domingo, 31 de outubro de 2021

"Bullfights in Macau (Portuguese Style)": 1966

 

Nos dias 1, 5, 6, 10, 12, 13, 17, 19 e 20 de Agosto de 1966 houve tourada em Macau. Era uma estreia e a improvisada arena de bambú teve lotação esgotada para ver os matadores Manuel dos Santos e Ricardo Chibanga e ainda o cavaleiro David Ribeiro Telles.
Chibanga, o africano que terminava a faena ajoelhado e de costas para o touro foi a grande atracção. Em cima um cartaz em inglês já que o evento atraiu muita gente da então colónia britânica de Hong Kong.

sábado, 30 de outubro de 2021

Chinese School: View of Macao ca. 1860

"Chinese School: View of Macao Circa 1860" foi o título deste guache sobre papel (48x30cm) vendida recentemente por uma leiloeira internacional por cerca de 20 mil euros.
Trata-se de uma pintura da chamada "escola chinesa" do período "china trade" de meados do século 19 que representa uma perspectiva de Macau - de Sul para Norte - centrada na baía da Praia Grande a partir da zona da Penha.
Na obra de arte temos a representação da fachada da igreja Mater Dei, a Fortaleza do Monte, a Sé e as fortalezas da Guia e de S. Francisco, entre outros. Nas águas da baía destaque para alguns juncos e uma embarcação de pás a vapor com bandeira dos EUA que na época assegurava a ligação marítima para passageiros entre Macau e Hong Kong.
Outro elemento curioso que se pode ver é um conjunto de postes/candeeiros num troço da linha de costa. Vejamos então com mais detalhe estes e outros elementos que ajudam a 'datar' a obra...
À esquerda a fachada da Igreja Mater Dei que assim ficou depois de um incêndio em 1835.  Ao centro no topo a Fortaleza do Monte e ligeiramente à direita a Igreja da Sé cuja configuração diz respeito às obras de renovação e restauro ocorridas entre 1844 e 1850. Do lado direito , junto à água, em primeiro plano, parte do edifício que tudo indica ser o Palácio do Barão do Cercal (de 1849).
Ainda não existe o quartel de S. Francisco inaugurado em 1865/66 sendo para o efeito demolido o antigo convento e igreja de S. Francisco (ca. 1861) que ainda surge na pintura no lado direito. Nesta época o Porto Interior ainda não era a grande 'porta de entrada' no território podendo ver-se um pequeno cais de embarque/desembarque a meio da Praia Grande.
Sugestão de leitura:
Carl L.Crossman - The China Trade: Export Paintings, Furniture, Silver and other objects. Princeton: Pyne Press, 1972.

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

"Repertório alphabetico (...) da legislação ultramarina (...): 1886

Repertório alphabetico e chronologico ou indice remissivo da legislação ultramarina desde a epocha das descobertas até 1882 inclusive por João José da Silva, Juiz de Direito da Comarca de Macau
Macau, Typographia do Seminário de S. José, 1886.

Excertos:
Jogo
Declarou-se livre em Macau o estabelecimento de casas de jogo de fantan, de azar e carteado com previo pagamento de licença. Port. de 27 d out de 1877 (Vide os orçamentos da prov.)
Loterias
Permittida uma annual em Macau em beneficio dos estabelecimentos de piedade e beneficencia. C.R. de 5 de jun de 1810.
Annexações
Foi annexado o territorio da ilha de Timor á cidade de Macau constituindo uma só prov. com a capital em Macau formando o territorio de Timor um districto, com um gov subalterno. Dec. de 26 de nov de 1866.

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

As seis viagens de Jean Baptiste Tavernier

Jean-Baptiste Tavernier (de 1605 a 1689) foi um dos viajantes mais conhecidos na Europa do século XVII. Filho de um protestante francês que havia fugido de Antuérpia para escapar da perseguição religiosa afirmou-se como comerciante de joias e nessa qualidade realizou seis viagens ao Oriente entre 1632 e 1668. Entre os países que visitou (a maioria mais de uma vez) estão os atuais Chipre, Malta, Turquia, Síria, Iraque, Irã, Afeganistão, Paquistão, Índia, Sri Lanka e Indonésia. 
Em 1676 publicou em Paris as memórias dessas viagens no livro Les six voyages de Jean Baptiste Tavernier (As seis viagens de Jean Baptiste Tavernier), em dois volumes, com o título e subtítulo completos: 
"Les six voyages de Jean Baptiste Tavernier, écuyer baron d’Aubonne, en Turquie, en Perse, et aux Indes, pendant l'espace de quarante ans, & par toutes les routes que l’on peut tenir: accompagnez d'observations particulieres sur la qualité, la religion, le gouvernement, les coûtumes & le commerce de chaque païs, avec les figures, le poids, & la valeur des monnoyes qui y ont cours.
"As seis viagens de Jean-Baptiste Tavernier, barão de Aubonne, pela Turquia e rumo à Pérsia e às Índias Orientais, ao longo de quarenta anos, e por todas as rotas possíveis, ilustradas com observações particulares quanto à qualidade, religião, governo, costumes e comércio de cada país, com imagens, peso e valor das moedas de cada um deles".
Em 1677 surgiu uma tradução em inglês.
Edição de 1676

Num livro muito curioso, realço um excerto que prova em como já no século 17 Macau era visto como território de jogo e prazer... No relato da terceira viagem o autor conta a história de um "gentilhomme Ms. du Belloy", amante do jogo e do prazer, que viveu dois anos no território (por volta de 1650), depois de ter pedido licença (em Goa) para ali permanecer, facto que só sucedeu pelos serviços militares que fizera aos portugueses.
"Du Belloy souhaite qu'on le laissât aller à Macao, ce que luy fut accordé. Il avoit appris qu'une partie de la noblesse se retiroit en ce lieu-là après avoir beaucoup gaigné au négoce quélle recevoit assez bien les étrangers, qu'elle aimoit fort le jeu, ce qui estoit la plus forte passion de du Belloy."
“Du Belloy esperava que lhe fosse permitido ir até Macau, o que lhe foi concedido. Ficou sabendo que parte da nobreza ia ali com frequência depois de ter ganho muito com o comércio que os estrangeiros recebiam muito bem, que ele gostava muito de jogar, que era a paixão mais forte de du Belloy. "
Relatos da época contam que chegou a pedir dinheiro emprestado para poder jogar. Uma vez, depois de ganhar uma quantia elavada, em vez de pagar as dívidas voltou a apostar e perdeu tudo. Sem ter mais ninguém que lhe emprestasse dinheiro ficou enfurecido e praguejou junto a uma imagem católica. O facto valeu-lhe a prisão em Macau sendo enviado para Goa para ali ser julgado pelo Tribunal da Santa Inquisição, porque praguejara e invectivara uma imagem religiosa, atribuindo-lhe a causa do seu azar, quando, num dia de pouca sorte, perdia ao jogo. O seu azar viria no entanto a transformar-se em sorte, porquanto conseguiu evadir-se durante a viagem...

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

José Martins Achiam e o Karate-Do Seigokan de Macau

O Shihan José Martins Achiam (1944-2008) é considerado o fundador da prática do Karaté em Macau.
Em 1966 deu início de forma informal às actividades no quintal da casa de um de seus alunos, Alberto Carlos Paes D’Assumpção (Acaio), no nº 2 da Rua Central nº 2-c. Este viria a ser um dos introdutores do Karate Goju-Ryu Seigokai no Brasil.
Achiam, ou o "Mestre" como era conhecido, deslocava-se semanalmente a Hong Kong onde aprendeu no centro de artes marciais, Oh Do Kan, sendo aluno dos Sensei Seigo Tada e Yukiaki Yoki.
É deste modo que surge a Associação de Karate-Do Seigokan de Macau. Em Setembro de 1967 transferiu-se para o Seminário São José, onde oficialmente foi estabelecida a Associação de Karate-Do Seigokan de Macau (A.K.S.M.).
Finalmente a A.K.S.M. funda o seu próprio dojo numa casa cedida pelo Colégio Dom Bosco, na Avenida Coronel Mesquita. São desse local as imagens abaixo durante uma visita do então Governador de Macau, Garcia Leandro.
Em Setembro de 1975 a sede da associação teve a visita do coronel Garcia Leandro (Governador) do Secretário adjunto da Cultura e Assuntos Sociais (Capitão Victor de O. Santos) e do presidente do Comité do Desporto de Macau, José dos Santos Ferreira.

Do primeiro grupo de sete alunos, três foram para o Brasil para ensinar:.Luís Alberto da Silva Pedruco, em 1970; Alberto Carlos Paes D’Assumpção, em 1971; e Américo Machado de Mendonça, em 1974.
Outros alunos seguiram na diáspora macaense para a Austrália e Estados Unidos onde também foram instrutores.
Achiam morreu em Setembro de 2008 depois de mais de 40 anos dedicados ao Karaté em Macau. Para além de 7º Dan, foi membro do Comité Executivo da Federação Mundial de Karaté (WKF), Secretário-Geral da Federação Asiática de Karaté (AKF) e Presidente da Associação de Karatedo de Macau.
Em baixo José Martins Achiam durante uma demonstração para a imprensa em Hong Kong em Julho de 1978.
Curiosidade:
A macaense Paula Carion foi aluna de Achiam. Com um palmarés invejável, venceu a medalha de ouro nos Jogos da Ásia Oriental de 2005, realizados em Macau, e a medalha de bronze nos Jogos Asiáticos de 2006, 2010 e 2014.
Capa da revista "Macau" em 1987

"Há 50 anos atrás, um antigo Shihan de Karaté, José Achiam, espalhou a semente do karaté em Macau. A maioria dos membros fulcrais da actual selecção nacional de Macau é da nossa Seigokan de Macau, e obtiveram excelentes resultados na AKF e nos Jogos Asiáticos. Che Kuong Im (7º Dan)."

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Posse do Templo de Santo Agostinho: 1884


"É concedida á confraria do Senhor Bom Jesus dos Passos de Macau a posse do templo de Santo Agostinho da mesma cidade, ficando, porém, sem effeito esta concessão em qualquer epocha, se a mencionada confraria não proceder á reedificação, não prover devidamente á conservação dito templo e á sustentação do culto." Abril de 1884
 
Curiosidade: nesse ano iniciou o primeiro ano lectivo do Liceu de Macau no Convento de Santo Agostinho que era contíguo à igreja.

domingo, 24 de outubro de 2021

Stereoview "Tomb of Camoes"

"Anthony's Stereoscopic Views No. 27. Tomb of Camoes, The Shakspeare* of Portugal - Macao, China - Photo By M. Miller. Published by E. and H. T. Anthony, 501 Broadway. New-York."

Edward Anthony (1818-1888) começou a publicar stereoviews em 1859 tendo mais tarde, em 1862, tido como sócio o irmão Henry T. Anthony (1814-1884), que já estava na empresa nova-iorquina quando este stereoview do Busto/Gruta de Camões (1524-1580) foi colocado no mercado.
Da colecção de stereoviews desta empresa fazem parte um total de 12 sobre Macau, incluindo os que têm estes títulos: "View in Macao, showing fort on the hill", "The Prior Grande, Macao", "Ruins of an old church", e "Macao, China".
* erro original
O Jardim de Luís de Camões começou (século XVIII) por ser um jardim anexo à mansão de  Lourenço Marques, um rico comerciante português que depois a arrendou à Companhia Britânica das Índias Orientais tendo instalado a sede no palacete. 
No jardim, dentro de uma gruta constituída por três grandes rochedos, foi colocado pela primeira vez um busto de Camões (feito de greda por artistas chineses) em 1840.
Fotografia ca. 1900

Este busto viria a ser substituído em Janeiro de 1866 por outro da autoria do escultor Manuel Maria Bordalo Pinheiro (consegue assim datar-se o stereoview...). No pedestal estão gravadas as estâncias I, II e III do Canto I dos «Lusíadas» e na parte de trás a tradução em chinês. Curiosamente o busto já estava pronto em 1862, facto noticiado no Boletim do Governo n.º 17 de 29 de Março desse ano. Aliás, foi fundido no Arsenal do Exército em Lisboa no ano 1861.
Em 1885 a propriedade - tb conhecida por Casa Garden - foi vendida ao Governo de Macau e transformada num jardim público.
Em 1920, a casa senhorial foi transformada no Museu Luís de Camões, que por sua vez foi vendida, em 1989, à Fundação Oriente para ali montar a sede.
Curiosidades: uma réplica da Gruta (e do busto de Camões) de Macau pode ser vista no Jardim Botânico em Lisboa; existe um outro busto de Luís de Camões em Macau... está no jardim interior do Leal Senado/IACM.

sábado, 23 de outubro de 2021

Primeiro Cabo Submarino entre Macau e Hong Kong

Em Abril e Maio Maio de 1884 Macau dava o primeiro passo para a ligação com o resto do mundo através da assinatura do contrato para implementação do cabo submarino entre o território e Hong Kong, e dali para o resto do mundo.
O contrato de concessão por 40 anos foi assinado em Lisboa (era ministro dos Negócios da Marinha e Ultramar, Pinheiro Chagas) e estipulava, por exemplo, que a empresa recebesse um subsídio nos primeiros anos.

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Alexandre de Rhodes: 1591-1660

Alexandre de Rhodes nasceu em Avignon (França) a 15 de Março de 1591, numa família de negociantes de seda. Em 1609, com 18 anos, chega a Roma e em 1612 entra para a Companhia de Jesus onde aperfeiçoa o conhecimento das chamadas línguas antigas (latim, grego e hebreu), aprende italiano e estuda as matemáticas. Decide dedicar-se à evangelização do Japão e sai de Roma em Outubro de 1618 em direção a Lisboa, que era na altura o principal porto de embarque da Europa para as Índias Orientais. Na capital portuguesa aprende português enquanto espera pelo embarque e partida, a 4 de Abril de 1619, no Santa Teresa, um navio com 400 passageiros a bordo com destino a Goa e onde chega a 9 de Outubro desse ano.
Aqui adoece e aproveita também para aprender a língua local. A 12 de abril de 1622 retoma a viagem rumo ao Japão partindo para Malaca onde chega a 28 de Julho desse ano. Ao fim de nove meses retoma a viagem chegando a a 29 de Maio de 1623. No território vai dedicar-se sobretudo ao estudo do japonês. A intensificação da perseguição dos cristãos no Japão e o encerramento progressivo do país fazem com Rhodes acabe por ter outro destino: o Dai Viet (Vietname). Após 18 meses passados entre Macau e Cantão, Rhodes embarca com mais cinco jesuítas, com destino a Faifo (actual Hoi An), um dos principais portos do que ele designa por Cochinchina, no sul de Tourane. Também aqui aprende a língua local que usa para as pregações. * Em 1630 é expulso pelo imperador e regressa a Macau, onde ensina teologia moral durante cerca de dez anos.
Entre 1640 e 1645 faz quatro viagens à Cochinchina como superior das missões mas seria descoberto e novamente expulso em 1645. Regressado novamente a Macau acaba por decidir regressar a Itália. Parte de Macau a 20 de Dezembro de 1645, acompanhado por um jovem cristão chinês, chegando a Roma a 27 de Junho de 1649.
Mapa de "Anam" (Vietname) por Rhodes em 1651.
"Macao" está assinalada no canto inferior direito

* Publica em Roma em 1651 o "Dictionarium Anamiticum Lusitanum et Latinum" e o "Catechismus Pro iis qui volunt suscipere Batismum", duas obras consideradas essenciais e que estão na base da língua romanização do vietnamita. A primeira obra é o primeiro dicionário trilingue escrito em vietnamita, português e latim.

Sugestão de leitura:
Voyages et Missions du Pére A. de Rhodes, S.J. en la Chine et Autres Royaumes de l’Orient, avec son Retour en Europe par la Perse et l’Arménie. Nouvelle édition, conforme à la première de 1653, annotée par le Pére H. Gourdin, de la même Conpagnie, et ornée d’une Carte de tous les voyages de l’auteur. (imagens acima)
Lille: Société de Saint Augustin, 1884.

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Troço da Avenida Almeida Ribeiro: 1962

Nesta fotografia de um troço da Avenida Almeida Ribeiro/San Ma Lou em 1962 pode ver-se um polícia a proteger-se do sol, transeuntes de bicicleta e transportando carga com o sistema pinga, passageiros a entrar para o autocarro nº 5, peões sob as arcadas e, do lado direito, na fachada de um teatro/cinema - o Vitória - estão anunciados os filmes em exibição em quatro salas do território: Vitória, Capitol, Cheng Peng e Apollo.
Carlos da Maia morreu a 19 de Outubro de 1921(há 100 anos...) 
durante os eventos da denominada "noite sangrenta".
Curiosidades:
A construção desta avenida foi iniciada durante o mandato (1914 a 1916) do governador Carlos da Maia (1878-1921) - 105º governador de Macau - tendo ficado concluída em 1918. A nova artéria não só ligou os portos interior e exterior, como atravessou o coração da cidade, dando um passo decisivo para uma maior aproximação entre as comunidades portuguesa e chinesa, já que atravessou o chamado bairro chinês (bazar) ligando-o à chamada parte da cidade cristã, onde viviam os portugueses.
Na toponímia macaense existe a Rotunda Carlos da Maia, construída em 1919, é vulgarmente conhecida como Largo dos Três Candeeiros, devido ao candeeiro de três lâmpadas ali colocado; e a Avenida Carlos da Maia, na Taipa, que dá acesso por exemplo à Igreja de Nossa Senhora do Carmo.

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

"Chapas Sínicas" de Macau na Memória do Mundo da Unesco

A documentação intitulada “Chapas Sínicas - Registos Oficiais de Macau durante a Dinastia Qing (1693-1886)" está entre as contribuições portuguesas para a lista da UNESCO da Memória do Mundo.
Contrato entre o pedreiro Rong Ping e o procurador de Macau, António Vicente Rosa, sobre uma empreitada para obras de reparação da parede de uma residência oficial. 
                Documento da Torre do Tombo, Lisboa

Inventário dos terrenos situados na povoação de Mong-Há e de Long Tin  - feito por Shen Xia-Ling por ordem do Governador de Macau - e que deveriam pagar impostos.
Documento da Torre do Tombo, Lisboa .

Oficialmente intituladas “Registos Oficiais de Macau durante a Dinastia Qing” e compiladas entre 1693 e 1886, as chamadas “Chapas Sínicas” são uma colecção de documentos únicos na história das relações luso-chinesas e uma das mais completas fontes históricas de Macau entre finais do século XVII e meados do século XIX.
São mais de 3600 documentos, cerca de 1500 ofícios redigidos em língua chinesa, cinco volumes de cópias traduzidas para português da correspondência trocada entre o Leal Senado e as autoridades chinesas, bem como quatro volumes de documentos diversos sobre múltiplas questões da vida quotidiana do território
Os originais estão depositados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Portugal tendo sido editado um catálogo das mesmas em 2017.A maior parte da coleção é composta pela correspondência trocada entre os procuradores do Leal Senado e os representantes do mandarinato e do Celeste Império quer em Macau, quer na região limítrofe de Xiangshan. 
O acervo inclui ainda petições apresentadas pelas autoridades portuguesas e a resposta formulada pelas autoridades de Cantão. 
Da coleção fazem ainda parte contas, cartas, atos, contratos e documentos de índole variada que estão associados à vivência quotidiana das diferentes comunidades que aqui habitavam.


Extracto da Chapa do Mandarim Cso-tam sobre os Servidores Chinas nas Casas do Portuguezes em Macao que,, neste caso, até foi publicado num jornal local, "O Macaista Imparcial", a 20 de Setembro de 1837.
"O Mandarim Cso-tam por apelido Pom faz saber ao Sr. Procurador, que sendo evidente, que as Cazas Portuguezas em Macao quando allugão servidores Chinas, o fazem à sua vontade, sem ser por introdução de fiadores, nem por via de compradores capazes; donde procede portarem-se esses servidores sem temor, nem respeito, concebendo logo ideas sinistras, já espreitando qualquer couza para furtar, e fugir, já abusando da confiança que os ditos Portuguezes deles fazem a respeito de dinheiro, ou fazendas, cometendo faltas, e se auzentão: e quando sobem queixas do Sr. Procurador nos Mandarins, só vem apontado o nome do individuo, ou indivíduos por não se saber o seu cognome, nem o de seus Irmaons, filhos, e parentes, nem o nome dos lugares de suas moradias; (…) quando os Estrangeiros alugarem servidores Chinas, deverão estes ser inculcados por compradores. E em Macao quando não há compradores, deverá haver fiadores seguros para então se assegurarem os descuido. (...)

Outro exemplo... Uma "chapa" de resposta ao Mandarim Cso-tam sobre escavações na Penha:
“Eu o Procurador & respondendo à Chapa do Snr M. Cso-tam sobre as escavaçoens no matto da Penha, sou a dizer-lhe q. examinando eu o motivo das d.as escavaçoens , vim no conhecimt.º , de q. apenas se tem applainado o lugar onde hé prezentemt.e Semiterio de Christaons, cercando-o com pandões para evitar, q. os caens ali entrem, e revolvão as sepulturas. O que partecipo ao Snr. M. para sua intelligencia.
Macáo 28 de Janr.º de 1833 – Lima”

O Registro da Memória do Mundo da Unesco inclui um total de 427 coleções e documentos protegidos, "provenientes de todos os continentes e em vários suportes, da pedra ao celuloide e do pergaminho a gravações de som".

terça-feira, 19 de outubro de 2021

Construção de uma bateria em forma de luneta: 1872

A 26 de Julho de 1872 o governador de Macau Visconde de S. Januário assina a Portaria Provincial nº 48 que determina a construção de uma bateria em forma de luneta na ponta da praia de S. Francisco para peças de grosso calibre.

Boletim da Província de Macau e Timor: 27.7.1872

A 1 de Dezembro de 1872 é feito o lançamento da primeira pedra para a construção da Bateria Rasante que viria a ficar conhecida pelo nome "1.º de Dezembro". A planta é da autoria do capitão de engenharia Dias de Carvalho e do Barão do Cercal.

A imagem abaixo é de meados de 1874, embora algumas vezes surge referenciada como posterior. A explicação é simples. Em Setembro desse ano Macau foi assolado por um dos tufões mais violentos de sempre que viria a destruir, por exemplo, a cúpula do Farol da Guia (que se pode ver no topo do lado direito). Nesse mesmo ano foi inaugurado o Hospital S. Januário (incluído na fotografia) que também sofreu estragos. A fisionomia do Quartel de S. Francisco é já a versão das obras de remodelação de 1864 que lhe deram uma forma mais rectangular.
Relatório das Obras Públicas sobre "trabalhos executados em 1872":
"Esta nova bateria é feita na ponta praia de S Francisco principiou a construcção no 1 o de dezembro de 1872. Pertencendo esta obra á classe das fortificações maritimas podia o seu traçado ser irregular a fim de que os fogos fossem todos perpendiculares aos pontos a bater; no entanto julgou-se que, sem prejudicar estes principios, se lhe desse forma da conhecida obra de fortificação, denominada luneta, com os angulos arredondados, o que faz com que sejam decompostas as grandes pressões exercidas pelos embates do mar; é formada de uma espessa e sólida muralha, revestida de cantaria que estavelmente pode supportar o terrapleno, feito de terras caldeaveis, homogeneo em densidade e compressão. A superficie de todo o terrapleno é de 1374 m2."
Perspectiva da bateria sobre a baía da Praia Grande com a colina (e ermida) da Penha ao fundo ca. de 1900.

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

"Macau, a estância favorita de Camões, o caminho-de-ferro que nos convém."

"Um entreposto comercial importantíssimo. Macau, a estância favorita de Camões, o caminho-de-ferro que nos convém." Com estas palavras começava Henrique Valdez, senador eleito por Macau, um longo texto na primeira página da edição do Diário de Notícias de 2 de Julho de 1920. No artigo de duas colunas intitulado "A Nossa Prosperidade está ao alcance da nossa mão. Não há colónias pequenas" defendia-se a necessidade de construir uma linha de comboio entre Macau e Cantão, a vizinha cidade já no lado da China continental.
"Franceses e ingleses apertam a corda que há de estrangular-nos. Cortá-la é questão de elementar bom senso", escrevia então Valdez argumentando que a obra tornaria o porto de Macau no principal entreposto comercial de todo o Extremo Oriente.
Henrique Valdez, membro do Leal Senado de Macau, defendia que aquela linha férrea era a condição para Macau escapar ao estrangulamento em que outras potências internacionais, Inglaterra e França, a queriam manter. O aviso de Valdez cairia em saco roto já que a obra nunca se fez. Embora chegasse a ser projectada várias vezes como se pode verificar no excerto (abaixo) de um mapa da década de 1920: "terreno reservado para o caminho de ferro"
Anos mais tarde, em 1938, outro artigo também publicado no Diário de Notícias voltaria a insistir na ideia de que a ligação férrea com Cantão faria do porto de Macau o mais importante do Extremo-Oriente. Curiosamente, hoje já é possível ir de TGV até Cantão, embarcando em Zhuhai, cidade localizada muito perto de Macau.

Henrique Lapa Travassos Valdez (1884-1953), bisneto do conde do Bonfim, foi oficial da Marinha (era marinheiro da canhoeira Macau e da Pátria) e prestou serviços nas Obras dos Portos. 
Eleito Senador pelo Círculo de Macau através do Partido Reconstituinte (Partido Republicano da Reconstituição Nacional), juntamente com Anacleto da Silva.
Foi um dos maiores defensores dos ideais republicanos em Macau, sendo um dos fundadores no território do Centro Republicano Eleitoral em 1919. Constituído por maçons e republicanos este centro teve por principal objectivo a participação nas eleições camarárias de 1923.
Valdez saiu de Macau em 1925 e com a saída terminou o Centro Republicano. Foi destituído da Marinha no tempo do Estado Novo sendo mais tarde readmitido ao serviço da armada como 1.° tenente reformado.

domingo, 17 de outubro de 2021

La Ciudad de Macao situada en una península...

Antes de llegar á Macao pasamos por la Isla de Sanchon célebre por la muerte de San Francisco Xavier. 
La Ciudad de Macao situada en una península á la desembocadura del rio Canton es solamente nombrada por el fuerte que hicieron los Portugueses para su comercio y que en breve se hizo una ciudad floreciente obtuvieron el terreno por algunos servicios hechos á los Chinos pero hoy está muy decaida de su antiguo esplendor. 
Hay allí mayor número de Chinos que de Portugueses éstos como son los mas pobres son tambien los mas de biles. Sin embargo les es permitido exercer su comercio en Canton dos veces al año.
Tienen un Gobernador y los Chinos un Mandarin del qual depende todo el pais. Los habitantes quando le piden alguna gracia van en quadrillas á su palacio el Magistrado responde por escrito en estos términos. Esta nacion bárbara y brutal me pide tal gracia y la concedo ó la niego. Los Portugueses tienen una corta guarnicion en Macao por no poder mantener allí muchas tropas. Pagan á los Chinos un tributo por el terreno de las casas y de las iglesias estas casas están construidas á la Europea pero son muy baxas. 
Sobre la lengua de tierra que une á Macao con el Continente se ha construido un muro de separacion para impedir la comunicacion de los habitantes con la China. Este muro tiene una abertura en el centro donde se mantiene una centinela continua. Algunas veces se concede licencia á los Chinos que moran en la ciudad para penetrar en el pais pero este permiso se niega casi siempre á los Portugueses. Esta puerta se abre solamente en ciertos dias para que los habitantes compren sus provisiones y los Chinos que se las venden ponen un precio arbitrario.
in El viagero universal ó Noticia del mundo antiguo y nuevo (Tomo V), de 1796. Neste volume dedicado à China surge La Description de Macao.

Tradução
Antes de chegar a Macau passamos pela Ilha de Sanchon, famosa pela morte de San Francisco Xavier. A cidade de Macau situada numa península na foz do rio Cantão só tem nome graças ao forte que os portugueses construíram para o seu comércio e que cedo se tornou uma cidade próspera. Obtiveram o terreno para alguns serviços prestados aos chineses, mas hoje está muito deteriorado e longe do antigo esplendor. Há mais chineses do que portugueses, porque são os mais pobres e são também os mais fracos. Os portugueses podem fazer negócios em Cantão duas vezes por ano. 
Têm um governador e os chineses têm um mandarim do qual todo o país depende. Quando os habitantes lhe pedem alguma graça, vão em grupos ao seu palácio, o Magistrado responde por escrito nestes termos. Esta nação bárbara e brutal me pede tal graça e eu concedo ou nego. Os portugueses têm uma pequena guarnição em Macau porque não podem manter muitas tropas. Pagam um tributo aos chineses pelo terreno, pelas casas e igrejas, que são construídas à maneira europeia, mas são muito baixas. 
Na faixa de terreno que une Macau ao Continente, foi erguido um muro de separação para impedir os habitantes de comunicarem com a China. Este muro tem uma abertura no centro onde é mantida uma sentinela contínua. Às vezes, é concedida licença aos chineses que vivem na cidade para entrar no país, mas essa permissão é quase sempre negada aos portugueses. Esta porta só se abre em certos dias para os habitantes comprarem as suas provisões e os chineses que as vendem fixam um preço arbitrário.
Mapa de meados do século 18 não incluído no livro aqui referido

sábado, 16 de outubro de 2021

Emissões filatélicas: Fátima e Ano Santo

1950 foi considerado pela igreja católica como Ano Santo com a proclamação do dogma da Assunção de Maria ao Céu, a 1 de Novembro de 1950. Eis uma emissão filatélica alusivo ao facto, ao encerramento do Ano Santo em 1951 e a Fátima.