisquer cópias em Macau (Refira-se entre estes o espólio documental militar que dorme placidamente no interior de latas soldadas no arquivo do exército anexo ao Museu de Artilharia de Lisboa. Se quanto à sua conservação não restam dúvidas, dúvidas se levantam sobre a utilidade que têm, escondidos que estão dos olhares de quem queira estudar o passado. Finalmente, saliente-se a documentação perdida nos mares em que navegou para a Metrópole expedida por quem pensava preservar melhor além-mar a história deixando afinal, apenas lacunas no porto de partida.
No entanto, se é verdade que os papeis são elementos perecíveis que dependem do zelo e da vontade dos que têm por obrigação preservar a memória, não é menos certo que esta se preserva melhor (ainda que incompletamente) através da tradição, nos monumentos, ruas, sítios… enfim na toponímia. É aqui que contra ventos e marés, a formiga branca, a incúria das autoridades e a sofreguidão dos construtores civis se continua a poder reconhecer as pistas da história. Mesmo quando o camartelo arrasa, a tradição mantém os nomes. Mesmo quando a política, ou o desenvolvimento, rebaptizam os lugares a memória resiste aos atentados. Será por isso que, por exemplo, a avenida Conselheiro Ferreira de Almeida (nome de um político da monarquia que nunca teve qualquer ligação a Macau) há-de ser sempre conhecida por Rua do Campo. Será pela mesma razão que apesar do nome de Nolasco da Silva figurar desde há mais de meio século na via tortuosa que dá a S. Domingos, toda a gente insistir em continuar a conhece-la pelo topónimo familiar de “Mariazinhas”. Será também por isso que a fonte do Lilau continua a brotar água cristalina no largo do mesmo nome, apesar da bica ter sido destruída há mais de 60 anos, mantendo vivo o dito de café sobre os que findam a comissão de serviço mas teimam em permanecer em Macau: “Este bebeu da água do Lilau!. É por isso certo que fica ou, que, pelo menos há-de voltar a Macau”.
Rua da Palha
Todos os dias, ao percorrermos as ruas da cidade, a história vem ao nosso encontro, embora, a absorção nos nossos afazeres quotidianos nos impeça de a ver claramente, ou conceder-lhe um minuto (sequer)de atenção. Sem saber, lemos esse compêndio de páginas dispersas de cada vez que entramos num taxi e indicamos uma direcção: Ouvidor Arriaga, Rua do Campo, Largo do Senado, San Ma Lou, Rua Central, são nomes que constituem essa obra ainda não compilada onde foi ficando escrita a história dos últimos quatrocentos anos.
Mas se é verdade que a toponímia revela muito do passado, também não é menos verdade que por vezes suscita apenas interrogações irrespondíveis, ou induz mesmo em confusão e erro, principalmente para quem toma a cidade apenas pelo local onde vive e pelo seu valor aparente, cuidando pouco de saber que não se movimenta apenas numa urbe de trânsito infernal, recheada de casinos, afectada pela poluição, maculada pelos aborrecimentos do quotidiano e mergulhada num complicado processo de transição. É que para além de todas as contrariedades a cidade repousa sobre uma odisseia maior escrita por heróis anónimos que num mar de tormentas, sem direito às glórias militares do passado das outras colónias permitiram manter até hoje uma cidade demasiado pequena para ser considerada defensável sob o ponto de vista militar, por demais afastada dos interesses políticos da capital metropolitana, para ser considerada como território verdadeiramente importante e, finalmente demasiado diminuta para merecer um, ou dois minutos da atenção de um qualquer Ministro do Ultramar preocupado com a magnitude de problemas coloniais como os de Angola que era, essa sim, digna de atenção quanto mais não fosse pelo facto de ser 14 vezes e meia maior que Portugal.
Zona Leal Senado: Soi Cheong
No entanto, contra todos os dados da história, da política e da lógica imperial, o certo é que, num efeito de dominó, se foi Malaca, depois o Brasil, mais tarde a Índia e finalmente as grandes colónias africanas para ficar apenas a pequena Macau a que nunca ninguém tinha ligado importância de maior. Se não foi pelo interesse posto na sua preservação pelo centralizador Terreiro do Paço, nem pela presença militar que nunca foi verdadeiramente credível face à força esmagadora do Império do Meio, se os interesses económicos portugueses nas “partes da China” nunca foram suficientemente importantes para justificar ofensivas diplomáticas de Lisboa que desígnio ignoto fez sobreviver Macau para lá da fronteira descolonizadora final do 25 de Abril de 1974? Provavelmente apenas a sua diferença relativamente a todo o demais império colonial português. Mas se a interrogação fica no ar deixando a resposta aos estudiosos que hão-de vir, talvez a análise da toponímia possa oferecer algumas achegas para os investigadores do futuro.
Macau foi sempre um território constituído por uma esmagadora maioria de chineses de fé budista nas suas diversas formas. A população católica (em 1994) não vai além dos 25 mil fiéis num computo total de meio milhão de almas, ou seja, uma gota católica que se perde num mar (ou pelo menos num grande lago) budista. No entanto, qualquer estudioso do futuro que se debruçasse sobre a toponímia da cidade e das ilhas, sem se rodear das necessárias precauções, seria levado a pensar precisamente o contrário.
De facto, quanto a padres, bispos, e irmãs da caridade, não parece haver cidade que tanto tenha preservado os seus nomes como Macau. Sobre o que fizeram, pouco se sabe em concreto, para além do facto de terem sido de facto padres, freiras, bispos e cónegos. Tal é o caso do Padre António ( António José da Costa) que para além de administrar bem os dinheiros de vários fundos e legados que lhe tinham sido confiados, nada mais terá feito de importante para merecer a posteridade. Mesmo assim teve direito a uma rua inteira. Camões administrou também os dinheiros de vários fundos e legados, como Provedor dos Defuntos e Ausentes ( se é verdade que alguma vez ocupou tal posto), mas seria profundamente duvidoso que o seu eventual zelo contabilístico lhe concedesse direito ao jardim que ostenta o seu nome, se não possuísse os outros dotes pelos quais ficou imperecível na história.
Quanto ao padre Vasconcelos (António Maria Augusto de Vasconcelos), os créditos são ainda menores, do que os do seu confrade António, constando apenas ter “pregado gratuitamente a oração fúnebre de D. Pedro V”. Cinquenta anos antes, o frade S. Gonçalo de Amarante pregara a oração fúnebre de D. João VI igualmente gratuita. Mas, para além de não lhe terem sequer concedido um beco ainda o levaram a ferros para Goa. No entanto este frade (prior dos Dominicanos) tinha sido o autor do primeiro jornal do Extremo Oriente, facto que por si só teria merecido justo reconhecimento se não se trata-se de um liberal “contaminado” pelas ideias subversivas da Revolução Francesa, ou se em vez de ter sido superior da ordem espanhola fosse reitor dos franciscanos, confraria mais adequada ao nacionalismo luso e menos eivada de fumos castelhanos. Mas, o certo é que Vasconcelos, teve direito, a uma rampa, enquanto o frade liberal se perdeu na história apenas com o epíteto de “malhado” sem rua nem beco, nem pátio sequer.
No que se refere ao jesuíta Roliz (António José Gonçalves Roliz), já se conhece mais alguma coisa. Formado pelo seminário local, partiu para a Europa a fim de repetir os cursos de filosofia e teologia, voltando à Ásia para leccionar em Cochim (Índia), missionando posteriormente na cidade chinesa de Shiu-Hing, antes de terminar os seus dias em Macau como perfeito, professor e director espiritual do seminário local, promovendo aqui o culto de Nª Sª de Fátima. Teve por isso, direito também a uma rua.
Década 1950: postal da Praia Grande
No que se refere ao padre Narciso (Narciso Firmiano) nada há que justifique os gastos de uma placa ainda que em simples azulejo, nem a sobrevivência da memória, tendo em conta que, os autos biográficos oficiais referem apenas ter sido criado de um francês chamado Molinau que era piloto de uma chalupa pertencente ao rico comerciante de Macau António Correia de Liger e, mais nada. Sendo assim, não se encontra explicação capaz para a sua perpetuação, já que nem Molinau nem Liger figuram em parte alguma embora fossem seus patrões. O facto de ter falecido na dignidade de cónego não consegue, mesmo assim, resolver o inigma, tendo em, conta que na história local, os cónegos foram pelo menos mais de uma centena. Mas, o mesmo se pode dizer do padre Soáres (Luís Soáres) que também não possui biografia própria. Segundo Mons. Manuel Teixeira, este sacerdote, era “filho de Francisco Xavier Placé Soáres e de Ângela Vicência Osório Soáres, tendo um irmão, Matias da Luz Soáres que casou com Júlia de Vasconcelos, filha de António José Vasconcelos, natural de S.Miguel, nos Açores e de Júlia Maria Cândida de Castro…” Convenhamos que, se trata de um currículo manifestamente insuficiente para lhe conceder quaisquer direitos, mesmo que a uma travessa. Quem teria sido este padre do qual consta apenas a biografia dos seus parentes?
No caso de Madre Terezina (Maria Teresa Lucian), já a posteridade se justifica plenamente. Desde que fundou o convento das irmãs Canossianas no Território, distinguiu-se imediatamente, por ocasião do surto de cólera morbus que afectou Macau em 1888, auxiliando os doentes e também o Dr. Gomes da Silva, cirurgião geral que se “matou” a trabalhar lutando contra as infecções e o preconceito que rejeitava a medicina ocidental. Vencida a crise, Madre Terezina fundou e desenvolveu colégios, voltando a distinguir-se na luta contra novo surto de peste dez anos depois (1898). Entre crises, ergueu asilos e estendeu a acção das Canossianas a Singapura e a Malaca, ganhando assim com mérito os créditos necessários a fim de poder figurar na panóplia dos heróis locais com todo o mérito.
No que toca a prelados, muitos ficaram esquecidos nos recônditos dos séculos, outros não. Da justiça, ou injustiça das homenagens toponímicas não nos compete julgar, mas apenas assinalar que, por exemplo, D.Melchior Carneiro, esse bispo esclarecido do século XVII (O mesmo que para além de construir a primeira misericórdia e o primeiro hospital e lançar as bases da organização política da cidade consubstanciadas no Leal Senado), apenas teve direito ao nome numa discreta rua das traseiras das ruínas de S. Paulo, num sítio onde para além dos moradores nunca ninguém vai, e mesmo assim mais de trezentos anos depois, já que o cadastro de 1869 não o refere tendo sido perpetuado apenas no censo cadastral de 1925. Desgraçado, jesuíta a quem Macau deve os alicerces da sua existência de mais de quatro séculos mas, o qual a posteridade avara negligenciou negando-lhe a honra merecida de uma avenida, ou pelo menos de uma rua principal.
Mas, ainda no que se refere a bispos, as injustiças são evidentes. De todos os prelados de Macau (e foram alguns os recordados) ficaram apenas o bispo Enes, um franciscano doutorado por Coimbra, par do reino e comendador da Conceição, que dirigiu a diocese local entre 1877 e 1883, sendo depois transferido para Bragança e também o Bispo Medeiros. O primeiro foi mesmo considerado um dos maiores prelados da diocese (ainda que não se saiba lá muito bem porquê). Ambos, conquistaram duas ruas. D. João Paulino, fundador do Boletim Eclesiástico da Diocese, perpetuou-se, por seu turno, numa estrada ainda que deveras íngreme.
Ruínas de S. Paulo: postal da década de 1960
Esquecido ficou no entanto o maior de todos os bispos de Macau depois de Melchior Carneiro, D. José da Costa Nunes. Esclarecida personalidade, D. José, para além de ter dinamizado a vida religiosa, social e cultural de Macau nas primeiras décadas do século XX atingiu as mais altas honras da Santa Sé. Seria o sucessor português de Pedro Hispano (Papa João XXI), se a morte o não levasse prematuramente. No entanto, esta figura ímpar, de Portugal sobre a qual também há uma biografia por fazer não teve direito a quase nada, figurando apenas no pórtico de um infantário do estado (1) que, para cúmulo, vai ser deitado abaixo. Que razões misteriosas levaram a toponímia macaense a esquecê-lo? Talvez um dia se saiba, embora antes de morrer o próprio bispo tenha queimado, ele próprio, todo o acervo de documentos pessoais. Que segredos pretenderia esconder este homem superior, magnânimo e esclarecido? Possivelmente terá apenas querido preservar a sua memória impoluta da incompreensão dos vindouros.
Passem as injustiças conclui-se todavia que a toponímia macaense regurgita de bispos, padres e freiras. No entanto, apesar da antiguidade da religião budista, do facto do templo da Barra ser anterior à chegada dos portugueses e de os pagodes se contarem por mais de uma centena na cidade e ilhas a toponímia macaense soberanamente decidiu ignorar esta fatia maioritária.
É assim que, apesar de existir o Largo do Pagode da Barra, ou a recentíssima rua “do Kun Iam Tung (templo da Deusa da Misericórdia), não existe em Macau uma única via, nem um esconso beco que tenha merecido o nome de um monge budista. Em quatrocentos anos, não é crível que pelo menos um ou dois não tenham merecido ficar na história!…
Mas se os ministros de buda foram ignorados, a omissão estendeu-se também aos plenipotenciários de outras religiões, que não a católica, embora alguns destes se tivessem destacado na memória colectiva. É o caso de Robert Morrisson que também não consta dos roteiros da cidade. Pastor anglicano, Morrisson viveu em Macau, em meados do século XIX, e aqui se dedicou a fazer a primeira tradução da Bíblia para chinês. Além disso, iniciou a publicação de jornais, compilou o primeiro dicionário de inglês/chinês, fez conversões e desempenhou importante papel de tradutor nas primeiras relações entre britânicos e ingleses na China. De espírito obstinado, desafiou o poder católico no coração do Padroado Português do Oriente. Sem sombra de tacto político, ou diplomático, afirmou-se ministro de uma religião abjurada pela lei católica em pleno largo da Sé. Desafiou condescendências e hospitalidades ao publicar jornais e livros à revelia do “imprimatur” do cabido, declarou-se amigo dos maçons ingleses e desferiu a estocada final no bispo macaense ao converter meia dúzia de chineses à dissidência teológica de Martinho Lutero e João Huss (suprema heresia!…). Não admira por isso que depois de ter visto os seus jornais proibidos e de ele próprio ter sido empurrado para bordo da última fragata que deixava Macau com destino à nascente Hong Kong em 1841, Robert Morrisson fosse a única personalidade que nenhuma vereação do catolicíssimo Leal Senado podesse considerar para apadrinhar fosse que rua fosse. A sua dissidência não lhe permitia sequer o direito a figurar num beco esconso, nem sequer num pátio, por mais recôndito. Aliás o seu nome ( como que para descanso de consciências inquietas) ficava afinal perpetuado em seis palmos de terra, no cemitério protestante a dois passos do Jardim de Camões. Para a toponímia macaense parece ter bastado a lápide de granito que conserva o seu epitáfio em inglês: “HE SWEETLY SLEPT IN JESUS. HE WAS BORN AT MORPHET IN NORTHUMBERLAND, JANUARY 5TH, 1782.AND DIED AT CANTON, AUGUST 1ST, 1834”. Afinal se já tinha direito a um epitáfio gravado em granito, para que precisava de uma rua? Isto, terá perguntado o bispo da diocese quando os vereadores do senado o confrontaram ( se é que alguma vez o fizeram) com a irritante possibilidade de ressuscitar Morrison na toponímia.
De todos os exemplos apontados até aqui seria lícito concluir ao tal investigador do futuro que Macau sempre foi terra católica não se falando mais nisso. Quanto a budistas, protestantes, ingleses espanhois, dominicanos e outros “items” alienígenas seriam assuntos de pormenor indicados apenas e só ao estudo dos especialistas do insólito.
No que respeita a omissões políticas fica a história exemplar do comissário Lin. Este funcionário do governo de Pequim enviado a Cantão para pôr termo ao tráfico do ópio influiu muito directamente no desenvolvimento de Macau, que a certa altura tinha elegido aquela droga como principal produto do seu comércio externo. Lin, conseguiu cumprir as ordens de saneamento do imperador queimando milhares de caixas do mortífero estupefaciente na foz do Rio das Pérolas e, sendo mesmo recebido em Macau, com honras de estadista para verificar afinal, que a colónia portuguesa, ao contrário dos ingleses que aqui viviam não sujava as mãos com tais produtos( ou que , pelo menos os portugueses desempenhavam um papel menor no tráfico). Neste ponto da história interessa pouco se os comerciantes portugueses do ópio escondiam ou não o produto ilegal enterrando-o nos quintais, ou se o ópio era carregado na ilha da Taipa para os “clipers” apenas para demonstrar que na península não se traficava. Ou mesmo se, a Companhia Britânica das Índias Ocidentais possuía a sede oficial de altas frontarias sobre o Porto Exterior onde lançava nos livros de contas os magros dividendos do licitíssimo comércio do chá e outra oficiosa nos quintais recuados da Casa Garden, do lado oposto da cidade, onde, aí sim os livros de contas se mostravam repletos de lucros do tráfico da droga. O que interessa de facto é que o Comissário pôde visitar Macau acompanhado do governador e das mais autoridades verificando que a ilegalização do fumo subversivo era cumprida em forma de lei. No entanto, o comissário Lin, que tanta importância teve na história macaense da primeira metade do século XIX nunca teve direito a qualquer reconhecimento. Segundo a toponímia tal zelador da lei e dos bons costumes (actualmente universalmente aceites), não consta, nem nunca constou, de qualquer via macaense. Diga-se no entanto que a comunidade chinesa também nunca fez qualquer esforço para que tal se concretizasse, erguendo-lhe afinal uma estátua tímida no adro do templo de Lin Fong Miu em 1987, mais de meio século depois de todo o mundo concordar que o tráfico do ópio constitui um delito universal que não permite desculpas nem subterfúgios. Que dirá hoje a alma do impoluto comissário à homenagem macaense, depois de em vida ter sido exonerado de funções pelo imperador por ter cumprido o seu dever, apenas porque a China perdeu a primeira Guerra do Ópio contra os ingleses?
No que toca a personalidades vitais não se pode esquecer que, ao contrário de todo o antigo império ultramarino, a economia de Macau esteve sempre na mão dos chineses. Foram estes (depois de esvaídos os faustosos tempos do “Barco Negro” em que os comerciantes portugueses dominaram) que tomaram nas mãos o leme do lucro, deixando aos portugueses apenas o encargo de zelar pelo bom funcionamento da burocracia do Estado legitimadora de todas as transacções comerciais. Sendo assim, sem dúvida que desde sempre foram os grandes capitalistas chineses que com os seus empreendimentos (associados, ou não aos portugueses) mantiveram viva a importância da cidade, particularmente nos séculos XVIII e XIX, quando Macau entrava em decadência e apenas sobrevivia do tráfico do ópio da exportação de cules, do fogo de artifício e das fábricas de fósforos.
A toponímia, não preservou nomes assinaláveis desses empreendedores chineses. No entanto, o primeiro que ficou foi Lou Lim Iok, um aristocrata chinês (curiosamente republicano) que cultivava as artes comportando-se como um verdadeiro mecenas da renascença. Senhor de vastos interesses em Macau e na China, Lou Lim actuou em Macau em épocas decisivas de convulsão, nomeadamente nos tempos de “brasa” da proclamação da república, quando os chineses se consciencializavam mais do que nunca do orgulho nacional perante a humilhação da derrubada dinastia manchu que tinha ajoelhado face aos poderes coloniais da Inglaterra, Alemanha, França, Japão e até da Itália. O fim de Macau esteve então por um fio, particularmente em 1922 data em que após um período de motins e greves as tropas chinesas da república estiveram a um passo de ditar o fim de Macau. Lou Lim Iok, porém, interpretando a sapiência do seu povo que ultrapassava as conjunturas políticas, radicando nas profundezas filosóficas da velha China milenária, conseguiu conter por um lado excessos de orgulho nacionalista e por outro arroubos coloniais extemporâneos, demonstrando que Macau não constituía território em disputa. Foi assim que Macau se salvou da desaparição graças a Lou Min Iok. No entanto esta personalidade ímpar da história do século XX de Macau recusou todas as honras de ter salvo a cidade, exigindo que a sua mediação fosse mantida completamente secreta e a toponímia fez-lhe jus dando o seu nome ao jardim público que antigamente ele próprio construiu nos quintais privados de sua casa na zona nova de Mong Há, no meio do qual, entre bambuais verdes ornados de rochas cinzentas de granito construiu com orgulho no centro o ” Jardim da Relva Primaveril”. Lou Lim Iok, aristocrata honrado, filho de mandarins e convicto republicano que em sua casa viu nascer a redenção do seu país albergando Sun Yat Sen e os seus correligionários recusaria sabiamente apadrinhar uma qualquer rua, ou avenida de Macau, de Cantão, ou mesmo de Pequim. O seu jardim era mais do que bastante para a posteridade. Era bonito e recatado, atributos que convinham ao seu gosto estético e à sua aversão às primeiras filas.
Mas se é verdade que a toponímia por si só, pode induzir em erro o estudioso das coisas locais que se perca exclusivamente na análise dos nomes espalhados pela cidade, hesitando entre as importâncias hirarquicas que fazem a diferença entre avenidas e becos, não é menos certo que nos fornece pistas iniludíveis sobre a existência em Macau de duas comunidades que para além de viverem unidas por força de interesses comuns que vêm dos séculos passados, não se sujeitam à promiscuidade da mistura. Uma mistura que aconteceu, nas outras colónias onde a miscegenação deu origem ao dito brasileiro de que “Deus fez o preto e o branco e o português fez o mulato”. Em Macau é necessário preservar a harmonia, mas esta não passa necessariamente pela mestiçagem. Assim é que se torna forçoso verificar que a Toponímia local revela duas histórias diferentes, embora paralelas e até sobrepostas, mas apesar de tudo distintas. Nas placas das ruas observa-se um fenómeno (de ficção científica?…) que evoca mundos paralelos. Em cima, (nas referidas placas de azulejo azul e branco), em português, lê-se a consagração de um herói, de um bispo, de um escritor, ou de um acontecimento. Em baixo, em caracteres chineses uma significação totalmente diversa. É pois que, por exemplo, a tradição portuguesa decidiu preservar o apelido Botelho, numa calçada que parte do Porto Interior e desemboca no largo da igreja de Santo António. Ao certo não se sabe quem terá sido o tal Botelho que deu nome à calçada (Botelhos contam-se por milhares em terras de Vila Real de Trás-Os-Montes, por exemplo). Provavelmente foi um rico negociante do século XVII. Para os chineses, porém, tal figura nunca existiu. Os caracteres sínicos que designam o nome da estreita viela, informam tão somente que se trata da “Calçada da Barreira de Areia”. Tal designação tem a ver com as obras de restauração de um cais efectuadas na segunda metade do século XVIII, a instâncias da comunidade chinesa a fim de reparar um local de acostagem danificado pelas tempestades, situado, mais ou, menos, no sito onde hoje se ergue a ponte nº22 , para a qual o governo da altura não possuía orçamento suficiente, tendo por isso que confiar o trabalho ao empenhamento dos privados.
Mas se o antigo Botelho, de 1700, cuja memória se perdeu por completo, para além do apelido comum, memórias muito mais recentes também não tiveram eco no coração da comunidade chinesa. Veja-se, neste caso o exemplo da avenida Almeida Ribeiro, que mesmo os portugueses conhecem por San Ma Lo. Neste caso, a história é assim: Durante vários séculos, o antigo bazar, constituido por ruelas sinuosas e inextrincáveis cortou a passagem entre a Praia Grande ,do lado Oriental da cidade, onde fundeavam os cruzadores da marinha portuguesa e a Praia Pequena, ou Porto Interior do lado Oeste, onde aportava toda a sorte de embarcações, desde os juncos e sampanas, aos ferry que faziam carreira para Hong Kong, Kong Mun, Cantão e tantas outras cidades do Delta. Abrir uma rua que ligasse as duas bandas era projecto antigo, mas sempre inviabilizado, não só pelos custos das expropriações, mas principalmente pelo facto de se saber que rasgar uma via através do bazar iria cortar não só os interesses comerciais de numerosas “tendinhas”, mas também uma das pernas do dragão, que segundo o “Fung Soi”, adormece sobre Macau repousando a cauda nas Portas do Cerco e a cabeça na Barra (dragão que sempre constituiu o talismã protector da cidade, segundo a tradição chinesa). No entanto, os imperativos do progresso sobrepunham-se às advertências dos “mestres do vento e da água”. Além disso, os novos valores da república (laica e positivista) ajudaram em 1913 a conseguir a autorização do Terreiro do Paço, para efectuar as obras necessárias. O bazar foi em consequência arrasado em parte e o dragão amputado sem piedade nem temor dos maus augúrios, sulcado pelas picaretas de trabalhadores incultos que abriram caminho seguindo o traço cirúrgico determinado pelos técnicos positivistas das Obras Públicas. O engenheiro Sanches de Miranda, governador de Macau, republicano e céptico, ignorando tradições milenares, implementava e dava por concluída a obra cortando com tesoura de ouro a fita vermelha da inauguração da nova avenida possível graças aos bons ofícios do Ministro das Colónias, Almeida Ribeiro que tinha dado luz verde ao projecto. Embora, o ministro português se tivesse limitado a ratificar a proposta do seu correligionário político de Macau (Sanches de Miranda) sem saber bem do que se tratava, o certo é que este se sentiu na obrigação de atribuir o nome do ministro da tutela à nova avenida que transformava a cidade, ainda que o ministério de Lisboa pouco cuidasse do reconhecimento oriental de um governador menor. Os chineses, porém, ignorantes de quem fosse Almeida Ribeiro (que para além do mais nunca tinha visitado Macau) decidiram atribuir à nova avenida o nome de “San Ma Lou”, ou “Tai San Ma Lou”, em português, Grande Rua Nova dos Cavalos. Tal designação que revelava um ponto de vista diferente, afigurava-se muito mais realista, já que se tratava da mais larga avenida de uma cidade onde imperavam ruas estreitinhas e sinuosas, através das quais nunca as paradas de cavalaria tinham podido desfilar antes, pelo menos com o garbo que as larguezas dos grandes planos concedem aos capacetes faiscantes e às fardas reluzentes. Foi assim, tendo em conta o nome de um ministro que ninguém conhecia e a largueza da nova via que todos decidiram conhecer a avenida pela designação chinesa de San Ma Lou, obliterando o ministro de Lisboa.
Aproximação diferente, para os chineses se revela no entanto na designação dada à Rua do Campo, que para os portugueses significava há séculos a via que conduzia à porta norte das muralhas da cidade que se abria para os campos de cultivo que se estendiam até Mong Há (terras actualmente ocupadas por edifícios e avenidas mas que constituíram no início do século zona inculta a desbravar). Segundo as crónicas da época, os campos que se estendiam naquela direcção, eram áreas pantanosas e insalubres que urgia sanear. A peste de 1894, cujo foco se situou, exactamente naquela área foi o argumento final que fez com que as autoridades locais decidissem intervir levando a que todo o casario disperso, ali existente, fosse arrasado e em seu lugar se abrissem vias rectilíneas e se plantassem jardins sobre os antigos lamaçais. Mas, não se pode esquecer que nesses tempos, Macau estava longe da autonomia capaz de permitir a um autarca abrir sequer uma bica, ou substituir uma frontaria decadente, sem ter de submeter o caso ao Terreiro do Paço. A complicar a situação acrescia o facto de o ministro da Marinha (responsável pelas colónias) ser um homem chamado Ferrreira de Almeida que não era um ministro qualquer. É que esta personalidade era de temperamento irascível tendo chegado ao ponto de agredir, em pleno parlamento de Lisboa (1887) o seu antecessor na pasta, facto que lhe custou quatro meses de prisão, mas que, mesmo assim não invalidou a sua posterior nomeação para dirigir o ministério das colónias em 1895. Chegado à pasta, não hesitou também, este político singular, em propôr à Assembleia Nacional a venda de Macau juntamente com as restantes colónias, negócio que acabou por não ir avante face ao embaraço dos seus pares do governo, à indignação manifestada pela oposição e às caricaturas contundentes de Bordalo Pinheiro no seu “António Maria” semanário crítico que publicitava o ridículo nacional e possuía tiragem suficiente para fazer cair governos. Fosse como fosse, o certo é que o responsável da pasta da Marinha e Ultramar não era para brincadeiras e já que o saneamento da zona do Tap Seak, devido à urgência tinha sido feito sem o seu conhecimento, o melhor seria às autoridades de Macau aplacar eventuais iras dando o seu nome à rua que isolara em forma de “mackdame” os focos de infecção. Dos documentos não consta também se o ministro soube ou não das obras não autorizadas e muito menos se tomou conhecimento do facto de passar a figurar na toponímia local, mas a verdade é que o seu nome, um século depois, continua a fazer parte do cadastro da cidade com a dignidade de avenida. Os chineses no entanto, como se disse já, nunca souberam quem fosse tal conselheiro, preferindo manter a recordação do episódio de 1622, quando, os marinheiros holandeses, depois de terem desembarcado na praia de Cacilhas (bastante mais a norte) avançaram sem oposição através da trilha pantanosa que hoje constitui a avenida do tal conselheiro, até às proximidades das muralhas, sendo subitamente batidos pela artilharia do forte do Monte, sabiamente dirigida pelo padre jesuíta Jerónimo Ró. É assim, que parte da rua que, oficialmente se chama Ferreira de Almeida, continua a ser para a tradição portuguesa Rua do Campo e, para a chinesa Ho Lan Yun, ou via dos Holandeses, caminho que na realidade, os invasores vindos da Europa Central trilharam apenas em parte, até serem dizimados pelos tiros certeiros do padre artilheiro do século XVII. Refira-se neste ponto, também, que ainda que cientificamente perfeitos os cálculos do padre Ró apenas serviram para demonstrar que um petardo não constitui crédito suficiente nos anais da toponímia, ou então alguém temeu que a consagração do matemático o catapultasse para voos mais largos, tanto mais que a matemática era na época assunto tão temível que desafiava os próprios Evangelhos provando, por exemplo, que a Terra se movia e não o Sol. Coincidentemente estava no auge em Roma o processo de Galileu.
No que toca a coincidências toponímicas entre portugueses e chineses apenas se pode referir meia dúzia de casos, entre eles o da Rua da Felicidade, viela estreita e actualmente descaracterizada, que todavia constituiu durante várias décadas pólo da boémia e mote de poetas e escritores que fizeram dela a quintissência do mistério oriental. Ruela estreita, ladeada de construções tipicamente chinesas, abrigou durante anos (ou talvez mesmo séculos) um conjunto de pátios laterais onde o canto das Pei Pai-chai e os acordes das citaras atraíam os turistas aos bordeis e forneciam a jornalistas e escritores a inspiração certa com que começar artigos e novelas sobre mistérios da China. Tal foi o caso de Blasco Ibannhez, celebrado escritor andaluz que teve a “dignidade” de ser recebido pelo simbolista Camilo Pessanha, o qual lhe descreveu o exotismo da tal rua, não numa qualquer recepção, do Palácio do governo, mas sim no interior do quarto de sua casa da Praia Grande, onde se dignou esclarecer o expoente das letras espanholas (todo nu, entre os seus lençóis de linho e fumos de ópio) sobre as importância da rua da Felicidade, onde repousava, em parte, o simbolismo do poeta. Mas, para além dos excessos, os chineses consagraram o nome português fazendo apenas prevalecer o superlativo: – Rua da Felicidade Abundante.
Actualmente, a Rua Central (alterada que foi, de alto a baixo, a cidade desde a década de 70), não representa mais do que uma comprida viela de um só sentido, que vai desde o centro da cidade aos subúrbios da Barra. No entanto, esta artéria era nos inícios do século o pólo da vida macaense. Ali faziam negócio as principais casas comerciais, com destaque para os armazens indianos. Ali se situavam, os locais da moda e se erguiam também as moradias da mais fina sociedade do princípio do século. Mas, para os chineses, a azáfama comercial pouco contava, já que a via correspondia à Rua Direita do Cume do Dragão, quintissência da importância de qualquer cidade. É que, para além de ser tortuosa como todas as chamadas ruas direitas de Portugal, a via acompanhava nas suas curvas suaves as circunvoluções lombares do dragão. Se todas as cidades portuguesas (ou pelo menos, quase todas) possuem uma rua direita, não se sabe porque capricho, em Macau foi dado chamar-se em português rua Central à via que mais se assemelhava às tais. Neste caso, os chineses souberam com inteligência chamar pelo nome certo a rua principal de Macau .
Analisar a história da rua das Mariazinhas, que ainda hoje constitui o coração da baixa é bastante mais difícil. Oficialmente, o nome desta curta via é “Pedro Nolasco da Silva” presidente que foi da câmara de Macau nos tempos atribulados da passagem da monarquia para a República em 1910. No entanto, apesar da placa que perpétua o nome daquele edil dos tempos da transição de regime da primeira década do século XX, o certo é que , portugueses e chineses nunca a conheceram pelo nome oficial. Para os primeiros, trata-se de facto da rua. das Mariazinhas, sítio que outrora conteve uma casa comercial com esse nome recheada de novidades que atraíam a curiosidade dos clientes de todo o mundo que não deixavam perder a oportunidade soberana de comprar toalhas bordadas, robes de seda , cabaias e peças de marfim na loja que possuía o curioso nome de “Mariazinhas”. Os segundos, porém, preferiram ignorar a existência do afamado armazém (talvez porque o proprietário não fosse chinês), preferindo manter a designação de “Pak Ma Hong”, ou seja ,Rua da Firma do Cavalo Branco, tendo em conta que outrora ali existira um edifício da firma Fearon & Co”. Fearon era cônsul de Hanover, cuja bandeira era um cavalo branco em campo vermelho. “Como o escudo na fachada da companhia e a bandeira que lá flutuava nos dias festivos reproduziam o emblema do estado alemão, os chinas crismavam a rua com o nome de Pak Ma Hong”. Esta a explicação do historiador Mons. Manuel Teixeira.
Mas as diferenças de pontos de vista entre as duas comunidades sobre a toponímia, vão mais longe. Tal é o caso da Rua do Bazarinho, assim consagrada em português, mas a que os chineses chamam de Rua do Marinheiro, numa referência explícita aos tripulantes dos brigues e das escunas que perdidos de saudade e bêbedos de solidão enchiam os bares da pequena viela, a dois passos do cais roubando as chinesas nas pequenas tabernas e engendrando filhos no amor fugaz dos botes das tancareiras através dos dédalos da cidade flutuante que o regresso aos cruzadores, marcados pelas dispensas de recolher, fazia com que nunca viessem a conhecer o eventuais frutos dos seus devaneios, deixando sementes bastardas que esqueciam, mas que a cidade aceitava como mais outro, outro e outro macaense de jus e de direito.
Praça Ferreira do Amaral: anos 70
Mas se alguns dos nomes das ruas de Macau revelam pontos de vista diferentes, ou até divergentes entre as duas comunidades locais, algumas demonstram que tanto portugueses como chineses aceitam a realidade da sua cidade como uma só, dando nome aos lugares de comum acordo. Tal é o caso da Rua do Matapau que em chinês é designada por “Kat Chai Kai”. Entre os dois vocábulos não existe qualquer diferença. Ambos designam as singelas tangerinas que nesse local eram vendidas, principalmente em época de Ano Novo lunar. Apesar de tudo, porém, a Rua do Matapau situada em pleno coração do bazar do século XIX, deixou para nós uma aura de mistério. Era ali que não só os vendedores de flores e tangerinas faziam o seu negócio, como também as associações secretas levavam a cabo as suas reuniões esotéricas. Era ali, ainda, que se exercia a justiça, consubstanciada nas chicotadas sobre os criminosos cujas gotas de sangue ressaltavam no largo lageado onde desembocava a rua.
Mas, as divergências toponímicas entre portugueses e chineses constituem uma infinidade. Atente-se, por exemplo, no caso do Convento de S. Domingos (despojado das suas grandezas de antanho e actualmente reduzido apenas à igreja). Na opinião dos chineses, tal marco cristão não passa de “Templo das Tábuas”, já que começou por ser mesmo um edifício construído em madeira, antes de constituir a obra de alvenaria cuja frontaria amarela e verde o artista irlandês George Chinery pintou ao dobrar da primeira metade do século XIX. Quanto à rua que lhe é fronteira, batida pelo sol, ainda hoje continua a merecer o nome de “A largos passos” (Tai Pou Lam) já que os pés descalços dos cules de antigamente, puxando os varais dos riquexós, se viam obrigados a atravessá-la em passo de corrida para não queimarem os pés no chão empedrado e escaldante.
Macau, apesar de fazer parte do continente chinês e de reverter a sua soberania para a China em 1999 foi ao longo de 400 anos uma colónia, reflectindo por isso as concepções político sociais portuguesas que naturalmente se perpetuaram na toponímia. Por isso, os nomes tradicionais dados pela comunidade chinesa a sítios e ruas , nunca, a não ser num ou noutro caso, conseguiram a homologação oficial da edilidade, desde sempre encarregada de dar nome aos lugares e ordem ao cadastro. Deste facto resultou que não se pode falar de toponímia macaense, mas sim de toponímias, sendo certo que apesar da homologação oficial portuguesa dos nomes ter correspondido sempre (ou quase), a indiferença da comunidade chinesa que continuou a chamar as ruas, praças largos e vielas pelas designações próprias cuidando pouco das determinações do Boletim Oficial. Em apenas alguns momentos, os chineses aceitaram baptismos alienígenas, a não ser num ou noutro caso, nomeadamente, por exemplo, na designação Co Si Ta (tradução do apelido Costa), a avenida dedicada ao Conselheiro Horta e Costa, governador dos finais do século XIX que foi o responsável pelo saneamento das zonas pantanosas, dos arrabaldes, construindo a nova cidade de traçado moderno e rectilíneo de acordo com as mais recentes teorias urbanísticas do século de Fontes Pereira de Melo. Para além desta os chineses aceitaram e, é conveniente não sorrir, a designação dada à rua Pi Ri Lai que significa apenas a tradução literal para chinês de Pereira, apelido de Francisco Xavier Pereira, um goês formado em direito pela universidade de Coimbra que foi presidente do Leal Senado no princípio do século com apenas 24 anos de idade (facto inédito em Macau) falecendo em plena juventude em 1910. As razões para a adopção chinesa dos nomes dados pelos portugueses parece advir e resumir-se de um modo geral ao facto de se tratar de novas vias construídas em novos aterros sobre o mar, ou através de antigos pântanos que não possuaím quaisquer denominações tradicionais
Início do século 20
Após a restauração de 1640, a primeira crise revolucionária portuguesa a afectar seriamente Macau foi a revolta liberal de 1820. Os ecos desta revolução, fizeram-se sentir localmente dois anos depois com a aclamação de D. João VI primeiro e subsequentemente com a adopção dos princípios radicais dos revolucionários liberais do Porto que levaram a população macaense a destituir a vereação absolutista do Leal Senado elegendo em sua substituição representantes sintonizados com o novo espírito reinante na Metrópole. Consumado o golpe de estado local, as novas autoridades investidas pelos cidadãos eleitores prenderam o Ouvidor Miguel de Arriaga Brun da Silveira (magistrado cujos poderes extravazavam o âmbito dos tribunais, possuindo as competências de um secretário geral do governo) e juntamente com este o governador nomeado pelo poder absolutista, Castro Cabral e Albuquerque, acabando deste modo com todos os símbolos do antigo regime e libertando a cidade do poder tutelar do vice rei de Goa que se entrepunha entre Macau e sua Alteza Real. Consumado o golpe, Macau, durante um ano singrou independente do intermediário poder de Goa e também à revelia de Lisboa, onde a situação política se alterava de um modo demasiado rápido para que o correio marítimo, que então demorava quase meio ano a chegar desse atempadamente conta das mudanças que se processavam. Foi assim que, a ascensão de D. Miguel e o início da guerra civil ocorreram sem que os liberais macaenses se apercebessem das mudanças. A monarquia parlamentar, era proclamada. Em seguida D.Miguel reinstalava o poder absoluto, para logo Saldanha determinar pela força das armas o constitucionalismo radical, numa sucessão demasiado rápida para que Macau se apercebesse de que afinal a constituição de 1820 tinha sido Sol de pouca dura. O território soube-o apenas quando as tropas realistas comandadas por Garcês Palha (que mais tarde governaria a colónia) desembarcaram no cais da Fortaleza do Bom Parto. Rapidamente conquistaram os fortes, prenderam a vereação municipal que governava a cidade, repondo o Ouvidor, queimaram a Abelha da China, semanário oficial do governo liberal proclamando D.Miguel como rei “legítimo” e reinstaurando a obediência ao Vice-Rei de Goa. De todo este transe, a história registou importantes páginas, destacando nomes de um e de outro campo, mas a toponímia (severo filtro) apenas conservou o nome do Ouvidor Arriaga, como único merecedor de se destacar do olvido. Quanto ao campo liberal quase nenhum nome ficou recordado. Apenas o cirurgião José de Almeida que escapou a tempo da reviravolta miguelista figura hoje na toponímia, ainda que não de Macau, mas de Singapura dando nome à “D`Almeida Street”. O presidente liberal do Senado, Paulino Barbosa, ou o redactor da Abelha da China, Frei António de S. Gonçalo de Amarante não mereceram ser recordados. No campo oposto, o antigo governador Castro e Albuquerque, bem como o bispo Chacim (que viria a governar interinamente a colónia) foram também, obliterados, como se o juízo da história pretendesse manter equilibrados os pratos da balança política dos mortais, não ajuizando entre liberais e absolutistas.
De toda a convulsão macaense dos tempos do liberalismo salvou-se apenas o Ouvidor Arriaga, figura intrigante sobre a qual ainda hoje não é possível estabelecer com segurança se era realista ou liberal, conservador, ou progressista, magistrado impoluto, ou funcionário venal, embora se projecte indubitavelmente acima da discussão como figura ímpar da história portuguesa local. Seja qual for o juízo que sobre ele se faça, ou, o veredicto que a investigação histórica venha a brandir, Arriaga foi um súbdito obediente de D. Maria II, soberana que se manteve acima das confusões históricas(como aliás competia a uma rainha). E se os condicionalismos políticos a não equipararam à dignidade de avenida, como o seu tetra-avô D. João IV, esta conquistou direito a uma rampa (ainda que sumida por detrás do bairro dos correios) e a um fortim, em granito de lei, ainda que hoje, longe de servir para a defesa contenha apenas os equipamentos radio-eléctricos que mantiveram Macau em comunicação com o mundo, albergando o Museu das dos Correios e Telecomunicações
A proclamação da república portuguesa em 1910 foi a convulsão política que depois das guerras liberais mais efeitos produziu em Macau. Não admira por isso que a rua Nova D`El Rei constituísse a primeira designação a abater pelas novas autoridades republicanas locais que com pompa e circunstância retiraram a antiga placa rebaptizando a via com o nome de 5 de Outubro data da revolução que pôs fim à dinastia de Bragança. A mudança institucional levou também a que alguns anos depois a antiga rua do Asilo, rebaptizada de Eduardo Marques (último governador monárquico de Macau) tivesse sido mais uma vez alterada. Para os republicanos aquele era um nome a fazer desaparecer, embora acima das disputas ideológicas da metrópole estivesse em causa a figura de um governador de Macau. Este o debate que parece ter levado a um estranho consenso que foi o de dividir a via em partes iguais; uma manteve a designação monárquica de Eduardo Marques, a outra passou a designar-se rua da Emenda (!…).
Dos heróis e dirigentes republicanos no entanto nada, ou quase nada ficou. Apenas Carlos da Maia se perpetuou em placa toponímica, mas não em consequência directa de ter sido um dos heróis da Rotunda, mas sim pelo facto de quatro anos depois ter assumido o governo de Macau, tendo sido um dos administradores de maior mérito da colónia portuguesa da China.
Seja como for, a revolução republicana deixou marcas na toponímia, mas. mais marcas iria deixar o golpe de 28 de Maio de 1926. De facto, Macau, fosse qual fosse a posição que tomava perante o desfile triunfal do marechal Gomes da Costa de Braga até Lisboa, não podia deixar de homenagear esse militar cujos estudos primário e secundário tinham sido feitos em Macau. Sendo assim, as autoridades locais atribuíram o nome do antigo aluno do seminário de S.José à rua principal de um novo bairro que passou a ter a designação de 28 de Maio. Todavia, reconhecendo a força dos novos destinos de Portugal, Macau ignorou o facto do prestigiado militar ter sido devorado pela própria revolução que desencadeara, decidindo atribuir à enorme avenida que bordejava os novos aterros do Porto Exterior (2) o nome do emergente Ministro das Finanças, Oliveira Salazar, que pouco tempo depois assumiria os destinos de Portugal governando em ditadura pelos quarenta anos seguintes.
Entre a revolução republicana de 1910 e a proclamação do Estado Novo em 1926 muita tinta correu em Portugal. Desde a Monarquia do Norte do general Paiva Couceiro, ao Movimento das Espadas, passando pelas revoltas do Arsenal e um sem número de sublevações triunfantes, ou frustadas. Nenhuma delas registou efeitos particulares em Macau, para além das mudanças de governadores (facto que., aliás o Território desde sempre esteve habituado). Nesse período porém, apenas um nome teve direito a ser perpetuado na toponímia macaense, o de Sidónio Pais. Personalidade singular na história da Primeira República, Sidónio Pais, cujo consulado foi efémero, nada teve a ver com Macau. No entanto, o Território decidiu (sabe-se lá porquê?)mudar o nome da Estrada da Flora (pleno do lirismo que lhe era concedido pelas árvores frondosas que a ladeavam) pelo do ditador português transformando a via em avenida, através dos bons ofícios do governador Tamagnini Barbosa, um integralista convicto.
A última convulsão nacional que influiria na toponímia macaense foi a revolta dos capitães de 25 de Abril de 1974. No entanto, ao contrário de todas as outras, as mudanças políticas registadas em Portugal não implicaram a imposição dos nomes dos novos heróis. Bem ao contrário, o 25 de Abril de 1974 limitou-se apenas a eliminar os da “Revolução de Maio” sem impôr nenhum dos seus. Assim, ao contrário de Portugal, onde as ruas e avenidas das Forças Armadas, 25 de Abril Liberdade e quejandos substituíram os topónimos dedicados a Salazar, Américo Tomáz e outros pelas cidades e vilas do país, em Macau tudo se processou de forma diferente. Gomes da Costa e Salazar foram trocados pelo topónimo inócuo de Amizade. Eis pois que, 20 anos passados sobre o 25 de Abril nem uma figura sequer da revolução democrática portuguesa a toponímia macaense inclui. A colmatar lacunas restam apenas o nome de Mário Soáres topónimo concedido à pressa a parte da antiga avenida Salazar por ocasião da primeira visita a Macau do chefe de estado português e o de Ramalho Eanes, vencedor do 25 de Novembro de 1975, concedido ao largo de Coloane nas faldas do quartel que aquele antigo presidente comandou como capitão nos idos de 1960.
Antes da “história”, ou seja antes do primeiro cadastro oficial que data de 1869 os lugares de Macau não eram conhecidos por nomes famosos, nem designações reais, nem mesmo por acontecimentos, ou datas históricas. A atentar no Boletim Oficial de segunda-feira, 2 de Agosto de 1869, as ruas, becos, travessas, pátios, escadas e calçadas possuíam topónimos inócuos que iam desde os animais (Faisão, gaivota, leitão, Pombo, Rato) aos vegetais (amêndoa, amora, magnólia, feijão, etc.), passando pelos substantivos sem conotações controversas (mainato, ópio, rota, lampião, etc.). Quanto a figuras históricas o cadastro referido ressalvava apenas Coelho do Amaral, governador e autor de uma estrada entre Mong Há e as Portas do Cerco e Ferreira do Amaral, igualmente governador, morto em 1849 ao serviço de Portugal por um bando de sicários junto ao templo da Flor de Lótus, e ainda a rainha D. Maria II, o poeta Bocage e mais duas ou três figuras de relevo da história nacional.
Desde esse cadastro antigo, porém, a fisionomia da cidade alterou-se. Os conceitos modernos impuseram-se e o traçado da cidade, cada vez mais emaranhado e regurgitante passou a exigir maior atenção das autoridades de modo a poderem entender-se com o desenvolvimento massivo da urbe. Em suma, Macau deixava de ser uma aldeola para se tornar numa verdadeira cidade que passava a exigir direcções postais e números de polícia, capazes de permitir aos carteiros entregar cartas e encomendas e aos oficiais de diligências da Justiça recensear os cidadãos. É que em 1869 Macau possuía já 529 vias públicas.Sendo uma colónia portuguesa, ainda que a mais longínqua e mais esquecida do império, Macau, como todas as outras não podia deixar de reflectir na sua toponímia as alterações do processo histórico da Metrópole. É por isso que as conturbações revolucionárias portuguesas, com maior, ou menor atraso não deixaram de se reflectir localmente. Sendo assim compreende-se inteiramente que D. João IV, o rei restaurador de Portugal tenha ficado perpetuado numa avenida, já que foi quem concedeu a Macau o título de lealdade que ainda hoje figura no Senado da Câmara como divisa.A Rua Nova à Guia mostra também a diferença de concepções entre portugueses e chineses. Para nós, o nome da via aberta sob as faldas da montanha que abriga ainda hoje o primeiro farol da Ásia Oriental, a designação não podia ser outra. Guia era o nome dado aos farois nos tempos das descobertas. Para os chineses, porém, a rua, que era habitada maioritariamente pelos “sik”, não podia ter outra designação senão, essa mesmo, ou seja rua dos “Turbantes Brancos”.
Rua D. Belchior
A partir da segunda metade do século XIX, Macau começou a sofrer importantes alterações da sua fisionomia em todas as frentes. Aterros sucessivos, conquistavam o Porto interior fazendo com que o cais avançasse desde a rua do Amparo até aos actuais limites mais de quinhentos metros, a Ocidente. A Norte, depois das intervenções de Ferreira do Amaral construindo a ligação entre a cidade e as portas do Cerco, outras obras foram sendo feitas, culminando com a construção do dique que ligou Macau à ilha Verde e posteriormente, com a intervenção de fundo de Horta e Costa sobre os pântanos de Mong Há. Neste contexto, a toponímia de Macau fica desadequada das realidades emergentes, levando a que o governador Sérgio de Sousa nomeasse uma comissão destinada a “determinar e fixar de um modo definitivo os nomes de todas as vias públicas da cidade”. A decisão do almirante Sérgio é compreensível já que para além da construção de novas ruas, o antigo traçado tinha sofrido sucessivas alterações toponímicas, enquanto as novas vias continuavam por nomear, resultando deste facto os mais diversos inconvenientes, como a própria comissão reconhecia.
(1) Actualmente 2010 o Infantário D. José Da Costa Nunes pertence à APIM (Associação Promotora da Instrução dos Macaenses) e felizmente não foi deitado abaixo como se temia então.
(2) Actualmente designada Avenida da Amizade.
Nota: este excelente artigo da autoria do João Guedes foi publicado primeiramente na Revista Macau em 1994. Na selecção de imagens a ´culpa' é minha.