domingo, 31 de maio de 2009

Associação de Futebol de Macau: desde 1939


Bolinha nos anos 70
Selecção militar de Macau em 1970

A Associação de Futebol de Macau (AFM) foi criada no dia 1 de Junho de 1939 para desenvolver, divulgar, promover, gerir e regular o futebol em Macau. Nesse ano foi reconhecida pela Federação Portuguesa de Futebol como sua filial.
João Havalange, então presidente da FIFA visitou Macau em 1971 e foi nessa altura que a AFM apresentou a sua candidatura à FIFA. É membro da Confederação Asiática de Futebol (desde 1976), da Federação Internacional de Futebol (desde 1978) e tem 53 clubes filiados. A AFM é ainda responsável pela Selecção de Futebol de Macau.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Anuário de Macau: 1927

Luís Gonzaga Gomes: 1907-1976

Nasceu a 11 de Julho de 1907 e faleceu a 20 de Março de 1976. Uma vida marcada pela entrega e dedicação à acção cívica e cultural de Macau. Por esta razão, e para homenagear a sua memória e realçar o seu exemplo, foi-lhe erigido um busto em lugar público, exposto primeiro no Jardim de S. Francisco e actualmente firmado no Jardim das Artes.
Foi também um profícuo agente do intercâmbio cultural China-Portugal, nas suas múltiplas acções e iniciativas, como escritor e tradutor. É autor de riquíssima bibliografia onde introduz e apresenta inúmeros aspectos da cultura chinesa para o universo da língua portuguesa; inversamente, também publicou e traduziu livros para língua chinesa. Personalidade sensível ao movimento das trocas culturais, conhecedor da língua chinesa, ele foi Secretário da Comissão da Elaboração do Regulamento do Curso de Língua Chinesa no Liceu Nacional Infante D. Henrique, o principal estabelecimento de Ensino Secundário para lusofalantes de Macau naquele tempo. Acabou por ser ali o professor da Língua Chinesa, defendendo sempre a importância do seu ensino junto da comunidade de língua portuguesa. Neste campo, publicou “Vocabulário Cantonense-Português”, “Vocabulário Português-Cantonense” e “Noções Elementares da Língua Chinesa”. As suas preocupações e acções pedagógicas devem ter-lhe sido inspiradas no berço; o seu pai, Joaquim Francisco Xavier Gomes, foi Director da Escola Central do Sexo Masculino, e sua mãe, Sara Carolina de Encarnação, foi também Directora da Escola Central do Sexo Feminino.

O pendor cultural que cedo animou o seu espírito, herdou-o também por certo da atmosfera culta da sua família, idêntica a muitas da comunidade macaense existentes nesses tempos em Macau. Luís Gonzaga Gomes (o Inho Gomes, como era tratado de forma carinhosa junto da comunidade macaense) foi um extraordinário auto-didacta, surpreendendo tão vastos conhecimentos culturais que transpiram dos seus múltiplos escritos. Traduziu para chinês “Os Lusíadas contados às crianças”, e a “Arte europeia na corte de Qianglong”, entre muitas outras obras escritas. Para dar a conhecer aos portugueses a riqueza etnográfica de Macau (folclore, costumes, tradições, lendas, artes, etc.) publicou “Lendas Chinesas de Macau”, “Festividades Chinesas de Macau”, “Contos Chineses”, “Curiosidade de Macau Antiga”, entre outros. Para introduzir os falantes de Português na Cultura da China, publicou, entre muitos outros, livros como “O Clássico Trimétrico”, “O Estudo de Mil Caracteres”, “A Piedade Filial”, “As Quatro Obras”, “O Livro da Vida e da Virtude de Láucio”.
Com a sua competência e conhecimentos da arte chinesa foi ele quem instalou o Museu Luís de Camões, hoje denominado Museu de Arte de Macau. Foi um grande coleccionador de arte chinesa e proprietário de uma valiosa biblioteca cujos livros doou e fazem parte do espólio da Biblioteca e do Arquivo Histórico de Macau.
Luís Gonzaga Gomes foi um símbolo de Macau – lugar de diálogo, de harmonia, de tolerância, de universalidade e de paz. Foi condecorado com a medalha do Infante D. Henrique, a medalha de Valor e a de Cavaleiro da Ordem das Palmas da França.

Portos de Macau

Porto Exterior 1986
Porto Exterior 1979
O Porto Exterior localiza-se na parte Este da Península de Macau. É um porto de embarque e desembarque de passageiros, onde operam as carreiras regulares de e para Hong Kong... desde a década de 1960. O Canal do Porto Exterior tem uma largura de 120 metros e é mantido regularmente a 4.4 metros abaixo do Zero Hidrográfico. Pos causa do assoreamento são feitas dragagens de forma regular. O Porto Interior está situado na parte Oeste da Península de Macau e é constituído por 34 pontes-cais, cujas funções são carga e descarga de mercadorias. Só na Ponte 14 do Porto Interior as embarcações autorizadas pela Capitania podem efecturar o embarque e desembarque de passageiros. O cais de Sampanas Sul situado entre as Pontes 8 e 9 destina-se apenas ao acesso às embarcações fundeadas ou amarradas no Porto Interior. O Canal de Acesso ao Porto Interior têm uma largura de 45 metros, e o Canal do Porto Interior têm uma largura de 55 metros, ambos são mantidos regularmente a 3.5 metros abaixo do Zero Hidrográfico.
O Porto de Ká-Hó localiza-se na parte Nordeste da Ilha de Coloane e compreende o cais de combustíveis, o terminal de contentores "Macau Port", o cais da fábrica de cimento "Macau Cement"; e o cais da Central Térmica "CEM". O canal comum de Acesso ao Porto Ká-Hó tem uma largura de 75 metros.

Coloane: 1980 a 1993

1993
1988
1980

Taipa: 1980 a 1993

1993
1988
1980

Praia Grande entre 1980 e 1993

1993
1988
1980

Vistas aéreas



quinta-feira, 28 de maio de 2009

Indígenas...

O artigo 1º da Carta Orgânica do Império Colonial Português define as colónias como "parte integrante do território da nação"; o artigo 2º do Acto Colonial afirma ser "da essência orgânica da Nação Portuguesa desempenhar a função histórica de possuir e colonizar domínios ultramarinos e de civilizar as populações indígenas que neles se compreendam, exercendo também a influência moral que lhes é adscrita pelo Padroado do Oriente."
Em 1954 foi aprovado o Estatuto do Indígena que vigorou até aos anos sessenta.. O Estatuto do Indigenato regulava a vida dos povos nativos/locais não se reconhecendo a esses povos qualquer direito de opinião sobre o dito estatuto. Eram todos portugueses (do Minho a Timor, lembram-se?) e não havia cá povos deste ou daquele lugar. Só perante a pressão da ONU esta lei deixou de vigorar. Infelizmente este é um facto histórico não exclusivo de Portugal.
O regime do indigenato vigorou até 1961 (altura em que é abolido este preconceito racial) e impunha a criação de uma dualidade de estatutos pessoais, assentada na distinção fundamental entre "indígenas" e "cidadãos"; se o estatuto político era dual, todos eram portugueses, ou seja, faziam parte do corpo (hierárquico) da nação. Em todo o caso, é bom ressaltar que o limite virtual dessa dualidade era a assimilação, progressiva e gradual. O indigenato não se fez presente em todos os territórios coloniais: Cabo Verde, o Estado da Índia Portuguesa e Macau nunca foram submetidos ao regime do indigenato, ao contrário de Guiné, Angola e Moçambique; o indigenato foi introduzido em São Tomé e Príncipe e no Timor após a Segunda Guerra Mundial. A estrutura corporativa proposta pelo regime para a população peninsular era, tal como o indigenato, paternalista e baseada na intervenção do Estado. Em ambos os casos, "indígenas" e "povo" são representados como grupos carentes de iniciativa e necessitados da proteção do Estado, o que procura assegurar o imobilismo e evitar a transformação (cf. Rosas 1994).
Os habitantes de Cabo Verde, Macau e do Estado da Índia nunca foram submetidos aos rigores do indigenato, embora fossem denominados normalmente "indígenas". Ou seja, apesar de não haver legislação... havia distinção na prática. À luz da lei eram considerados "cidadãos portugueses"... mas a tradição de muitos anos imperava, e tinhamos o regime a ser aplicado por via do costume... o chamado direito consuetudinário.

Portugal dos Pequenitos: a história do pavilhão...

Pouca gente terá conhecimento da história assaz pitoresca que está por detrás da construção da casa típica de Macau do Portugal dos Pequenitos, em Coimbra.
Durante a concepção desse projecto do Antigo Regime, ficou encarregado do plano da casa de Macau um arquitecto que nunca estivera no Oriente. Para levar a cabo a tarefa, e na impossibilidade de até lá se deslocar, consultou afanosamente arquivos fotográficos respeitantes àquele longínquo território português. A sua escolha, no entanto, não foi feliz. Tomou como inspiração para reproduzir em pedra certa fotografia que mostrava um edifício de estilo acentuadamente chinês. O pobre arquitecto ignorava que se tratava de um famoso lupanar da zona mais libertina da Cidade do Santo Nome de Deus: o Pátio das Flores Rubras (Hong Hua Yuan).

Este lupanar, que deliciou gerações de chineses e portugueses, foi incendiado em 1947, como consequência de uma intrincada história de vingança entre duas seitas rivais. Dos seus escombros resta apenas, na rua onde se situara, a pedra fronteira gravada com três caracteres chineses sobre a tradução portuguesa, ainda em grafia antiga: "Páteo das Flores Rubras". No entanto, por ironias do destino, e para que fossem iniciadas de bem cedo as crianças portuguesas nos inefáveis mistérios do Oriente, a reprodução da sua fachada iria sobreviver, fiel, muito longe dali, em Portugal, no Portugal dos Pequenitos.
Texto da autoria de Okawa Ryuko

Números... em cantonense

Não pretendo dar um curso de cantonense, mas agora que se aproxima a minha viagem de férias a Macau, lembrei-me do que ainda não me esqueci do meu rudimentar conhecimento do cantonense.

0 lìhng (diz-se leng)

1 yãt

2 yih

3 sãam

4 sei

5 ´ngh (nasal, deve dizer-se 'um' de boca fechada)

6 luhk (lê-se lok)

7 chãt

8 baat

9 gáu

10 sahp

11 sahp-yãt

12 sahp-yih

13 sahp-sãam

(...) já deu para perceber a lógica da coisa, não já?

20 yih-sahp

21 yih-sahp-yãt

22 yih-sahp-yih

30 sãam-sahp

40 sei-sahp

100 yãt-baak

1000 yãt-chìn

10 000 yãt-maan

1 milhão yãt-baak-maan

O Pavilhão de Macau na exposição de 1940: verdade ou ficção

Já aqui coloquei um post sobre a presença de Macau na Exposição do Mundo de Português de 1940. Acrescento agora a história que se conta (se lerem tudo percebem porque me refiro ao que se segue desta forma) sobre o que aconteceu ao pavilhão de Macau.
"A cidade de Macau esteve representada na Exposição do Mundo Português em Belém, quando decorria o ano de 1940. Construiu-se a Rua de Macau, cujo maior atractivo era um colossal paquiderme de pedra, de tromba erguida e carregando no dorso um pavilhão de dois andares em estilo chinês. O portal que dava acesso a essa rua pode ainda hoje ser visitado entre a folhagem do ex-Jardim Colonial. No entanto, o elefante com o seu pavilhão desapareceu misteriosamente. O processo relativo ao desaparecimento foi abafado pelo regime de Salazar. Encontra-se na Torre do Tombo e, ainda hoje, não pode ser consultado pelo público em geral.Segundo consta, a Seita do Dragão Azul, uma seita nacionalista chinesa, mantinha entre os estudantes macaenses residentes em Portugal uma pequena ramificação. Formada ainda sob influência, pelo menos indirecta, do Dr. Sun Yat-sen, enquanto este viveu Macau, nos primeiros anos do século, a seita encontrava-se então activamente empenhada na luta contra o invasor japonês que ocupava toda a China do leste e, por extrapolação, contra qualquer poder colonizador. Os estudantes macaenses em Portugal receberam ordens para queimar toda a área colonial da Exposição, na noite seguinte à da sua abertura oficial. Algo terá, porém, corrido mal e Salazar foi informado a tempo. A vigilância apertou-se em torno da área colonial e os asiáticos, goeses incluídos, passaram a ser discretamente revistados e identificados antes de nela poderem penetrar. Os planos da Seita do Dragão Azul saíram gorados pela máquina salazarista e os portugueses puderam regozijar-se com a vastidão do seu império. No entanto, na última noite da Exposição, um estudante macaense, de nome Xavier Cheong, conseguiu deitar fogo ao símbolo de Macau. No flanco do elefante de pedra pincelou insultos a Portugal em português e chinês. Foi posteriormente capturado pela PVDE (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado), antecessora da PIDE. Na manhã seguinte à do fecho da Exposição, do pavilhão em madeira restavam apenas cinzas. Salazar ordenou que fossem rapidamente removidas e que lançassem ao Tejo o elefante de pedra, onde ainda hoje provavelmente jaz, sob as mesmas águas que as caravelas sulcaram outrora em demanda do Oriente."

Portugal dos pequenitos... desde 1940

A propósito do post anterior, também o Portugal dos Pequeninos serviu semelhantes propósitos, mas a nível interno e de forma duradoura. Foi em 1940 e também aqui Macau não foi esquecido.

Planeado por Bissaya-Barreto e projectado por Cassiano Branco foi inaugurado a 8 de Junho de 1940 mas só ficou concluído no final da década de 1950 (a parte de Macau é desta época).
Este parque temático destinado às crianças é constituído por três áreas que correspondem a sucessivas fases de construção, sendo a primeira destinada aos mais pequenos e as duas outras a mais crescidos. A Aldeia dos Pequenitos é dedicada às casas regionais portuguesas e recria os ambientes das povoações de Norte a Sul do país. A segunda fase é o Portugal Monumental, e representa os principais monumentos portugueses. O núcleo Além-Mar evoca os actuais países africanos de língua oficial portuguesa: Brasil, Macau, Índia e Timor. Conta-se uma história muito engraçada acerca da construção do pavilhão de Macau... Vou averiguar com mais detalhe e prometo contar num próximo post.

1ª Exposição Colonial Portuguesa, 1934

A política colonial dos anos 30 era flanqueada por uma propaganda ideológica com duplo objectivo. De um lado, protegia-se por meios jurídicos o domínio colonial; por outro lado, fazer ver aos Portugueses a ideia de um Portugal grande, uno e indivisível.
Durante as décadas de 1930 e 1940, realizaram-se várias iniciativas propagandistas visando a encenação de Portugal como uma nação colonial imperial. Outros países fizeram o mesmo desde o final do século XIX. Relembro por exemplo a Exposição Insular e Colonial Portuguesa de 1894.

Voltando aos anos 30... Estávamos sobre o regime do Estado Novo. Salazar era ministro das Colónias. A ideia que era preciso transparecer ao Mundo, era que Portugal era unido, possuía colónias e que, desde sempre, colonizámos outros povos, constatando a natureza orgânica e indivisível do Império. Foi com esse propósito que no Palácio de Cristal (Porto) - transformado em Palácio das Colónias - teve lugar entre 19 de Junho e 30 de Setembro, a 1ª Exposição Colonial Portuguesa, com representação das Províncias Ultramarinas de Cabo Verde, Timor, São Tomé e Príncipe, Angola, Guiné, Moçambique, Índia e Macau.
Os edifícios, terrenos e jardins do Palácio de Cristal estavam transformados num Império Colonial em miniatura, onde era possível encontrar a floresta tropical, o deserto, uma picada angolana, aldeias típicas de todas as colónias e muitas outras simulações que tinham por intenção dar ao visitante, após o passeio, a sensação de ter viajado por todo o Império Português. O evento foi ainda assinalado, por exemplo, com um emissão filatélica especial que durou até 1945 cujos motivos eram a realidade das diferentes colónias. Ainda não encontrei o(s) selo(s) alusivo(s) a Macau.


Macau at war

According to the 1940 census Macau (Colónia Portuguesa de Macau) had a population of 340,260 inhabitants, of which 4,322 were Portuguese and 335,938 were members of other nationalities, of which by far the most numerous were Chinese. The Portuguese Governor and Commander-in-Chief in Macau in 1941 was Navy Commander Gabriel Mauricio Teixeira. In 1936-1937 the Portuguese military colonial garrison in Macau numbered exactly 497 men: 22 Portuguese officers, 35 Portuguese NCO's and 440 soldiers, including 224 native soldiers, assembled in 1 European infantry company, 1 European artillery company, 1 heavy machine-gun company, 2 native companies and 1 depot section.
The Portuguese military garrison in Macau consisted during the war (1941-1945) from the following units: Commander: Navy Commander Gabriel Mauricio Teixeira (Comandante)Headquarters, Chief of Staff: Major Carlos da Silva Carvalho (Chefe de Estado-Maior), two native light rifle companies, recruited in Mozambique (companhias indígenas de caçadores), one machine-gun company (companhia de metralhadoras), one artillery company (companhia de artilharia), military detachment at Taipa (Destacamento militar na Taipa), military detachment at Ilha Verde (Destacamento militar na Ilha Verde) and supposedly there were 4 Hawker Osprey seaplanes in Macao in 1940.
Following the surrender of Hong Kong in December 1941, the Japanese decided not to formally occupy Macao. One reason may have been that the Japanese wished to respect Portuguese neutrality. The fact remains that Japanese troops went in and out of Macao at will with little protest from Portuguese authorities. However, in spite of this situation, the Allied flags (USA, United Kingdom, the Netherlands, France) were allowed to be displayed in Macao at their respective embassies.
After August 1943, Japanese influence in Macao increased after they attacked and captured a British cargo ship, the Sian (or X'ian), off the coast of Macao after killing 20 of its crew. Perhaps it was carrying contraband war supplies for Nationalist Chinese Forces. It was after this incident that Japan ordered the government of Macao to accept Japanese "Advisors" as an alternative to complete military occupation. Later, Japan became even more aggressive in ordering the Governor of Macao, Commander Gabriel Mauricio Teixeira, to recognize Japanese authority in South China. Furthermore, Japanese authorities ordered Portuguese troops to leave their barracks on Lappa Island, an island adjacent to Macao and occupied by the Portuguese troops. The Japanese also were given the authority to conduct house-to-house searches in Macao.
Macau remained almost isolated from the outside world but was never occupied by the Japanese forces during World War II. It remained neutral during the war, but was essentially out of contact with the government in Lisboa (Portugal), isolated and out of touch. This prevented either reinforcement or withdrawal. Apparently the biggest problems were caused by Chinese civilians taking refuge from the Japanese. However, the Portuguese gunboat at Macau (river gunboat Macau??) was seized by the Japanese and renamed Maiko. This event happened shortly after Portugal made the Azores available to Allied aircraft. At the end of World War II, after the Japonese surrender, Macau returned to his normal situation.
Editado a partir da História do Exército Português, 1910-1945, Volume III

Duplo Centenário da Formação da Nacionalidade e da Restauração (1140 e 1640)

Fotografia de 1940.. julgo na Barra junto ao Templo Ah-Ma
Vista da zona do Tap Seac e da Fortaleza do Monte em 1940

Em Dezembro de 1940 assinalou-se o Duplo Centenário da Formação da Nacionalidade e da Restauração (1140 e 1640). Em Portugal a Exposição do Mundo Português - onde Macau esteve presente, ver outro post) foi o expoente máximo desta manifestação de nacionalismo sob os auspícios do Estado Novo. A data também foi assinalada em todas as colónias portuguesas e Macau não foi excepção.
Para além das diversas inaugurações que foram acontecendo ao longo do ano, nos dias 1 e 2 de Dezembro aconteceram os eventos oficiais de carácter mais institucional.
"No dia 1 de Dezembro às 10 horas, o sr. Governador, acompanhado do seu ajudante de campo, chegou ao local da nova estrada da Barra. Aguardavam-no todos os membros da Comissão (das comemorações) presentes em Macau e os funcionários das Obras Públicas. Às 11h30, o governasdor. ladeado pelo sr. Bispo da Diocese e pelo juiz de Direito da Comarca, abriu a sessão solene que precedeu a visita às salas da Biblioteca de Macau, tendo falado o sr. dr. Horácio Laranjeira, e o sr. governador. No decorrer do "Te Deum" realizado na Sé Catedral às 18horas, com enorme assistência, o Bispo, sr. D. José da Costa Nunes, pronunciou uma eloquente alocução.
No dia imediato, 2 de Dezembro, em coincidência horária com o encerramento oficial das comemorações dos centenários na Metrópole, realizou-se a sessão solene de encerramento das comemorações em Macau, no Salão Nobre do Leal Senado da Câmara, usando da palavra o presidente da comissão dos Centenários, sr. dr. Luiz de Meneses Alves, que se referiu aos trabalhos da Comissão e agradeceu a valiosa colaboração que todos os seus membros prestaram para o bom êxito das Comemorações ali realizadas. Usaram da palavra o sr. Luciano Botelho Martins, presidente do Leal Senado e o sr. Governador da Colónia, cujos patrióticos discursos foram calorosamente aplaudidos."
Quem pretender mais informações sobre este evento pode consultar "As comemorações em Macau do duplo centenário de Portugal" artigo publicado pelo Pe. Manuel Teixeira no "Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau", Macau, A. 38 (437) Ago. 1940, p. 163-174.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

José Maria (Jack) Braga: 1897-1988

Retrato a carvão da autoria de Fausto Sampaio* (*ver outro post sobre este pintor)

Foi um importantes historiador (amador) de Macau. Morreu em 1988, com 91 anos, nos EUA. Pertencia a uma das mais antigas famílias portuguesas de Macau, tendo o seu avô sido dos primeiros residentes em Hong Kong, logo após a fundação da colónia pelos britãnicos. Foi ali que Braga nasceu em 1897. Desde muito cedo dedicou-se à história da expansão marítima portuguesa na Ásia. Aquando da sua morte o Padre Manuel Teixeira disse "perdemos um dos maiores historiadores de Macau. O Padre foi aluno de Braga em 1934 logo após chegar a Macau, no Seminário de S. José. Ainda de acordo com o Padre, Braga estava ao nível do historiador Charles Boxer "e merece bem que se lhe dedique um monumento e uma rua. Professor e escritor, Jack Braga foi ainda conselheiro de vários governadores, nomeadamente sobre Hong Kong. Durante a Guerra do Pacífico serviu de ligação entre os serviços secretos chineses e ingleses.
Escreveu, entre outros, "Early medical practice in Macao" 1935, "A Biblioteca do Capitão Charles Boxer", 1936, "Os pioneiros do Ocidente e a Descoberta de Macau" e "Camões" em 1949. Há também o registo de um guia turístico (Short Handbook) em 1968.
Um sobrinho de Braga (Stuart) levou para a Austrália a maior parte do espólio do tio: "My uncle, J.M. (Jack) Braga, who had already begun to collect a significant library on the activities of the Portuguese in the Far East. The war put a stop to his acquisition of books, but instead he began to record the life of the large English-speaking community in its efforts to maintain a vibrant cultural life in these extraordinary conditions.
By mid-1945 it was obvious to local people that the war was finally coming to an end, as the growing number of air raids told of increasing American air supremacy. Braga began to collect newspapers, including the English edition of the Portuguese newspaper Renascimento, which by mid-1945 was able to give accurate information about the collapse of Nazi Germany. Now held in the National Library of Australia, these papers tell a dramatic story of rapidly growing excitement."
Jack Braga em 1974 já nos EUA

Jornal Renascimento, "o jornal português de maior circulação no Extremo-Oriente" que tinha edições em português, inglês e chinês. Publicou-se entre 1945 e 1947.
Jornal de 1945 do espólio de Jack Braga

Em 1966 a Biblioteca Nacional da Austrália aquiriu uma grande parte do espólio dos pertences de Jack Braga. Eis o que lá está segundo texto do site da biliboteca.
"The Braga Collection is mainly concerned with Portuguese activity in Asia. Jose Maria Braga was a businessman, teacher and author based in Macau, who wrote numerous books and articles about this Portuguese settlement. While his collection covers Portuguese influence worldwide its main concentration is on Macau, Hong Kong, China and Japan. The greater part of his library of books, manuscripts, pictures, newspapers and journals was acquired by the National Library in 1966.
The collection commences with Portugal's expansion in the fifteenth century, including the development of nautical science, and accounts of principal voyages. Religious missions to Africa and Asia are also well covered. There is a focus on Macau as the religious and commercial centre for Portugal's relations in the region, particularly with China. For the nineteenth century and later the collection is more concerned with the role of Hong Kong as it eclipsed Macau in importance.
Most of the manuscripts in the Braga Collection are copies of documents held in European archives and libraries. Some of the originals have been lost. Manuscripts by Braga himself include his translations and notes relating to the Jesuits in Asia, a handbook of Portuguese officials and their contemporaries in China, and a biographical index to European expansion in East Asia.
Braga collected around a thousand pictures relating mainly to his interests in East Asia. There are watercolours, prints, engravings, line drawings, and several oil paintings. The subjects covered include religious and other buildings, especially in Macau, many ships, portraits of missionaries and scenes of traditional life in China and Japan."

Fausto Sampaio: 1893-1956

Num blog onde se procura priveligar a imagem não podiam faltar pintores de Macau de tempos mais antigo. O pintor português Fausto Sampaio (1893-1956) é um deles.
Fausto Sampaio nasceu em Alféolas, Anadia em 1893. A incapacidade auditiva que o atingiu ao 22 meses de idade tornou-o surdo-mudo mas isso não o impediu de ter uma grande sensibilidade para se exprimir através da pintura. Atinge o auge da sua carreira artística nas décadas de 30 e 40 do século XX, época em que realizou grande parte das suas obras nas províncias ultramarinas e que lhe valeram o título de "Pintor do Império". Em algumas províncias esteve só de passagem, em Macau e S. Tomé, demorou-se mais tempo e tornou-se residente.
Residência do Presidente da Melco (companhia de Electricidade) no monte da Penha; ao fundo, o Porto Interior.
Artista singular do período naturalista, de transição para o modernismo, a sua obra revela o conhecimento e admiração pelo Oriente, o que o levou também a aderir ao “orientalismo”, característico da pintura da sua época. As suas obras, fruto da vivência nas terras por onde viajou, como Goa, Diu, Damão ou Timor, mas também daquelas em que viveu, como Macau, exprimem a atmosfera, os contrastes, a paisagem, a luz, as figuras e as formas próprias de cada uma.
Possuidor de grande mestria técnica (dizia-se que o seu pincel tinha olhos, cérebro e alma), e de uma sensibilidade inigualável, Fausto Sampaio foi um impressionista de grande versatilidade e um paisagista nato; realizou obras únicas em que a rápida pincelada e a extrema facilidade de manejar a espátula, lhe permitiram captar a impressão dos momentos que viveu, instantes quase palpáveis, fazendo-os perdurar para sempre.
Retrato de Jack Braga (ver outro post) desenhado por Fausto Sampaio em Macau no ano de 1936... desenhou também a carvão, por exemplo, José Vicente Jorge, um retrato que se perdeu num incêndio

Amor e Dedinhos de Pé, o filme (1991)

Imagens da Mafalda Raposo durante a rodagem do filme em Macau no ano de 1990
Mafalda e Sandi Manhão (de branco) figurantes no Leal Senado

É o que se chama, um filme de época. A história decorre na Macau do início do século XX. Amor e Dedinhos de Pé é uma adaptação ao cinema do romance homónimo de Henrique de Senna Fernandes que conta a história de Francisco Frontaria cuja arrogância o levará ao ostracismo e à miséria no Bairro Chinês até que um amor o resgate.
Luís Filipe Rocha realizou e Izaías Almada escreveu o argumento. do leque de actores e actrizes contam-se Ana Torrent, Jean-Pierre Cassel, João D'Ávila e Joaquim de Almeida. Estreado em 1991 o filme - do género drama - tem 125 minutos de duração. Em 2004 Vasco Menezes escreveu esta crítica ao filme no jornal Público:

"Variação portuguesa do "filme de época", "Amor e Dedinhos de Pé" trabalha a reconstituição histórica com emoção e atmosfera. No território de Macau em 1900, uma hipótese de amor nasce entre dois excluídos.
Apostas, noitadas e farra. São essas as ocupações a tempo e inteiro de Francisco Frontaria (Joaquim de Almeida). Jovem de boas famílias, é na alta sociedade macaense do início do século XX que se movimenta, sem grandes preocupações e ainda menos responsabilidades. Famoso pelos dotes de conquistador, os seus talentos para o jogo (que, para além da perícia na sueca, se estendem às apostas com lutas de grilos) não passam igualmente despercebidos.
Para este "bon vivant" profissional, o trabalho não parece ser opção. É, aliás, uma palavra que raramente lhe sai da boca, a não ser quando se torna necessário convencer a sua abastada tia (o tio, que lhe chama irresponsável, é que já não vai na conversa) a "emprestar-lhe" dinheiro, a pretexto de um qualquer "negócio da china" e sob promessas constantes de "regeneração". Líder de um grupo de foliões, vive para aceitar os desafios que aqueles lhe propõem. E uma dessas "demandas" coloca-o frente a frente com Victorina Vidal (Ana Torrent), neta de um médico espanhol especializado em doenças venéreas e a rapariga menos disputada de Macau.
A brincadeira dá para o torto e termina com Francisco, no decorrer de um baile de celebração do ano novo chinês, a brindar Victorina com mimos como "vesga", "mastronça" ou "Varapau de osso", a alcunha que a tornou famosa por terras do sul da China. Meses mais tarde, quando os seus caminhos se voltam a cruzar, as posições inverteram-se radicalmente. Francisco levou as tropelias longe demais e passou a ser "persona non grata" entre as classes privilegiadas de Macau. O seu pecado? Ter humilhado publicamente uma família poderosa. O castigo? Três-em-um: um espancamento, a condenação ao ostracismo social e uma insólita doença, parecida com a lepra, que lhe afecta os pés, cheios de feridas e a cheirar bastante mal...
Quanto a Victorina, deixou de ser a mulher insegura de outrora, convencida de que o futuro só poderia ser idêntico ao das tias, duas solteironas frustradas e infelizes, para adquirir finalmente confiança na sua feminilidade. O responsável? O abastado padrinho, Gonçalo Botelho (Jean-Pierre Cassel), que a ajuda a ganhar amor-próprio e a nomeia sua procuradora (com direito a usufruir das suas luxuosas moradias) antes de partir para o Japão. E é assim que, uma noite, por obra do acaso (ou terá sido o destino), a jovem enfermeira se depara novamente com o menino Frontaria, agora um farrapo humano meio morto. E, para surpresa (e descontentamento) geral, resolve auxiliá-lo...
É do confronto entre estas duas figuras que vive "Amor e Dedinhos de Pé" (1991), de Luís Filipe Rocha. Adaptação do romance homónimo do escritor macaense Henrique de Senna Fernandes, o filme marcou o regresso ao cinema do realizador português, após um período de inactividade que coincidiu com uma passagem de seis anos por Macau. Para trás ficava o que poderá ser apelidado de primeira fase da carreira do cineasta, marcada por obras de forte conteúdo político e arreigada consciência social, de que "Cerromaior" (1981) figura como o exemplo mais conhecido.
Corte e costura Com "Amor e Dedinhos de Pé", é notório o desejo de Rocha em pôr em prática um modelo cuidado de cinema "industrial" - prosseguido depois em filmes como "Camarate" (2001) ou "A Passagem da Noite" (2003) -, tecnicamente competente e ao serviço de uma narrativa bem estruturada. Todos os sinais apontam, de resto, nessa direcção: a aposta em valores fortes de produção (com destaque para a fotografia de Eduardo Serra); a relativa discrição do trabalho de câmara (toda a primazia é dada à ilustração escorreita de uma história com cabeça, tronco e membros); e a própria escolha do modelo de "filme de época", ideal para a exposição de "qualidade técnica".
E se a preocupação em atrair o máximo de público possível de uma forma inteligente, sem aplicar fórmulas convencionais ou sabotar a criatividade artística - basta observar como a reconstituição histórica de Macau em 1900 se opera com os atributos da emoção e da atmosfera -, já de si constituiria um mérito considerável, o filme apresenta ainda outros trunfos. Desde logo, o modo como se esquiva a um sublinhar redundante do "exotismo" do cenário, ao não se desdobrar por múltiplos sub-enredos, deixando antes que a crónica de costumes se concretize através da história central, que junta os destinos de Francisco e Victorina.
Ao concentrar a acção nesse par, o filme de Rocha assume-se como uma adaptação livre da matriz original. Ou seja, mais do que o documento da passagem dos portugueses pelo Oriente, ao realizador (e ao seu parceiro na feitura do argumento, o brasileiro Izaías Almada, com quem voltaria a colaborar no seu projecto seguinte, "Sinais de Fogo", adaptação de Jorge de Sena) interessou acima de tudo retirar do livro de Senna Fernandes a hipótese de amor que nasce entre dois excluídos, desprezados pela sociedade (ela por não corresponder aos padrões habituais de beleza, ele por via dos erros cometidos no passado). Deste modo, poder-se-ia até dizer que o núcleo de "Amor e Dedinhos de Pé" está todo no título que recebeu em França: "Macau, Desprezo e Paixão". É disso, no fundo, que se fala aqui.
Nessa operação de "corte e costura" em relação ao romance, as últimas imagens resultam sintomáticas: o filme elide o "final feliz" ("Era demasiada água com açúcar", disse, na altura da estreia, Izaías Almada) proposto pelo escritor, em favor de algo em aberto, a apontar para o término da insólita relação entre "Varapau de osso" e "Chico pé fede" (o nome pelo qual o "excomungado" Frontaria passa a ser conhecido após contrair a doença que quase o mata). Uma opção executada com elegância, a palavra-chave em "Amor e Dedinhos de Pé", bem à vista quer no retrato da hipocrisia moral da época, quer na metamorfose de registos: comédia, drama e, por fim, história de amor."

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Teatro/Cinema Roxy

Já aqui coloquei vários post's sobre as salas de cinema/teatro de Macau. Num destes dias encontrei por acaso a alusão a um cinema Roxy. Pesquisei e eis o que encontrei. Ficava no Porto Interior e foi contemporâneo do mais conhecido cinema Império. O Roxy era conhecido por exibir filmes com muita dose de erotismo. Talvez por isso se encontrem raras referências a este espaço cultural de Macau das décadas de 1950-60.
Fica o convite - neste como noutros post's - para quem souber mais, partilhar a informação juntando o seu comentário.
PS: por curiosidade... sabiam que uma das cenas do filme sobre a vida de Bruce Lee é filmada em Macau frente ao Cineteatro, em 1992/93?

Falar ou não português

Fotografia do início da década de 1970
Tornou-se quase um lugar comum, agora que os portugueses se lembraram, e mesmo assim de forma efémera, que Macau existe, mencionar, com um espanto que seria genuíno se não se lhe devesse chamar antes ignorância, o pouco português que se fala naquele Território.
Tornou-se quase uma falta de pergaminhos não dar um pulinho ao pequeno enclave na grande China e ninguém perde a oportunidade para se mostrar na moda, expressando perante uma bica curta na esplanada do café, a sua crítica e documentada indignação, perante o facto de que mais facilmente deram conta, já que é evidente e, além do mais, atrapalhou a compra apressada de pérolas, mobílias, louça, aparelhagem vária, tapetes, enfim, o que "valha-me Deus, não imaginava que perdi por não ter vindo mais cedo"'. O que vale são os contentares dos últimos residentes, que se vêem obrigados a tornar elástica a cubicagem para caber tanta tentação, tanta encomenda. É um facto - fala-se hoje muito pouco português em Macau, mas talvez um pouco mais do que ontem! É que há um interesse novo, por parte da China, em aprender a língua de Camões para se estabelecer em Macau, que continuará a ser uma placa giratória de irradiação comercial. Há mesmo outra sugestão, que é vir residir para Portugal, fazendo triangulação via Macau (ou não) com a Europa e a China. O tempo o dirá. Mas que há chineses a apostar na língua portuguesa, e com esmero, há. Eu podia seguir uma explicação simplista, que já tenho ouvido: os chineses não falam português em Macau, porque os portugueses não aprenderam o chinês. Pura reciprocidade, imediatamente sublinhada com o caso de Hongkong, onde cada uma das comunidades, em século e meio, falava a língua da outra. Isso também é um facto. Temos portanto que, em Macau, onde permaneceu a administração portuguesa durante quase quatro séculos e meio não se fala a língua administrante, salvo entre um punhado de casos e, em Hongkong, é como se vê! ... Fala-se chinês e inglês com fartura. Tenho ouvido, e já em Macau - onde vivi perto de 30 anos - ouvia esta queixa. Tanto quanto esteve ao meu alcance explicar, puxei dos "galões" da história e avancei na rádio, na televisão e até na tal mesa do café! ... Creio que talvez algumas pessoas que hoje me leiam podem também ver a situação por outro prisma, e foi por isso que aproveitei este espaço para trazer, e a partir daqui sem ironias, o que me parece justificar a tal situação da língua portuguesa. Para já, há que contar com o peso percentual da população chinesa, (98% em 1990) e a restante, entre a qual, para além de português, se fala tagalo, tailandês, inglês...
Quer dizer, se fôssemos a utilizar a expressão "Nós e os outros", o "Nós" eram os chineses, muito deles engrossando a sempre crescente corrente migratória vinda da China, e os outros éramos nós, somos nós, os de de língua não chinesa ou também portuguesa, que é o caso dos macaenses. Estes, que sempre falaram as duas línguas, raramente sabem escrever em chinês. São analfabetos, o que não lhes retira em nada o papel de intérpretes que historicamente lhes e nos valeu. O português de Portugal, mais conhecido por "reinol" ou europeu, raramente percebe, sequer, o chinês falado, o que, no caso da classe administrante, se revelou um enfeudamento à primazia dos macaenses, em matéria de diálogo. Não poucas vezes foi uma situação curiosamente protectora das boas relações Luso - Chinesas, por exemplo quando a frase expedida com alguma rispidez de um dos lados, perdia a tonalidade e o conteúdo ofensivo ao passar pelo diplomático crivo do bilingue macaense. Esta História da Diplomacia, como língua, encontrou-se, pelo menos com igual acuidade, nas embaixadas, encontros protocolares, tradução de correspondência e no quotidiano de Macau, quer administrativo, representado pela figura do Procurador do Leal Senado, sempre investida num macaense bilingue, quer no dia-a-dia da população. O mesmo é dizer que, em Macau, a diplomacia não vestiu só trajes palacianos, desceu à rua, sente-se sempre a sua utilidade, até no trato doméstico, por exemplo quando a dona de casa portuguesa se dirige com palavras menos brandas à empregada doméstica que lhe partiu o açucareiro do serviço de Cantão, e esta lhe responde qualquer coisa como "há mais à venda". Passada a constatação do acidente, e não tendo sido percebida a incorrecção verbal trocada entre as partes, é fácil retomar o sorriso e esquecer o incidente. As crianças que acompanham os pais chegados de Portugal, aprendem o chinês, falado, com muita facilidade e são muito oportunas para atender à porta, falar com o canalizador ou pedir ao taxista que siga em determinada direcção. Mas na verdade o problema de fundo é que a língua de uma minoria, ainda que administrante, não se impõe num quadro em que a maioria Se expressa noutra língua, a menos que isso tenha vantagens.
No século XVI, os portugueses tinham o monopólio do comércio entre a Europa e o Extremo oriente. E foi essa coordenada que pôs todos os povos a utilizar, como língua franca, o português de então. Era o interesse a comandar. Os missionários souberam utilizar essa vantagem, mas, sensatamente, Olharam para mais longe, e aprenderam a gramática e língua dos países onde iam chegando. Mas os povos europeus que fizeram concorrência ao "mare clausum" - lembro acima de tudo os holandeses - tiveram que aprender português para se dirigirem aos soldados nativos da índia, de Malaca, da zona das especiarias, que iam incorporando nos seus exércitos cada vez mais presentes na Ásia. E a pouco e pouco a tonalidade francesa e inglesa vieram sobrepor-se economicamente, mudando para essas línguas a agulha da bússola orientadora do comércio.

Vista da parte ocidental em 1900 - gravura

Quando o português deixou de ser único, deixou de ser útil, foi-se esbatendo. Apenas a Igreja Católica, numa cruzada cristã e de defesa face aos reformistas protestantes zelou o aprendizado, no caso agora vertente, da língua chinesa, fazendo nela imprimir a doutrina e a cultura que desejava veicular. E, para isso, multiplicou epítomas de primeiras letras, catecismos, até se preocupar em obter o adiantado grau de letrado chinês. Foi com esta metodologia que Ricci, Verbiest, Schali, Tomás Pereira e tantos outros jesuítas se tornaram respeitados junto do Imperador da China, a quem eram úteis em matérias que iam desde a Música e Pintura, à Matemática e Astronomia. O Observatório de Pequim e o Cemitério de Chala são dois, entre muitos testemunhos, desse relacionamento humano, diplomático e, tantas vezes, fecundo em termos de Missão.
O nascimento da Singapura inglesa, em 1819, e de Hongkong, em 1842, viraram o leme para a língua britânica, como instrumento útil, em negociação - Os jovens macaenses do meio século passado, falando português, chinês, francês e inglês, foram os empregados credenciados pelas agências e empresas, pelos armazéns e bancos de Sua Majestade Britânica na nova colónia. Não foi tão depressa como se julga que os "british people" deixavam a língua de Shakespeare, preferindo não se rebaixar ao diálogo directo com o povo que tinham vencido ( - Vitória - Hongkong - fora o troféu face à China ) escolhendo os intermediários macaenses; por sua vez, estes tornaram-se cada vez mais fluentes nas duas línguas de comércio entre o Celeste Império e a Inglaterra, o que velo a traduzir- se no empobrecimento da própria língua, o português, salvando numa solução de compromisso, entre as três vias de comunicação verbal, um dialecto interessantíssimo - o patuá - tão acarinhado ainda hoje, para que não morra. É um misto de português arcaico, com termos malaios, ingleses e, sobretudo, construção chinesa,- o plural, como mera referência ilustrativa, é conseguido pela repetição da mesma palavra, o que corresponde aos cânones sinológicos. A base arcaica é, porém, profunda, e tanto assim é que se torna possível, nos nossos dias, estabelecer conversação entre o patuá (ou "doce papiaçam di Macau), o "papiá cristã " de Malaca e o crioulo de Cabo Verde. Quanto à pronuncia portuguesa Moderna, por desuso quotidiano e a influências várias, foi-se perdendo É sabido que nas sociedades agrárias, à maneira romana, a língua passa, com natural facilidade, de pais para filhos. Para além da escola, há o declinar da tarde, nos campos, e o encontro de família em roda da lareira, no pátio ao luar, no largo da povoação, no oratório onde se reza o terço depois do serão de cantigas, adivinhas, contos tradicionais, que enraízam e enriquecem o património cultural - linguístico. Foi o que se passou nas terras portuguesas do Brasil, de África, da Índia, de Timor. Mas não em Macau, território reduzido à dimensão de uma cidade, eminentemente comercial. Tirando a igreja, que ainda por cima utilizava o latim, a língua útil era a dos compradores.
O comprador tem sempre razão, deve-lhe ser facilitado o diálogo e eis-nos, por força da população chinesa em presença, e do crescente império oriental inglês, a deixar de conseguir impor a 1íngua portuguesa, conquanto se tenha sempre lutado, por a oferecer nas escolas. Enquanto houve serviço militar português estacionado em Macau, fundaram-se muitos novos lares luso-chineses, onde o pai luso punha toda a familia a falar a sua língua. Mas também esse factor de defesa linguistica se esbateu com o encerramento (em 1975) do CTIM - Comando Territorial Independente de Macau. A força policial foi durante muito tempo exercida por jovens soldados portugueses que, acabada a tropa, se deixavam seduzir pela terra e pelos encantos femininos orientais, fixando-se na P.S.P. Nessas famílias, também o português era usado com exclusividade, mas os jovens chineses têm rendido todos esses cargos, o que faz sentido, já que a maioria da população é chinesa.
A língua portuguesa é útil como língua de cultura: ler os arquivos com notícias históricas de um passado luso-chinês comum durante séculos, conhecer a matriz da jurisprudência e a consequente matéria legislativa oriunda de Portugal, que se conserva na maioria dos casos, proporcionar o ensino em língua curricular portuguesa aos filhos de portugueses que vão continuar em Macau, manter uma livraria com material audio-visual em português, eis algumas das grandes mas circunscritas razões para que o português continue vivo, depois de 20 de Dezembro de 99. Por 50 anos, ou mais, Deus sabe. Mas nunca esqueçamos que, se Portugal se manteve administrante desde o século XVI até hoje, num pequeno enclave territorial da grande China, foi graças ao cariz mercantil que estrategicamente ocupa, e ao facto dos seus habitantes portugueses se terem sabido moldar a exigências linguísticas que nunca mas nunca os fizeram esquecer a bandeira verde-rubra. Eu, portuguesa "reinol", macaense por opção e gratidão àquela terra, uso agora, em sentido inverso, porque o digo aqui em Portugal, a expressão que, na doce papiação de Macau, quer dizer saudade, - Ob, Macau, que "saiôn"!

Vista da parte oriental - fotografia ca. 1900
Este texto da historiadora Beatriz Silva (minha professora de História nos tempos do liceu em Macau) tem já 9 anos, mas mantém toda a actualidade na perspicácia com que analisa a problemática da língua portuguesa em Macau. Vale a pena ler a análise de quem viveu durante 30 anos em Macau e estudou/investigou/divulgou a sua história como poucos.

Guerra do Ultramar

Treinos na ilha da Taipa em 1969

A Guerra do Ultramar, também conhecida por Guerra Colonial, decorreu entre 1958 (Índia) e 1974, embora se tenha prolongado até 1975, devido ao processo de descolonização. Foi na Província de Angola que se iniciaram as operações (1961), estendendo-se a seguir às Províncias da Guiné e de Moçambique, locais onde se registaram a maior parte das baixas em combate. Foram mobilizados 800 mil combatentes tendo morrido quase 9 mil. Feridos evacuados do teatro de guerra foram 30 mil. No total cerca de 150 mil combatentes ficaram feridos ou doentes (14 mil deficientes físicos).
Das oito Províncias Ultramarinas (Angola, Cabo Verde, Guiné, Índia, Macau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor) em Cabo Verde, Macau e São Tomé e Príncipe não se deram combates.
A presença militar portuguesa foi uma realidade desde os primeiros tempos de Macau. Primeiro a partir da Índia, depois de Moçambique chegavam os militares para servir no Território. Com o passar dos anos e para fazer face às necessidades, os militares passaram a vir directamente de Portugal. Era uma estrutura transversal à dinâmica da cidade... da mais baixa patente até ao Governador. Até nos serviços que em Portugal estava entregues à chamada sociedade civil, em Macau eram os militares (das diferentes forças, mas com destaque para o exército e para amarinha) que dominavam. O Governador era tradicional e habitualmente um militar indicado pelo Presidente da República.
O pré: dia de pagamento do salário
Até 1974, muitos soldados oriundos de Portugal chegavam constantemente a Macau para reforçar a guarnição militar da Cidade e também para cumprirem o seu serviço militar. As comissões de serviço duravam cerca de dois anos. Mas por vezes o fascínio por aquelas paragens do Oriente mudava para sempre o futuro dos então jovens militares. Foi assim durante sucessivas gerações e isso mudou para sempre a História de Macau.
Entrega do correio cerca de 1970 proveniente da metrópole: um momento sempre cheio de muita emoção
Muitos militares portugueses acabaram por se estabelecer em Macau, casando com mulheres macaenses ou chinesas. Seguiram carreira na polícia ou na função pública. A partir do 25 de Abril de 1974 a situação mudou drasticamente com a desmilitarização da Cidade, originando uma diminuição da chegada de militares portugueses a Macau.